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A PARTICIPAÇÃO DE ORGANISMOS INTERNACIONAIS NAS

2 REFORMA DO ESTADO, INTERVENÇÃO INTERNACIONAL E

2.2 A PARTICIPAÇÃO DE ORGANISMOS INTERNACIONAIS NAS

Os procedimentos de reestruturação administrativa do Estado nacional contaram com auxílio de várias agências que até os dias atuais exercem influência sobre a educação no Brasil e em outros países do globo. As ações dessas agências têm despertado vários estudos que evidenciam os impactos de suas intervenções no direcionamento de políticas e projetos educacionais. A Unesco, Cepal, OMC, Unicef, FMI, Banco Mundial, são exemplos de instituições dessa natureza. Em atendimento aos objetivos propostos nessa investigação analisaremos mais especificamente as ações provenientes do Banco Mundial, financiador e mentor do Programa Fundescola, objeto específico de nossa análise. Esta instituição tem se destacado por seu papel determinante refletido, consideravelmente, na forma de cooperação internacional e na concepção de educação afirmada nos projetos apoiados. (HADDAD, 2008)

Historicamente a origem do Banco Mundial data de 1944 na Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas, também conhecida como Conferência de Bretton Woods. Sob liderança dos Estados Unidos, neste encontro foram traçadas estratégias para a reconstrução dos países europeus arrasados com a Segunda Guerra Mundial através de empréstimos financeiros. (CRUZ, 2005)

Em 1950, em decorrência das mudanças ocasionadas pela Guerra Fria o Banco Mundial modificou o caráter de sua intervenção, passando a oferecer além da concessão de empréstimos para a reconstrução das economias, assistência econômica, política e militar para países do terceiro mundo com intuito de integração e fortalecimento do Bloco Capitalista. (SOARES, 1998 apud CRUZ, 2005)

As mudanças na atuação do Banco Mundial, de acordo com Fonseca (1995), datam do início dos anos 60, momento em que os financiamentos priorizaram projetos de infra-estrutura física. Ao final dessa década foram acrescentados objetivos relativos à igualdade e bem-estar

social. Amparado pela idéia de que o desenvolvimento econômico simplesmente não garantiria a integração social na partilha dos benefícios desse desenvolvimento, o Banco decidiu investir em medidas para reduzir a pobreza em países subdesenvolvidos, sendo as políticas sociais foco dessa intervenção. Foi nesse propósito que as políticas educacionais se sobressaíram como possibilidade de redefinição dos objetivos da educação no esforço de redução das distâncias entre formação profissional e desenvolvimento econômico.

Desde a década de 70 o Banco Mundial revelava a sua concepção sobre intervenção na educação mundial, bem como a indissociabilidade de suas ações com a esfera econômica. Em um de seus documentos se expressa,

Nossos objetivos serão de prestar assistência onde ela possa melhor contribuir para o desenvolvimento econômico. Isso significará ênfase no planejamento educacional, ponto de partida para todo o processo de melhoria da educação. Significará assistência a todos os níveis, desde o primário até a universidade, especialmente no treinamento de professores. (MCNAMARA, 1974, p. 11 apud SILVA, M., 2002, p. 57, grifo nosso)

Nesse intuito, a inserção de métodos inovadores e de baixo custo seria a estratégia mais viável para o alcance das propostas, tendo em vista o grande percentual de pessoas excluídas da ação educacional sistematizada nos países do terceiro mundo.

Através de uma ação programada esta agência deixou de ser apenas uma instituição de auxílio financeiro para se tornar responsável por proposições estruturais com grande impacto nas reformas educacionais de diversos países, entre eles o Brasil, além de inserir nas realidades locais os propósitos de uma educação mundial sob a égide do sistema capitalista.

Nessa mesma direção são estabelecidos os elementos prioritários da política intervencionista dessa agência para a educação, conforme demonstra o documento

Prioridades y estratégias para la educación – estudo sectorial del Banco Mundial, datado de

1995,

Más prioridad para La educación; atención a los resultados, inversión pública centrada em La educación básica; atención a la equidad; participación de los hogares; instituiciones autônomas; sistemas de evaluación interna y externa; análisis de los resultados centrada em lo costo- benefício y que tengan en cuenta la eficiência, la equidad y la calidad de todo el sector de educación. (BANCO MUNDIAL apud SILVA, M., 2002, p. 17)

Essas foram as orientações propostas também para a realidade educacional brasileira e os investimentos financeiros constituíram o acesso para o ingresso de proposições e ajustes na

área social. Assim, a educação e a saúde passam a ser o foco desses investimentos, que tinham como justificativa um auxílio à redução da pobreza, mas os verdadeiros intentos baseavam-se no aumento do potencial de produtividade e competitividade dos países alcançados. (FONSECA, 1997)

Esses financiamentos, classificados na categoria de empréstimos, na concepção de Chossudousky (1999), serviram como forma de controlar os países para que não desenvolvessem uma economia nacional com caráter de independência. Este autor argumenta que atreladas aos empréstimos existiam rígidas condicionalidades, as quais incluíam as reformas de ajuste estrutural com prazos determinados para implementação. (CHOSSUDOUSKY, 1999, p. 43)

