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A mudança paradigmática na ciência: do modelo clássico para o modelo

A trajetória percorrida pela ciência é outro âmbito no qual fica patente a força inerente à energia dos movimentos gerados num contexto de mudança paradigmática. Os axiomas científicos prevalecentes num período determinado conduzem os eruditos, os pesquisadores, bem como, as pessoas comuns a agirem na conformidade dos seus convincentes postulados. Nesse sentido, o tecido social formado por diversos grupos cultiva uma visão de mundo que estabelece o consenso sobre o modo de entender, perceber e atuar perante os desafios e o cotidiano suscitados pela realidade. Assim, os indivíduos partilham de um modelo paradigmático vigente com uma visão programada a considerar e a estabelecer interações apenas com um determinado mosaico de fatos e elementos inerentes aquele padrão definido.

É desta forma que, sob o predomínio de um paradigma científico vigente, fica estabelecido um roteiro estruturado, contendo crenças e procedimentos, conseqüente e

supremacia do paradigma, estes fatos vão assumindo posições secundárias na escala de valores do padrão prioritário de conhecimento. Portanto, apenas quando circunscrito no interior dos limites do paradigma é que determinado fenômeno irá agregar importância aos seus elementos constitutivos.

Neste ponto da argumentação é possível aludir novamente à metáfora do vinho e do pano, acima referida. Ou seja, a ausência de uma coalizão que instile uma forma de identificação entre o momento de vigência de um modelo paradigmático e determinados enfoques que se postam provocará uma relação de insuficiente aderência entre ambas as estruturas. Essa inconsistência inviabilizará o processo de acolhimento desses elementos que se apresentam por parte do paradigma preponderante naquele contexto definido. O remendo de pano novo não encontra no pano velho adequado terreno para a sua ambientação e manutenção, assim como, o vinho novo não tem no odre antigo atmosfera adequada para a seu alojamento e fermentação.

Após o período medieval, cuja incipiente estrutura científica, bem como os demais âmbitos culturais e sociais, estavam assentados nos princípios do teocentrismo, é iniciado no século XVI um movimento de transformações profundas em todos os setores afetos às atividades humanas. Este momento, identificado como Idade Moderna, contabilizou uma série de eventos que contribuíram para a conjunção de uma diferente estrutura científica, cada vez mais distante do espiritualismo religioso da Idade Média. O que estava ocorrendo era o surgimento das raízes geradoras da ciência clássica, abordagem racional que atingiria o seu ápice alguns anos mais tarde e cuja plataforma gnosiológica reverberaria absoluta por um tempo considerável na história do conhecimento.

Discorrendo sobre este momento composto de especiais alterações epistemológicas e científicas, Moraes (2002) explana que:

A partir dos séculos XVI e XVII, a natureza da ciência medieval começou a sofrer mudanças radicais. A visão de um mundo orgânico, vivo, espiritual e encantado passou a ser substituída pela noção de mundo máquina, em virtude das mudanças revolucionárias na física e na astronomia. Essa época, chamada de Idade Moderna, teve como fatores marcantes o Renascimento, que reposicionou o homem como centro do significado histórico – período do antropocentrismo; os grandes descobrimentos marítimos que caracterizavam o apogeu do mercantilismo; e o racionalismo, com o advento da experimentação científica (MORAES, 2002, p. 33).

Quando se vivenciava o apogeu do parâmetro científico clássico havia um determinado rol de competências, comportamentos e atitudes que convergiam para os eixos centrais desse paradigma. Este modelo convencional analisava a realidade de modo compartimentalizado, ou seja, a compreensão do mundo transitava no entendimento de que as suas partes existiam de maneira independente. Esta cisão entre os diferentes elementos, por sua vez, não comprometeria o funcionamento do universo que seguia sem problemas nesta percepção limitada de alinhamento estrutural. Este aspecto, na verdade, é um dos mais caros argumentos adotados para harmonizar a tese da ciência clássica.

