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A pesquisa desenvolvida na graduação e na pós-graduação

CAPÍTULO V – A PESQUISA EM DISCUSSÃO

5.3 O QUE PESQUISAM?

5.3.1 A pesquisa desenvolvida na graduação e na pós-graduação

O quadro a seguir nos mostra a diversidade de temáticas abordadas nas pesquisas desenvolvidas por esses professores em sua trajetória acadêmica.

Quadro 1 – Pesquisas desenvolvidas pelos professores entrevistados no curso de Graduação e Pós-Graduação

Graduação Pós-Graduação

Especialização Mestrado Doutorado

Professor A

A contribuição da Educação Física na vida

dos alunos pós-fase escolar

Alterações da composição corporal em mulheres praticantes de

musculação

A participação da família no resultado

escolar Gestão empresarial de pequenas e

médias empresas Professor B Educação Física na alfabetização de jovens e adultos Aceleração de aprendizagem no Espírito Santo: uma análise reflexiva

junto aos educadores do programa no Ensino Fundamental e suas repercussões no ensino médio

Narrativas da formação docente na Educação Física de ensino médio

da rede estadual de ensino do Espírito

Santo Políticas públicas para o Esporte

Escolar: analisando a gestão Max Filho na prefeitura de Vila Velha

Professor C

Como o professor dá continuidade a sua formação após ingressar no mercado de trabalho?

Professor de Educação Física escolar: um estudo sobre expectativas no seu ofício

Uma porta entreaberta: descrições narradas acerca das experiências

cotidianas de sentido subjetivo, em um Programa de Escola Aberta (UNESCO) e um professor de Educação Física nesse

lugar-tempo Ser professor de Educação Física: um estudo fundamentado na fenomenologia & na produção de um discurso existencial Formação continuada em psicopedagogia e psicomotricidade para professores de Educação Física:

um estudo metodológico acerca da relação desses saberes e o

movimento de inclusivo Reação da família frente ao filho

deficiente

Professor D

Meio ambiente: formação de oficineiros e práticas educativas no

Programa de Escola Aberta

De grades e refugos: analisando a cultura da escola na perspectiva da educação intercultural e interdisciplinar Como os jovens se reinventam na rua? Professor E

Práticas inovadoras nas aulas de Educação Física

Os professores transitaram num universo amplo de pesquisa e seus interesses de investigação variaram bastante (prática pedagógica, políticas públicas educacionais, cultura da escola, formação continuada, sentidos subjetivos das experiências cotidianas, histórias de vida dos docentes). Notamos temáticas específicas à área de Educação Física e outras mais amplas relacionados com a educação de forma em geral. Foi perceptível o interesse de alguns professores em analisar os programas voltados para a educação oriundos de políticas públicas municipais, estaduais ou federais, principalmente nos cursos lato sensu. Os programas Aceleração de Aprendizagem, Educação em Jornada Ampliada e Escola Aberta foram alguns dos objetos de investigação das pesquisas lato sensu. Isso nos mostra o quanto o interesse dos professores não se limita ao seu fazer pedagógico imediato e o quanto eles estão preocupados em compreender contextos mais amplos que ultrapassam os muros da escola.

Constatamos que as escolhas dos temas de pesquisa estão associadas aos desafios postos pela prática social, sejam eles mais imediatos ou não. Lembramos que a prática social põe os desafios, mas depende dos sujeitos assumi-los ou não como seus. Como assevera Saviani (1996, p. 18), todo “[...] problema apresenta um lado objetivo e um lado subjetivo”. O lado subjetivo caracteriza-se pela tomada de consciência da necessidade. Podemos dizer, então, que esses docentes, ao escolherem os seus objetos de pesquisa, mediante as suas concepções de mundo, assumiram subjetivamente como seus os desafios colocados pela prática social objetiva.

De forma a ilustrar como se deu a escolha das temáticas de pesquisa dos professores entrevistados, explicitaremos alguns exemplos.

