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A OIT no Brasil e sua Influência no Mundo do Trabalho

3. AS CONVENÇÕES DA OIT E AS RELAÇÕES DE TRABALHO NO BRASIL NA

3.3. A OIT no Brasil e sua Influência no Mundo do Trabalho

Sendo possível afirmar a importância da OIT no contexto internacional como organismo que promove a afirmação do trabalho digno, confirma-se, pela adesão das suas normas pelos países-membros, um marco civilizatório. A adesão de cada Convenção aproxima o país deste ideal e reforça a importância do papel do organismo internacional.

As primeiras Convenções da OIT recepcionadas pelo Brasil foram as Convenções de número 3, 4 e 5, pelo Decreto 423, de 12.11.1935, que tratavam da maternidade, trabalho noturno das mulheres e idade mínima de admissão nos trabalhos industriais; enfim, estabeleciam regras para a proteção da mulher, inclusive pela gestação, e ao trabalho do menor. Estas Convenções foram adotadas em 1919 e recepcionadas no Brasil 15 anos depois.

Passados quase 80 anos da primeira recepção, é importante observar a influência das normas da OIT no Brasil, salientando a referência de Tapiola: “No podemos saber hacia donde estamos yendo si no tenemos una visión clara del camino ya recorrido” (2001, p. 66). Enfim, a história já percorrida é importante para saber por onde deve-se andar.

A análise histórica permite observar o progresso dos direitos fundamentais dos trabalhadores no país; não de forma uniforme ao longo da história brasileira, mas com avanços ao longo dos quase 80 anos que decorreram entre a recepção do primeiro tratado da OIT no Brasil, até os dias de hoje.

Em termos efetivos, a OIT mantém representação no Brasil desde a década de 50 do século 20, procurando promover a melhoria das condições de trabalho:

Além da promoção permanente das Normas Internacionais do Trabalho, do emprego, da melhoria das condições de trabalho e da ampliação da proteção social, a atuação da OIT no Brasil tem se caracterizado, no período recente, pelo apoio ao esforço nacional de promoção do trabalho decente em áreas tão importantes como o combate ao trabalho forçado, ao trabalho infantil e ao tráfico de pessoas para fins de exploração sexual e comercial, à promoção da igualdade de oportunidades e tratamento de gênero e raça no trabalho e à promoção de trabalho decente para os jovens, entre outras.118

118 “No Brasil, a OIT tem mantido representação desde a década de 1950, com programas e

atividades que refletem os objetivos da Organização ao longo de sua história.” Disponível em: <www.oitbrasil.org.br>. Acesso em: 2 abr. 2014.

No início do período Republicano brasileiro não havia preocupação com a questão social no trabalho. Exemplo é a Constituição de 1891, que não previa competência legislativa para tratar de matéria trabalhista, fato observado no país apenas por Emenda Constitucional em 1926, que definiu esta competência ao Congresso Nacional (MARTINS, 2009, p. 62).

Nesta perspectiva, é possível se estabelecer um paralelo da Constituição de 1891 com a de 1988, e do vazio legislativo em questões trabalhistas para a incorporação na Carta Magna do valor social do trabalho e da presença de muitos direitos do trabalho consolidados como direitos constitucionais.

A própria formação da classe trabalhadora no país surgiu a reboque do cenário mundial, resultado do atraso brasileiro e, especialmente, pela própria atividade do Estado, como expõe Hinz:

Estado instalando o parque industrial (quer investindo nessa atividade, quer incentivando o ingresso de multinacionais), criando uma classe operária até então inexistente, nos moldes dos países desenvolvidos, elaborando uma legislação protetora, no aspecto individual, para essa mesma classe (...) (e de uma estrutura sindical baseada na noção corporativa, segundo a qual não pode haver conflitos entre os interlocutores sociais, devendo todos buscar sempre o bem da Nação. (...) O mercado de trabalho no Brasil surgiu como um ato de Estado (2007, p. 32).

Se o Estado brasileiro promoveu a organização da classe trabalhadora e de seus direitos, este Estado estava a serviço majoritariamente do pensamento de uma elite, que não demonstrava interesse ou preocupação na formação dos direitos da classe trabalhadora, porém, com o controle do processo de organização dos trabalhadores, buscava evitar conflitos na relação entre o capital e o trabalho.

