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4.1. EDUCAÇÃO CONDUTIVA E PARALISIA CEREBRAL

4.1.1 Atuação do condutor

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A mediação na EC acontece através da atuação do condutor. A função do condutor ou do facilitador é ajudar as crianças a realizarem a tarefa, aprendendo, praticando habilidades motoras. A prática de socialização, habilidades funcionais, linguagem, cognição e habilidades motoras são integradas pelo condutor em uma estrutura do dia, o qual utiliza atividades em grupo para atingir metas individuais (RATLIFFE, 2002).

Na EC o papel do condutor é explorado pelo meio e pelas atividades realizadas em grupo, sendo estas desenvolvidas pela criança de maneira repetida, intensa, e mais ativa possível. Esta afirmação acima proporciona que a criança desenvolva sua auto-confiança para continuar tentando novas aquisições motoras, tornando-se agente ativo no aprendizado de padrões motores, equilíbrio, funções sensoriais e perceptiva, desenvolvimento emocional, linguagem e de várias funções cognitivas (NARDI, 1992).

A atmosfera de aprendizagem necessita ser tal que forneça um ambiente apropriado para a tarefa manual. Tal ambiente deve ser estimulante e sobretudo motivador. A condução própria é um processo da orientação para encontrar maneiras novas para tornar-se independente. Servem como um coordenador ou impedem a fragmentação da criança. O condutor é o ponto do contato com todas as disciplinas suportando, sendo que a criança interage somente com o condutor, fornecendo a familiaridade, a segurança e o amor de outra maneira. Estes, ensinam aos alunos como os problemas podem ser superados, relativo à situação de cada um em individual da percepção e da ação (MOCK, 2007).

O condutor guia os alunos cuidadosamente para eles atingirem seus objetivos individuais. Isto significa que o condutor procura ser atencioso e sensível para o tempo em que a criança está em uma situação em que há um potencial para aprender (ROTH, 2007 b).

A Educação Condutiva também exige um incremento na melhora da rotina diária das pessoas: “o resultado de ontem [...] não é bom o suficiente para o dia de hoje” (Hári e Ákos, 1988, p. 171). Para auxiliar e alcançar essas exigências é utilizado o princípio da facilitação, que assume na Educação Condutiva uma conotação educacional, podendo ser compreendido, numa visão geral, como todas as formas de ajuda que a pessoa pode receber para impulsionar o seu desenvolvimento (CORREA, 2007).

Hári (1988) apud Correa (2007) intensifica que a facilitação condutiva integra ao processo educacional e reabilitacional, pois o indivíduo com seqüelas de paralisia cerebral pode alcançar melhor resultado contando com a ajuda da cooperação condutiva, que seria a possibilidade de um adulto preparado e apto para ajudar no funcionamento da regulação de seu sistema nervoso prejudicado à adquirir habilidades funcionais.

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De acordo com Metayer (2001) a educação terapêutica designa-se as técnicas específicas que podem ajudar as crianças com enfermidades motoras cerebrais a desenvolver ao máximo sua motricidade funcional, utilizando, da melhor maneira possível sua potencialidade cérebromotora.

A aproximação, dos termos educativo e terapêutico se justifica na medida em que suas competências funcionais progridem, por meio de aprendizagens específicas, nas quais o uso de atividades motoras ligadas ao controle voluntário consegue modificar a regulação das posturas anormais e mais genericamente, a execução dos gestos (METAYER, 2001).

No plano educativo, essas técnicas lhes permitem organizar as referências perceptivas, practognósticas e praxistas mais adaptadas e ajustar melhor sua atividade gestual, levando em conta as alterações que lhes atingem (METAYER, 2001).

