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A percepção directa

No documento A DINÂMICA DECISIONAL NO BADMINTON (páginas 39-42)

CAPÍTULO II REVISÃO DA LITERATURA

3. Psicologia Ecológica do Desporto

3.1. A percepção directa

“Percebemos melhor, porque percebemos o que deve ser percebido”(Gibson, 1969).

Em competição especialmente nos desportos em que o envolvimento é instável, ou seja, está em constante mudança, os atletas deverão fazer constantemente ajustes, adaptações em relação aos elementos desse envolvimento, a fim de executarem uma resposta rápida e adequada à situação, uma vez que para que um atleta tome uma boa decisão é de primordial importância também ter uma boa percepção das acções dos adversários. A acção de um atleta depende da qualidade da percepção do envolvimento (estável ou instável) na qual se desenrola a acção. Os acontecimentos são imprevisíveis no tempo e no espaço, sendo necessário estabelecer-se constantes ajustamentos. A presença de uma estrutura perceptiva que pode ser definida pela capacidade dos indivíduos tirar conclusões a partir de evidências fragmentadas (Bard e Fleury, 1976). Segundo os mesmos autores esta estruturação perceptiva é constituída, pela selecção perceptiva (atenção), pela velocidade de percepção (tempo de reacção) e, pela flexibilidade perceptiva. Esta última pode ser entendida pela maior ou menor facilidade de um jogador passar de um dado contexto para outro contexto, isto é, da capacidade de reconhecer um objecto dentro de uma variabilidade de posições e situações diferentes. Já Bard e Carriére (1975) enfatizam que o indivíduo não capta de forma incoerente a

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informação presente no envolvimento. Ao contrário, parece existir uma distribuição económica na busca perceptiva, que poderíamos apelidar de uma estratégia perceptiva.

Parece não existir dúvidas que de todos os sistemas perceptivos a visão é aquele órgão que tem sido alvo de mais estudos de investigação pela sua importância incontestável no âmbito da acção. Isto, porque é através dela que o indivíduo toma conhecimento da organização do espaço circundante, das características e posição de outros elementos existentes no envolvimento, assim como, em parte da própria posição do actor e dos seus segmentos (Barreiros & Sardinha, 1995).

Gibson (1979) Relativamente à percepção, defende que a sensação é a primeira a acontecer, posteriormente surge a percepção e por último o conhecimento, isto, significa que ocorre uma progressão dos processos mentais inferiores para os superiores. Ainda o mesmo autor (1979) afirma que o controlo da actividade perceptiva por estruturas de alto nível serve de base à consideração de estratégias perceptivas capazes de tomar mais eficiente a recolha de informação. Desta forma são elaborados planos perceptivos estratégicos, conscientes ou não, com capacidade de focar a atenção sobre os aspectos mais relevantes e de utilizar pistas para antecipação espacial e temporal. A percepção directa é a actividade de captar a informação que envolve a acção de exploração do olhar em redor, “agarrando”, olhando as coisas (Gibson, 1979).

Turvey (1990) afirmou que a percepção resultava da captação das propriedades do envolvimento levando à da definição dessas propriedades e em particular, dos elementos envolvimentais. Que antes Gibson (1979), tinha já designado por óptica ecológica. O conceito central da óptica ecológica é o de arranjo óptico ambiente e deve- se à distribuição heterogénea da intensidade da luz que confere estrutura ao ambiente óptico. A estrutura do fluxo óptico ambiente é susceptível de disponibilizar informação sobre os diferentes elementos do envolvimento assim como da orientação e movimento do próprio indivíduo, sendo desta forma estabelecida uma relação directa entre informação e sua respectiva detecção e a dinâmica (Gibson, 1979).

