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A opinião pública e a Guerra do Afeganistão

CAPÍTULO 3. MEDIA E DECISÃO POLÍTICA NORTE-AMERICANOS NA GUERRA DO AFEGANISTÃO – O EMBEDISTAN

3.2 A cobertura mediática da Guerra do Afeganistão

3.2.1 A opinião pública e a Guerra do Afeganistão

Como referido anteriormente, denotou-se o efeito rally round the flag na Guerra do Afeganistão com quase 90 por cento dos norte-americanos a apoiarem a intervenção no país para retirar do poder o regime talib, capturar Osama Bin Laden e erradicar a rede terrorista Al Qaeda que havia planeado o 11 de Setembro. O dia 9 de Dezembro de 2001 representa simbolicamente o colapso do regime talib no Afeganistão com a queda do último reduto em Kandahar, uma data naturalmente assinalada pelos media norte- americanos. O sucesso da Operation Enduring Freedom, embora criticada pontualmente nos e pelos media norte-americanos, fez com que a intervenção mantivesse a aprovação popular norte-americana acima dos 90 por cento, em 2002. Porém, desde 2003 que tem vindo gradualmente a decrescer, registando valores históricos de desaprovação popular em 2011.

Existem diversos factores que ajudam a perceber esta diminuição gradual do apoio da opinião pública norte-americana na Guerra do Afeganistão. Aplicando a lógica                                                                                                                          

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Conceituados jornalistas norte-americanos criticaram a postura do jornalista da Rolling Stone, defendendo que deveria ter sido mais cauteloso naquilo que publicou, já que a sua atitude poderia significar um maior fechamento e contenção nas afirmações das chefias militares no terreno

150 “The embedding part of the strategy worked so well that will now, without question, be part of any

de mercado analisada no Capítulo I, identificamos que, num primeiro momento, a informação sobre o conflito era escassa, não só pela prematuridade do conflito, mas também pelas próprias limitações do acesso dos media ao terreno impostas pela Administração dos EUA. Isto significa que a maior parte da informação veiculada pelos media tinha como principais protagonistas as fontes oficiais – tanto da Administração, como das chefias militares no terreno que sublinham o sucesso das operações. À medida em que o conflito se desenvolve e o nível de informação aumenta, nomeadamente sobre erros estratégicos e o número de baixas civis e militares, a opinião pública tende a ser mais céptica relativamente ao período inicial. Se em 2002, cerca de 90 por cento dos norte-americanos apoiavam o esforço militar dos EUA no conflito, em 2011, esse número baixou para os 53 por cento151. Miller (2010) aponta diversas razões para esse declínio, nomeadamente a retórica confusa e pouco consistente dos líderes políticos; o aumento de baixas militares e uma percepção geral de que a guerra no terreno está a ser perdida. Além disso, a impopularidade e ilegitimidade percepcionadas na Guerra do Iraque propagaram-se para a Guerra do Afeganistão. Esta perspectiva de Miller (2010) sugere que, apesar de ser reconhecida como uma intervenção legítima no início da Guerra ao Terrorismo, a confiança nesta campanha militar foi destruída pela Guerra do Iraque no que diz respeito à honestidade e integridade da liderança política e provocou um clima de insuspeição a qualquer conflito iniciado pela Administração Bush.

Também Cooke (2007) relaciona o declínio da opinião pública com a estratégia pouco clara da Administração Bush desde o início da Guerra do Iraque e pela percepção veiculada pelos media de que a insurgência está novamente a ganhar terreno no Afeganistão. Essa percepção geral reflecte-se numa sondagem realizada pela Gallup152 em Janeiro de 2009 que revela que 70 por cento dos norte-americanos considera que, se os EUA e os seus aliados saírem do Afeganistão, os taliban regressarão ao poder. Em 2009, uma sondagem realizada pelo Pew Research Center for the People & the Press (2009), em parceria com o Council on Foreign Affairs, revelava ainda que os norte- americanos estavam mais optimistas em relação a mudanças de longo prazo para a estabilização do Iraque que do Afeganistão.

Cooke (2007) aponta outros factores, nomeadamente o debate iniciado internamente nos EUA em 2002, quando a primeira grande operação militar no                                                                                                                          

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vide Anexo 9. A nível internacional, o decréscimo de apoio popular é ainda mais significativo. Por exemplo, no Reino Unido esse apoio decaiu de 70 por cento no início de 2002 para os 30 por cento no Verão de 2008 (Miller, 2010)

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Afeganistão havia já terminado, sobre o tratamento e os direitos dos inimigos capturados e a questão de Guantánamo. Um dos jornais mais críticos tem sido o The New York Times que a 22 de Janeiro de 2002, 10 dias após a chegada dos primeiros 156 prisioneiros a Guantánamo, dedicou o editorial aos prisioneiros, defendendo que era do interesse dos EUA que fossem facultadas condições humanas e legais aos detidos, ao abrigo da Convenção de Genebra (The New York Times, 2001)153.

Actualmente, embora a tendência da opinião pública norte-americana sobre a permanência no Afeganistão seja de diminuição gradual, à medida que o conflito se arrasta e os media fazem ecoar a Guerra do Vietname, existem determinados momentos que influenciam, embora efemeramente, o apoio popular. Foi o caso da morte de Bin Laden no início de Maio de 2011 que provocou um aumento de quatro pontos percentuais, relativamente a Março do mesmo ano, no apoio da opinião pública norte- americana sobre o envolvimento dos EUA no conflito. De acordo com a sondagem realizada pela Gallup (2011), foi a primeira vez em dois anos que a maioria da população partilhava a visão de que os EUA estavam a fazer um bom trabalho no Afeganistão. A mesma sondagem revelou que 59 por cento da população considera que, agora que Bin Laden – o autor moral dos atentados – está morto, a missão dos EUA no Afeganistão está cumprida e as tropas devem regressar a casa (e, portanto, as baixas militares começam a ser cada vez mais difíceis de justificar).

Como demonstra o primeiro gráfico do Anexo 9 sobre a tendência da opinião pública nos últimos três anos, democratas e republicanos têm uma visão diferente sobre o conflito, porém a nível geral regista-se uma maioria que se opõe à permanência no Afeganistão. A maior parte dos democratas e independentes continua a defender que a guerra não vale os elevados custos de permanência no Afeganistão e os elevados números de baixas militares registados nos últimos anos. Embora mais estável, também o apoio republicano tem decaído drasticamente nos últimos três anos, de um registo de 79 por cento de apoio à guerra em 2009 para 47 por cento no início de 2012, à medida que as más notícias se vão sucedendo nos media.

                                                                                                                         

153 O The New York Times mantém no seu site um projecto com informação detalhada sobre cada

prisioneiro detido em Guantánamo ou transferido para outro país, desde 2002 até à actualidade (acessível em http://projects.nytimes.com/guantanamo/)