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A modernização da agricultura e a transição para o capital

3. A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E SUAS

3.2. A modernização da agricultura e a transição para o capital

A lógica interna da política governamental e a participação dos seus diferentes protagonistas se definem, em certa medida, pelos interesses específicos e alianças sociais que os diferentes grupos sociais estabelecem entre si e a nível do pacto mais geral com o Estado. Essas alianças contribuem para definir o próprio conteúdo das políticas públicas, fato que requer a identificação dos agentes e interesses envolvidos. (DELGADO, 1985, p.54).

O período de 1870 a 1930 teve, tanto na agricultura, quanto na indústria, o predomínio das relações do complexo latifúndio-minifúndio, sendo a agricultura bastante dependente das relações comerciais simples e da circulação em geral de mercadorias. A indústria brasileira de 1870 a 1930 não produzia somente bens de consumo. Alguns produtos voltados para o setor agrícola-exportador e transporte eram produzidos, principalmente os ligados ao beneficiamento e processamento de produtos agrícolas voltados a exportação (como o beneficiamento industrial de algodão, couro, trigo e cana-de-açúcar). Os investimentos em tecnologia para o setor agrícola não eram muito grandes, sendo desenvolvidos apenas maquinários leves de beneficiamento de produtos, como café, arroz e moenda para cana-de-açúcar (MÜLLER, 1989).

No período de 1930 a 1960 há uma diversificação da produção industrial, no momento em que o todo o sistema econômico passaria a ser dominado pelo capital industrial. Algumas indústrias do período anterior continuam suas produções, mas também surgem novas indústrias que começam a investir, a partir da década de 1950, principalmente, em maquinário pesado para a agricultura, assim como, peças para indústrias de açúcar, e máquinas industriais para fins variados. Especificamente para o setor agrícola, começam a ser produzidos diversos tipos de implementos e fertilizantes, como arados reversíveis, máquinas de semear, fertilizadores e veículos agrícolas não motorizados, adubos químicos – em pequena escala –, e fertilizantes de origem animal, dentre outros produtos. Com isso, a dependência do setor agrícola perante a indústria começava a aumentar, uma vez que, com as novas tecnologias – e a entrada a ciência moderna aplicada na agricultura, assim como outrora foi aplicada na indústria – a produção começa a se desenvolver e, para ter competitividade, os agricultores se veem obrigados a investir mais em melhorias para sua produção. Este

panorama se dá principalmente para as regiões sul e sudeste do Brasil, onde há um rompimento do padrão latifúndio-minifúndio, e o sistema econômico vigente passa a ser dominado pelo capital industrial (MÜLLER, 1989).

Para as regiões, segundo Rangel (1979, APUD MÜLLER, 1989, p.30), de agricultura mais atrasadas, o aspecto econômico-social era outro. Isto porque o aumento da demanda de produtos agrícolas não elevava os ganhos para o produtor rural, pois a comercialização dos produtos ficava na mão de oligopsônios-oligopólios que operavam como se fossem um monopsônio-monopólio, ou seja, atuavam como um atravessador onde o aumento do preço do produto agrícola não era repassado ao produtor rural, comprometendo a cadeia produtiva. Este tipo de estrutura foi muito comum durante a hegemonia do complexo latifúndio-minifúndio na economia brasileira, onde havia uma grande elasticidade da oferta agrícola e uma menor disposição de gêneros agrícolas a venda (MÜLLER, 1989).

A mudança das relações latifúndio-minifúndio teve como principal fator a aliança do capital da elite nacional com o capital externo e o estatal, o que caracterizou a expansão do capitalismo pós-guerra para dentro do Brasil, e assim acelerou a transição para uma economia predominantemente industrial. A burguesia industrial do sudeste paulista foi a principal responsável por esta mudança ao se opor as oligarquias agrárias do nordeste, extremo sul e do sudeste cafeeiro e assumir a hegemonia econômica no país durante o período de 1930 e 1960. Com isso pôde avançar com o processo de industrialização, visando a eliminação daqueles espaços específicos de reprodução de capital. Entretanto, estas alterações não conseguiram promover uma mudança drástica na forma de organizar e produzir na agricultura, nas duas primeiras décadas deste período, e esta não conseguiu aproveitar-se deste surto industrial, permanecendo com os seus mercados regionais e estruturas de produção tradicionais. Apenas os produtores de cana-de- açúcar, café, algodão, trigo e cacau, que detinham financiamentos estatais, não sofreram prejuízos com o tabelamento sistemático dos preços nos mercados terminais; e, com a variação cambial. Foi somente nas décadas de 1950 e 1960 que as formas tradicionais de produção agrícola chegam a seus limites e começam a modificar sua produção, tendo em vista o domínio econômico industrial na economia nesse período. (MÜLLER, 1989).