Por esta situação, a inserção da OIT nas relações de trabalho no Brasil tornou-se um marco para a inclusão da dignidade nas relações de trabalho, pois este tema não era pauta significativa do governo do país até aquele momento.

Com um recorte dos mais significativos como exemplo – erradicação do trabalho infantil –, em 1919 a OIT tratou pela primeira vez do tema trabalho do menor, por meio da instituição da idade mínima para trabalho na indústria, pela Convenção 5, que proibia o trabalho dos menores de 14 anos naquele setor. O Brasil, que havia participado desta discussão na OIT, estabeleceu, em 1927, antes

da recepção do tratado que ocorre apenas em 1935, regras pelo Código de Menores,119 que proibia o trabalho aos menores de 12 ou 14 anos que não tivessem completado instrução primária.

Passados 80 anos da edição da Convenção 5, a OIT produz, em 1999, a mais recente Convenção que aborda o mesmo tema, a Convenção 182, que estabelece as piores formas de trabalho infantil e ação imediata para sua eliminação. O Brasil incorpora esta Convenção com o Decreto 3597/2000, que proíbe todas as formas de trabalho com impacto negativo na formação física ou psicológica dos menores de 18 anos.

O trabalho infantil é motivo de preocupação histórica da OIT, que, entre seus principais programas, inclui o Programa Internacional para Eliminação do Trabalho Infantil (Ipec), incluído no propósito de redução do déficit de trabalho decente.

Esta inclusão demonstra que, independente do lugar em que habitam os homens, os temas debatidos na OIT acabam por influenciar os países envolvidos, como no caso em questão – trabalho infantil –, estabelecendo que as crianças tenham nas normas trabalhistas amparo contra a exploração de sua mão de obra.

Segundo estimativa da própria OIT, com dados de seu anuário de 2013, 168 milhões de crianças estão em condição de trabalho infantil, o que representa aproximadamente 11% do total de crianças no mundo. Estas crianças estão trabalhando, muitas vezes, em condições perigosas, prejudiciais a sua saúde e formação.

O elemento positivo da análise salienta que nos 12 anos de atividade da OIT, por meio do Ipec,120 houve redução de aproximadamente um terço no total de crianças expostas ao trabalho infantil no mundo.

No Brasil, a OIT tem acompanhado o processo de controle do trabalho infantil e reconhece o esforço do país na erradicação desta forma de trabalho,121 especialmente pela recepção da Convenção 182.

119 Decreto 17.934-A, de 21 de outubro de 1927, estabelecendo o Código de Menores.

120 OIT-Ipec – Medir o progresso na Luta contra o Trabalho Infantil – Estimativas e tendências

mundiais 2000-2012/Bureau International do Trabalho, Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil (Ipec) – Genebra: OIT, 2013.

Pela evolução do tema trabalho infantil no Brasil, que acompanha toda a história da OIT e encontrou respaldo na legislação interna brasileira, de forma direta com a recepção das Convenções que o abordam, ou de maneira indireta pela criação de legislação própria no país, percebe-se a influência dos organismos internacionais no País.

Em uma abordagem mais ampla, um dos elementos essenciais para a configuração de uma relação de emprego é a subordinação, que projeta o hipossuficiente e se aplica pela possibilidade do poder de direção do empregador,122 sendo necessário que não se tenha, por esta hipótese, violados os direitos fundamentais dos empregados, pois, conforme Carvalho (2002, p. 49), o trabalho está ligado intimamente à qualidade de vida, sendo considerado para além de um esforço para a sobrevivência.

Estando o trabalho vinculado a toda a existência do ser humano, não sendo possível entender que a pessoa tenha dignidade em sua vida sem tê-la em seu trabalho, a presença da dignidade como fundamento do país não permite que o trabalho não esteja também fundado neste princípio.

O Brasil adota o princípio da dignidade quando estabelece, além da proibição do trabalho infantil, regras razoáveis de jornada de trabalho, proibição de qualquer forma de discriminação, regras de proteção à mulher e, especialmente, à gestante, permissão de organização no trabalho, liberdade para sua execução, inclusive a proibição do trabalho escravo, dentre outras normas que permitem considerar que o trabalho no país se dá dentro do fundamento da dignidade.

