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4. CONFIGURAÇÃO DO SETOR PRIMÁRIO DO NORTE DO

4.4. Miraselva

4.4.3. Vanderlei Pelaquim

Sua família (avós e pais) é natural de São Paulo e sempre trabalhou na atividade cafeeira. Quando chegaram ao norte do Paraná adquiriram uma propriedade de 15 alqueires (36,6 hectares), na cidade de Sertanópolis, destinada ao cultivo do café. Seu pai trabalhou durante muito tempo para o avô de Vanderlei, mas após um ano do nascimento de Vanderlei, em 1968, comprou uma propriedade de 05 alqueires (12,01 hectares) em Miraselva. Vanderlei relata que ajudou no trabalho da propriedade desde os seus 07 anos de idade, pela estatura, eram ele e seu irmão que limpavam os troncos dos cafezais.

Anos mais tarde, em 1986, Vanderlei se casou e rumou para São Benedito, localidade próxima à cidade de Jaguapitã. Lá, em parceria com seu irmão e com seu cunhado, arrendou terras para o plantio de algodão. Com o sucesso da atividade conseguiu adquirir algumas propriedades na região. Entretanto, devido a uma praga do algodão chamada de bicudo-do-algodoeiro70, desistiu da atividade – pois o custo para eliminar a praga era muito alto, além de muitas propriedades terem se mecanizado, acentuando ainda mais a concorrência.

69 Entrevista cedida por Vanderlei Pelaquim, pequeno proprietário rural, em Miraselva, no dia 20 de maio de 2013.

70 “O besouro bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) pertence à família Curculionidae, que possui a característica de apresentar o rastro bem

desenvolvido, alvo da origem do nome ‘bicudo’. Esta praga é específica do algodoeiro, por possuir apenas esta espécie de planta que proporciona condições para que este inseto complete todo o seu ciclo de vida” (GRIGOLLI, 2015).

Em 1992, após vender as propriedades compradas para a atividade do algodão, adquiriu uma propriedade em Miraselva de 10 alqueires (24,2 hectares), que mantinha até a data da entrevista, juntamente com seu irmão. Como ingressariam na criação do bicho-da-seda tiveram que adequar a propriedade ao plantio de amoras e construção de barracões, pois a mesma, que estava abandonada, possuía longos pés de café plantados. Mudou-se em 1993, e além de investir na atividade já citada, ingressou na criação de aves, no sistema de integração, com 02 barracões destinados para o alojamento e engorda.

Durante muito tempo a sericicultura foi muito forte na região, principalmente nos municípios de Jaguapitã, Guaraci e Miraselva, mas devido à escassa mão de obra e o custo de manutenção, a mesma foi gradativamente perdendo sua importância. Na propriedade de Vanderlei a área destinada ao plantio da amora foi sendo reduzida e substituída por pastagem para a criação de gado. Neste meio tempo separou-se de seu irmão71, como já haviam comprado outras propriedades, a divisão

deixou com Vanderlei a fazenda de Miraselva, já seu irmão ficou com outra de tamanho aproximado mais afastada da cidade.

Atualmente Vanderlei continua com a pecuária de gado visando a produção de leite e com a criação de aves. Nesta atividade já passou por várias empresas integradoras, como a Comaves e a Diplomata, e atualmente integra com a Granjeiro. Com a segunda, o fim da parceria não foi nada amistoso, isto porque a mesma faliu e não pagou os dois últimos lotes de frango que foram entregues.

Já a nova parceria, com a empresa Granjeiro, funciona nos moldes de toda integração, ou seja, o produtor entra com aviários, manutenção e serviços e a empresa fornece os pintinhos, a ração, medicamentos, assistência técnica (veterinário). O período de confinamento variava de 45 a 50 dias, mais 15 dias de manutenção, sem aves, até receber o próximo lote. O pagamento também é feito através de uma fórmula, mas em média paga de R$0,40 a R$0,50. Esta propriedade possui 04 barracões, sendo que 02 possuem 600m² e alojam 7 mil frangos cada um, 01 possui 800m² e aloja 10 mil frangos e o outro possui 900m² e aloja 12 a 13 mil frangos. Estes geram um total de aproximadamente 37 mil frangos alojados.

Destes aviários, os dois menores são mais antigos, ou seja, o trabalho é todo manual, o de 800 m² já é considerado semi- automatizado, possui forno movido à lenha com regulagem automática e

71 Este atualmente tem a propriedade arrendada para a empresa Alto Alegre, que planta cana-de-açúcar, além de continuar, em pequena escala, na sericicultura.

água com sistema pendular. O maior é mais novo, portanto, foi construído com forno com regulagem de temperatura, sistema de fornecimento de ração automatizado e água pendular. Os dois primeiros foram conseguidos com auxílio do programa Panela Cheia72; para a

construção do galpão de 800m² foi utilizado recurso próprio, tendo sido financiado apenas os equipamentos pelo Banco do Brasil, e o último foi totalmente pago com recursos próprios, sem financiamento. Todos os aviários são aquecidos por lenha73 que é comprada na região, sendo que

não há preferência pelo tipo, compra-se sempre a com menor preço. Desta atividade ainda destaca-se o reaproveitamento da cama do frango, que é retirada a cada 03 lotes74, a quantidade de

aproximadamente 200 toneladas, seu uso oscila entre a venda em momentos de crise financeira, como no caso do prejuízo gerado pela falência da Diplomata, ou também na destinação da cama para a adubação da pastagem e da cana-de-açúcar usada na alimentação do gado.