O período compreendido entre as décadas de 1960, principalmente o ano de 1965, até a década de 1980, é marcado pelo início de uma

revolução entre dois modelos de desenvolvimento agrário39 que

alteraram o padrão da agricultura nacional. Houve um crescimento no consumo das agroindústrias relativo ao uso de produtos agropecuários, e, ainda, um crescimento deste ramo industrial, com a entrada de grupos maiores ao setor, resultando numa alteração em sua dinâmica com as agroindústrias, deixando de atuar apenas no mercado local/nacional para atuar também no mercado mundial. Como resultado deste processo, a agricultura passava a utilizar os mesmos preceitos da indústria, visando a maior produtividade, dependia menos das condições naturais de produção e dos meios produzidos em escala de manufatura, e mais do padrão industrial de produção – com o uso de insumos e maquinário agrícola avançado. Com isso, a agropecuária passou a integrar um ciclo entre a indústria de produção de bens para a agricultura e a indústria processadora de produtos naturais (DELGADO, 1985; MÜLLER, 1989).

A alteração do padrão agrário latifúndio-minifúndio, se dá pela mudança da destinação da produção agrária e pela necessidade da mesma de produtos industriais. A produção agropecuária não é mais somente destinada ao comércio, mas também aos grupos industriais que demandam matérias-primas, assim como para a produção agrícola são demandados novos produtos industriais. Essa mudança eliminou as distâncias entre o rural e o urbano, o industrial e o agrário, sendo que em alguns casos, indústrias saíram de grandes centros e instalaram-se próximas da fonte de suas matérias-primas, e muitos trabalhadores rurais passam a morar em cidades, havendo uma redução de residentes no campo (MÜLLER, 1989).

As políticas de financiamento rural, até a década de 1960, existiam no Brasil produto a produto, ou seja, visavam ações apenas para um produto específico e em nenhum momento se integravam, – como o Instituto Brasileiro do Café (IBC) –, ou seja, somente a velha classe oligárquica tradicional exportadora era beneficiada. Não se pensava em uma estrutura que visasse à integração do setor agrícola com o setor industrial, mas objetivava-se somente a ampliação de ambos os setores em separado, através do ganho obtido com as exportações agrícolas.

Foi somente no ano de 1965, com a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), que iniciou-se a elaboração de uma política integrada para a agricultura. Esta foi a primeira medida estatal que buscou diversificar a produção e o acesso ao crédito, através do sistema bancário institucionalizado, variados tipos de produtos agrícolas, bem

como indústrias ligadas ao processamento e beneficiamento destes, alterando a base da política por produtos para a mercadoria rural em geral, visando o desenvolvimento e modernização do setor agrário nacional (DELGADO, 1985).

Após a criação do SNCR, o financiamento rural aumentou significativamente até o final da década seguinte, e com o crédito fácil concedido com taxas reais negativas, prazos e carências flexíveis, o Estado conseguiu gerar uma demanda por insumos modernos e consolidar o Complexo Agroindustrial40, sendo estes os principais

instrumentos para ligar à agropecuária a indústria (DELGADO, 1985). Os incentivos concedidos durante a década de 1970 tornaram a relação entre os setores industriais e a agricultura ainda mais próxima e incrementou a produção dos dois setores. Este fato foi percebido por Müller (1989) ao analisar a Matriz de Relações Intersetoriais do IBGE, onde conclui que

(...) os setores industriais que compõe a indústria para a agricultura (química mecânica e rações) venderam 22,2% do valor de suas produções para o meio rural, os demais venderam apenas 2,9%. Donde pode deduzir-se que a magnitude daqueles setores depende em mais de 1/5 do valor de suas

40 Para Müller (1989, p. 45) o Complexo Agroindustrial Brasileiro,

ou “(...) CAI, pode ser definido como um conjunto formado pela sucessão de atividades vinculadas a produção e transformação de produtos agropecuários e florestais. Atividades tais como: a geração destes produtos, seu beneficiamento/transformação e a produção de bens de capital e de insumos industriais para atividades agrícolas, ainda: a coleta a armazenagem, o transporte a distribuição dos produtos industriais e agrícolas; e ainda mais: o financiamento, a pesquisa e a tecnologia, e a assistência técnica.