Observando as regras de proteção à mulher, a OIT estabeleceu na sua Convenção de número 3, já no ano de sua fundação em 1919, regras à maternidade.123 No Brasil, o Código Civil de 1916 colocava a mulher em condição de

121 Para a OIT o Brasil avança no controle do trabalho infantil. Disponível em:

<http://www.oit.org.br/content/para-oit-brasil-avanca-no-combate-ao-trabalho-infantil>. Acesso em: 2 maio 2014.

122 O Poder de Direção do empregador é a possibilidade de ele definir como serão desenvolvidas as

atividades pelo empregado decorrentes do contrato, de trabalho e compreendem não apenas esta situação como também o controle disciplinar (MARTINS FILHO, 2009, p. 197).

123 Convenção 3 – Convenção relativa ao Emprego das Mulheres antes e depois do parto (Proteção à

Maternidade) Artigo 3º – “Em todos os estabelecimentos industriaes ou commerciaes, publicos ou privados, ou nas suas dependencias, com excepção dos estabelecimentos onde só são empregadas os membros de uma mesma familia, uma mulher: a) não será autorizada a trabalhar durante um periodo de seis semanas, depois do parto; b) terá o direito de deixar o seu trabalho, mediante a exbibição de um attestado medico que declare esperar-se o parto, provavelmente

desigualdade em relação ao homem,124 resguardando apenas a proteção à maternidade e à guarda dos filhos para as mulheres, sem referência à proteção da trabalhadora, o que só ocorre em 1932 com Decreto da época125 que, posteriormente, foi incorporado pela CLT em 1943.

A sociedade avançou nas garantias dos direitos. As condições de gênero estão presentes na Constituição Federal de 1988 pela igualdade entre homens e mulheres, proteção do mercado de trabalho, e proibição de diferenças salariais e de discriminação por sexo. Estes novos paradigmas da sociedade moderna que não admitem a sujeição feminina, também são influenciados pelo trabalho da OIT.

A construção de parâmetros da sociedade brasileira que, em pouco mais de um século, superou a existência da escravidão e estabeleceu um conjunto de regras que consagra a importância do trabalho decente, afirma o trabalho protegido pela legislação, com registro, controle de jornada, descanso remunerado, local salubre de trabalho, sistema de previdência social e outros direitos legalmente estabelecidos, que configuram a disposição do país de confirmar os direitos fundamentais dos trabalhadores.

Normas legais, porém, que permitem a ausência da estabilidade no trabalho, a existência do trabalho provisório – por tempo determinado –, o banco de horas na prorrogação da jornada de trabalho, a possibilidade da terceirização e de cooperativas de trabalho artificiais criam, em outro extremo, regras que precarizam as relações de trabalho, mantendo condições inadequadas aos trabalhadores.

dentro em seis semanas; c) receberá, durante todo o periodo em que permanecer ausente, em virtude dos paragraphos (a) e (b), uma indemnização sufficiente para a sua manutenção e a do filho, em bôas condições de hygiene; a referida indemnização, cujo total exacto será fixado pela autoridade competente em cada paiz, terá dotada pelos fundos publicos ou satisfeita por meio de um systema de seguros. Terá direito, ainda, aos cuidados gratuitos de um medico ou de uma parteira. Nenhum erro, da parte do medico ou da parteira, no calculo da data do parto, poderá impedir uma mulher de receber a indemnização, á qual tem direito a contar da data do attestado medico até áquella em que se produzir o parto; d) terá direito em todos os casos, si amamenta o filho, duas folgas de meia hora que lhe permittam o aleitamento”.

124 Na Lei 3071, de Os filhos, em caso de separação ficavam com o conjuge entendido como

inocente, sendo que se ambos o fossem, ficaria com a mãe.

125 O Decreto 21.417 de 1932 estabelecia a igualdade salarial, sem distinção de sexo, a licença

remunerada para a gestante por quatro semanas antes e quatro depois do parto, e a proibição da demissão da gestante pelo simples fato da gravidez.