Alargando a compreensão sobre o alcance da ação do Banco Mundial é perceptível que este banco, além de instituir estas condicionalidades que se caracterizam como verdadeiros “programas de reformas das políticas públicas” é responsável pela implementação ao usar “redes de gerenciamento de projetos que funcionam de forma mais ou menos paralela à administração pública oficial do Estado brasileiro. Trata-se da chamada assistência técnica”. (FARO, 2005 apud HADDAD, 2008, p. 19)

O Banco Mundial, como agência financiadora da reforma educacional brasileira através de projetos e intervenções específicas para o direcionamento das políticas, apresenta aspectos distintos de outros órgãos internacionais a serviço dos ajustes necessários à nova fase do capitalismo. Essa distinção deve-se, segundo Scaff (2006, p. 336), ao fato de que,

Enquanto a Cepal e o Ilpes/Unesco elaboram diretrizes gerais para nortear o planejamento educacional, o Banco circunscreve sua ação ao financiamento de projetos pontuais de reordenamento da gestão educacional por meio da tentativa de institucionalização do planejamento.

Essa estratégia do Banco se fez sentir na realidade brasileira através de alguns programas com objetivos, financiamento e tecnologias pré-estabelecidas com base em estudos minuciosos sobre educação do país, informações estas que geraram propostas de intervenção específica na estrutura física de unidades de ensino e nos âmbitos pedagógico e administrativo da educação de estados e municípios escolhidos para o desenvolvimento das ações dos programas, a exemplo da criação do Programa Fundescola.

Na década de 70 foram firmados os primeiros acordos de cooperação técnica entre o Banco Mundial e o Ministério da Educação do Brasil, desde esta época a gestão do sistema já fazia parte das ações do Banco. Os empréstimos concedidos foram acompanhados por metas

pré-definidas e monitoramento direto da equipe técnica do Banco. Foram dois os financiamentos dos anos 70: o primeiro focalizou a educação técnica, industrial e agrícola; o segundo foi destinado à capacitação em planejamento das administrações estaduais para a implantação da Lei 5692/71. Contudo, na avaliação de Fonseca (1995) não foram alcançados resultados satisfatórios com a adoção dos projetos em termos das metas físicas e educacionais. Mas esta constatação não limitou a participação em outros projetos destinados à realidade educacional brasileira, mas serviu de experiência para que esta agência reestruturasse o seu foco de intervenção, o que se fez sentir nas ações adotadas nos anos 80 e 90.

Um aspecto que merece destaque é a coerência entre os propósitos a serem desenvolvidos pela educação através dos programas financiados pelo Banco Mundial e as determinações propostas na reforma do Estado. Assim, o argumento de que os problemas educacionais são relativos à má utilização de recursos destinados a este fim se sobrepõe à multiplicidade de questões que envolvem a educação nacional, restringindo a problemática educacional à esfera da gestão, questão evidenciada com maior ênfase na década de 90. Na exposição de Scaff (2006, p. 339) o argumento defendido pelo Banco Mundial acentua que no Brasil há um alto investimento em educação, o que não justificaria o baixo desempenho educacional, sendo, portanto, um problema relativo à forma de utilização dos recursos, atribuído à ineficiência da administração local.

Para tanto, se fez necessário elaborar e difundir um modelo de organização compatível com o novo contexto, o qual requisitava desconcentração de funções na perspectiva de instalar uma gestão em que as unidades locais assumissem a responsabilidade pelos resultados da educação que desenvolvessem. Destacam-se os novos requisitos para a atuação da equipe envolvida diretamente com a educação sistematizada e da comunidade local nesse processo, sendo pré-determinada como foco principal a universalização do ensino fundamental.

É válido salientar o direcionamento das ações propostas para o ensino fundamental, diretriz oriunda de consenso internacional e imposição para o destino dos primeiros recursos financiados. Em seus diagnósticos o Banco Mundial identificou a repetência escolar como mecanismo de desperdício de recursos, estimulando assim o desenvolvimento de políticas compensatórias de aceleração da aprendizagem para desobrigar o Estado desse ônus. Em uma visão economicista de educação, conforme figura a intervenção do BIRD, exalta-se a eficiência e eficácia educacional através dos resultados obtidos com a aplicação de recursos. A idéia do retorno dos investimentos financeiros expressos em quantitativos de aprovação é o que se observa como resultante dessas políticas.

A concepção de que o investimento em educação resultaria em um aumento considerável das possibilidades de desenvolvimento do país e sua inserção nesse novo contexto de globalização, tendo como conseqüência a redução da pobreza e das desigualdades sociais, motivou a intervenção do Banco na proposição de políticas educacionais, na década de 1990, com o objetivo de assegurar o acesso e permanência dos estudantes na escola. Para tanto, seria necessário modificar o contexto educacional de maneira que pudesse atender aos requisitos de qualidade reclamados por demandas econômicas e sociais. Entre as alternativas traçadas encontra-se a crença no planejamento estratégico como capaz de operar as pretensas transformações. A discussão sobre a inserção dessa metodologia de planejamento, bem como seus impactos para o campo educacional é assunto abordado em capítulo específico desta dissertação. Sendo para o momento importante expor algumas orientações destinadas à elaboração de políticas educacionais com base nesse contexto de mudanças e demandas para o campo educacional.

2.3 INTERFERÊNCIAS DA REFORMA DO ESTADO E DO BANCO MUNDIAL NAS