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A participação das famílias dos(as) alunos(as) e a percepção do(as)

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3 RESULTADOS DA PESQUISA: A VOZ DOS SUJEITOS DA

3.4 Eixo Temático 4 – Identificar como o(as) entrevistado(as)

3.4.4 A participação das famílias dos(as) alunos(as) e a percepção do(as)

PROFESSORA P2 – Os pais são participativos, eu não tenho problema. E, quando eu preciso, eu chamo os pais e eles comparecem. Escrevo na agenda a dificuldade que eles possuem, os pais acabam pedindo ajuda para mim, acabo também falando como ajudá-los. Eles são bem participativos. Tem aluno que eu vejo que a mãe até já pediu nomes de livros, e que eu poderia ajudar, para que no recesso ela faça a leitura com ele. Agora, o restante (das crianças) comenta que lê com a mãe, com o pai, mas não são muitos, são bem poucos, a minoria. A maioria, eu acho que não tem isso em casa, eu acho que não tem.

PROFESSORA P3 – Eu acho que um grupo pequeno tem acesso à leitura, é um grupo pequeno. A maioria tem acesso mesmo dentro da escola, as famílias, na medida do possível, ajudam nas lições de casa, nas pesquisas [...] mas, assim, uns 70%, no restante [...] a criança faz sozinha, a criança traz com uma série de errinhos, às vezes, falta capricho, falta até material mesmo para pesquisar.

Hoje eu tive uma conversa bem séria com eles (os alunos e alunas) com relação à roda de leitura [Há um cartaz na classe com os títulos de livros e as crianças fazem as marcações nos livros escolhidos], porque eles levam toda sexta-feira um livrinho para fazer a leitura em casa, não é cobrado em forma de atividade [...] e na segunda-feira, quando volta, aí sim, a gente senta e conversa e eles explicam. Quem gostou, quem não gostou, até fazem anotação da carinha no caderno, gostei, não gostei, recomendo: “Olha, eu li esse livro e recomendo para o meu colega”. Às vezes acontece de falar “Li e não gostei professora, é muito chato”. E é gosto, o que está acontecendo, eles, muitos, estão devolvendo o livro: “Não li”. Porque não leu? “Porque não deu tempo”. Você assistiu televisão? “Assisti”. Então, eles já vêm com a desculpa pronta: eu fui num aniversário, eu fui numa festa, eu fui trabalhar com meu pai, sabe, umas coisas... Então, é uma coisa que eu vou ter que retomar e dar uma mexida, porque são sempre os mesmos que leem e são sempre os mesmos que não leem e vem com as mesmas desculpas.

[Pesquisadora: Consegue identificar se os alunos e alunas que não leem, são os que têm mais dificuldade?] Sim, porque eu tenho uma planilha e eu anoto a saída, a devolução e quando não leu, eu coloco “não leu.” Porque, aí, eu já vou tendo uma ideia do que está acontecendo na sala, não leu, porque que não leu? [Pesquisadora: Você não consegue associar ainda se esses que não leem são os que têm dificuldade?] Não, não necessariamente. (PESQUISA DE CAMPO, 2018).

O Professor P1 ateve-se somente à questão da leitura, manifestando o seu prazer em ler para os(as) alunos(as), e informa que procura sempre trazer em suas aulas novos livros para instigar o interesse das crianças. Porém, absteve-se de comentar sobre a relação com as famílias. É importante reiterar, neste momento, que o entrevistado tem total liberdade de responder ou não às perguntas realizadas pela pesquisadora. Este direito é garantido ao pesquisado pelo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice 1).

Da mesma forma procedeu a Professora P3 na entrevista em relação à participação das famílias, mas afirma que uma minoria de pais e mães leem para as crianças, transferindo tal reponsabilidade exclusivamente a cargo da escola. Informa, ainda, que 70% das famílias auxiliam os(as) filhos(as) nas lições de casa, nas pesquisas e outras atividades.

Diante da ausência de apoio das famílias no quesito da leitura, a Professora P3 intensifica esta prática em sala de aula e aplica o sistema de Roda de Leitura, incentivando os alunos a escolherem livros para lerem nos finais de semana com os pais. Porém, apenas uma parte das crianças efetivamente leem os livros retirados da escola e, as que não leem, apresentam as mais variadas desculpas por não cumprirem com o combinado. Este fato levou a entrevistada a conversar seriamente com seus(suas) alunos(as), no sentido de promover a leitura, não como uma obrigação, mas por uma questão de necessidade para a sua formação.

No Brasil, ainda temos muito que investir na formação de leitores.

De acordo com o Instituto Paulo Montenegro, que juntamente com a ONG Ação Educativa desenvolve estudos do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), no Brasil, apesar do percentual da população alfabetizada funcionalmente ter passado de 61% em 2001 para 73% em 2011, apenas um em cada quatro brasileiros domina plenamente as habilidades de leitura (INAF, 2018, p. 9).

Segundo pesquisa desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro em 2015, divulgada em março de 2016, o principal motivo mencionado pelos não leitores e também pelos leitores que gostariam de ter lido mais, é a falta de tempo (PRÓ-LIVRO, 2016, p. 35).

Se no passado, o livro foi preterido pela TV, a qual ocupou lugar de destaque na vida dos brasileiros, hoje, as redes sociais parecem ser mais atrativas. O Brasil é o terceiro no ranking de quem passa mais tempo na internet, segundo o relatório da agência “We Are Social” (COELHO, 2018).

Seria importante que tais pesquisas fossem apresentadas e discutidas com os pais, de forma que a escola pudesse dialogar sobre a relevância da leitura na formação das pessoas, na sua capacidade de construção do pensamento crítico e na participação social cidadã.

No entanto, a Coordenadora Pedagógica (CP), à qual foi realizada a mesma pergunta, respondeu que, em função das suas demandas de trabalho – e enfatiza que são muitas, pois, segundo ela, a escola possui aproximadamente 600 alunos(as), ela não tem contato com as famílias, com os pais. O contato somente ocorre nos casos que envolvem aspectos e problemas de ordem disciplinar por parte dos(as) alunos(as). A atribuição de contato com as famílias, segundo a CP, é pertinente ao(às) professor(as).

Reiteramos que, no momento da pesquisa, ano letivo de 2018, a escola possuía, em seu quadro de matrículas, 549 estudantes nos anos/série no Ensino Fundamental I – segmento que é objeto da presente pesquisa – e 179 estudantes do Ensino Fundamental II, totalizando 728 estudantes, não apenas os 600 alunos apontados pela CP.

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