As atividades são interdependentes, mas assimétricas, pois há aquelas cujas funções possuem um maior grau de importância na reprodução do complexo. Tais atividades constituem o núcleo do CAI e dizem respeito à capacidade de controle que os interesses sócio- econômicos aí localizados exercem sobre a reprodução do mesmo. Assim a agricultura, em que pese ser uma atividade principal, pode estar subordinada a setores industriais ou, até mesmo, a setores comerciais, como por exemplo os supermercados” (MÜLLER, 1989, p. 45).

produções da demanda dos setores agrícolas (MÜLLER, 1989, p. 36).

Este aumento na relação fica mais claro ao se comparar os montantes vendidos pelas indústrias de implementos para o setor agrícola, em 1959 2,8% do valor da produção total, em 1970, 9, 2%. Já nos setores industriais que produzem para a agricultura os valores foram de 3,1% para 22,2% (MÜLLER, 1989).

Por outro lado, em 1970, a agricultura insumiu dela própria 49% do total de insumos adquiridos, e 41% da indústria para a agricultura. Este é o indicador mais expressivo da industrialização do campo (MÜLLER, 1989, p. 36).

Outro fato que demonstrou a aproximação dos setores nesta época era a maior dependência da agricultura para com as indústrias e destas para com a agricultura. A agroindústrias compravam junto aos produtores rurais 45% do valor de produção industrial, aumentando a dependência da agricultura para a ampliação do seu capital constante circulante. Quase metade da produção de matéria-prima do setor agrícola era demandada pelos setores industriais assim como quase metade da produção agrícola em 1970 dependia de máquinas e insumos industriais. A grande mudança na relação indústria-agricultura, nos anos 1970, é o fato de agricultura passar a depender de insumos e maquinários industriais e assim fazer parte do processo de acumulação de capital de muitas indústrias de bens de capital (MÜLLER, 1989).

(...) em suma a agricultura não depende mais apenas do crescimento da agroindústria, mercado interno e de exportações, mas também de indústria produtora de insumos e máquinas (MÜLLER, 1989, p. 37).

Esta relação próxima com a ciência aplicada à agricultura possibilitou o deslocamento da agricultura em ambientes outrora não explorados, fazendo com que

(...) os interesses sociais nucleados no capital comercial e assentados na propriedade territorial e na generosidade da natureza foram deslocados pelos interesses nucleados no capital industrial e financeiro e na agricultura moderna (MÜLLER, 1989, p. 39).

Isto modificou a agricultura de tal maneira, que já não basta ser possuidor de terras para conseguir plantar. A partir desta época (pós década de 1960) passou-se a considerar com mais ênfase do que nas décadas passadas, os custos, o maquinário a ser utilizado, pois sem isso o produtor não conseguia ser competitivo no mercado, devido a

diferentes custos de produção de um mesmo produto, ou seja, a terra não deixava de ser tão determinante nos rumos da produção. O produtor, com o advento dos insumos, maquinário agrícola, assistência técnica, previsão climática melhorada (ciência aplicada diretamente) pôde se “libertar” e aumentar sua produção assim como, por exemplo, inserir cultivos que costumeiramente não se utilizava ou conseguir superar algumas barreiras climáticas em determinados tipos de cultivo, entre outros. Entretanto, ao mesmo tempo em que ele se liberta desta barreira natural, ele se prende a outro fator, a indústria, aos insumos e ao maquinário, e com isso, apenas os produtores mais capacitados, os que possuem uma reserva de capital, conseguiram ou conseguem se sustentar com lucratividade no mercado (MÜLLER, 1989).

É o trabalho agrícola que se subordina ao capital, no contexto de uma industrialização crescente da agricultura, processo no qual a terra-matéria perde suas forças determinadoras das condições de produção em favor da terra-capital (MÜLLER, 1989, p.39).

