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A REDEFINIÇÃO DE PAPÉIS EM EDUCAÇÃO FACE ÀS NOVAS

3 MUDANÇAS NA POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA NA

3.3 A REDEFINIÇÃO DE PAPÉIS EM EDUCAÇÃO FACE ÀS NOVAS

As reformas político-administrativas do Estado brasileiro em seu apelo descentralizador provocaram substantivas mudanças na função dos órgãos centrais da educação (MEC) e das instâncias subnacionais (secretarias estaduais e municipais de educação). Ao MEC competiu a função de coordenar, planejar e equalizar oportunidades, além de manter a sua própria rede, composta em grande maioria por universidades e escolas técnicas. A execução das políticas educativas para a educação básica, na esfera da gestão foi uma incumbência atribuída a estados e municípios, que responderiam de maneira relativamente autônoma pela manutenção de seus sistemas de ensino através do planejamento, avaliação, normatização e acompanhamento das ações empreendidas. (GARCIA, 2002) Estas medidas têm estimulado mudanças nos centros de decisão para as instâncias locais e surgimento de demandas na esfera da atuação dos atores sociais.

Entre os vários diagnósticos sobre a situação brasileira face aos requisitos de uma mudança na atuação das instituições públicas de educação se destacaram os dados apresentados pelo PNUD7, instância da ONU instalada no Brasil há mais de 40 anos para auxílio ao governo na integração mundial, que alterou sua atuação ao longo desse período, passando de um órgão de assistência técnica para uma atuação de parceria junto ao governo federal. Este órgão constatou a gestão ineficiente como uma das causas dos problemas educacionais, esboçando as justificativas para a inserção de programas de ajuste, entre eles destaca-se a introdução do Programa Fundescola. Nestes termos produziram as afirmações,

Os tomadores de decisão e administradores educacionais não têm conhecimento completo da realidade que gerenciam. Em geral, não dominam o processo orçamentário e, por conseguinte, não planejam eficientemente os gastos; desconhecem o quantitativo e o estado de manutenção de sua rede física. As atividades relativas à gestão educacional do Fundescola, dando continuidade a um trabalho desenvolvido pelo Projeto Nordeste, propugnam pela melhoria da eficiência dos administradores e decisores das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação. (PNUD (Brasil); ONU, 2008, p. 5)

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A parceria PNUD/Governo brasileiro é viabilizada por um documento de projeto - conhecido como PRODOC, que descreve a mudança desejada em termos de produtos, resultados específicos e atividades, com seus respectivos orçamentos e cronogramas. O compromisso do PNUD é com a transparência das ações e a mensuração de resultados: cada projeto é idealizado com os mecanismos de gestão apropriados, incluindo a prestação de contas, e os cenários desejados ao final de sua execução. (PNUD (Brasil); ONU, 2008)

Tem-se, nesse aspecto uma eminente preocupação com os sujeitos envolvidos em procedimentos de gestão, o que gerou demandas de formação e características específicas para atuar neste cenário de inclusão de novos conceitos e práticas provenientes da reformulação do papel do Estado. Assim, algumas medidas foram adotadas no intuito de suprir carências de secretarias estaduais e órgãos municipais no desenvolvimento de funções gerenciais, momento em que sobressaíram os esforços de qualificação dos recursos humanos.

Nos documentos produzidos pelo Banco Mundial também se ressalta a importância dos profissionais da educação nesse contexto de mudanças,

O mais importante grupo para o programa FUNDESCOLA é o dos decisores da educação, professores, e outros especialistas que gerem e dirigem as escolas do ensino primário e do sistema. No contexto da descentralização, é importante que em todos os níveis os gestores sejam qualificados na gestão do processo educativo para tornar eficazes as decisões tomadas através de uma vasta gama de questões. (BANCO MUNDIAL, 1998, p. 12, tradução nossa)

A importância conferida a essas pessoas passa pelo reconhecimento de que a sua atuação é preponderante para o nível de sucesso na implantação e execução do Programa e para o alcance de seus objetivos prioritários. Dessa maneira, “o trabalho do gerente envolve incutir uma atitude e uma cultura nas quais os trabalhadores se sentem responsáveis e, ao mesmo tempo, de certa forma pessoalmente investidos da responsabilidade pelo bem-estar da organização”. (BALL, 2005, p. 546)

Ferreira (2002) expressa com pertinência o papel do gestor nesse movimento, destacando o caráter integrador desse profissional na promoção da ‘fusão’ entre indivíduo e instituição. Assim, a postura exigida requer a mediação “[...] entre a produção institucional através da eficácia, e a produtividade humana através da eficiência, contribuindo decisivamente para alcançar os objetivos estabelecidos pela instituição”. (FERREIRA, 2002, p. 28)

Desse modo, o conhecimento passa a ser o diferencial entre os trabalhadores. Seu poder de raciocínio, sua flexibilidade e sua capacidade de resolver problemas se tornam elementos essenciais nessa nova proposta. No entanto, um grande desafio surgiu neste contexto relativo à necessidade de superação de uma transposição mecânica e acrítica de conceitos do campo econômico para as práticas de gestão educacional (WITTMANN, 2000) e o seu conseqüente impacto na postura dos profissionais da educação e na finalidade da educação.

Nesse processo, dois movimentos merecem destaque como impulsionadores de novas posturas nesse cenário de mudanças: o deslocamento do ‘locus’ decisório (WITTMANN, 2000) de instâncias centrais para os níveis locais, desconcentração também do poder nas próprias unidades educativas através da instauração dos denominados “núcleos gestores” e a recorrente necessidade de ampliação de espaços para o exercício da autonomia e da participação, na tentativa de ajustar as necessidades locais ao projeto de educação nacional e internacional.

No quadro apresentado, aos gestores educacionais que atuam em sistemas e em unidades de ensino foram requisitadas habilidades em planejamento, identificação e resolução de problemas de modo participativo, em gestão financeira, em liderança democrática, currículo e relações interpessoais. (LUCK, 2000)

Estas habilidades concorrem para uma atuação na gestão educacional no intuito de promover a integração dos sujeitos que participam das atividades educativas no alcance dos objetivos perseguidos por uma instituição, através de um envolvimento efetivo no processo. Para tanto, se fez necessário intensificar as possibilidades para a inserção desses atores. Como medida auxiliar nesse processo foi identificado o estímulo ao alcance de práticas mais autônomas em educação, no âmbito dos sistemas e das unidades de ensino, através da instauração de mecanismos de participação no destino educacional em instâncias locais. Este assunto será especificamente abordado no próximo capítulo.