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2 DISPOSITIVOS DE UMA FORMAÇÃO “IN LOCO”: APONTAMENTOS E

2.3 O SISTEMA BRAILLE E OS SABERES DOCENTE

2.3.3 O uso de Tecnologia Assistiva TA no processo de ensino/aprendizagem dos

Com o avanço das tecnologias da informação e comunicação -TIC nos últimos tempos, é imprescindível que a escola adote novas práticas curriculares, que agreguem elementos da cultura digital em seu projeto educativo (CASTRO; SOUZA; SANTOS, 2012). Nesse contexto, a inserção da Tecnologia Assistiva -TA20 nos processos de ensino (no planejamento do professor) possibilitam o desenvolvimento da aprendizagem e da autonomia dos alunos com deficiência visual, pois elas atuam no sentido de “dar suporte para efetivar o novo paradigma da inclusão na escola e na Sociedade para Todos” (MIRANDA; GALVÃO FILHO, 2012, p.247).

Bersch (2013, p.2) ao citar Radabaugh (1993) também diz que: “para as pessoas sem deficiência a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis”. Nesse âmbito, o conceito de TA paira sobre um consenso de que elas abrangem muito mais do que artefatos tecnológicos, mas perpassam todos os ambientes intra e extraclasse possibilitando a inclusão das pessoas com NEE. Acerca desse conceito, a European Commission – DGXIII (1998) citada por Castro, Souza e Santos (2012, p.301) formulou que TA é:

é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.

Em síntese, elas “contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de

20 Um ponto importante na definição terminológica é que na documentação produzida pelo CAT está indicado

que a expressão Tecnologia Assistiva seja utilizada sempre no singular, por referir-se a uma área de conhecimento e não a uma coleção específicas de produtos. (BRASIL – SDHPR – Comitê de Ajudas Técnicas, 2009). Utilizar corretamente o termo na singular ajuda à compreensão da abrangência deste conceito. Sendo assim, é incorreto dizer “as tecnologias assistivas”. Para nos referirmos a um conjunto de equipamentos deveremos dizer: Recursos de TA. Para especificar serviços e procedimentos utilizamos: os serviços de TA, os procedimentos em TA. (BERSCH, 2013, p.2)

pessoas com deficiência e, consequentemente, promover vida independente e inclusão” (CASTRO; SOUZA; SANTOS, 2012, p.303). Assim, os serviços de TA são fundamentais na aprendizagem do aluno com deficiência visual pois facilita a aquisição e o acesso ao conhecimento. Miranda e Galvão Filho (2012, p.250) dão exemplos de TA na escola: “os materiais escolares e pedagógicos acessíveis, a comunicação alternativa, os recursos de acessibilidade ao computador, os recursos para mobilidade, localização, a sinalização[...]”.

Para esses mesmos autores “é na sala multifuncional que o aluno aprende a utilizar os recursos de TA[...], porém estes recursos não podem ser exclusivamente utilizados nessa sala” (MIRANDA; GALVÃO FILHO, 2012, p.249). Assim, é preciso dar condições ao professor da sala regular para que este use os recursos de TA para uma melhor aprendizagem do aluno. Numa formação continuada “in loco” os professores podem se capacitar e aprender sobre os recursos já existentes ou produzir outros conforme a necessidade de seus alunos.

Vale destacar que a “TA deve ser entendida como o “recurso do usuário” e não como “recurso do profissional”. Isto se justifica pelo fato de que ela serve à pessoa com deficiência que necessita desempenhar funções do cotidiano de forma independente” (BERSCH, 2013, p.11). No contexto de uma formação “in loco” os professores devem refletir sobre a essencialidade de utilizar a TA no processo de ensino e aprendizagem dos alunos com deficiência visual como uma possibilidade destes participarem ativamente na busca e aquisição do conhecimento.

Nesse âmbito, há que se diferenciar recursos tecnológicos de recursos de tecnologia assistiva. Um exemplo disso é o computador, ele é um recurso tecnológico, mas se ele não dispor de um programa de acessibilidade com um conjunto de hardware e software especializado para o aluno cego, será apenas um recurso de tecnologia excludente. Em casos como este, Bersch (2013, p.12) aponta quando a tecnologia pode ser considerada assistiva no contexto educacional:

Quando ela é utilizada por um aluno com deficiência e tem por objetivo romper barreiras sensoriais[...] que limitam/impedem seu acesso às informações ou limitam/impedem o registro e expressão sobre os conhecimentos adquiridos por ele; quando favorecem seu acesso e participação ativa e autônoma em projetos pedagógicos; quando possibilitam a manipulação de objetos de estudos; quando percebemos que sem este recurso tecnológico a participação ativa do aluno no desafio de aprendizagem seria restrito ou inexistente.