Quando a cama é vendida o preço varia entre R$ 70,00 a R$ 80,00 a tonelada e a mesma é destinada a empresas de adubo e para outros proprietários de terra (sericicultores, canavieiros, entre outros). Entretanto uma empresa em especial, a Alto Alegre, já sondou a associação dos produtores do município, a APRAM, para saber qual é o montante total gerado pelos aviários visando a compra de toda cama gerada para utilizar na adubação das plantações de cana-de-açúcar que arrenda naquela região.

Ao comentar sobre a atividade avicultora Vanderlei afirma que os criadores deveriam ser mais valorizados, pois o investimento na infraestrutura necessária para a atividade e a constante renovação da tecnologia utilizada para a mesma, deixam o ganho real do produtor muito aquém do esperado. Para ele as empresas não valorizam os criadores porque sabem que estes se tornam reféns da atividade, pois atualmente não há como criar frangos sem a integração, porque são

72 Criado pelo ex-governador do Paraná, Roberto Requião, dava como garantia a financiamentos bancários – para a aquisição de maquinário agrícola, insumos ou sementes – à produção de milho. (PARANÁ, 2015)

73 Sobre a lenha Pelaquim (2013) faz uma alusão a madeira de “lei” no Paraná, antigamente a peroba era considerada importante e utilizada para tudo, hoje em dia o eucalipto substituiu a importância daquela, sendo considerado por muitos, a aposentadoria do produtor rural.

74 Retira com 03 lotes, pois assim garante o preço mais elevado pago para este “produto” e evita que o odor se espalhe na vizinhança, pois sua propriedade localiza-se próxima da área urbana do município de Miraselva.

somente as empresas integradoras que recebem, e estas só recebem frangos que elas entregam. Se o produtor cria e não tem onde entregar, ficará com todo o prejuízo.

O mesmo relatou que no início da atividade granjeira, na década de 1980, o produtor criava sozinho, por sua conta e recebia muito mais pela atividade, pois não havia tantos criadores. Estes contavam com lotes pequenos, de 10 mil frangos, em poucos lotes o produtor já recebia dinheiro suficiente para a aquisição de bens, como um caminhão, por exemplo75. Com o passar do tempo, ao perceberem que a atividade foi se tornando rentável, muitos produtores passaram a trabalhar nesta atividade. Atualmente existem muitos granjeiros com propriedade gigantescas e totalmente mecanizadas, com criação em condomínios, que comportam de 200 mil a 1 milhão de aves.

Com a maior produtividade destes, os pequenos produtores que trabalham com esta atividade recebem menos de acordo com as fórmulas, além de a própria integração diminuir os ganhos do produtor, porque não há mais a venda do frango, e sim a prestação de um serviço, que é a criação do frango.

Segundo Pelaquim (2013) a atual situação chegará a um ponto que ou produtor automatiza todo o seu aviário, e o mantém nas melhores condições de criação, ou será expulso desta atividade. Isto é claro, com o custo de construção e modernização feito por parte do produtor.

Sobre a pecuária de gado, a atividade é predominantemente voltada à produção de leite. O produtor entregava sua produção para a empresa Vigor, há 13 anos em 2013, que recolhe o leite na propriedade, armazena em Santo Inácio-PR e depois destina às unidades fabris no estado de São Paulo. Esta, segundo Pelaquim (2013), tem um rígido controle de qualidade, e exige que o ambiente da coleta seja o mais limpo possível.

Depois de ordenhado o leite é armazenado na propriedade e permanece refrigerado por 02 dias até a captação feita pela empresa. Apesar da remuneração baixa pelo litro do leite, Pelaquim (2013) comenta que é uma atividade boa para o pequeno produtor, pois proporciona um faturamento mensal garantido, que nenhuma outra atividade rural proporciona.

A produção diária é de 300 litros de leite e este é vendido a R$ 0,95 o litro. Para a ordenha, a propriedade conta com ordenhadeiras

75 Pode ser devido a esta facilidade que a Jaguafrangos, empresa frigorífica de Jaguapitã, chegou no patamar atual, pois seus donos começaram como granjeiros, vendendo seu produto sem integração (VICENTIM, 2010).

automáticas que destinam o produto diretamente no refrigerador. O gado utilizado é o “Girolando”, mistura de vacas holandesas com gado gir. A reprodução do gado é feita na propriedade e quando há o nascimento de um macho o mesmo é destinado à engorda para o corte, mas não até o peso ideal, pois não há espaço suficiente na propriedade para isto, a venda é feita com no máximo 10 ou 11 arrobas. Com isso o preço fica um pouco abaixo do preço da arroba do boi, que na época era de aproximadamente R$ 90,00.

Possui ao todo cerca de 112 cabeças de gado cuja alimentação é realizada com ração concentrada e cana-de-açúcar cultivada na propriedade, não é feita silagem na propriedade, pois não há maquinário para fazê-la. A ração para as vacas leiteiras é comprada da Cooperativa Integrada, já os insumos da cooperativa COFERCATU. Os insumos e ração dos aviários são todos fornecidos pela empresa parceira.

A propriedade ainda possui, além dos implementos já citados, um trator para o trabalho com o gado. Quando outro equipamento é necessário, é alugado da APRAM ou da prefeitura – que possuem trator, plantadeira, colheitadeira, plaina, cocho, pulverizador, entre outros.

Cada atividade conta com funcionários para o auxílio da mesma, entretanto com relações de trabalho diferenciadas. Na atividade avícola existe um parceiro que recebe 30% do produzido nos 04 galpões, já para a pecuária de gado um funcionário é contratado pelo regime da CLT.

O entrevistado afirma ainda que não possui outra atividade em nenhum outro ramo, mas sua esposa é professora municipal de Miraselva.