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CAPÍTULO II – O VALOR DO DIPLOMA E DA LÍNGUA INGLESA NO

2.3 A língua inglesa nas escolas de idiomas

2.3.1 O trabalho e o perfil do professor de inglês das escolas de idiomas

Assim como nas escolas particulares, os professores de cursos de idiomas são contratados como horistas e seus salários dependem do número de turmas atribuídas a eles. No entanto, diferentemente das escolas particulares, o número de turmas, os horários e os agrupamentos das classes variam consideravelmente a cada semestre, gerando um impacto em maior ou menor grau, dependendo do porte da escola, nos vencimentos dos professores.

Além disso, outra característica das escolas de idiomas é possuir muitas turmas concentradas nos chamados “horários de pico” - final da tarde e noite – e precisar de um número grande de professores somente nesses horários. Com isso, muitos cursos não conseguem oferecer uma carga horária grande o suficiente para gerar um salário razoável e o trabalho nessas instituições acaba sendo visto como temporário pelos professores.

Portanto, as escolas mais tradicionais e com maior número de alunos tendem a oferecer uma carga horária maior e mais fixa para os docentes e, consequentemente, ter menor rotatividade de professores. Por outro lado, quanto menor a escola, maior a dificuldade em atribuir um número de turmas grande o suficiente para que o professor permaneça no quadro de funcionários:

O horário nobre de Belo Horizonte é o noturno. E nesse horário noturno a gente tinha várias turmas. Então precisaria de vários professores simultaneamente. E eu tinha que ter aquele professor no quadro da escola. Só que aí como? É... aí fica complicado porque eu não posso oferecer mais do que duas turmas pros professores porque antes das seis e meia não tinha turma. Então ficava muito complicado de manter o professor na escola com apenas duas turmas. Eu trabalhei dois anos lá com muita rotatividade de professor. (Ex-coordenador de Miami).

A variação na carga horária e, consequentemente, no salário, define também o perfil do professor dos cursos livres. Com exceção de Windsor, que tem baixa rotatividade e um grupo mais experiente de professores, os cursos analisados têm professores mais novos. Como explica o coordenador de Success:

No curso de aulas livres você tem um ganho limitado. Então existe um perfil muito mais jovem. Dificilmente você vai ter professores mais velhos que tenham uma formação... que tenham condições de ter uma ascensão maior, principalmente salarial... não é? Porque a grande vantagem do curso de aulas livres é que você monta o seu horário... Mas não tem como você ter um ganho determinado... Vai variar a cada semestre. Então se você tem a obrigação fixa, não é? Dependendo do seu estilo de vida, já não atende mais. Por isso que muitos têm na faixa de vinte ou trinta anos.... (Coordenador de Success)

Os coordenadores de Success e Miami admitem que os professores que investem na formação e na profissão, geralmente, não veem perspectivas de ascensão profissional nos cursos de idiomas e acabam buscando emprego em outras instituições de ensino.

Recentemente eu tive até uma professora que era... o que a gente chama de utopia mesmo. Ela tinha doutorado em língua inglesa... Ela se formou para ser professora... E ela era ótima. Excelente. Uma moça perfeita... mas aí... acaba acontecendo algo que é natural. Quando um professor de um curso de aulas livres se especializa o máximo que ele pode é claro que é natural que ele vá buscar uma ascensão ainda maior. Ela passou em um concurso e se mudou. (Coordenador de Success)

De acordo com o depoimento da coordenadora de Windsor, a realidade da escola é um pouco diferente daquela vivida por outros cursos de idiomas. Por ter um grande número de alunos e de turmas distribuídas mais uniformemente ao longo do dia, é possível oferecer uma carga horária grande e praticamente fixa para os professores que lá lecionam. Além disso, quanto mais tempo o professor permanece na instituição, mais chances tem de fazer cursos preparatórios para certificações reconhecidas internacionalmente e de se envolver com projetos da coordenação. A coordenadora acredita que a escola é bem sucedida principalmente por ter um grupo de professores, coordenadores e gerentes mais velho e experiente.

Além da carga horária, outro fator determinante para a rotatividade dos professores é o vínculo empregatício. De acordo com o ex-coordenador de Miami, a contratação de professores de idiomas sem vínculo formal de trabalho é prática comum nos cursos livres, principalmente porque a carga horária de trabalho é pequena e varia a cada semestre, o que dificulta esse registro. Algumas escolas optam por registrar apenas algumas horas/aula dos professores com maior carga horária e o restante das turmas é pago sem registro, de maneira informal. Ainda segundo o coordenador, como existem poucas escolas de idiomas que registram toda a carga horária dos professores, é para lá que se direcionam aqueles considerados por ele como os melhores profissionais da área – professores que, além da competência linguística, são formados em Letras e pretendem investir em suas carreiras de docentes.

O coordenador de Success acredita que apesar de aumentar os custos, o registro faz com que os professores tenham maior comprometimento com o trabalho e com a escola, oferecendo mais vantagens que desvantagens para a instituição:

Depois dos três meses de experiência todos são registrados pelo Sinpro... Que assegura o valor mínimo da hora aula, não é? Antigamente, não faz muito tempo, não existia essa prática de registro de professor de aulas livres. Mas passou a ser obrigatório, não é? E é claro que de uma certa forma trouxe benefícios para escola. De uma certa forma você conseguiu fidelizar os professores... Eles ficaram comprometidos, mesmo, com o trabalho, com a escola... (Coordenador de Success)

É interessante observar que a prática de não registrar todas as turmas em carteira parece ser bastante comum no campo das escolas de idiomas. Isso acontece principalmente em escolas menores, mas os coordenadores entrevistados relataram que até mesmo escolas maiores seguem esse procedimento, devido à alteração constante no número de alunos e na distribuição de turmas, que varia pelo menos semestralmente.