No Brasil, “ao pesquisar o tema da Tecnologia Assistiva deveremos direcionar a busca a partir dos termos: tecnologia assistiva, ajudas técnicas, tecnologia de apoio” (BERSCH, 2013, p.12). Quanto a finalidade do uso dos recursos de TA, eles podem ser funcionais ou acadêmicos. Funcionais para as atividades do cotidiano e acadêmicos para a aprendizagem dos

conteúdos escolares (SANTOS; SILVA; SALES, 2017). Esses mesmos autores apresentam alguns recursos acadêmicos que podem ser utilizados no atendimento ao aluno com deficiência visual e classificaram-os como recursos de estimulação da função tátil, recursos para estimulação auditiva e recursos eletrônicos. A seguir, seguem alguns recursos de estimulação da função tátil:

Figura 02: Materiais para escrita manual em braile: papel 40 quilos, prancheta e reglete e punção.

Fonte: http://elaineaee.blogspot.com.br/2014/11/recursos-de-acessibilidade-curricular.html

Figura 03: Máquina de escrever em braile

Fonte: http://elaineaee.blogspot.com.br/2014/11/recursos-de-acessibilidade-curricular.html Figura 04 : Sorobã

Fonte:http://elaineaee.blogspot.com.br/2014/11/recursos-de-acessibilidade- curricular.html.

A máquina de escrever em braille é muito importante, pois possibilita uma maior rapidez no processo de escrita. Além da escrita braille é necessário que a pessoa cega também aprenda a escrita grafo, pois as que não adquirem essa grafia são consideradas analfabetas. De acordo com Campos (2006 p. 32-34):

O ensino da escrita cursiva em tinta para pessoas cegas é importante, seja para escrever o nome por extenso, reconhecer letras e números, ou formar palavras e sentenças, facilitando a comunicação com as pessoas que enxergam. A escrita do nome, de números e de pequenas anotações tem uma utilidade e uma função social que não deve ser subestimada.

Ao aprender a escrita grafo, a pessoa cega passa a utilizar uma grade que na maioria das vezes é feita de metal, podendo também ser feita de outros materiais como: caixa de papelão, radiografias, emborrachado entre outros. Além disso, como toda criança, os alunos cegos também gostam de desenhar e para que isso se concretize é utilizado uma prancha e um lápis adaptado. Sá (2007, p. 29) descreve muito bem este objeto, quando diz que: “[...] se trata de um retângulo de eucatex recoberto com tela de náilon de proteção para produção de desenhos com lápis-cera ou recoberto com couro para desenhos com carretilhas”. Nesse contexto, o exercício com desenhos é fundamental para o desenvolvimento da criatividade da criança, pois lhe possibilita utilizar de sua imaginação no momento da elaboração dos desenhos, provocando com isso o desenvolvimento intelectual e a coordenação motora da criança cega.

Ainda como recursos de estimulação da função tátil, podem ser confeccionados os mapas hidrográficos, políticos, geográficos, pois são também de grande importância na aprendizagem dos alunos com deficiência visual, ao possibilitar leituras do mundo por meio das suas representações. Para o ensino nessa especialidade, os mapas podem ser representados em alto relevo e com uma riqueza de detalhes para facilitar a aprendizagem dos discentes. Eles são fabricados na maioria das vezes com diferentes texturas, e para o enriquecimento destas texturas são utilizados diversos materiais como: barbante, cartolina, EVA, miçangas, entre outros.

Outro recurso tátil indispensável no ensino da pessoa com deficiência visual (cegueira) é o livro didático adaptado, através dele o discente passa a ter acesso à cultura e ao desenvolvimento da leitura e do aprendizado. Os livros didáticos em braille são fabricados com requintes de detalhes, ilustrados com desenho em relevo, gráficos e cores com texturas diferentes. Apresentam também fotos adaptadas, entre outros recursos considerados inacessíveis

Os recursos didáticos utilizados na aprendizagem da pessoa com deficiência visual devem ser inseridos em situações de vivências em sala de aula, a fim de estimular o

desenvolvimento dos alunos nas atividades propostas. A elaboração desses recursos deve seguir uma fidelidade minuciosa da realidade vivenciada pelo discente, como deixa claro Sá (2007, p.27) no fragmento a seguir:

A confecção de recursos didáticos para alunos cegos deve se basear em alguns critérios muito importantes para a eficiência de sua utilização. Entre eles, destacamos a fidelidade da representação que deve ser tão exata quanto possível em relação ao modelo original. Além disso, deve ser atraente para a visão e agradável ao tato. Em relação aos recursos para estimulação auditiva, existem os livros digitais, livros falados e os áudios livros que são fundamentais para o auxílio da leitura da pessoa com deficiência visual. Através desses recursos as pessoas com deficiência visual poderão ter acesso a informações, a cultura, entre outros benefícios que lhes proporcionarão um aprendizado prazeroso. Os autores Santos, Silva e Sales (2017) também expõem o uso dos gravadores, livros falados para auxiliar nas práticas de leitura e nas aulas de educação física pode-se usar bolas com guizos, localizadores sonoros de gol etc.

Já os recursos eletrônicos incluem a impressora braille, os softwares, o display braille, leitores de tela com sintetizadores de voz (SANTOS; SILVA; SALES, 2017). Ultimamente as TA tem se desenvolvido mais no sentido de recursos eletrônicos comunicacionais como: programas para celulares (aplicativos) /smartphones, computadores com ledores de tela e sintetizadores de voz. Nesse cenário, destacam-se os programas de computadores específicos como: DOSVOX, VIRTUAL VISION, JAWS e NVDA, estes softwares foram desenvolvidos visando promover acessibilidade as pessoas com deficiência visual (SANTOS; SILVA; SALES, 2017).

O DOSVOX é um sistema de computador que se comunica com o usuário através de síntese de voz em português (podendo ser configurada em outros idiomas). Segundo Sá (2007, p 33), “ele é formado por um conjunto de programas que compõem um ambiente de sistema integrado para uso de pessoas cegas”. Dispõe de alguns jogos que visam não somente o entretenimento, mas também facilita a aprendizagem do ambiente, na medida em que, jogando, o usuário está ao mesmo tempo aperfeiçoando sua interação por meio do teclado e com o sistema de um modo geral. Ele está disponível gratuitamente na internet (SANTOS; SILVA; SALES, 2017).

O VIRTUAL VISION é um software que interage com o Sistema Operacional e transforma as informações, apresentadas em forma de texto, em informações sonoras. Assim, através do leitor de tela o usuário pode ouvir tudo o que esta sendo mostrado. O JAWS é um

software composto por um sistema que lê as informações dispostas na tela e por um sintetizador

pessoas com deficiência visual podem usufruir dos recursos de informática e navegação na internet com mais facilidade e sem auxílio de terceiros (SANTOS; SILVA; SALES, 2017).

O NVDA (gratuito) “Non Visual Desktop Access” é um leitor de telas para Windows, que estabeleceu alguns princípios básicos na sua criação, a exemplo de ser gratuito, licenciado, aberto a novas ideias e seguir um design fácil. Nesse contexto, importa que recursos táteis, auditivos e eletrônicos possibilitem que a tecnologia assistiva seja fundamental para a promoção da inclusão das pessoas com deficiência visual, tanto no campo da educação, inserção no trabalho como na vida em sociedade (BERSCH, 2013).

Miranda e Galvão Filho (2012) ao analisarem duas escolas em uma rede de ensino público constataram a necessidade de os professores da sala de aula regular fornecerem textos em meio digital para a professora da Sala de Recursos Multifuncionais, de modo que seriam automaticamente convertidos para o braille através dos diferentes softwares gratuitos (que fazem a conversão de um texto comum no formato digital, para o braille). Para esses autores, a forma convencional (manual, feita por meio da máquina braille) compromete bastante o tempo dos profissionais e acaba por não qualificar o trabalho do professor da SRM.

Diante do que foi exposto, podemos entender que no momento da escolha do recurso de TA que será utilizado pelos alunos com deficiência visual na sala de aula regular é necessário uma avaliação criteriosa em relação a fidelidade do material selecionado. Apesar da existência de diversas possibilidades de uso da Tecnologia Assistiva- TA na escolarização desses alunos, a adaptação, o uso, a criação e a exploração vai depender da disponibilidade de alguns recursos na escola, do “querer fazer” e do “saber fazer” docente. Por isso, torna-se essencial uma formação de professores na perspectiva da educação inclusiva “dentro da profissão”, promovendo espaços de fala, escuta, produção e reflexão.

3 COMPREENDENDO O ESPAÇO DE AÇÃO: A ESCOLA MUNICIPAL ODETE