Na EC o sucesso funcional da criança é fundamental, mais do que aderência rígida ao desenvolvimento normal, sendo as tarefas auxiliadas pelo condutor. Este se empenha para criar e manter um ambiente que emana segurança, uma atmosfera de alegria e responsabilidade, o aluno vai elaborando suas representações de mundo, como também a sua auto-imagem. Através dessas experiências de incentivo, de confiança, de atitudes corretas, estará mais inclinado a participar, pois ele, como o condutor, estará trabalhando para o sucesso. O condutor entende, dessa forma, que precisa estabelecer laços positivos, pois sabe que não se aprende com qualquer pessoa, mas sim com aqueles com quem nos identificamos. O condutor aprende, também, que a expectativa de sucesso é a condição para desencadear a mobilização dos envolvidos no processo e construir um treinamento adequado e aprendizagens significativas (HARI, 1988)

A mesma autora ainda cita que (p.185)

“Crianças com PC podem alcançar melhor resultado contando com a ajuda da cooperação condutiva, que seria a possibilidade de um adulto preparado para este propósito e apto para ajudar no funcionamento da regulação de seu sistema nervoso prejudicado. Como em todo processo educacional, a figura e o papel do adulto, nessa relação, é fundamental. Nos princípios da Educação Condutiva, encontramos elementos para pensar o papel do adulto, que nos aproximam da concepção de Vigotski sobre as relações entre aprendizagem e desenvolvimento e o papel do outro, mais experiente; das interações que se dão entre o condutor, a criança e o grupo”

O sucesso do desenvolvimento da EC pode ser analisado na perspectiva de Vigostky, em que o papel do tutor ou do professor auxiliam as crianças a se moverem da resolução conjunta de um problema para uma forma mais independente de ação (BRUNER et al, apud MOL, 2002)

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Palangana (1994) afirma que as primeiras formas de comportamento humano às quais Vigostky denomina de estruturas elementares, constituem totalidades psicológicas construídas basicamente por determinantes biológicos (estruturas elementares de reação do organismo), necessitando, porem de uma mediação com adultos e pessoas mais experientes, os processos psicológicos mais complexos, típicos do homem, começam a tomar forma.

Conforme Reeve apud Mol (2002) o aumento da competência e do domínio crescente das crianças sobre uma determinada tarefa dependem, em conseqüência, das intervenções detalhadas dos adultos, configuradas e determinadas pelo próprio nível de competência e pela necessidade demonstrada pelas crianças de obterem assistência externa.

Clarificando a teoria Vigotskiana, define-se a Zona de Desenvolvimento Proximal(ZDP) “como a distância entre o nível evolutivo real, determinada por meio da resolução independente do problema e potencial do nível evolutivo, determinado através da resolução do problema sob a direção adulta ou em colaboração com parceiros mais capazes”. De acordo com as formulações de Vigotsky, na ZDP, a criança não é meramente receptor passivo dos ensinamentos do adulto, nem o adulto oferece um modelo de comportamento esclarecido e bem sucedido, pois a relação do adulto-criança se engaja na necessidade conjunta de resolução de problemas, no qual ambos compartilham o conhecimento e a responsabilidade da tarefa (VIGOTSKY apud MOLL, 2002)

Dentro de um treinamento adequado e da aquisição da aprendizagem motora podemos exemplificar como: Existem várias maneiras de aprender a estender um braço, como: sob a orientação do condutor, o aluno deita-se de costas e deixa seu braço pendendo ao lado da cama. Para a criança, deve estar claro que o que ele pretende é esticar seu braço. O peso do braço faz com que vagarosamente ele se estique (HARI, 1997 apud CORREA, 2007).

O condutor ensina como compreender a ação antes do movimento, sendo que cada ação é organizada através de uma série de tarefas que ajudam em sua execução final. Ele também orienta qual o ritmo necessário para atender cada aluno e suas características individuais. Os alunos com um diagnóstico de paralisia espástica seguem um ritmo diferente dos hipotônicos ou mesmos dos diatônicos. Atento a isso, Petö elaborou uma forma de intervenção que chamou de “intenção rítmica” (HARI, 1998).

A intenção rítmica é caracterizada por meio da fala interna e externa repetitiva envolvendo todo o grupo, direcionada através de cantorias durante a realização de atividades como: caminhar, rolar, manuseio de objetos integrando, desta forma aspectos motivacionais e ao principio de uma aprendizagem consciente e ativa (TATLOW, 1997)

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Para Luria (2001) a EC proporciona atenção e motivação acaba e acaba influenciando em uma atividade consciente, manifestando igualmente na percepção, nos processos motores e no pensamento.