Decorre deste viés interpretativo o fato da especialização. Nesta perspectiva, sob a ditadura dos ambientes delimitados e autônomos do conhecimento, germinam as competências exclusivistas. Na ânsia de saber, o conhecedor se aprofunda em determinado nicho da realidade e busca a verdade sobre determinado fenômeno. Nesta rota, cerceado pelos limites intransponíveis da ciência modular, entende e acredita ser possuidor da verdade, mesmo que parcial e desconectada dos demais espaços que formam a totalidade do universo. O mito da especialização, além de ludibriar atribuindo uma importância irreal ao olhar isolado do mundo, transmite ainda a ideologia que busca justificar, através da demonstração, uma validade superior às suas conquistas experimentais.

Uma dos resultados produzidos, através da vigência dessa concepção estruturada nos esquemas especializados, é um progressivo processo de distanciamento da realidade. Tendo em vista que esta tendência anômala encontra arena numa compreensão limitada, tanto da natureza como do homem, as respostas localizadas nos respectivos recortes do mundo satisfazem e alimentam os seus objetivos e intenções. Estas produções experimentais, ainda que parciais e desconexas do global, agregaram valor na manutenção e proporcionaram a sobrevivência do modelo clássico de ciência. Amparado nesta diretiva de sucesso pragmático, este padrão arregimentou argumentos no sentido de desconsiderar um olhar mais contextualizado de investigação do entorno existencial.

Nesta fase moderna, período no qual a ciência clássica se estabeleceu, se deu o arrefecimento progressivo da influência da religião para com os assuntos alusivos ao cotidiano, bem como, para com as esferas referentes aos diversos conhecimentos elaborados. Este fato, que promoveu um rompimento com a cosmovisão medieval, inaugurou uma nova

com o meio. Esta alteração de atitude municiou a comunidade científica moderna de instrumentos práticos e teóricos com a finalidade de explorar a natureza. Esta, é deslocada de uma posição central, intocável e sagrada para uma situação submissa de meio de subsistência. Assim, os meios naturais passam a ser considerados como reservas de extração de recursos em serviço ao ser humano.

Ainda Moraes (2002) apresenta as inserções que essas alterações explicativas da realidade alcançaram nas diversas facetas do relacionamento humano com as diversas entidades com as quais estabelecia interação:

Do ponto de vista do objetivo da ciência, essa mudança teórica e prática na relação homem / natureza alterou também a relação ética e teórica do homem consigo mesmo e com os outros, e do homem com o religioso e o sagrado. Em conseqüência, ocorreram mudanças nas relações humanas do ponto de vista social, político e cultural, e também nas relações do homem com a natureza, em virtude da compreensão de que a linguagem da natureza já não representava, como outrora, a linguagem divina (MORAES, 2002, p.34).

A mudança na maneira de encarar a natureza, não mais como uma criação sacralizada e intocável, mas de uma forma profana, originou um novo método de investigação científica. A partir da aquiescência da comunidade moderna e, principalmente, da comunidade científica, o mundo natural passou a ser considerado como algo passível de ser manipulado. Esse método inédito, originado pela ciência clássica, tinha a teoria matemática como base nuclear da sua técnica demonstrativa. A certeza científica era de que apenas a descrição quantificada da natureza faria emergir a veracidade acerca dos fenômenos da realidade. No escopo deste argumento, as leis matemáticas seriam os elementos determinantes e principais na organização do mundo.

A absorção progressiva desse parâmetro lógico estruturou uma concepção de mundo cujo arremedo é a máquina. O mundo-máquina não comunga dos mesmos sentimentos humanos, aliás, pelos princípios da teoria científica clássica se infere que a natureza não é possuidora de volições emocionais. Nesse contexto, o homem, sujeito central do marco existencial, deve exercer preponderância sobre a natureza mediante a utilização da sua inteligência e embasado nas deliberações da sua vontade. A prerrogativa da autoridade do ser humano sobre os demais elementos da realidade natural é um das chancelas concedidas ao

homem pelo movimento antropocêntrico, tendência que se posicionou na contramão do teocentrismo vigente na Idade Média. É referenciada nesta abordagem que nasce a dicotomia homem – natureza. Guindado à posição superior frente aos demais elementos e seres constituintes da realidade natural, o ser humano, além de exercer a função de supremacia nesta relação, passou a ser categorizado como um ente situado acima e separado do mundo. É neste entendimento que não havia como estabelecer a diferença de patamar se não fosse cindido o entrosamento do homem com o meio. Deste modo, para permanecer numa condição elevada era necessário um processo de ruptura que possibilitasse essa descompatibilização antinatural. Assim, iludido com esta pseudo conquista, seguiu o homem sua saga pelo conhecimento, trilhando os roteiros do método positivo da ciência, porém, alienado de sua nova condição de órfão da natureza.

