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O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA SECRETARIA E A

6 A MATERIALIZAÇÃO DA PROPOSTA GERENCIAL DO

6.2 O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA SECRETARIA E A

6.2.1 O Fundescola no Município de São Sebastião do Passé

A análise empírica sobre a adoção dos programas do Fundescola foi orientada por indicações adquiridas em visitas à Secretaria de Educação do Estado da Bahia, oportunidade em que nos foi revelada a participação do Município de São Sebastião do Passé no desenvolvimento de projeto piloto para implantação de ações do Fundescola nesse Estado.

Em 1998, ano do desenvolvimento do projeto piloto, as ações identificadas foram o Levantamento Situacional da Escola (LSE) e o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), mas este último não se efetivou como proposta sistemática nas unidades de ensino. Uma das

justificativas para este fato foi concedida pela Secretária de Educação do Município à época ao afirmar que,

O PDE nas escolas não teve o mesmo resultado, não conseguiu desenvolver essa ação porque faltava gente pra acompanhar isso de perto. Nós tentamos implantar nas escolas, entramos no PDE a princípio sem recursos, a principio não, a gente nunca teve recurso do PDE. Só a metodologia. Começamos com a Fundação (Clemente Mariani) que levou duas pessoas para o encontro no Tocantins e em outro lugar, mas a Fundação se afastou um pouco dessa ação e a própria Secretaria não teve perna pra continuar, desenvolver com sucesso, posso dizer nas escolas não considero que foi efetivo como o PES. (GESTORA A)

O LSE consistiu no levantamento de informações que permitiriam a proposição de ações para as unidades de ensino. O objetivo desta ação foi o de averiguar a adequação da estrutura física dos prédios escolares, bem como do mobiliário e materiais aos padrões mínimos de funcionamento destas unidades, conforme estabelecido nos documentos do Banco Mundial como parâmetro para o funcionamento das escolas. A partir desse levantamento que os componentes do Programa seriam direcionados a cada realidade.

Passado o momento inicial, em que algumas escolas foram contempladas com reformas na estrutura física e aquisição de recursos materiais, sem grandes impactos para a organização educacional via planejamento, o Fundescola selecionou este Município em 2001 para o desenvolvimento da metodologia de planejamento estratégico para as secretarias – PES.

Como produtos resultantes da intervenção do Fundescola, atualmente, São Sebastião do Passé possui o projeto Escola Ativa, Projeto de Adequação de Prédio Escolar (PAPE) e Programa de Gestão da Aprendizagem Escolar (Gestar).

Ao tempo da coleta de dados para esta pesquisa o Município foi contemplado, em algumas de suas unidades de ensino, para o desenvolvimento do PDE-Escola (Componente do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE Nacional lançado no ano de 2007), contudo, apesar de conservar a gênese metodológica oriunda do Fundescola este projeto, atualmente, conta com o financiamento do Governo Federal, recursos de contrapartida do Governo Municipal e a orientação técnica da Secretaria de Educação do Estado. Apesar de seguir a mesma metodologia, por termos definido duas ações do Fundescola como objeto de investigação, esta nova fase do PDE, agora integrante das políticas do MEC para educação nacional, ultrapassava os objetivos traçados para a pesquisa, o que fez necessário selecionar outro caso em outro município, contemplado pelo Programa para análise desse projeto.

6.2.2 Caracterização do Município

São Sebastião do Passé é um município que está situado a leste do Estado da Bahia, na zona do Recôncavo a 58 km da capital. Limita-se com Candeias, Dias D’Ávila, Mata de São João, Terra Nova, Catu e Pojuca. Apresentou uma população estimada pelo IBGE em 2006 em 42.246 habitantes em um território de 553,4 km² e concentra aproximadamente 74% dessa população na zona urbana. Historicamente é conhecida pela instalação de engenhos e produção de açúcar e seus derivados no século XVI e marcada no século XX pela descoberta e exploração de poços petrolíferos. Foi emancipado em maio de 1938 através do Decreto Estadual nº 10.724 com o nome de São Sebastião e somente em 1943, com o Decreto Lei nº 141, passou a ser denominado São Sebastião do Passé. Entre os quatro distritos que o compõe possui o famoso Distrito de Maracangalha, homenageado por Dorival Caymmi em uma de suas composições.