Hari (1997) apud Correa (2007, p. 23) descreve a “intenção” como “uma ação planejada, a projeção de um objetivo, que compreende tanto os princípios da atividade quanto os da consciência. Podemos entender, também, que a “intenção”, em seu aspecto dinâmico e emocional, assume o significado de motivação, uma intensa mobilização das pessoas para a realização de algo, para a conquista de um objetivo. Na perspectiva da Psicologia Histórica Cultural, os motivos são, em princípios externos à pessoa, ou seja, o motivo pode/deve ser criado culturalmente, a partir de uma necessidade, por exemplo.

O que caracteriza a facilitação condutiva é que a criança durante esse momento, use a “intenção verbal”, tencionando a ação com as palavras: “estou esticando meu braço (direito ou esquerdo)”. Essa facilitação possibilita que em outras situações ele possa repetir a ação por um processo de aprendizado através do qual compreendeu que se tiver a intenção, pode esperar até que seu braço afrouxe o que é precondição para poder ser ativo em uma grande maioria das ações. Com a facilitação, o aluno entende qual é a posição correta do corpo; não através de uma explicação abstrata, mas sim pela instrução prática (HARI, 1997 apud CORREA, 2007).

A prática condutiva atribui aos fatores cognitivos, como também a percepção, os elementos essenciais ao aprendizado e à habilidade de formar a intenção. Se uma pessoa não possui a representação interna da intenção, pois está realizando a atividade pela primeira vez, correo risco de interpretar mal o seu desempenho. Por exemplo, uma pessoa hemiplégica, que não sente o movimento precisamente: ao tentar segurar um lápis pode exercer pressão exagerada, largando o lápis espontaneamente pela pressão. Isso poderá apresentar dificuldades em monitorar a sua performance precisamente. Para esclarece esta afirmação, Hari afirma que:

“[...] quando a pessoa não o faz, ou não pode atingir seu alvo pretendido, é nosso ponto de vista que suas dificuldades, no desempenho e coordenação, são atribuíveis a uma estratégia voluntária inadequada. Portanto, é baseando-se neste aspecto que o valor maior está no processo educativo, para depois o desempenho. O planejamento por parte do professor começa ao identificar o resultado desejado no qual este havia trabalhado anteriormente, através da investigação de relações complexas, achando combinações apropriadas de atividades e conexões entre elas, utilizando ritmo e melodia, tudo com o objetivo de estabelecer alvos que o aluno possa adquirir conscientemente” (HÁRI, 1998, p. 4).

É importante registrar e considerar que a motivação é fator determinante para a execução das tarefas, pois as limitações impostas pela paralisia exigem, de cada pessoa, um grande esforço com respostas em longo prazo. Neste sentido, movimentar-se é uma tarefa

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cognitiva que vai além dos movimentos ativos ou reativos dos músculos. Torna-se, responsabilidade do condutor, promover motivação e intenção dentro do processo de aprendizagem (TATLOW, 1997).

Com relação à importância da atuação do profissional que lida com crianças com deficiências motoras, Lima e Fonseca (2004, p. 81) intensifica que:

“Motivação é o processo mobilizador do indivíduo para uma ação. O paciente precisa estar, ou ser motivado, para a terapia. A motivação relaciona, basicamente, três fatores: a necessidade de compreender o desejo, uma vontade, um interesse ou uma pré-disposição para agir; ambiente, o qual estimula o indivíduo e que oferece o terceiro fator, que é o objeto. Quando o objeto não é encontrado tem-se a frustração”.

Baseando-se na intenção rítmica, no qual utiliza a fala, Ratliffe (2002) afirma que a “língua falada” é o processo mais facilmente influenciado entre os mais altos processos mentais e gradualmente auxiliam a regular suas ações motoras.

Segundo Lima e Fonseca (2004) os elementos sonoros e musicais vêm sendo utilizada como recursos aplicados a saúde, pois, o som, a música está presente em toda a parte, sendo uma das principais formas de expressão humana.

A interferência entre o sentido auditivo e o sentido cinestésico na percepção temporal justifica a importância do movimento coordenado e da sincronização sensória rítmica. Daí a necessidade de buscar uma concordância entre a percepção auditiva (ritmo sonoro) e a percepção proprioceptiva (gesto, movimento, ação motrícia) (FIORENTINI, 2006).