Entre as décadas de 1960 e 1980 a indústria nacional se desenvolveu e criou novos postos de empregos intensificando o processo de urbanização. Somado a isso, houve uma maior integração e diversificação das exportações (feitas com taxas elevadas) o que aumentou a demanda por produtos agrícolas – para satisfazer a necessidade de acumulação das indústrias e das exportações. A influência que o mercado tinha nas relações econômicas agropecuárias é ampliada e acarreta novas mudanças no setor, que foram: a diminuição da produção agrícola voltada apenas para a exportação, o estabelecimento um mercado variado de produtos agrícolas e agroindustriais com alcance em todo país, assim como a criação de novos postos de trabalho rural – e extinção de muitos outros –, e a valorização e especulação das terras rurais, criando um mercado de compra e venda de terras (DELGADO, 1985).

As políticas de desenvolvimento agrário criadas pelo Brasil foram principalmente pautadas na execução dos instrumentos de política econômica de curto prazo indo de acordo, durante a década de 1970, com o estabelecido nos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND e II PND) sobre a estratégia agropecuária e política econômica. Esta década foi marcada, no setor secundário da economia nacional, por completar, quase que totalmente, o ciclo de substituição de importações que havia iniciado no princípio do século XX. Conseguido, graças a um grande endividamento externo, juntamente com o redirecionamento de

investimentos, determinados pelo II PND (1974-1978). O maior reflexo disso na agropecuária e nas indústrias relacionadas foi a diminuição das importações de insumos (ração, agrotóxicos, implementos) devido ao estabelecimento deste tipo de indústria no país. A partir daí, a estrutura agrícola foi alterada com a revolução da organização rural e a diminuição das diferenças entre a mesma e a indústria, fazendo com que a forma industrial se sobressaísse na agropecuária a partir da década de 1980 (DELGADO, 1985; MÜLLER, 1989).

Esta aproximação contou com a participação do Estado e também com grandes empresas e grupos econômicos tanto nacionais quanto estrangeiros. O Estado atuou através de financiamentos e isenções fiscais que contribuíram para o crescimento de alguns produtores e também de alguns ramos industriais. Com isso as indústrias e ou grandes grupos puderam ampliar a oferta de insumos agrícolas, outrora importados, barateando seus custos, para abastecer a demanda que estava se instalando. Já as agroindústrias, conseguiram a sua modernização e ampliação, o que possibilitou absorver boa parte da oferta de matéria-prima gerada pela modernização das técnicas produtivas agrícolas (MÜLLER, 1989).

Toda esta conjuntura de mudanças na produção agrícola, somada a diversificação dos produtos agrícolas, modificaram a relação com o comércio exterior. Houve um acréscimo no número de produtos agrícolas exportados, assim como de produtos manufaturados e beneficiados. Com isso altera-se a estrutura comercial, e o setor agrícola deixa de ser a única fonte provedora de divisas da economia nacional e passa a ser mais um no processo, fazendo parte da integração das relações interindustriais (DELGADO, 1985).

Os setores industriais voltados para a agricultura – os setores de bens de capital e insumos – exerceram uma pressão junto ao governo por mudanças na política monetária, fiscal, cambial e relativas ao comércio externo e interno, assim como por incentivos estatais diversos aos produtores para que estes pudessem comprar seus equipamentos e se modernizarem. Isto porque, com o financiamento aos produtores, aumenta a venda de bens de capital industrial e insumos, assim como modifica a estrutura agrícola aumentando a produção, ou seja, quanto mais industrializada a atividade agropecuária, melhor para as indústrias envolvidas com este setor (MÜLLER, 1989).

A mudança nos padrões da agricultura (a modernização) e as constantes pressões dos segmentos interessados por uma ampla modernização no aparato produtivo levou a uma situação de dependência grande, com tendência de uma ampliação cada vez maior,

transformando-se num processo irreversível. Este processo acentuou ainda mais as diferenças entre os pequenos produtores – não modernizados e com menos capital – e os grandes produtores (MÜLLER, 1989).