Essas transformações, engendradas no bojo da ciência clássica moderna, se harmonizaram naquilo que ficou convencionado como Revolução Científica. Todas as teorias tradicionais do conhecimento científico estão agrupadas sob esta denominação e sustentam um alinhamento coeso com as suas teses e com os seus princípios. Com a abertura do caminho que permitia o desvelamento dos mistérios da natureza, através do experimentalismo científico, a realidade estava à disposição para ser desvirginada e invadida. A tendência hegemônica das teorias modernas se pautava na observação dos fatos em si mesmos e não mais na argumentação de sabedoria ou lógica do pensamento formal e religioso.

Cotrim (1991) acrescenta a informação de que a passagem do arquétipo mental da Idade Média para as novas bases epistemológicas do pensamento científico moderno não se realizou de maneira imune às resistências. Ou seja, toda mudança paradigmática se efetua numa arena cuja trama é convulsiva e conflitiva. Ele afirma:

É preciso lembrar que a transição da mentalidade medieval para a mentalidade científica moderna não foi um processo súbito, tranqüilo e sem resistências. Forças ligadas ao passado medieval lutaram duramente contra as transformações que se desenvolviam, punindo os sábios da época e organizando listas de livros proibidos (o Index). Não é por outro motivo que grandes pioneiros da ciência moderna foram brutalmente perseguidos pelo Tribunal da Inquisição, órgão da Igreja encarregado de descobrir e julgar os responsáveis pela propagação de doutrinas heréticas (COTRIM, 1991, p.154).

Não obstante a resistência corporificada por grupos medievais e postada contra os novos postulados científicos da modernidade, o modelo clássico prevaleceu e se instaurou. A civilização renascentista, bem como das épocas seguintes, experimentou as alterações que emergiram com a nova cosmovisão apresentada. Nessa realidade mutante o homem vai tomando consciência da sua individualidade e passa a construir seu próprio caminho. Paulatinamente vai superando a prática gregária, comum ao pensamento coletivo da Idade Média, e construindo os muros limítrofes do individualismo. Atrelados a essa pré-disposição egocêntrica emergem os registros característicos do homem moderno vinculados às diferentes modalidades de competição.

Um outro aspecto a ser considerado é que nesse novo enquadramento paradigmático a busca pelo saber singrou uma direção perfilada com os referenciais do empirismo. Ou seja, um conhecimento sustentado da realidade somente seria comprovado através do processo demonstrativo aplicado aos fatos concretos da experiência. Para isso, seria imprescindível o exame dos casos e dos fenômenos e o correto estabelecimento das relações entre as variáveis envolvidas nos eventos estudados. Daí o conceito de causalidade que governa as etapas do raciocínio empirista. Nesta perspectiva, as ilusões devem ser abandonadas, pois, apenas as análises dos casos reais, devidamente testados pela experiência, são registros fidedignos para fundamentar a elaboração de leis e teorias científicas e suas respectivas causas.

O individualismo está associado ao subjetivismo e, nesse sentido, o entendimento que prioriza o sujeito, no processo de formulação e aquisição do conhecimento, é cardeal. Assim, os objetos estão separados daquele que exerce a ação ativa na aquisição do saber, ou seja, o indivíduo cognoscente. Esse reconhecimento atribuído pela ciência clássica ao homem como ser primordial no desenvolvimento da inteligência, alavanca consequentemente a importância da razão. Dessa forma, é estabelecida a superioridade da mente sobre a matéria, inferência esta que repercutiu expansivamente nos tratos posteriores acerca do conhecimento, bem como, alcançou outros níveis correlatos da existência cultural nas sociedades que se estabeleceram nos períodos seguintes.