A música explorada com a chamada intenção rítmica, busca fundir saberes, a fim de construir integralmente diante de sua prática, contribuindo significativamente para o desenvolvimento global do paciente (LIMA e FONSECA, 2004).

Neste contexto, a linguagem proporcionada pela intenção rítmica, pode-se dizer que as interações sociais são mediadas principalmente pela linguagem, pois este é um meio de comunicação social, um meio de expressão e de compreensão. Sabe-se também que a linguagem combina a função comunicativa com a de se pensar, isto refere que a palavra é ao mesmo tempo , um fenômeno verbal e intelectual (VIGOSTKY apud Baquero, 1998).

Neste contexto e em conseqüências das análises acima que ratificam os pressupostos da ZDP, torna-se necessário levar em conta três fatores que influenciam nas origens sociais e auto regulação. Primeiro a atividade cognitiva ou de resoluções de problemas da criança é inicialmente regulada socialmente pelo adulto em um processo de interação conjunta. Segundo, a tomada do papel regulatório pela criança quando bem

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sucedida, envolve a redefinição ativa da situação problema em termos dos objetivos e da perspectiva do adulto, com um aumento gradual na responsabilidade assumida pela criança sobre a tarefa executada. Terceiro, o processo de passagem da regulação externa até a auto regulação, da resolução conjunta de problemas até a resolução independente, não acontece de forma automática ou por acaso, mas envolve o adulto em interações de ensino muito específicas (MOL, 2002)

Os princípios e objetivos da EC aproximam-se as influencias da mediação, da facilitação do condutor a ZDP da criança. Estabelecer objetivos imediatos e explícitos, utilizar intenção rítmica, fornecer assistência física individual em áreas não centrais para a tarefa imediata, fornecer motivação e elogios imediatos para o progresso. A remoção gradual da facilitação é o principal método para garantir que a criança torne-se, aos poucos, mais independente e facilitar a inserção social de crianças com PC (HARI, 1998).

Como já citado anteriormente a função do condutor é acreditar que a criança é capaz de aprender, apesar de suas dificuldades motoras e cognitivas e proporcionar um ambiente prazeroso para a criança com PC. Stokes (2000) intensifica essa idéia afirmando que o ser humano possui limitações e este deve ser explorado através de um ambiente estimulante, reforçador, prazeroso e exigente para que, progressivamente, esse processo se efetive, em particular no caso de crianças com disfunções no desenvolvimento neuropsicomotor.

Segundo Peto o condutor deve, no entanto, estar atento ao desenvolvimento de cada criança, sempre diagnosticar a zona real de desenvolvimento, dando ênfase à ao processo de aprendizagem motora. Esse processo deve ser contínuo, ativo e resultante da integração das dimensões motora, afetiva e cognitiva (HARI, 1988).

Brown (2005) afirma que, mais do que a vontade para participar ativamente, a intenção pode provocar uma resposta física do organismo. Recentes descobertas das neurociências têm indicado que os sistemas no organismo atuam de forma integrada. Nesse sentido, o início de desempenho de uma ação acontece pela interação entre o sistema perceptivo e motor, iniciando um diálogo dinâmico e contínuo entre o cérebro, músculos e articulações, permitindo que a pessoa, gradativamente, desempenhe as ações pretendidas.

Fiorentini (2006) salienta ainda que está integração, quando são bem conduzidas levam os participantes ao desenvolvimento de capacidades cognitivas, sócio afetivas, matriciais e emocionais.

Wallon na sua teoria de desenvolvimento, ressalta que é de grande importância a emoção, pois segundo o autor esta é a exteriorização da afetividade, e compreende um fato

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fisiológico nos seus componentes humorais e motores e, ao mesmo tempo um comportamento social na sua função de adaptação do ser humano ao seu meio (TEIXEIRA, 2003).

Na concepção de Wallon a dimensão afetiva ocupa um lugar central, constituído por um domínio funcional tão importante quanto o da inteligência, desempenhando um papel fundamental na constituição do funcionamento do intelecto determinado pelos interesses das necessidades individuais (FIORENTINI, 2006).

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