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4. CONFIGURAÇÃO DO SETOR PRIMÁRIO DO NORTE DO

4.1. Astorga

4.1.4. Roberto Zafallon

56 Entrevista cedida por Roberto Zafallon, pequeno proprietário rural e representante dos avicultores, na sede do Sindicato Patronal Rural, em Astorga, no 21 de maio de 2013.

A família (avós, pai e tios) de Roberto é oriunda do estado de São Paulo e rumou para o Paraná com o objetivo de trabalhar na atividade cafeeira. Estabeleceram-se numa região que atualmente corresponde a um distrito de Astorga, chamado de Santa Zélia, em meados da década de 1930. Segundo Zafallon (2013), a propriedade foi comprada de um terceiro e não diretamente da CTNP/CMNP, mas não soube dizer se o antigo proprietário havia comprado da empresa. Este terceiro comprava propriedades e vendia para quem se interessasse em desmatá-la e adequá-la ao plantio.

O início da atividade cafeeira por parte da família (avós, pai e tios) de Roberto se deu numa propriedade de aproximadamente 40 alqueires (98,6 hectares). O plantio do café continuou até a geada de 1975 causar estragos quase que irreversíveis em sua produção. A partir daí diversificaram a produção com a criação de gado, o plantio da chamada “lavoura branca57”, soja, milho e trigo. O café foi erradicado alguns anos

mais tarde devido ao preço muito baixo.

O êxito na atividade agrícola permitiu que outras propriedades agrícolas fossem compradas, entretanto com o passar do tempo houve a divisão da mesma entre a família devido à herança. A propriedade original foi dividida entre a família fazendo com que partes fossem vendidas. Os parentes que continuaram na atividade agrícola permaneceram com a pecuária de gado e com o plantio de soja, milho e trigo.

Já Roberto, em sua trajetória, trabalhou com seu pai tanto em propriedade rural quanto em atividade comercial. No campo a principal atividade era a criação de gado, já no comércio, vendia cereais no atacado (cerealista). Após casar, Roberto deixou de trabalhar com seu pai e permaneceu na atividade agropecuária, mantendo uma propriedade de 7,5 alqueires (18,15 hectares). Nesta possui diversas atividades como a criação de gado para o corte, criação de aves no sistema de integração e cultivo de cana-de-açúcar. Esta última é mantida em uma área de 05 alqueires (12,1 hectares) e as outras atividades nos 2,5 alqueires (6,05) restantes.

Com o ganho obtido com a atividade agropecuária, ingressou também no setor imobiliário e passou a investir na compra/construção de propriedades na cidade, visando a locação das mesmas. Tanto a diversificação no meio agropecuário, quanto o investimento no setor imobiliário se deu com o objetivo de fugir de crises de um produto, e assim conseguir obter uma renda mensal.

O cultivo da cana-de-açúcar é feito em uma espécie de arrendamento para a cooperativa que atua em Astorga, a Nova Produtiva. A cooperativa faz o preparo da terra, o plantio, a manutenção e a colheita da cana-de-açúcar e o proprietário apenas fornece a terra. O pagamento ao proprietário é combinado anteriormente, que no caso de Roberto, foi de 40 toneladas por alqueire (como possui 05 alqueires, recebe o equivalente a 200 toneladas) divididas em 03 parcelas. O valor pago varia conforme o preço da cana-de-açúcar no mercado, que é ditado pelo Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool do Estado do Paraná (CONSECANA-PR)58. Como o pagamento

é feito anteriormente a colheita e a divulgação dos preços da cana-de- açúcar do ano vigente, o mesmo é sempre reajustado ao final do ano, conforme os preços divulgados pelo CONSECANA-PR.

Já a criação de gado para o corte na propriedade é feita no pasto solto, não em regime intensivo. A mesma tem como o objetivo a venda para açougues locais ou para terceiros que abatem em grandes quantidades e revendem a frigoríficos. Não há nenhum acordo pré- estabelecido, a criação é feita como uma reserva de capital, quando há necessidade de dinheiro, ou quando o gado está no peso ideal a venda é realizada. O preço é estipulado pela arroba do boi gordo na hora da venda, ou seja, varia conforme o peso, e a necessidade da venda, a quantidade vendida, e etc.59. Esta atividade é a única que gera despesas

com insumos – despesas com medicamentos, alimentação, assistência técnica veterinária, entre outros – que são comprados da Cooperativa Integrada, da Cooperativa Nova Produtiva ou, em raríssimos casos da Cooperativa Bela Agrícola.

A criação de aves é feita em parceria com empresa Averama Comercial e Industrial e funciona no sistema de integração onde o

58 Em 26 de abril de 2000, é criado o CONSECANA – PARANÁ – CONSELHO DOS PRODUTORES DE CANA-DE-AÇÚCAR, AÇÚCAR E ÁLCOOL DO ESTADO DO PARANÁ, cuja função principal é oferecer subsídios aos produtores de cana-de-açúcar, açúcar e álcool sediados no Estado do Paraná, na formação dos preços da cana-de-açúcar, em regime de livre mercado.