Nesse contexto, que serviu de nascedouro para a dicotomia matéria – mente, todas as variáveis que serviriam para priorizar o intelecto se encontravam concatenadas e devidamente alinhadas. Como a separação entre os dois blocos já havia se consignado, o passo seguinte foi agregar atributos inferiores a um e características positivas a outro. A dimensão cognitiva e da

razão preponderou e passou assim a prover o mundo ocidental de uma nova realidade, não mais governada pelas ordenanças celestiais, mas monitorada pela supervisão do cérebro. O mecanicismo que se seguiu, apoiado pelos axiomas matemáticos, erigiu uma concepção de natureza que funciona de acordo com as leis mecânicas exatas. No vértice destes acontecimentos o fenômeno da tecnologia é potencializado e ganha espaço em todos os âmbitos da vida, influindo não apenas nas esferas científicas industriais, mas internalizando no homem moderno uma diferente visão existencial.

Com o aperfeiçoamento da técnica o homem passou a dispor de condições mais potentes para a intervenção na natureza. Esse ganho foi fundamental para os processos produtivos do modelo industrial nascente, bem como, acentuou a capacidade humana de manipulação dos agentes naturais. Esses direcionamentos foram se aperfeiçoando cada vez mais, conforme as necessidades elencadas pelos interesses mercantilistas da industrialização. A necessidade constante de maior produção carreou para o aperfeiçoamento da técnica e para a melhoria de sua instrumentalização. Esse movimento utilitarista gerou, alguns anos mais tarde, um campo de estudo na área da tecnologia para o desenvolvimento da automação do trabalho humano.

Nas suas abordagens sobre o assunto, Moraes (2002) apresenta alguns cientistas que contribuíram, com os seus pensamentos e as suas teses formuladas, para a moldura da fórmula da ciência clássica:

Surgiram no século XVII duas grandes figuras que colaboraram para a substituição da concepção orgânica da natureza pela metáfora máquina: Descartes e Newton. Descartes foi considerado o fundador da ciência moderna, pai do racionalismo moderno e aquele que concluiu a formulação filosófica que deu sustentação ao surgimento da ciência moderna. Newton foi quem complementou o pensamento de Descartes, dando realidade à visão do mundo como máquina perfeita ao desenvolver uma completa formulação matemática da concepção mecanicista da natureza (MORAES, 2002, p. 36).

No entanto, com as decorrências tecnológicas resultantes do modelo clássico de ciência, outras abordagens se agregaram para a efetivação de uma mudança paradigmática radical diante da visão tradicional iniciada no período da Idade Moderna. Os descontentamentos e as respostas não satisfatórias apresentadas pelo padrão científico

newtoniano-cartesiano foram fomentando ansiedades e questionamentos acerca dos reais alcances e benefícios trazidos à humanidade e à natureza pela visão de mundo vigente através daquele entendimento mecanizado da realidade. A partir do final do século XIX esses novos parâmetros teóricos foram se amalgamando e se enfeixaram no arcabouço explicativo que ficou estabelecido como modelo sistêmico do conhecimento científico.

Embora organizado em uma interpretação coerente de princípios, o modelo sistêmico não subentende o mundo apenas numa perspectiva, assim como faz a ciência clássica. O modelo tradicional está estruturado sobre uma compreensão monocórdia que não visualiza a realidade a não ser pela lente do mecanicismo. A visão sistêmica, por sua vez, é permeável às distinções de leitura da natureza e advoga a coexistência de polaridades nas reflexões sobre o mundo. Nessa conjectura, é uma concepção na qual a verdade científica não está no argumento de verdade definido pela religião, como acreditava a ciência medieval, nem tampouco na crença do funcionamento do universo como uma máquina, como alegado pela ciência clássica. A verdade é sempre provisória e tem na mobilidade o seu espaço instável de influência.

Sob esta visão sistêmica ou holística de ciência, múltiplas percepções dialogam entre si, ora confluindo linguagens, ora divergindo idéias, num mosaico de configurações, na busca de respostas aos desafios apresentados pelo conhecimento. Esse formato fluído, adotado por este padrão, valoriza as considerações das outras linhas epistemológicas e isso, por seu lado, acarreta a construção de um amálgama de interpretações sobre os acontecimentos e os fenômenos. O corolário desta nova fundamentação do conhecimento é o desenvolvimento de um olhar pluralista dos fatos e da existência. Essa leitura multifacetada ao mesmo tempo em que enriquece o trabalho do pensamento implica uma maior complexidade na análise da realidade, tendo em vista que a verdade não se encontra restrita a apenas uma abordagem privilegiada da ciência.

