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CAPÍTULO III – EM BUSCA DOS PROFESSORES PESQUISADORES

3.2 CARACTERÍSTICAS DOS PROFESSORES PESQUISADORES

A solicitação de identificação dos professores considerados pesquisadores foi acompanhada de justificativas. Na Tabela 4 e no Gráfico 4 que seguem, encontram-se as características que foram atribuídas a esses professores:

Tabela 4 – Características dos “professores pesquisadores”

Categorias Frequência %

Construção e problematização da prática 19 22,35%

Atitude permanente de busca de novos conhecimentos ou estudos 16 18,82% Procura de cursos/eventos para sua formação 12 14,12%

Envolvimento com a formação continuada 9 10,59%

Atitude transformadora/questionadora 8 9,41%

Não responderam 7 8,23%

Envolvimento/realização de pesquisa 6 7,06%

Atuação/qualidade profissional 5 5,89%

Vínculo com a universidade 2 2,35%

Outras 1 1,18%

Total 85 100% Fonte: A autora.

Gráfico 4 – Características dos professores pesquisadores

Fonte: A autora. 22,35% 18,82% 14,12% 10,59% 9,41% 8,23% 7,06% 5,89% 2,35% 1,18% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% Construção e problematização da prática

Atitude permanente de busca de novos … Procura de cursos/eventos para sua formação

Envolvimento com a formação continuada Atitude transformadora/questionadora Não responderam Envolvimento/realização de pesquisa Atuação/qualidade profissional Vínculo com a universidade Outras

A soma da frequência das respostas na categorização ultrapassa o quantitativo de sujeitos, pois, ao analisarmos as informações coletadas, fragmentamos o seu conteúdo em unidades de sentidos para posteriormente as reagruparmos em categorias conforme suas semelhanças. Dessa forma, a resposta de determinado sujeito pode conter representações expressas em mais de uma categoria.

Como se percebe, sobre as justificativas apresentadas na identificação dos nomes dos supostos professores pesquisadores, a característica mais ressaltada foi em relação à construção e problematização da prática. Essa categoria expressa o reconhecimento e a valorização do grupo na preocupação e no comprometimento dos professores com a prática, nas iniciativas em problematizar, fundamentar e inovar as suas ações. De acordo com as respostas, os professores pesquisadores são profissionais que “[...] têm o hábito de realizar sua prática pedagógica embasada por elementos teóricos que os ajudam a desenvolver bem a sua ação e modificá-la quando é necessário” (PROF. 31); “[...] buscam fazer, em sua prática, um momento de reflexão, [...] buscam um embasamento filosófico que ajude a ampliar suas práticas, [...] buscam problematizar a sua prática” (PROF. 38); “[...] sempre estão tentando inovar em suas aulas diárias” (PROF. 43); “São professores [...] procurando colocar em prática os conhecimentos adquiridos na graduação” (PROF. 41); “Estão sempre buscando formação para melhoria de suas ações pedagógicas” (PROF. 37). A valorização de uma prática diferenciada e fundamentada por elementos teóricos nos parece louvável, mas, por vezes, resvala em uma concepção de imediaticidade, como se houvesse uma transposição direta entre teoria e prática. Em princípio, há indícios de que a valorização da teoria se dá na proporção direta de sua empregabilidade na prática.

A segunda característica mais evidenciada foi a atitude permanente de busca de novos conhecimentos ou estudos. Isso nos mostrou outro traço significativo: os professores apontados como pesquisadores demonstram constante atitude de busca por novos conhecimentos, são estudiosos, interessam-se pela leitura de temas da área e possuem boa bagagem de conhecimento. Segundo os docentes respondentes, os professores pesquisadores “São colegas que estão [...] em pleno gozo dos estudos para ampliar a formação” (PROF. 2); “Estão em constante movimento no que se refere a estudos nas áreas de atuação” (PROF. 1); assumem a permanente “[...] busca de informações [...]” (PROF. 7).“[...] São professores que demonstram interesse pela leitura [...]” (PROF. 21); são “[...] grandes leitores da área da Educação Física escolar [...]” (PROF. 39).

Essas justificativas nos levam a pensar que o perfil do professor pesquisador presente no imaginário dos professores está mais relacionado com uma atitude ampla de estudo, de curiosidade, de querer estar bem informado, principalmente sobre as questões pertinentes a área de atuação.