59 Segundo o sítio rural centro do portal uol, o último valor de cotação para o boi gordo de 180kg em 27 de março de 2015, o valor era de R$142,00 na arroba. (RURALCENTRO, 2015). Do peso total do boi (peso vivo) é descontado metade (peso morto, ossos e partes não aproveitadas), do total que sobra divide- se por 15, que é o equivalente a 01 arroba, e assim se obtêm o valor arrecadado na venda do mesmo.

parceiro é responsável pelo galpão e pela engorda dos animais e a empresa fornece os insumos e a assistência técnica necessária.

A propriedade possui 02 galpões automatizados e o aquecimento é feito à lenha, nestes são criados em média 70 mil frangos por lote – 35 mil aves em cada galpão. Devido ao elevado custo para automatização dos mesmos, os galpões devem possuir um tamanho mínimo de 1.800 m², para compensar o montante investido, no caso da propriedade o tamanho é de 2100 m². O período de confinamento do lote é de aproximadamente 45 dias e mais 15 dias para manutenção e higienização do galpão. O pagamento é feito com base em uma fórmula fornecida pela empresa, que paga em média R$0,50 por frango.

Para esta atividade conta com um granjeiro, que trabalha no sistema de parceria, prática comum na atividade agrícola. Como o aviário é totalmente automatizado o valor pago para a manutenção gira em torno de 12% a 15% do recebido pelo lote. Essa diferença para o aviário manual se dá pela quantidade de serviço que diminui consideravelmente60, entretanto, em contrapartida o trabalhador deve

possuir um maior grau de conhecimento técnico para lidar com o equipamento mais moderno.

Da cama gerada pelos galpões, parte é utilizada na adubação da cana-de-açúcar da propriedade e o resto vendido a produtores agrícolas, cooperativas, empresas de adubo orgânico, entre outros. Esta é retirada 01 vez ao ano – 06 a 07 lotes de aves criados –, ou um pouco mais chegando uma vez a cada um ano e meio – 8 ou 9 lotes – e o pagamento é feito por tonelada, de R$90,00 a R$ 100,00 quando a cama passou no mínimo por 03 lotes61.

60 No aviário manual um casal não conseguiria cuidar sozinho de um galpão com 35 mil aves, devido a manutenção dos comedores, a higienização dos bebedores, e demais atividades. Já no automatizado, como estas atividades são realizadas automaticamente, o serviço cai pela metade e o mesmo casal consegue cuidar de no mínimo 02 aviários de 35 mil frangos de capacidade cada.

61 Para calcular o total da cama gerada por um aviário deve-se descontar a taxa de mortalidade de aves, que varia em torno de 2 a 4% do lote, o resultado deve ser multiplicado por 900 gramas, que é em média a quantidade de adubo gerada por uma ave em um lote. A esse valor multiplica-se o número de aviários (caso sejam do mesmo tamanho) ou soma-se ao montante dos outros, caso possuam tamanhos diferentes. Desse total multiplica-se o número de alojamentos que aquele galpão teve antes da retirada da cama e assim obtêm-se o número de toneladas gerado pelos aviários.

Além das atividades agropecuárias citadas acima e dos negócios no ramo imobiliário que possui, Roberto busca montar uma associação dos produtores avícolas em Astorga e região próxima. De acordo com a sua visão sobre a situação dos avicultores da região, o mesmo comenta como está a situação dos produtores e as dificuldades encontradas para formular uma associação.

A situação dos produtores de aves de Astorga e região, segundo Zafallon (2013), varia conforme o ano. Isto por que os produtores devem, no mínimo, conseguir criar 06 lotes de frango anualmente para obtenção de resultados satisfatórios, e assim receber uma melhor remuneração das empresas.

O mesmo comentou que os resultados obtidos em 2012 foram ruins para os produtores porque não conseguiram atingir a meta de 06 lotes anuais. O resultado ruim foi devido ao preço do milho, soja e outros insumos utilizados ter sido elevado, com isso as integradoras usam deste artifício para pagar menos por frango e assim o produtor ficou com menos dinheiro para reinvestir no galpão, fazendo com que o seu período sem frangos aumentasse (ultrapasse a média dos 15 dias) e assim não conseguiram criar 06 lotes naquele ano.

Essa situação em 2013, ano da entrevista havia melhorado, mas para RZ ainda existia uma grande dificuldade, por parte dos produtores para administrar a propriedade. Isto porque muitos não sabiam nem o quanto era gasto para fazer a propriedade girar, e assim não tinham ideia do valor ideal a ser pago pelas empresas avicultoras. Quando um produtor reclamava do valor recebido, as mesmas indagavam se o produtor sabia qual seria o preço ideal para a criação e os mesmos não sabiam afirmar, pois desconheciam o seu custo real.