Se considerado que são normas criadas em um período mais recente, pode- se demonstrar que estes avanços não são absolutos e que ainda persistem tentativas de segmentos empresariais e governamentais de criar condições menos favoráveis aos trabalhadores, no que ganha importância a presença da OIT e seus fundamentos. Valticos reforça:

Esta filosofía general se apoyaba en numerosos argumentos, más o menos discutidos, referentes a asuntos como la competencia internacional, la contribución a la paz, necesidad de una política social integral, las medidas en favor de un desarrollo económico y social equilibrado, etc. El factor social y político (en el sentido amplio de la expresión) ha constituido el elemento predominante de la filosofía de la OIT (1996, p. 516).

Tendo o país avançado na consolidação do estado de direito e estabelecido em sua lei maior o valor social do trabalho como fundamento do Estado, buscando a inserção na sociedade internacional com a prevalência dos direitos humanos nas relações internacionais e não aceitando retrocessos quando proíbe emendas que eliminem direitos e garantias individuais, demonstra a intenção de estabelecer na legislação os princípios do trabalho digno buscados pela OIT. Na prática, porém, ainda persistem embates entre o capital e o trabalho que, em alguns momentos, observam avanços nos direitos sociais dos trabalhadores e, em outros, retrocessos nestes direitos.

A internacionalização dos direitos dos trabalhadores percorreu o século 20 e está cristalizada no 21, assegurando aos trabalhadores maior dignidade e expansão destes limites pela permanente presença e debates da OIT.

Se a relação entre o capital e o trabalho é desigual, com vantagens significativas aos detentores do capital, as normas trabalhistas existentes no país devem assegurar que, apesar da diferença de objetivos de cada parte – empregado e empregador –, é necessário que estes segmentos da sociedade se percebam como detentores de direitos e liberdade na proporção que regule esta desigualdade.

A opção brasileira pelo desenvolvimento socialmente justo determinou a criação de normas protetivas nas relações do trabalho, que, para o cumprimento deste fim, sobreponham o interesse social ao econômico. Segundo Barros:

[...] a gênese do Direito do Trabalho, por várias razões e principalmente pelo seu conteúdo normativo, possui, sem dúvida, um sentido político- econômico refletido de forma clara não só nas leis que dispõe sobre

matéria salarial, mas também naquelas disciplinadoras das licenças, dos descansos e das férias, além de outras, pois nesses períodos, a empresa necessitará de mais empregados para manter os níveis de produção. Lembre-se, entretanto, que, não obstante essa vinculação estreita com a economia, o Direito do Trabalho é motivado, essencialmente, por objetivos de ordem político-social, que visam a corrigir as diferenças, elevando o nível social da classe trabalhadora, como imposição da solidariedade, que nos torna responsáveis pela carência dos demais (2006, p. 82).

No mesmo sentido, Plá Rodriguez observa que, para compensar a inferioridade jurídica entre as partes – empregado e empregador – que estabelecem a existência da subordinação e do poder diretivo, aplica-se a legislação protetiva, observada como princípio norteador do Direito do Trabalho (1993, p. 16).

Se as razões históricas mostram que o país foi conjunturalmente excludente, seja por sua subordinação colonial ou, após, pela proximidade de uma elite ao poder que se apropriou dos espaços públicos, a existência de um debate sobre o mundo do trabalho que não é gerado sob a influência deste meio, mas o impacta, auxiliou neste processo de constituição da dignidade no trabalho.

Em uma inversão de análise, inexistindo a OIT e excluindo a história de quase um século de seus debates sobre o trabalho e a forma correta de sua realização, estariam mais debilitados os trabalhadores e o seu labor poderia ser mais penoso.

Se o social ainda resiste ao econômico no país, parte desta condição se deve às obrigações assumidas pelos governos junto a OIT. Exemplo desta situação que demonstra a realização concreta dos fundamentos da OIT, ocorre na regulamentação do trabalho no Brasil durante Copa do Mundo de Futebol, pela assinatura de dois documentos – o “Compromisso Nacional pelo emprego e trabalho decente na Copa “ e o “Compromisso para aperfeiçoar as condições de trabalho na Copa do Mundo da Fifa 2014”.

