• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – O VALOR DO DIPLOMA E DA LÍNGUA INGLESA NO

2.1 As escolas públicas

2.1.3 O lugar da língua inglesa nas escolas públicas

Em relação ao ensino de inglês, segundo o diretor da José Reis, a escola optou por abordar os conteúdos das matérias dentro das áreas de conhecimento sugeridas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, a saber: Linguagens, Códigos e Tecnologias; Ciências da Natureza; Ciências Humanas. Dentro dessa divisão, de acordo com o diretor, a língua inglesa é trabalhada na área de linguagem. Segundo sua descrição, os professores da área de linguagem trabalham juntos e elaboram as atividades em conjunto de forma interdisciplinar. Dentro do grupo de professores da área de linguagem, existem dois professores de inglês que participam da elaboração de todas as atividades da área, independentemente de a atividade ser relacionada à língua inglesa ou não. Quando a atividade elaborada é sobre a língua inglesa, esses professores auxiliam todos os outros com o material e com orientações sobre como abordá-la e desenvolvê-la com os alunos. Dessa forma, os professores da área de linguagem não trabalham somente com suas disciplinas específicas. Quando entram em sala de aula, desenvolvem a atividade preparada pelo grupo, seja ela relacionada a língua portuguesa, informática, inglês, ou outra matéria da área de linguagem:

[...] Tem turmas que não têm o professor de português. Tem é... nós temos professores de português dentro da escola e que fazem assim... ajudam... dão assessoria, consultoria de material, de avaliação de material... na formação dos professores... E outros irão para sala de aula, às vezes, para trabalhar a questão da linguagem. [...] Como têm alunos, inclusive, que têm dificuldades na... em alfabetização.... nós não temos professor alfabetizador aqui mas, às vezes, tem um professor que está familiarizado [...] que vai trabalhar com aquele aluno com dificuldades em alfabetização. [...] Mesmo sem ser alfabetizador. (Diretor da escola José Reis)

Segundo o diretor, a opção por trabalhar com as disciplinas nas áreas de conhecimento aconteceu devido à percepção dos professores que os alunos não estavam aprendendo com as aulas planejadas de forma mais tradicional, ou seja, cada professor ensinando sua matéria específica em aulas de 50 minutos, duas vezes por semana. De acordo com seu depoimento, por serem alunos com um percurso escolar inconstante e inconsistente, os alunos sentiam dificuldade e demonstravam resistência às aulas no formato tradicional. A nova proposta de trabalho é desenvolvida há dois anos e, apesar das dificuldades na sistematização do conhecimento, de acordo com o diretor, vem produzindo melhores resultados que aqueles obtidos na época em que os alunos tinham aulas tradicionais de cada uma das matérias separadamente. Segundo o diretor, por serem mais integradas e contextualizadas, as atividades desenvolvidas nas áreas são mais significativas para os estudantes, que acabam se envolvendo mais com o que estão estudando.

Apesar de acreditar que estão no caminho certo, o diretor expressa a insegurança de todos os envolvidos nessa proposta de ensino, principalmente devido ao fato de não terem formação nas disciplinas que estão ministrando. Um problema apontado pelo diretor da escola José Reis para o ensino nas áreas de conhecimento é a dificuldade em se trabalhar de maneira integrada com outros conteúdos. De acordo com ele, a formação oferecida pelas universidades não contempla a necessidade de uma visão mais ampla do ensino, com uma abordagem integrada do currículo escolar.

É diferente, mas, assim... às vezes, dá uma instabilidade. O professor... a nossa cultura de... de formação... [...] aqui a gente tem essa necessidade de interagir embora a formação inicial... ela não prevê isso... As universidades ainda não veem isso, elas estão ainda muito segmentadas por áreas pequenas... por disciplinas, não é? Então eles (os professores) vêm com uma concepção de escola regular que teria aquela disciplina de inglês duas vezes por semana, naquele momento... E quando chega aqui pra... na educação de jovens e adultos tem uma outra concepção de currículo, não é? Basicamente integrado. (Diretor da escola José Reis)

É interessante que, mesmo não desenvolvendo um trabalho interdisciplinar, na escola Zélia Gattai o coordenador exprimiu a mesma opinião em relação à necessidade de uma formação diferente do professor. Segundo ele, os professores que ingressam na rede não foram preparados para lidar com questões complexas como indisciplina, inclusão, e projetos interdisciplinares, mas sim, para lecionar o conteúdo da matéria para a qual se formaram. Para ele, esse é um dos motivos pelos quais muitos deles se sentem frustrados

quando não conseguem desenvolver o curso da maneira como haviam planejado e, talvez, uma das razões para o aumento de absenteísmo e de adoecimento entre os professores.

