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4. CONFIGURAÇÃO DO SETOR PRIMÁRIO DO NORTE DO

4.5. Munhoz de Melo

4.5.1. Izair Gutierrez

Seus pais são naturais de São Paulo e também rumaram ao norte do Paraná em busca de melhores condições de vida. Foram atraídos pela grande disponibilidade de terras e grande necessidade de mão de obra, trabalhando inicialmente como “porcenteiros” numa localidade próxima à Astorga – na Fazenda Furtado, onde em 1958 nasceria Izair. Em 1970 conseguiram acumular dinheiro suficiente para comprar propriedade de 02 alqueires (4,24 hectares) em Jesuíta-PR – cidade próxima à Assis Chateaubriand-PR – com a finalidade de plantar café.

Após 08 anos naquela cidade, Izair decide sair da vida no campo, pois o trabalho era muito maior do que o dinheiro recebido. Parte para a cidade de São Paulo-SP, com a ambição de melhorar sua condição de vida, e após 08 meses vivendo na cidade de São Paulo, convenceu sua família a se mudar, vendendo a chácara num preço abaixo de mercado.

Permaneceram em São Paulo-SP de 1978 até 1993, quando Izair resolve voltar a trabalhar no setor primário. Com o dinheiro acumulado volta para o Paraná, e compra uma casa e uma chácara de 1 alqueire (2,42 hectares) na cidade de Munhoz de Melo com o objetivo de investir na avicultura, já que um tio do mesmo trabalhava nesta atividade. O financiamento para a construção do barracão foi feito através do programa Panela Cheia, onde, inicialmente, cabiam 7 mil aves. Desde o princípio a criação foi realizada no sistema de integração com a empresa Coroaves.

A atividade prosperando fez com que Izair vendesse sua casa em São Paulo e investisse de outras propriedades na cidade de Jaguapitã, construindo mais 03 barracões. Com o sucesso da atividade na região e a evolução das tecnologias, a rentabilidade começou a diminuir, foi então que Izair resolveu vender as propriedades de Jaguapitã e investir em barracões mais modernos e terrenos próximos à sua propriedade em Munhoz de Melo.

Nesse meio tempo chegou a investir em café e teve colheita de aproximadamente 1.200 sacos. Entretanto, reduziu bastante a atividade porque houve a incidência de nematoide, uma praga comum ao café.

76 Entrevista cedida por Izair Gutierrez, pequeno produtor, em Munhoz de Melo, no dia 22 de maio de 2013.

Atualmente possui apenas uma pequena parte com café adensado totalizando 4.000 pés, que produzem cerca de 120 sacos de café. Este foi substituído por pastagens e pela criação de gado, que chegou a ter 120 cabeças, mas abateu pouco menos da metade, e possuía em 2013, 67 cabeças de gado.

Em 2013 possuia 10 alqueires de terras (24,2 hectares) distribuídos em propriedades diferentes. As atividades agrícolas exercidas são a criação de gado para o corte, de aves, cultivo de café, e a silvicultura de eucalipto – visando à venda da madeira – e seringueira – visando a extração do látex.

A sua principal atividade ainda é a criação de aves feita no sistema de integração. Para esta atividade conta com 05 galpões que juntos alojam 150 mil aves, todos os aviários estão em boa condição, entretanto um deles, por sua construção ser recente, conta com a tecnologia mais avançada para esta atividade. Para os outros, o objetivo é modernizá-los aos poucos, pois segundo Gutierrez (2013), nesta atividade agrícola deve-se sempre possuir a maior tecnologia possível para ser competitivo e produtivo. A parceria deste sistema é feita exatamente como as outras empresas integradoras, as aves ficam confinadas na média de 47 dias e o valor pago por frango é em média de R$ 0,40 a R$0,45 por cabeça – entretanto nos últimos lotes o recebido chegou a R$0,70 por cabeça.

A atividade ainda proporciona a venda da cama do frango que é retirada uma vez ao ano e vendida para uma empresa de Paranavaí que vai até a propriedade com maquinários apropriados e faz a coleta do produto. Esta que dá a destinação final ao produto repassando a alguma outra empresa ou produtor.

