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Desde a antiguidade, o homem tenta compreender o corpo humano em suas especificidades. Já no século XIX, chega-se a uma nova compreensão que rompe com a antiga concepção de que homem e cérebro estariam dissociados. Cérebro e corpo, constituindo o sistema funcional do ser humano, integram-se dinamicamente e se relacionam com o meio. Os estudos no campo da neurologia confirmam que o cérebro e corpo interagem numa complexidade de relações (DAMASIO, 2005 apud CORREA, 2007)

O mesmo autor ainda afirma que de acordo com as pesquisas na área da neurociência indicam que cada área do cérebro é responsável por uma função, como a visão, a audição, os movimentos das pernas e braços, a memória, a atenção, a percepção e evidencia ainda que “o organismo constituído pela parceria cérebro-corpo interage com o ambiente como um conjunto, não sendo a interação só do corpo ou só do cérebro” (p. 114). Toda essa complexidade, de interações cérebro e corpo, geram respostas consideradas “comportamento”, determinadas pela intricada conexão do encéfalo com medula espinhal, sendo estes chamados, em conjunto, de sistema nervoso central.

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É ao sistema nervoso central que chegam as informações sensoriais, e é dele que saem as ordens destinadas aos músculos e às glândulas. Músculos como os das pernas, braços ou pálpebras obedecem à nossa vontade. Se não fosse assim, não poderíamos nos manter em pé, nem conseguiríamos segurar objetos ou fechar os olhos quando desejássemos (HOFFMANN, 2000)

Há, porém, situações em que esses mesmos músculos podem se contrair sem a participação da nossa vontade. Essas respostas totalmente automáticas são chamadas de reflexos. O piscar espontâneo das pálpebras, quando um objeto passa perto de nossos olhos; ou ainda a rápida retirada da mão quando tocamos uma panela muito quente. (HOFFMANN, 2000)

Toda mensagem nervosa, por mais rápida que seja, leva um certo tempo para percorrer as neurofibras (fibras nervosas). Quanto mais afastado estiver o centro nervoso, mais tempo a informação levará para chegar até ele. O sistema nervoso central, então, pode ser comparado com uma central de comunicações que recebe informações de todos os pontos e envia mensagens. O cérebro é o maior órgão do encéfalo e ocupa toda a caixa craniana. (HOFFMANN, 2000)

Em indivíduos com PC o distúrbio do cérebro é estacionário, mas o comprometimento dos movimentos é progressivo quando não se faz tratamento. Por isto é muito importante iniciar o tratamento; objetivando a correção dos movimentos executados erroneamente, obtendo assim movimentos mais precisos e corretos. A correção dos movimentos é de suma importância nos indivíduos com Paralisia Cerebral, pois, o tônus dos músculos dependendo da complexidade da deficiência podem apresentar-se, demasiadamente, flácidos ou tensos. E o treino/exercício específicos permitirá ao indivíduo condições de melhorar sua qualidade de vida. LIMA e FONSECA, 2004; RATLIFFE, 2002)

É importante saber que o SNC não é um órgão de reação e sim de ação, reagindo a estímulos que para ele iniciam-se de fora e de dentro do corpo sendo responsabilidade do terapeuta selecionar métodos que sejam eficazes para a necessidade de cada paciente realizar combinações de procedimentos que auxiliam o indivíduo a aprender ou reaprender o padrão de resposta normal (FERRARI et al, 2001; UNA;DIAS, 2002)

Para entender todo o mecanismo de interação e como que uma lesão cerebral pode sofrer modificações através da reabilitação será feito a associação ao processo da neuroplasticidade cerebral.

A neuroplasticidade cujo principal propósito deste é a capacidade que o sistema nervoso central possui em modificar algumas das suas propriedades morfológicas e funcionais

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a resposta as alterações ambientais, que ocorre em qualquer estágio da vida. É a propriedade do sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em resposta á experiência e como a adaptação a condições mutantes e estímulos repetitivos (RIBEIRO, 2005).

Ocorre uma mudança adaptativa na estrutura e nas funções do SN como funções de interação com o ambiente interno, externo ou ainda como resultado de um traumatismo, lesão que afete o sistema neural (FERRARI et al, 2001).