Apesar de ser professor de história, o coordenador diz se apresentar como “professor

de disciplina extinta”, pois, segundo ele, não é mais possível trabalhar o conteúdo das

matérias como até pouco tempo atrás. Devido à indisciplina, às dificuldades de leitura e à falta de conceitos básicos em todas as matérias, de acordo com seu depoimento, o professor não consegue mais ensinar os conteúdos presentes nos planos de ensino. Para o coordenador, o objetivo atual é conseguir lidar com a indisciplina do grupo e tentar de alguma forma mobilizar esses alunos para o conhecimento. De acordo com ele, se o professor conseguir ensinar os conceitos mais básicos de sua disciplina, pode se dar por satisfeito.

Para Fanfani (2007), atualmente o trabalho dos docentes requer não somente o uso de conhecimento técnico, mas também as características pessoais do próprio professor que não podem ser ensinadas em cursos. Segundo o autor,

En las condiciones actuales el oficio tiende a construirse cada vez más a través de la experiência y no consiste tanto em ejercer um rol o una función preestablecida (incluso reglamentada), sino em construirla usando la imaginación y lós recursos disponibles. La personalidad como totalidad se convierte em uma competência para construir su función. [...] No es que hayan desparecido las normas que enmarcan su trabajo em el contexto de uma organización todavia burocrática (o de burocracia degradada), sino que las nuevas condiciones les obligan a definir su oficio como uma realización habilidosa, como uma experiência, como uma construcción individual realizada a partir de elementos sueltos y hasta contradictorios: cumpliemiento del programa, respeto a um marco formativo, preocupación por la persona del aprendiz, respecto por su identidad, particularidad y autonomia, búsqueda de rendimientos, realización de la justicia, etc. (FANFANI, 2007, p. 346) Ensinar torna-se uma tarefa mais complexa e abstrata e o bom desempenho do professor está relacionado à sua capacidade de lidar com problemas diversos que extrapolam o mundo escolar. De acordo com Fanfani (2007), esse contexto exige uma lógica indefinida e interativa, já que o docente deve interpretar o contexto em que está inserido e adaptar suas práticas a fim de obter bons resultados. Porém, os depoimentos sugerem que a tarefa de criação e adaptação nesse novo modelo de professor gera insegurança e questionamentos sobre sua eficácia e, além disso, os professores não foram formados para isso.

Na escola Zélia Gattai, as disciplinas têm duas aulas semanais de 50 minutos cada, com exceção de língua portuguesa e matemática, que têm quatro aulas em cada turma. As

aulas de inglês são iniciadas no final do segundo ciclo, o que corresponde ao sexto ano do Ensino Fundamental dois. Desde 2009, o MEC envia à escola o material didático de inglês do aluno e do professor, mas, de acordo com o coordenador, o material não tem sido suficiente para mudar a situação do ensino da língua inglesa, que está inserido nesse contexto mais amplo de desinteresse geral pelos componentes curriculares.

A grade curricular segue o formato tradicional na escola estadual Capanema. Lá, as aulas de inglês são ministradas duas vezes por semana, durante 50 minutos, nos três anos do Ensino Médio. No primeiro e no segundo ano, os alunos têm aula de inglês e podem optar por fazer espanhol também. No terceiro ano, os estudantes optam por um ou outro idioma. Essa opção, de acordo com o vice-diretor, está ligada ao vestibular. Os alunos têm como objetivo prestar o exame no final do Ensino Médio e escolhem estudar a LE pela qual optarão no vestibular.

A escola Capanema tem uma parceria com o SENAC e oferece aulas de inglês e de espanhol duas vezes por semana na própria instituição nos horários em que os alunos não têm aulas. Essa parceria foi feita com o objetivo de preparar jovens para trabalharem na Copa do Mundo de 2014. Por isso, o pré-requisito é que o jovem tenha 16 anos completos até o dia 30 de maio de 2012 para que na data da competição ele já tenha completado 18 anos e seja contratado para trabalhar nos terminais turísticos de aeroportos e hotéis de Belo Horizonte. As vagas são limitadas e os alunos foram chamados para o curso de acordo com o número de sua inscrição. Quanto antes se escreveram, mais rapidamente foram chamados. Como são somente 25 vagas para as aulas de inglês, segundo o vice- diretor, a escola é bastante rigorosa com os alunos. Aqueles que têm duas faltas consecutivas são automaticamente desligados do curso e outro aluno da fila de espera é chamado para entrar em seu lugar. De acordo com o vice-diretor, os estudantes reconhecem a importância do conhecimento de uma LE tanto para o mercado de trabalho como para sua vida cotidiana (música, internet, filmes) e têm se mostrado motivados a aprender inglês ou espanhol. É interessante notar, que, segundo o vice-diretor, esse entusiasmo fica evidente somente quando as aulas de inglês são oferecidas por outra instituição e sua frequência é limitada a um pequeno grupo de alunos, o que indica certa exclusividade para aqueles que estão fazendo o curso.

O vice-diretor não exprimiu preocupações em relação à formação dos professores. Para ele, as aulas na instituição têm ocorrido da melhor maneira possível dentro de um

cenário em que o professor não é valorizado. Para ele, o maior obstáculo para a escola é motivar um professor desanimado com a profissão não somente devido ao desinteresse dos alunos, mas principalmente por não vislumbrar uma carreira atraente na docência da rede estadual.