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A participação do grupo no processo de ensino aprendizagem

4.1. EDUCAÇÃO CONDUTIVA E PARALISIA CEREBRAL

4.1.2 A participação do grupo no processo de ensino aprendizagem

De acordo com Petö as crianças precisam de desafios e oportunidades adequadas para resolver problemas, os quais fornecem a estas, experiências bem sucedidas. As próprias crianças precisam ser ativas e esforçar-se para superar suas dificuldades. Essas experiências de acordo com o fundador da EC são possibilitadas e fornecidas através da dinâmica em grupo, pois proporcionam as crianças segurança, habilidades sociais e previnem o isolamento (TATLOW, 1997 a)

O desenvolvimento das habilidades e da personalidade da criança é criado ativamente na interação dentro do processo educacional. Isto ocorre melhor em uma situação em que as crianças desenvolvem-se em grupo. Essa dinâmica do grupo ajudará no desenvolvimento das crianças intelectual, emocional e moralmente (MOCK, 2007).

O papel do trabalho em grupo pode ser compreendido pela motivação da presença de exemplos saudáveis, do esforço de realização do outro, da perseverança e da conquista de resultados, oferecer ‘modelos’ para as crianças imitarem, melhorar a atenção, oferecer reforço positivo e facilitar o desenvolvimento das relações interpessoais (HARI, 1988).

Com relação à imitação (Vigotski (1998, p. 114) afirma que: “uma compreensão plena do conceito de zona de desenvolvimento proximal deve levar à reavaliação do papel da imitação no aprendizado”. Esta consideração do autor enfatiza, especialmente, o trabalho em grupo, à medida que indica que o aluno primeiro realiza aquilo que vê o outro fazendo. Assim sendo, a imitação não é considerada uma atividade mecânica, mas sim, através da observação do outro, adquiri sua própria construção, em um nível de observação individual. Dessa forma, não somente repete a ação, agindo conscientemente.

Na visão da psicologia, dependendo da formação e da experiência profissional, focalizará principalmente aspectos cognitivos, afetivos inteligência adaptação e a inter-relação com o meio ambiente. Para a neuropsicologia, a partir do conhecimento do desenvolvimento

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funcional normal do cérebro, pode-se compreender que as relações cerebrais, como no caso de disfunções motoras e cognitivas do comportamento são resultantes de lesões cerebrais. (FIORENTINI, 2006).

A integridade das estruturas a capacidade funcional do Sistema Nervoso Central, o desenvolvimento evolutivo dependera das inter relações entre a criança e o meio interior (relacionado ao próprio corpo), e também entre a criança e o meio externo. (SOUZA, 2004)

Visando a inter-relação com o meio ambiente Oliveira (1995, p. 38) cita que:

[...] a interação face a face entre indivíduos particulares desempenha um papel fundamental na construção do ser humano: é através da relação interpessoal concreta com outros homens que o indivíduo vai chegar interiorizar as formas culturalmente estabelecidas de funcionamento psicológico. Portanto a interação social, seja diretamente com outros membros de cultura, seja através de diversos elementos do ambiente culturalmente estruturado, fornece a matéria prima para o desenvolvimento psicológico do indivíduo.

A personalidade individual da criança é criada dentro da interação social. Não é simplesmente algo trazida no mundo no nascimento. A aproximação da EC com as teorias cognitivo-comportamentais citadas anteriormente (Vigostky, Luria, e Wollon) expressam a tentativa de entender de que maneira a EC influência nos aspectos motores e cognitivos proporcionadas pelo ambiente social O conhecimento disto tem sido costumeiramente chamadas de técnicas ou procedimentos comportamentais. (FIORENTINI, 2006)

Para Beyer (1996) o ambiente social deve proporcionar condições para que a criança interaja com outros indivíduos, desenvolvendo assim o espírito de cooperação em relação com o meio. O processo de desenvolvimento consiste na apropriação de objetos de saberes, normas e instrumentos culturais em contexto com atividades previamente definidas. Na medida em que a apropriação na interiorização progressivas de novos conhecimentos acontecem, ocorrem também novas formas de operações psicológicas

Na EC as atividades realizadas em grupo, são desenvolvidas de maneira repetida, intensa, e mais ativa possível. Nardi (1992) afirma que é através disto que a criança desenvolve sua autoconfiança para continuar tentando novas aquisições motoras, tornando-se agente ativo no aprendizado de padrões motores, equilíbrio, funções sensoriais e perceptivas, desenvolvimento emocional, linguagem e de várias funções cognitivas.

No planejamento da programação diária, o condutor estabelece diferentes estratégias para motivar o trabalho em grupo. Pode, por exemplo, colocar próximos, uns dos outros, os alunos com deficiências similares e, desta forma, provocar a ajuda partilhada. A observação do companheiro ao lado pode auxiliar para compreender melhor a tarefa e

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aperfeiçoar a forma de realizar o exercício. Outra estratégia importante seria colocar as crianças com dificuldades de atenção junto à outra com mais facilidade de atenção. Com esse objetivo de facilitar a atenção individual, tem-se observado que, ao trabalharem juntos, há uma significativa melhora nos processos de aquisição de habilidades específicas. O desempenho dos alunos melhora gradualmente e, desta forma, novas conquistas são reforçadas (CORREA, 2007).