Essa interação do ambiente externo e interno, através do processo de reabilitação o local do cérebro lesado pode promover reconexão dos circuitos neurais. Onde quando lesado em pequena perda de conectividade, tende a uma recuperação autônoma e quando lesado em grande conectividade, tende a perda permanente da função (LUNDY-EKMAN, 2000; DORETO, 2003).

Portanto a plasticidade neural é caracterizada por qualquer modificação do SN que não seja periódica e que tenha duração maior que poucos segundos e o grau varia de acordo com a idade (LUNDY-EKMAN,2000; DORETO, 2003).

As modificações do Sistema Nervoso passam por três processos: a habituação e aprendizado e memória (Sensibilização) e recuperação da lesão (LUNDY-EKMAN, 2000 & LENT, 2004)

Habituação é o resultado da redução funcional da eficácia sináptica da via estimulada até o neurônio motor (LUNDY-EKMAN,2000).

A estimulação repetitiva irá desativar os canais de Cálcio do tipo N, promovendo a diminuição da entrada de íons de Cálcio no terminal; conseqüentemente maior dificuldade para a ancoragem das vesículas sinápticas nas zonas ativas para a liberação do neurotransmissor. Com isso ocorrerá um decréscimo do potencial pós-sináptico excitatório (PPSE) devido a diminuição na liberação de glutamato no terminal pré-sináptico excitatório do neurônio sensitivo (LENT, 2004).

O aprendizado é o processo através do qual os seres humanos e outros animais adquirem o conhecimento sobre o mundo (aquisição), enquanto a memória é a capacidade de guardar essa aquisição (conservação) e intrinsecamente, a capacidade de resgatá-la (evocação) quando necessário (LIMA&FONSECA, 2004).

Durante o processo de aprendizagem, há modificações nas estruturas funcionais das células neurais e de suas conexões. Neurônios íntegros buscam caminhos alternativos para efetuar a resposta motora, realizando sinapse com neurônios que se modificam em relação a sua efetividade (RIBEIRO, 2005).

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Na recuperação da lesão do Sistema Nervoso Periférico (SNP) há uma lesão axônica após a secção o corpo celular é isolado do segmento distal e passa pelo processo de degeneração walleriana. Quando a parte distal do axônio se degenera a bainha de mielina se afasta do axônio formando curtos segmentos. Após as células da glia invadem essa região removendo os dendritos do axônio degenerado. O corpo celular também sofre alterações, ocorrendo sinais de sofrimento (cromatólise central) (LUNDY-EKMAN, 2000).

As células de Schwann começam a proliferar em torno das estruturas em degeneração e a fabricar nova mielina. Além disso, irá sintetizar moléculas capazes de estimular o crescimento do axônio lesado (LENT, 2004).

Segundo Lundy-Ekman (2000) o brotamento ou sinaptogênese -regeneração do axônio lesado- pode ocorrer de duas formas:

Colateral: alvo desnervado é reinervado por ramificações de axônio intactas.

Regenerativo: ocorre quando um axônio e seu alvo foram lesados. O axônio lesado emite brotamentos laterais para novos alvos (LUNDY-EKMAN,2000).

A regeneração funcional do axônio ocorre principalmente no SNP, pois a produção do fator do crescimento neural (NGF)pelas células de Schwann contribui para a recuperação (LUNDY-EKMAN,2000)

Para Lundy-Ekman (2000) a recuperação da lesão no Sistema Nervoso Central as lesões axônicas do SNC são irreversíveis, pois os neurônios centrais não podem regenerar funcionalmente nas condições fisiológicas normais. Isto ocorre devido a falta de NGF, da inibição do crescimento pelos oligodendrócitos, a produção de proteínas com ação anti- regenerativa pelos astrócitos e a atividade de limpeza da micróglia. Constituem um grupo heterogênio de polipeptídeos solúveis que permitem a diferenciação, sobrevivência, manutenção e regeneração axonal no SNC e SNP agindo através de receptores específicos. No SNC sua capacidade de regeneração é considerada baixa, apesar da riqueza em fatores neurotróficos, pelos seguintes motivos: a ausência da matriz extracelular e fatores inibitórios presentes no microambiente neuronal.

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