O produtor muitas vezes era iludido com o montante recebido pelas empresas, isto porque ele desconsiderava os custos com a inovação e melhoria nos galpões; não se davam conta que um galpão se deteriora e que seu “prazo de validade” é de no máximo 10 anos. Se olharmos para o início das atividades das empresas deste ramo e compararmos a situação delas com a situação dos primeiros parceiros, fica evidente que os mesmos foram explorados. Hoje as empresas que atuam neste ramo estão milionárias enquanto que os primeiros parceiros ou permaneceram estagnados, cobrindo os custos, ou foram abandonados pelas empresas, pois seus galpões deixaram de atingir os requisitos mínimos e os mesmos não possuíam recursos para reinvestir no galpão – fato que aconteceu com muitos integrados da Big Frango de Rolândia e da Jaguáfrangos de Jaguapitã. O barracão construído atualmente já é feito nos moldes mais modernos (automatizado, com controle de ração e água

automático, ar-condicionado, aquecimento automático), os antigos que não conseguiram se modernizar são mantidos apenas para garantir o abate diário, quando surge um novo integrado que satisfaça o seu abate, aquele menos moderno é descartado.

Esse foi um dos motivos que o levou a lutar por uma associação entre os produtores. Inicialmente, ela atuava no sentido de orientar os produtores e disponibilizar uma fórmula que auxilia no cálculo do custo de produção com base em valores gastos com lenha, energia, manutenção e reinvestimento, tamanho do aviário, entre outros. No passado, quando não se sabia esse valor, a exploração por parte das empresas era maior, atualmente, o produtor já tem um poder de barganha um pouco melhor por já conhecer a sua atividade.

Outro motivo que o levou a luta por uma associação é criação de uma parceria entre as empresas avícolas da região, a UNIFRANGO. Anteriormente a criação desta parceria, as empresas avícolas competiam umas com as outras, por novos avicultores, ou seja, o produtor tinha a possibilidade de integrar sempre com a que oferecia melhores preços, e assim as empresas tinham que pagar um valor maior para conquistar o parceiro. Com a união ficou estabelecido que um frigorífico não poderia aliciar o integrado de outro, além do estabelecimento preços máximos para o pagamento por ave, aproximadamente R$ 0,60. Com isso, e devido ao pagamento do produtor ser realizado através de fórmulas, o gasto das empresas por lote é quase estável, pois quando pagam mais para um produtor, para outros pagam menos, ou seja, nunca gastam além do estipulado. Quando há reclamação de um integrado, aumentam um pouco no próximo lote do mesmo, retirando um pouco de outro produtor.

Devido a essa união das empresas, os produtores ficaram reféns das mesmas já que sozinhos não possuíam margem para a negociação. E este sim foi o estopim para a busca por uma associação que representasse os avicultores da região. Em 2013, ano da entrevista, a associação iniciava a sua atuação ainda que em passos bem lentos, pois constantemente as empresas buscam minar qualquer tipo de união dos produtores. Além da atividade de orientação dos custos, a associação tinha a intenção de auxiliar na transparência dos procedimentos realizados pelas frigoríficas, no controle do peso das rações recebidas, peso dos frangos e dos cálculos, pois atualmente as empresas repassam os valores, sem haver nenhum controle do produtor.

O objetivo, em 2013, era fundar uma associação seguindo os moldes do estado de Santa Catarina, e da cidade de Dois Vizinhos no Paraná. Além de unir os produtores de Astorga a associação busca integrar os

produtores dos municípios vizinhos como Iguaraçu, Munhoz de Melo, entre outras. A associação passaria a funcionar como uma cooperativa, possuindo maquinário necessário para manutenção dos aviários, auxiliar na compra de materiais barateando os preços, e estabelecer preços mínimos mediante as empresas frigoríficas. Somente em Astorga existem aproximadamente 200 avicultores, com capacidade de produção de 04 milhões de aves por lote, e ainda não há união entre os proprietários.

Essa desunião é resultado da ação das empresas para dificultar essa mobilização, as mesmas, como não divulgam seus resultados com transparência, agem sempre com margem para aumentar um pouco o valor pago a um produtor rural que reclame, que ameace sair. Isto dificulta a criação de uma associação, pois quando o mesmo recebe um valor superior fica com medo de se associar com medo de perder esse valor no próximo lote. O mesmo acontece quando um parceiro entra na atividade, no início o valor recebido é atrativo, depois que o produtor investe no barracão e assume financiamento, diminuem o valor sabendo que o mesmo está preso ao empréstimo e não poderá deixar a atividade.

A solução, além da união dos produtores em associações, para Zafallon (2013), seria a criação de cooperativas que explorem a atividade frigorífica, como estava em vias de acontecer com a Coocari em Mandaguari. Ao invés de ser feita fórmula de pagamento, o produtor receberia a parte que lhe cabia do lucro da cooperativa baseado no número de aves entregues. Assim todos evoluiriam com a produção e não somente o industrial.