Esta tendência implica que as características dessa industrialização é que regularão a expansão e bloqueio dos setores industriais e agrícolas. O que quer dizer que a criação de novas instalações produtoras de rações dependerá fundamentalmente da dinâmica da acumulação nesses ramos e no de pecuária e avicultura, mas, principalmente, da conduta das unidades tecnoeconômicas dominantes; que a produção de alimentos, em boa medida ainda obtida em bases tradicionais, esta sendo pressionada a mudar seu patamar tecnoeconômico de operação; que a instalação de novas unidades de abate – ainda que contando com microespaços favoráveis ao seu surgimento pulverizado – deverá levar em conta o nível técnico mínimo e o grau elevado de controle já existente no mercado (MÜLLER, 1989, p.43- 44).

A modernização do campo até o fim da década de 1980 aconteceu de maneira diferente às ocorridas nos Estados Unidos e Europa, pois não atingiu da mesma maneira a todos no Brasil. Apenas 20% dos agricultores daquele período conseguiram efetivamente adentrar a reestruturação completa da sua produção, distribuição e força de trabalho. As alterações não se restringiram apenas a uma evolução técnica do maquinário usado – possível devido ao financiamento estatal para aquisição e também com o barateamento dos insumos, como adubos, defensivos, entre outros, devido a substituição de importações que ocorreu neste setor – mas implicou também na mudança de padrões do modo de produção, forçando assim uma alteração nas relações de trabalho – como a extinção do colonato e aumento de empregos a boias- frias e trabalhadores permanentes (MÜLLER, 1989).

O dinamismo da agricultura brasileira esteve associado à diversificação da produção agrícola e também do mercado interno e de matérias-primas e alimentos. A modernização dos produtores ocorreu mediante elevação da produtividade do trabalho, do maior rendimento por área trabalhada e da diversificação produtiva, que só foi possível graças às agroindústrias conseguirem absorver o novo ritmo de produção agrícola. Essa absorção, em parte, vinha da demanda por estes

produtos tanto nos núcleos urbanos do país quanto para a exportação. Até a década 1950 e apenas com mudanças no tipo de trabalhador e com a racionalização dos cultivos, o que após a década citada só foi possível com a entrada de insumos e assistência técnica. Nas décadas seguintes a modernização dos produtores estava atrelada ao financiamento público, o qual não tinha critérios muito definidos sobre a concessão do crédito, e sendo assim, privilegiou-se principalmente os grupos sociais rurais com maior tradição mercantil e/ou organizados em associações (MÜLLER, 1989).

Devido a isto, a parcela de produtores que não foram atingidos pelo processo diretamente, usufruíram das consequências que as mudanças proporcionaram, não somente até aquela década, mas também nos anos posteriores e até os dias de hoje, pois a modernização da produção agrária capitalista continua sempre buscando inovações para obtenção de lucro máximo (MÜLLER, 1989).

Admitindo-se isso tudo, podemos dizer que entende-se por modernização tecnoeconômica a alteração da composição orgânica do capital (técnica e/ou de valor) em função nas terras. Juntamente com a alteração na sociabilidade rural. Em outras palavras a modernização é o resultado da interação entre a industrialização do campo, agroindustrialização das atividades agrárias e mudanças sociais e políticas entre os grupos sociais (MÜLLER, 1989, p.63).

Ao saber das diferentes estruturas agrárias nacionais, percebe-se que o projeto de desenvolvimento deste setor feito a partir da metade da década de 1960, foi ao mesmo tempo modernizante e conservador. Este processo de transformação mesmo sendo inerente ao sistema é sempre regulado pelo Estado (DELGADO, 1985).

O crescimento rápido da urbanização e das exportações; a modernização agropecuária que enseja a constituição e ampliação de diversos ramos do CAI; a organização de um novo sistema de financiamento para atividades rurais – o Sistema Nacional de Crédito Rural – e, por último, a definição de um novo padrão de regulação das relações sociais e econômicas do setor rural pelo Estado, configuram, em seu conjunto, um novo padrão do desenvolvimento rural, que se convencionou com propriedade, chamar de modernização conservadora (DELGADO, 1985, p.21-22).

Nesta ação modernizadora capitalista provida pelo Estado existiam também interesses oligárquicos rurais envolvidos, que, muitas vezes, não compartilhavam das ideias modernizantes. A exemplo do apoio

financeiro, através de incentivos fiscais dados a grandes propriedades e ao capital comercial de regiões do nordeste em fronteiras agrícolas41,

mesmo que as mesmas não destinassem nenhum recurso para novas técnicas de produção nem aquisição de bens de produção e ainda que