Um bom pressuposto para que haja um bom desenvolvimento cognitivo e motor enfatizado por Vigostky, consiste na criação de estímulos para a realização de atividades que possam ser significativas na aprendizagem da criança. Em suas perspectivas, aponta que os mecanismos essenciais dos processos reconstrutivos que ocorre durante o desenvolvimento da criança é a criação do uso de vários estímulos artificiais. Tais estímulos desempenham um papel auxiliar que permite que aos seres humanos dominem seu próprio comportamento, primeiro através de meios externos e posteriormente traves de operações internas mais complexas (FIORENTINI, 2006).

Segundo Woollacott (2003) o indivíduo que tem o contato pela primeira vez com uma nova capacidade, e observa alguém a executando, consegue lembrar-se da essência da capacidade de uma única exposição. Este processo é denominado aprendizagem proprioceptiva ou formação de memória sensorial no qual o cérebro armazena uma representação codificada dessa cena no córtex visual é ativada pela mesma cena em um momento posterior.

Contanto este armazenamento se dá pela memória visual e esta interage com outras memórias como a sensorial, a emocional, a espacial e a motora.

Sabendo-se que o aprendizado motor utiliza a memória de procedimento, torna-se

necessário repetir várias vezes a mesma ação pra ela se fixar. Isso deve ocorrer varias vezes pois há muitas variações, principalmente de acordo com o grau de complexidade da tarefa, causa e local da lesão , etc. Uma freqüência e intensidade significativas permitem melhor qualidade dos feedbacks sensoriais, favorecendo a fixação do ato motor (LIMA e FONSECA, 2004).

Para Schimidt, esse termo feedback significa total informação contida em uma resposta produzida, a qual pode ser obtida durante ou depois da execução de uma habilidade. O autor considera também que o feedback contém duas classes de informação: a intrínseca e extrínseca. O feedback é considerado extrínseco, quando as informações que os constituem se seguem à resposta e dizem respeito aos resultados do ambiente. O intrínseco contém informações sensoriais que o executante recebe do seu próprio sistema sensorial durante ou

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após a realização da habilidade. Esta informação é captada principalmente pela visão do indivíduo e fornece os parâmetros sobre o grau de aproximação entre a execução da habilidade e sua intenção pré-programada (CAROMANO e PASSALELA, 1995).

Contudo o desenvolvimento da capacidade do uso de informações que constituem um feedback sensorial é dado importante para o sucesso de aprendizagem.

Segundo Machado (1981) é fato conhecido que, quando executamos uma mesma atividade motora varias vezes, ela passa a ser feita de maneira cada vez mais rápida e com menos erros, como apertar parafusos em uma esteira rolante, a exemplo da famosa cena do filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin. Isso significa que o sistema nervoso aprende a executar tarefas motoras repetitivas, o que provavelmente envolve modificações mais ou menos estáveis em circuitos nervosos. Admite-se que o cérebro participa desse processo através de fibras olivo cerebelares, que chegam ao córtex cerebelar como fibras tepradeiras e fazem sinapse diretamente com as células de Purkinje. Há evidência de que essas fibras podem modular a excitabilidade das células de Purkinje, em resposta aos impulsos que elas recebem do sistema de fibras musgosas e paralelas. Tal ação parece ser muito importante para a aprendizagem motora.

Verificando-se a influência da EC na prática, aqui no Brasil no acompanhamento feito por uma pedagoga ao projeto de desenvolvimento da Educação Condutiva em 2007, em Itajaí – SC, no qual havia um grupo de crianças com PC que apresentavam tetraplegia espástica, ataxia e um caso de epilepsia Correa(2007 p. 97) relata que:

... no dia a dia deste grupo a condutora e outros profissionais que participam dos programas podem perceber pequenos resultados positivos como momentos de atenção dirigida, sustentação da cabeça e conseqüente diminuição de sialorréia (a perda não intencional de saliva pela cavidade oral). Outros dois alunos que respondiam oralmente apenas em casa começam a dar respostas verbais durante os programas, demonstrando autoconfiança. Uma aluna, com 9 anos, que ainda não lê e parece apresentar características de autista, nos surpreende, em poucos dias de convívio, cantando as músicas em espanhol que a condutora mexicana canta para dar ritmo ao grupo. O resultado mais positivo ainda é a manifestação de cada um, na chegada ao grupo, de intensa alegria, manifestada muitas vezes com movimentos descontrolados, caretas e sorrisos largos pela alegria do reencontro e pelo sentimento de pertencer ao grupo. Isso é confirmado pelos pais, que observam como seus filhos demonstram estar felizes e como gostam de ir para a sua escola, como seus outros irmãos.

Como pode-se observar as experiências em grupo visam construir significados positivos; as atividades devem reforçar o sucesso gerando motivação que potencialize o esforço necessário para a realização das atividades.

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