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CAPÍTULO II – O VALOR DO DIPLOMA E DA LÍNGUA INGLESA NO

2.2 As escolas particulares

2.2.2 A percepção do valor da língua inglesa

O depoimento da diretora de Bem-Te-Vi sugere que a língua inglesa é valorizada nessa escola, já que existe uma preocupação em tornar o ensino dessa disciplina significativo desde o ensino infantil. De acordo com a diretora, os reflexos do trabalho da equipe de professores aparecem no resultado dos alunos. Segundo ela, devido ao trabalho com o ensino de inglês, os alunos conseguem atingir um bom nível no uso das quatro habilidades da língua. Para ela, o trabalho desenvolvido pelos professores de LEs e pela coordenadora da área de linguagem, além de valorizado pela direção da escola, é valorizado professores, pelos pais e pelos alunos, que percebem estar realmente aprendendo o idioma na escola.

Para o coordenador geral da escola Einstein, a língua inglesa tem o mesmo valor de qualquer outra disciplina da grade curricular da escola. Ainda que não possua o mesmo número de aulas de disciplinas como língua portuguesa e matemática, segundo ele, o ensino e a aprendizagem da LE são tratados com a mesma seriedade de todas as matérias. De acordo o coordenador, isso é notado quando se leva em conta o fato de que um aluno pode ser reprovado em língua inglesa:

A escola que diz que valoriza e... não reprova... ela não valoriza, não é? Então essa disciplina (inglês) é absolutamente idêntica às outras matérias. Ela tem uma carga horária... menor. Mas o aluno vai trabalhar: ‘Ah! Não, porque eu faltei aula de inglês, dá para você [...] dar um trabalhinho para poder substituir, e tal’... Meu filho, vai fazer prova de segunda chamada. Vai fazer recuperação. Aluno do terceiro ano... igualzinho. Mesmo padrão, mesmo formato. [...] Se ele passou no vestibular, mas ficou reprovado em inglês. Ele ficou reprovado em inglês. Não vai ter a, b ou c. (Coordenador geral da escola Einstein) Apesar de não entrar no questionamento sobre como o trabalho de inglês é conduzido, o coordenador diz garantir o engajamento do aluno a partir de um alto nível de exigência da escola e do professor em relação ao resultado dos estudantes. Esse posicionamento pode até ser questionado em relação ao papel formador da escola, mas, de qualquer forma, é uma das maneiras de fazer com que o aluno aprenda e os resultados nas avaliações nacionais mostram que os alunos dessa instituição se saem bem em inglês. No entanto, é

importante observar que, tendo em vista o perfil dos alunos que frequentam a escola Einstein, provavelmente muitos alunos frequentam escolas de idiomas e fazem intercâmbio. Assim, os resultados obtidos pela escola não representam somente o ensino oferecido pela instituição, mas também o perfil sociocultural de seus alunos.

Na escola São Judas, segundo a diretora a língua inglesa tem o mesmo valor que as outras disciplinas da grade curricular. Um dos fatores apontados por ela para demonstrar essa suposta igualdade entre as matérias é o fato de inglês também reprovar o aluno. Não houve em seu depoimento uma ênfase grande em reprovações, mas sim, no desenvolvimento de um trabalho que exija do aluno uma postura de comprometimento com todos os conteúdos curriculares, o que contribuirá para sua formação geral.

A reprovação como indicativo de valor do ensino de inglês mostra-se presente na escola Coliseu, mas em sentido inverso. Segundo a professora, apesar da inegável importância do conhecimento de uma LE no mundo moderno, os alunos não valorizam as aulas de inglês em parte porque no Coliseu essa disciplina não reprova e, além disso, porque a maior parte dos alunos frequenta aulas de inglês em cursos de idiomas. Para conseguir lidar com a ausência de reprovação e com a concorrência com o ensino de inglês das escolas de idiomas, segundo a coordenadora, o professor de inglês da escola regular precisaria praticamente ter poderes mágicos.

Uma questão interessante apontada pela coordenadora do Coliseu é que apesar de não ser uma disciplina valorizada pelos alunos, o inglês é a matéria mais procurada nas aulas de acompanhamento escolar oferecidas pela instituição, ficando atrás somente de língua portuguesa e matemática:

Inglês é a mais procurada... tirando português e matemática, muito... mas muito à frente das outras. Para você ver a dificuldade que os meninos encontram dentro da sala de aula. É muito. Eu acho que é justamente porque ou você tem na sala de aula quem sabe muito, ou você tem quem não sabe nada. (Coordenadora pedagógica da escola Coliseu).

O depoimento da coordenadora sugere que o aluno do Ensino Médio da escola particular parece notar a importância de saber inglês, ainda que seja pelo menos para participar de um processo seletivo de vestibular. Aquele aluno que não aprendeu inglês na escola regular ou fora dela, seja por meio de cursos de idiomas, de intercâmbios, ou de qualquer outra forma, tem consciência da necessidade de aprender o idioma e está buscando alguma forma de suprir essa deficiência.

No entanto, de acordo com a coordenadora do Coliseu, as aulas de acompanhamento escolar têm a função de esclarecer pontos específicos das matérias e recebem alunos dos três anos do Ensino Médio da escola. Por isso, não é possível dar sequência a um trabalho mais aprofundado de inglês nessas aulas. Dessa forma, ainda que sinta a necessidade de aprender e que busque uma solução para o pouco conhecimento do idioma, o aluno que não sabe inglês não encontra na escola os meios de sair dessa situação. Assim, apesar de frequentar uma escola particular, o aluno do Coliseu parece encontrar-se em uma situação semelhante à do aluno da rede pública em relação à aprendizagem de inglês. Em ambos os casos, tem-se a impressão que se o aluno quiser realmente aprender o idioma, terá que buscar uma solução fora da escola.

A dificuldade em promover um ensino significativo e eficiente da língua inglesa não é um problema exclusivo à escola Coliseu. Como já mencionado anteriormente, um dos motivos apontados pela diretora da escola Minas Gerais para a terceirização do ensino de inglês é exatamente a dificuldade em conseguir desenvolver um trabalho significativo dentro da própria escola que dê conta de atender um grupo muito heterogêneo de alunos. Nesse contexto, o valor do inglês para a escola Minas Gerais pode ser visto de maneiras distintas. Por um lado, é possível interpretar essa terceirização como uma desvalorização da disciplina, já que tudo relacionado ao ensino da língua inglesa fica a cargo do curso de idiomas: seleção dos professores, material usado, objetivos do ensino da língua, avaliação, etc. O caráter estrangeiro, referindo-se a estranho, forasteiro, algo/alguém que não pertence a um meio, do ensino de idiomas é ressaltado quando a língua inglesa não é integrada ao projeto pedagógico da instituição. Por outro lado, essa foi a maneira encontrada para que o ensino apresentasse resultados positivos e que os alunos realmente aprendessem, o que demonstra valorização na medida em que a direção percebe a necessidade da real aprendizagem do idioma e quer garantir que todos os seus alunos aprendam.