A procura de cursos/eventos para sua formação foi a terceira característica mais ressaltada no perfil dos professores identificados como pesquisadores. Foi destacada a iniciativa na participação de eventos, congressos, cursos de capacitação, pós-graduação (em diferentes níveis). O envolvimento com eventos foi destacado em dimensões variadas, desde a procura de aperfeiçoamento até apresentação de trabalhos. Esta categoria evidencia como esses profissionais se veem sempre em processo de formação. Conforme os dados, professores que fazem pesquisa são “[...] aqueles que, mesmo depois de terminarem a sua graduação, continuam se aperfeiçoando através de cursos, pós-graduação, Mestrado [...]” (PROF. 20); “Estão sempre participando de cursos de capacitação, pós-graduação e congresso” (PROF. 44); “[...] são professores que continuam fazendo produções acadêmicas [...]” (PROF. 24); “[...] apresentam novos trabalhos, socializam suas produções/práticas [...]” (PROF. 37). De forma implícita, são profissionais que se sentem responsáveis pelo enriquecimento de sua formação.

Outro traço destacado nesses professores foi o nível de envolvimento com a formação continuada oferecida pela Secretaria de Educação do município, seja pela frequência e qualidade da participação, seja pela responsabilidade em coordenar a área, característica percebida em vários comentários, tais como: “[...] sempre frequentam a formação [...]” (PROF. 14); “[...] trazem trabalhos para apresentação em formação” (PROF. 23); “[...] por estar à frente da formação [...]” (PROF. 36); “Como coordenadores da área, possui este perfil de busca de informação para este grupo” (PROF. 4). Notamos também que a formação continuada institucionalizada pela Sedu/Serra é um espaço valorizado pelos docentes, espaço também de reconhecimento profissional, onde os professores são percebidos por seus pares mediante suas posturas, atitudes e envolvimentos.

A atitude transformadora/questionadora também foi visualizada como uma particularidade do perfil desses professores. São profissionais “[...] questionadores e expositores de opiniões” (PROF. 23); destacam-se por “[...]defender seus questionamentos criticamente” (PROF. 30); “[...] são inquietos e não se acomodam à situação da escola e da Educação Física” (PROF.

32); “[...] demonstram ter poder de reflexão” (PROF. 39); enfim, sua atuação é numa “[...] “perspectiva de transformação” (PROF. 12), de mudança e não de conformismo.

A atitude de contestação, de não conformismo perante uma situação da realidade, é percebida por alguns professores da rede, como característica tributária do professor que pesquisa. Essa representação expressa a ideia do professor pesquisador como aquele profissional que tenta compreender e desnaturalizar as suas relações cotidianas e reconstruí-las.

Foi atribuído a esses docentes o envolvimento e a realização de pesquisa, mas esse atributo, como veremos nos exemplos, foi citado de forma bem genérica, não explicando o tipo de pesquisa: “Porque os conheço e sei que estão envolvidos com a pesquisa” (PROF. 13); “Estão [...] procurando cursos e realizando pesquisas” (PROF. 1). “Pela preocupação em estar estudando, pesquisando e buscando conhecimentos [...]” (PROF. 12).

Outra característica destacada de forma genérica foi a atuação/qualidade profissional. Novamente não se especifica a ação, ressaltam-se as “Capacidades profissionais” (PROF. 25); “Ser atuante com os alunos” [...] (PROF. 36); “[...] encaram com seriedade o seu trabalho [...]” (PROF. 41).

O vínculo com a universidade apareceu com a menção em especial ao Centro de Educação Física e Desportos (Cefd) da Universidade Federal do Espírito Santo: “São colegas que estão envolvidos com professores do Centro de Educação Física da Ufes e em pleno gozo dos estudos para ampliar a formação” (PROF. 2); “Por estarem envolvidos com projetos e estudando e ou atuando na área pedagógica ou acadêmica de Educação Física” (PROF. 22). Como se percebe no imaginário dos respondentes, os profissionais que pesquisam participam de estudos ou de projetos desenvolvidos por professores da universidade, em especial Cefd. É cada vez mais frequente o número de professores serranos que ingressam no Mestrado ofertado no Cefd, e isso parece já ser percebido de forma viável e positiva na formação. Ao mesmo tempo, é digno de destaque o reconhecimento específico a essa instituição. No Estado do Espírito Santo, em 2012, existiam 26 cursos superiores em Educação Física (licenciatura e bacharelado) ofertados por 15 instituições de ensino superior. Dentre elas, a Ufes é a única pública. Além disso, possui longa tradição de formação de professores de Educação Física (desde a década de 1930). Talvez por essas razões seja referência de articulação na formação de professores e pesquisa.

Entre os que não responderam, dois deles são de Designação Temporária (DT), com menos de um ano de serviço, três têm entre quatro a cinco anos e um tem 27 anos de trabalho na rede. Entendemos que a não indicação pode ser decorrente do desconhecimento do trabalho desenvolvido por outros professores, como é provável entre os profissionais DT (justificado verbalmente na entrega do questionário), como também da não identificação de professores que realizam pesquisa entre os docentes da rede (também justificado verbalmente na entrega do questionário).