Observando acerca destes dois documentos, a OIT, por intermédio de seu presidente, ressaltou a importância destes compromissos:126

Os compromissos dão uma nova dimensão ao esforço que vem se desenvolvendo no país para a construção de uma agenda preventiva e propositiva voltada à promoção do Trabalho Decente na Copa, que vem se concretizando também na assinatura de compromissos do mesmo tipo em 8 das 12 cidades-sede. A OIT parabeniza fortemente o Brasil por essa iniciativa.

126 OIT elogia compromissos brasileiros pró-trabalho decente na Copa do Mundo. Disponível em:

<http://www.onu.org.br/oit-elogia-compromissos-brasileiros-pro-trabalho-decente-na-copa-do- mundo/>. Acesso em: 20 maio 2014.

A afirmação do trabalho decente e o aperfeiçoamento nas condições deste trabalho, como questões centrais do país para a realização de um evento mundial, afirmam a eficácia dos princípios da OIT, no Brasil, não apenas como uma direção, um norte, mas sim com proposições normativas que foram instituídas pelo organismo internacional e compartilhadas no país.

Enfim, a afirmação no Brasil dos direitos dos trabalhadores é decorrência de um processo histórico de valorização do ser humano em sua integralidade, incluído o seu trabalho. Os debates acerca do mundo do trabalho tiveram como protagonistas a OIT e os Estados-Membros. O Brasil, enquanto membro deste processo, auxiliou na produção das Convenções, mas foi diretamente por elas influenciado na medida em que as recepcionou em seu ordenamento e também incorporou seus propósitos na sua legislação, especialmente em sua Constituição.

CONCLUSÃO

O trabalho associa-se à sobrevivência do ser humano. As primeiras manifestações de trabalho ocorriam de forma primitiva pela subsistência por meio da caça e coleta de alimentos. Posteriormente, já no convívio coletivo, a atividade de subsistência sucumbe e surge o trabalho escravo, e, após, a servidão e as corporações de ofício, formas de trabalho que levavam ao limite do esforço físico.

Com a Revolução Industrial o trabalho adquire nova forma em outra condição social. Os operários trabalhavam, em regra, em locais impróprios, com jornadas extenuantes, com contato direto com produtos insalubres, sem nenhuma proteção e sem distinção entre homens, mulheres e crianças, recebendo salários miseráveis.

Como o processo de industrialização surge em grandes centros urbanos, ocorre a aglomeração de trabalhadores, tanto nos locais de trabalho – onde estavam próximos para perceber suas mazelas comuns – quanto em suas habitações, vilarejos desprovidos de estrutura e que lhes possibilitavam conversas sobre sua condição social.

Esta condição gerou entre os operários, alguns empresários e outros setores da sociedade, debates acerca das precárias condições a que estavam submetidos os trabalhadores. Em alguns países – Alemanha e Bélgica, por exemplo – os representantes dos governos também incentivavam o debate.

Desta situação se originam as entidades proletárias e encontros internacionais de trabalhadores. O clima de insatisfação se amplia e, percebendo que estes trabalhadores poderiam se organizar e se tornarem detentores de poder como ocorreu na União Soviética, gera intranquilidade nos empresários e governantes, que optam por criar uma organização permanente de debate sobre condições de trabalho. Desta construção histórica emerge a OIT.

Como organismo que trata das relações de trabalho, a OIT é estruturada com um formato tripartite, com assento aos empresários, trabalhadores e governos. Esta formatação atribui maior legitimidade às decisões pelos segmentos envolvidos.

As decisões da OIT são tomadas em Assembleia Geral e convertem-se especialmente em Convenção ou Recomendação, submetidas posteriormente a um processo de recepção pelo país-membro. As Convenções tratam dos temas mais significativos, sendo um grupo alçado à condição de Convenções Fundamentais. Entre elas, a que trata da organização sindical não está recepcionada pelo Brasil, gerando uma relação de inferioridade dos trabalhadores em seus direitos fundamentais, se relacionado aos países que a recepcionaram.

No Brasil as relações de trabalho são instituídas por meio da escravidão e, após longo tempo, por relações de emprego ainda precárias. A ausência de um setor industrial e relações essencialmente agrárias não impulsionaram o surgimento de uma classe trabalhadora forte; algo que ocorre apenas no início do século 20. Associa-se a esta condição o domínio no país de uma elite que não tinha preocupação com as questões vinculadas à dignidade e direitos sociais, ou, como