A Professora B, em sua primeira pós-graduação lato sensu (que foi em Psicopedagogia) afirma: “Eu pesquisei [...] uma coisa que eu estava vivendo”. Ela se refere ao Programa de Aceleração de Aprendizagem implantado na rede estadual do ensino fundamental, cuja finalidade era corrigir a defasagem entre idade e série. A professora explica que: “[...] como estava pegando alunos que saíam das turmas de aceleração para entrar no ensino médio, via os professores se queixarem demais. Eles falavam: ‘Meu Deus, esses alunos estão fracos demais para o ensino médio, esse programa é um fiasco’”. Dessa forma, sua pesquisa visava a compreender melhor as causas e as consequências desse programa.

Quanto à pesquisa de sua segunda especialização, a professora lembra que a opção pela temática ocorreu, novamente, mediante o seu contexto de atuação. Na época, era servidora da

municipalidade de Vila Velha e, na escola em que trabalhava, por ser considerada uma escola modelo (devido à estrutura física), era oferecida à comunidade a educação em jornada ampliada.45 Explica que sua atuação em um turno era com a Educação Física como componente curricular e, no outro, desenvolvia atividades extracurriculares: projeto de dança e esporte aquático. Assim, a Professora B comenta que o foco de interesse de sua pesquisa estava relacionado com a questão da análise dessa política pública que implementava a educação de jornada ampliada. Seu objetivo era “[...] compreender qual a intencionalidade dessa política pública para a educação no município de Vila Velha, como isso era visto pelos pais, pela comunidade”.

O foco de investigação do Professor C em sua pós-graduação stricto sensu (Mestrado em Educação) foi sobre o programa Escola Aberta. O professor comenta ter sido oficineiro voluntário desse programa no ano de 2004 e 2005, ministrando oficina de futebol nos finais de semana em uma das escolas de Serra. Diz, também, que, na época, ele se perguntava: “[...] Que programa era esse e qual o sentido de ter esse programa na escola? Por que os alunos saem mais cedo e alguns permanecem mais tempo? Alguns vêm aqui mas não têm uma recorrência? Os oficineiros mudam, não mudam? Não se importam mais com a questão financeira?” O professor enfatiza o quanto essas questões chamaram a sua atenção e que, então, sua investigação no Mestrado se deu pelo fato de querer “[...] entender um pouco melhor os sentidos subjetivos encontrados por esses participantes do programa da Escola Aberta”. Ele explica que o objetivo da pesquisa era “[...] escrever narrativamente o que acontecia naquele vivido ali”.

A Professora E comenta que cursou a sua pós-graduação lato sensu em Educação Física escolar quando estava na coordenação de área da formação continuada promovida pela Secretaria Municipal de Vitória. O foco de sua investigação foi “ [...] mostrar que tinha práticas inovadoras acontecendo, inovadoras no sentido de sair daquela coisa do conteúdo pelo conteúdo, aquela coisa tradicional. Professores que levavam os seus alunos a pensar essa sociedade, levar os alunos a um trabalho diferenciado daquela coisa de só esporte”. A professora considerava importante, até pela posição que ocupava na formação continuada, dar visibilidade àquelas “práticas inovadoras” que ocorriam nas escolas municipais de Vitória, de

45

O aluno permanecia os dois turnos na escola: um turno com atividades “normais” da grade curricular e, no outro, atividades extracurriculares, como oficinas esportivas, artísticas e reforço escolar.

forma a desconstruir um imaginário negativo que tinha se construído sobre as práticas pedagógicas dos professores da Educação Física.

Vimos nesses relatos que as pesquisas dos professores partiram da sua realidade empírica, de seu cotidiano, uma realidade que se apresenta, num primeiro momento, de forma caótica e que precisa ser compreendida melhor. Para isso, há necessidade de um esforço não cotidiano, um esforço que procure desvelar o fenômeno para além da aparência, um esforço no sentido de compreender o objeto investigado em sua forma concreta, compreendê-lo nas relações que o constituem.