Quanto à educação, o Município possui em sua rede 47 escolas que atendem da Educação Infantil ao Ensino Médio, sendo 14 localizadas na sede e 23 na zona rural. Somadas a estas existem 03 escolas estaduais e 09 particulares.

Com referência à instituição do setor público da educação identificou-se a criação do Conselho Municipal de Educação com Lei Municipal nº 486 de 06 de outubro de 1995 e reformulado pela Lei nº 013/99 de 28 de outubro de 1999. Posteriormente foi criado o Sistema Municipal de Ensino através de Lei Municipal nº 004/2001.

Em seu quadro de funcionários a serviço da educação foi registrado em 2006 um quantitativo de 342 profissionais, destes apenas 124 são concursados e 218 contratados.

O Município possui dois instrumentos orientadores das ações da Secretaria de Educação, no que concerne às políticas educacionais no geral e, em específico, à gestão do sistema. Trata-se do Plano Municipal de Educação (PME) e do Planejamento Estratégico da Secretaria (PES).

6.2.3 A autonomia do Sistema de Ensino no Plano Municipal de Educação de São

Sebastião do Passé

Os princípios norteadores da educação estabelecidos por São Sebastião do Passé não se distanciam das proposições para a educação em escala global, conforme caracterizada nos capítulos anteriores. No Plano Municipal de Educação14, entre as diretrizes da Secretaria encontramos,

A participação da equipe escolar e da comunidade que circunda a escola nas decisões e projetos; a busca de parcerias para desenvolver projetos e ações educacionais com maior competência e qualidade; o estímulo à autonomia da gestão financeira das escolas, através de repasses diretos. (SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ (BA), 2006, p. 41-42)

Para a gestão educacional, neste plano, foram traçadas algumas metas concernentes ao favorecimento da autonomia, elencadas da seguinte maneira,

Garantir a autonomia financeira em 100% das escolas municipais, a partir de 2008; descentralizar os recursos destinados à educação, a partir de 2009; proporcionar autonomia financeira para as unidades escolares, descentralizando os recursos de forma gradativa; dotar as unidades do Sistema Municipal de técnicos efetivos, que assegurem continuidade de planos e projetos educacionais, bem como da operacionalização de serviços contínuos. (SÃO SEBASTIÃO DO PASSÉ (BA), 2006, p. 106-108)

Em conformidade com as discussões apresentadas em capítulos anteriores e as novas diretrizes para o destino das ações e dos recursos no setor público, exalta-se nesse documento a importância da participação, o estabelecimento de parcerias e a necessidade de direcionar recursos financeiros para serem administrados em cada unidade de ensino, traduzida como autonomia financeira. Estas propostas coadunam com o modelo previsto para reformar o Estado brasileiro e as orientações do Banco Mundial para a educação em países da América Latina. Nos argumentos do Banco, a descentralização financeira, com a administração direta de recursos por comunidades locais suscitaria o envolvimento dos sujeitos e a maximização da eficácia na prestação de serviços educacionais. Em contrapartida, esta ação favoreceria que a própria comunidade se mobilizasse para resolver os problemas da educação, inclusive os

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Documento analisado na Secretaria Municipal de Educação de São Sebastião do Passé e previsto para o período de 2006 a 2016.

relativos à escassez de recursos, com parcerias firmadas com a sociedade civil e iniciativa privada, medidas estas que diminuiriam a responsabilidade do Estado em garantir os recursos necessários para a qualidade educacional.

Mas é válido ressaltar que as peculiaridades da organização do serviço público, nas distintas realidades que compõem o Brasil, acrescentam novas características a esta proposta, sendo que a formalização dessas idéias em uma proposta sistemática e a sua materialização nem sempre acontece de forma simultânea.