Para Gibson (1979) a teoria da percepção directa é também designada por perspectiva ecológica, citado por Sardinha e al., (1995). Admitindo que o envolvimento por si só tem a capacidade de fornecer toda a informação necessária para a realização da acção, sem necessidade de qualquer mediador central. O comportamento é assim justificado pela capacidade de percepcionar do indivíduo e não pela sua capacidade de

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armazenar na memória, soluções correspondentes a situações contextuais determinadas. Ainda nesta perspectiva, Van Wieringen (1988), afirma que a percepção directa poderia apenas operar quando existe uma ligação perfeita entre o envolvimento e o organismo.

A percepção e a acção não são processos que ocorrem separadamente. A percepção não pode ser separada do ambiente, o sistema de percepção evolui quando a informação está contida nesse ambiente, ou seja, a percepção-acção e o ambiente estão relacionadas firmemente, ambiente e mente (Gibson, 1979).

Na teoria ecológica da acção, a percepção e a acção são entendidas como elementos de uma causalidade circular, onde o ciclo percepção-acção (Bootsman & Van Wieringen, 1990), ou ainda ciclo percepção-postura-movimento (Reed, 1982, 1988). A percepção é constituída pela detecção de informação específica do objectivo, sendo fonte inicial de constrangimentos ou de influência na detecção da informação específica do objectivo. A causalidade circular do ciclo percepção-acção significa que a percepção funciona inicialmente como um constrangimento antecedente das consequências da acção e posteriormente, como consequência dos constrangimentos da acção antecedente (Shaw e al., 1992).

Segundo Gibson (1979), o ambiente é uma fonte de estimulação. Os organismos movem-se no mundo usando toda a informação que está disponível nele (ver Figura 6).

Comportamento Coordenação

Figura 6 – Modelo de Newell (1986) Referente ao processo de coordenação/comportamento (sob a forma de acoplamentos informação-movimento funcionais) a partir da interacção dos constrangimentos.

Tarefa Ambiente Praticante Percepção Informação Movimento Acção

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Para Mateus (2003) o Badminton é considerado um desporto altamente dinâmico, muitas vezes extremamente instável, principalmente, porque se tem de agir muito rapidamente, devido à limitação temporal e espacial a que as regras do jogo obrigam relativamente aos comportamentos dos jogadores, o que nos convida a olhar para a modalidade numa perspectiva ecológica, complexa e fractal.

3.2. A acção interceptiva

Acções interceptivas ocorrem todos os dias nas nossas vidas e são um instrumento que ajudam os humanos a adaptarem-se aos seus complexos e incertos envolvimentos (Davids, Savelsbergh, Bennett e Kamp, 2002). Ainda segundo os mesmos autores (2002) a maioria das acções interceptivas inclui as respostas motoras “finas” e “grossas”, sobre uma variedade de condições de envolvimentos estáticos e dinâmicos, através de tarefas discretas ou contínuas. Prosseguindo, destacam que essas acções perceptivas básicas incluem por exemplo o pegar ou levantar um copo, colocar o pé na berma do passeio para atravessar a rua, sentar-se gentilmente na cadeira ou apertar a mão a um amigo. Elas são importantes em muitos contextos envolvendo rápidos movimentos com diferentes partes do corpo como tocar piano, escrever num computador ou colocar o pé no travão do carro. Outras acções interceptivas requerem o uso de implementos com a mão, por exemplo usar uma ferramenta. De facto, algumas das mais fascinantes previsões dentro do processo de controlo motor, têm sido feitas usando tarefas interceptivas como martelar um prego por exemplo (Davids, Savelsbergh, Bennett e Kamp, 2002).

3.2.1. A acção interceptiva no desporto

O desporto é verdadeiramente excitante, no contexto do mundo real em relação ao estudo do processo da coordenação do movimento, controlo e percepção, porque, engloba virtualmente todas estas correntes tópicas e despertam a curiosidade dos fisiocologistas (físicos), cientistas do movimento, cientistas da visão, neurofisiologistas e biomecânicos. Nesta área, os estudiosos procuram compreender porque as acções interceptivas são críticas para o sucesso do rendimento desportivo numa grande

No documento A DINÂMICA DECISIONAL NO BADMINTON (páginas 39-42)