Outro aspecto agregado à perspectiva holística de ciência é a rejeição do recorte produzido pela ciência clássica quando entendeu o homem como um ser separado do restante da natureza. Deste modo, a dimensão da unidade é resgatada tencionando integrar estes dois pólos, a fim de que houvesse a retomada de um olhar mais completo do mundo. A partir dessa postura, de matiz mais abrangente, se buscou alcançar um grau mais elevado de compreensão dos processos nos quais interagem o indivíduo e a natureza. Essas interações, longe de serem

caracterizadas como singelas, ocorrem em situações complexas e em contextos nos quais inúmeras variáveis interferem para o resultado da ação produzida. No entanto, nessa tendência sistêmica, não há como alegar que a subjetividade humana está isenta de ser afetada pelas ocorrências naturais.

Senge (2009) discorrendo sobre a cidadania sistêmica propõe uma reflexão sobre como mobilizar mudanças a partir da consideração acerca dos sistemas globais. Ele afirma:

Os sistemas globais não são apenas globais. Eles estão bem aqui. Aqui está o segredo da visão geral de sistema. Ele não está apenas lá fora, está aqui dentro também. Somos os semeadores de tudo, no sentido de que carregamos os sistemas mentais que permeiam o sistema maior. Somos todos atores no sistema global de energia, de alimentos e no processo global de industrialização. Podemos pensar e agir de maneiras que reforçam o sistema na forma que ele funciona atualmente, ou pensar e agir de forma que o conduza em uma direção diferente (SENGE, 2009, p.445).

Portanto, para o paradigma sistêmico não existem separações ou cisões no processo de conhecimento ou de interação do sujeito humano com a realidade. A base adotada é a simultaneidade de influência dos diversos fatores que se estabelecem através de redes interligadas. É desta forma que é modificada a concepção de visão de mundo e redimensionado o efeito das influências das diferentes interferências na realidade. Se antes os conceitos de espaços da realidade física dividiam e dispersavam os componentes que conviviam na natureza, com o advento da perspectiva holística, o universo passou a ser visto como um todo indiviso e ininterrupto. Nesta diferente categoria, o homem está inserido neste contexto e não se exime dele para nele manipular variáveis.

A proposta inovadora da ciência, incorporada no paradigma sistêmico, valoriza a heterogeneidade dos parâmetros de entendimento da realidade natural. Essa permeabilidade é representativa da noção de plasticidade que fundamenta a própria natureza da matéria, conforme a concepção trabalhada pelas recentes pesquisas desta tendência. Nesse sentido, diferentes teorias acerca da realidade da matéria têm sido elaboradas com o intuito de referendar a noção de que o mundo concreto pode ser traduzido por ondas. Essa proposição incomodou a certeza solidificada da ciência clássica sobre os conceitos da existência e do

movimento dos materiais sólidos, pois, na visão tradicional moderna a definição sobre a matéria é homogênea e se estrutura sob os princípios rígidos da causalidade.

Outro ponto discordante entre a ciência moderna e as leis constituintes das concepções sistêmicas é o fato de que estas últimas elaboram seus raciocínios e conceitos com base nos princípios probabilísticos da incerteza. Ou seja, ao contrário do que defende a teoria clássica, em seus postulados acerca das inferências certeiras e absolutas obtidas através dos processos científicos da experimentação, as pesquisas holísticas apontam para a imprevisibilidade na conduta das partículas componentes dos corpos. Esse comportamento impreciso desses elementos desabona algumas crenças irredutíveis do paradigma moderno, convicções estas que permanecem embasadas em axiomas deterministas sobre a estrutura da matéria.

A relatividade é outro contraponto essencial inaugurado pela visão contemporânea de ciência. Com o apoio das teorias de Albert Einstein (1879-1955), e de outros pesquisadores,