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4. METODOLOGIA DE PESQUISA

4.4 A organização dos dados coletados

O Curso de Extensão Universitária e o contato diário da formadora-pesquisadora com os professores participantes do curso proporcionaram um vasto acervo de dados a ser transcrito e analisado. Considerando os diferentes momentos de coleta de dados, assim como a importância dos diferentes contextos, organizamos os materiais a serem analisados e utilizamos as seguintes siglas indicativas:

Quadro 4 – Instrumentos da Coleta de Dados Sigla Instrumento de Coleta dos

Dados Descrição do Instrumento de Coleta dos Dados

ED Encontro Didático Comentários, afirmações, dúvidas, concordâncias e discordâncias expressas nas discussões derivadas dos estudos teóricos acerca do conceito de Atividade Orientadora de Ensino e socialização das atividades planejadas e realizadas pelas professoras.

CI Conversa Individual Conversas informais com as professoras e esclarecimentos relativos às atividades ou fundamentação teórica.

PA Plano de Aula Plano de Aula elaborado coletivamente pelas professoras. RI Relatório Individual Relatório desenvolvido pelas professoras sobre o processo de

ensino de matemática.

ESE Entrevista semiestruturada Perguntas abertas realizadas pela pesquisadora com a finalidade de levantar percurso de formação inicial e continuada dos professores, experiência profissional e memórias relativas ao processo de ensino e aprendizagem de matemática.

Fonte: Arquivo pessoal

A partir das siglas indicadas no quadro acima, organizamos a análise dos dados tendo como referência o nome fictício da professora, o contexto da coleta de dados e o momento em que ocorreu a coleta do dado, seja pelo número do encontro didático ou pela data de sua ocorrência, por exemplo, (ANA, ED O7) para nos referirmos a um relato, dúvida ou socialização de atividade desenvolvida pela professora Ana no encontro didático 07; (BIA, RI 16/04/2014) para nos referirmos a um relatório redigido por Bia e entregue na data exposta.

A organização e leitura dos dados coletados convergiram para o levantamento de indícios que refletissem o movimento de mudança da prática docente tendo como desencadeador desse processo o conceito de Atividade Orientadora de Ensino (MOURA, 1996, 2010). Buscamos esses indícios nos relatos, nas discussões, nos planos de aula, na socialização do processo de ensino organizado coletivamente e até mesmo nos silêncios e nos gestos das professoras.

Ao buscar indícios que refletissem o movimento de mudança da prática docente vimos a necessidade de nos apoiarmos em um conceito que permitisse revelar a complexidade de ocorrências em um dado momento contida em um recorte da realidade. Para tanto, encontramos em Caraça (1951, p.112) o conceito de isolado, que constitui “uma seção da realidade, recortada arbitrariamente”, e pode ser compreendido como um recorte realizado pelo pesquisador “de modo a compreender nele [recorte] todos os fatores dominantes, isto é, todos aqueles cuja ação de interdependência influi sensivelmente no fenômeno a estudar”. O autor constrói o conceito de isolado partindo da visão de que o esforço do homem em compreender o mundo apresenta-se por duas características essenciais: a interdependência, ou seja, todas as coisas estão relacionadas, e a fluência, ou seja, todas as coisas se transformam. A compreensão de interdependência e fluência demonstra a dificuldade de se fixar a atenção em um determinado objeto ou fenômeno; por isso a criação dos isolados, objetivando um recorte da realidade sem que haja um desmembramento que impossibilite a apreensão do todo. Assim, “na impossibilidade de abraçar, num único golpe, a totalidade do Universo, o observador recorta, destaca, dessa totalidade, um conjunto dos seres, dos fatos, abstraindo de

todos os outros que com eles estão relacionados” constituindo, portanto, um isolado de análise (CARAÇA, 1951, p. 112).

Buscando no processo de formação docente indícios que pudessem refletir o movimento de mudança da prática docente, particularmente no processo de ensino da matemática, nos deparamos com elementos que permearam com maior constância discussões, elaboração, desenvolvimento e avaliação do processo de ensino pautado no conceito de Atividade Orientadora de Ensino (MOURA, 1996, 2010); trabalhamos esses elementos que se destacaram como categorias a serem analisadas, os quais organizamos em isolados que apresentaram uma interdependência entre si.

Nesse sentido, Araujo (2003) apropria-se em sua tese de doutorado do conceito de isolado apresentado por Caraça (1998), salientando a existência de interação entre eles sem que ocorra hierarquização. Concebe que “não há uma relação hierárquica entre os isolados, tanto do ponto de vista temporal, quanto qualitativo, mas, sim, uma relação dialética entre eles” (ARAUJO, 2003, p. 56).

Tomando de Caraça (1951) o conceito de isolados e de Araujo (2003) a ideia de movimento dialético entre eles, constituímos os isolados “Conceitos Matemáticos em Movimento”, “Mediação como elemento fundamental para ensinar e aprender Matemática” e “Organização do Ensino da Matemática na Educação Infantil”, que de forma ilustrativa podem ser representados conforme a seguir:

Figura 6 – Interdependência dos Isolados

Fonte: inspirado em Araujo (2003).

Definimos nossos isolados compreendendo que estes revelaram indícios do movimento de mudança da prática docente em diferentes episódios, os quais

[...] revelam a natureza e qualidade das ações em um isolado. Quanto à natureza, podemos destacar que se trata de conceito, de modos de ação, de valores, de conhecimento estratégico ou se é apenas conhecimento prático. Quanto à qualidade, os episódios poderão revelar se se trata de ações coordenadas pelos motivos individuais ou coletivos, se visam à concretização da atividade ou feitos sem vínculo com os motivos dessas ações, se articulam análise e síntese na avaliação das ações. (MOURA, 2004, p. 273)

Os isolados são interdependentes na medida em que ao organizar o processo de ensino de matemática as professoras trazem à tona os conceitos decorrentes de sua trajetória profissional e das suas experiências mediadas pelo contexto em que estão inseridas, ao mesmo tempo em que ao requalificar os conceitos matemáticos provocam uma mudança na forma de organizar e mediar o processo de ensino, influenciando e modificando o contexto escolar, num movimento de fluência em que “todas as coisas, a todo momento, se transformam, tudo flui, tudo devém” (CARAÇA, 1951, p. 112).

Apresentamos um quadro com a organização da análise dos dados coletados que apontam para o movimento de mudança da prática docente no eixo de matemática para a educação infantil, que trataremos no capítulo posterior:

Mediação como elemento fundamental para ensinar e aprender Matemática Organização do Ensino da Matemática na Educação Infantil Conceitos Matemáticos em Movimento

Quadro 5 – Isolados e Episódios de análise

Isolado I:

Conceitos Matemáticos em Movimento

Episódio I – Discussões iniciais sobre o processo de ensino da matemática na educação infantil.

Episódio II – O Segredo da Canastra Isolado II:

Mediação como elemento fundamental para ensinar e aprender Matemática

Episódio I – Jogo de Boliche Episódio II – No tempo das Trocas Isolado III:

Organização do Ensino da Matemática na Educação Infantil

Episódio I – Contagem de Rotina Episódio II – O galinheiro da Tia Nastácia