A pecuária de gado é destinada unicamente para o corte e são criadas apenas fêmeas. Estas são compradas jovens e engordadas em seis meses, de modo que sempre existam animais em diferentes etapas da engorda, possibilitando a venda em vários períodos, conforme necessidade77. O valor pago na compra gira em torno de R$ 700,00 e na

venda R$ 1.150,00 por animal, podendo variar conforme o preço da arroba. A venda é feita sempre para um atravessador que destina a algum frigorífico e é sempre em um lote fechado de 20 a 25 animais.

O gado é criado no pasto em piquetes, num regime semi-confinado, ou seja, os animais ficam confinados em um piquete diferente a cada dia evitando o pisoteamento do solo, doenças, carrapatos, entre outros problemas, além permitir a renovação natural da pastagem. Para a alimentação o gado, além do pasto, recebe de complemento sal com

proteínas e são feitas análises recorrentes na pastagem para saber se o mesmo precisa de algum tratamento.

O café é uma atividade que permanece ainda na propriedade apenas pelo apreço que o Izair tem pelo produto. Para ele o café, em um curto espaço de tempo, deve possuir um patamar de produção, caso o café não atinja aquele patamar é eliminado e outro é plantado, ou substituído por outra atividade. O café é sempre repassado a um beneficiador da cidade que procura um comprador para o produto, a cobrança feita é apenas pelo beneficiamento e armazenamento do café. O plantio é feito no sistema adensado e a colheita é totalmente manual.

Além destas atividades, na propriedade ainda há a prática da silvicultura com árvores plantadas em um terreno juntamente com um aviário, o eucalipto, e no outro em conjunto com o café, a seringueira. O eucalipto é plantado numa área de 05 alqueires (12,1 hectares) seguindo a recomendação do EMATER-PR, com espaçamento de 2x3 metros. O corte pode ser realizado a cada 04 anos – quando a tora é destinada transformada em lenha – ou com período maior de 06 anos – quando a tora é transformada em madeira. Com isso o produtor pode optar por cortar parte da plantação para lenha e outra parte para madeira, entretanto ao fazer isso as árvores cortadas não rebrotaram novamente, devido à sombra das árvores não cortadas. Por este motivo Izair opta por cortar todas as árvores no mesmo período e assim garantir seu rebrotamento. A venda destes é realizada por tonelada – em média rende R$ 55,00 por tonelada78 – e é vendida para uma empresa de Maringá,

especializada em corte de árvores, que repassa para o seu destino final. Além da rentabilidade, proporciona uma melhora no ambiente do galpão das aves, pois não é necessário nenhum agrotóxico, além de gerar sombreamento, diminuindo a temperatura.

Já a seringueira foi plantada visando à extração do látex. Esta é plantada próxima ao cafezal, garantindo um sombreamento parcial para os pés de café. Como é uma atividade pioneira na região, implantada em parceria com o EMATER-PR, o produtor ainda não sabia informar como seria sua destinação, pois a mesma não estava na idade correta para a retirada da seiva.

Para a manutenção da propriedade, além dos galpões há um caminhão utilizado para a pecuária e para a atividade cafeeira. Para a atividade de criação de aves existem dois funcionários que trabalham como parceiros, estes recebem 18% do produzido nos galpões em que

78 Na época da entrevista o eucalipto estava sendo cortado por uma empresa de Maringá. Em 1,5 alqueire (3,63 hectares) rendeu 700 toneladas.

trabalham, entretanto se este montante não ultrapassar a renda de R$1.000,00 por mês, este salário é garantido pelo empregador. Estes funcionários residem na propriedade e não possuem despesas com água, luz e moradia. Izair administra sozinho sua propriedade e reside apenas com sua esposa, seus filhos estudam fora da cidade, pois já cursam faculdade.

O grande destaque desta entrevista foi a consciência deste pequeno produtor a respeito da modernização e da produtividade. O mesmo, em toda sua fala, comenta o quão é importante se manter atualizado tanto em maquinários, quanto em técnicas de produção. É interessante ver a percepção do mesmo em relação à decadência do café no norte do Paraná e o sucesso da atividade no cerrado brasileiro.

No Paraná, a maioria dos produtores reclama que a atividade está decadente por causa do preço, mas os mesmos esquecem-se de buscar novas técnicas e aparelhos para a produção, pois com o mesmo preço os produtores do cerrado conseguem lucratividade. (GUTIERREZ, 2013).