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A PESSOA EM SITUAÇÃO CRÍTICA E OU FALÊNCIA ORGÂNICA

No documento no Serviço de Urgência (páginas 54-58)

Define-se como doente crítico aquele em que, por disfunção ou falência profunda de um ou mais órgãos ou sistemas, a sua sobrevivência esteja dependente de meios avançados de monitorização e terapêutica, (Ordem dos Médicos, 2008).

Os doentes admitidos no serviço de urgência e unidades de cuidados diferenciados, perdem o contacto com os seus familiares e são temporariamente destituídos da sociedade, das suas atividades e rotinas e apresentam na sua maioria e por inerência os seus familiares, alto nível de ansiedade, agravado por internamento. Esta reação emocional pode estar associada a vários receios nomeadamente, medo da morte ou de incapacidade, situação clínica não esclarecida, ambiente estranho e não familiar e a outros fatores como afastamento da família, despojamento dos seus bens e roupa, alteração da sua autoimagem e mudança de papel na família e sociedade.12

O doente é todo o individuo, um ser único sujeito a um estado de desequilíbrio, quer físico, quer emocional, segundo Costa e Melo (1975) sinónimo de ”sofredor”,este ser humano, vive em comunidade, nasce, cresce, vive, organiza-se e morre em família, esta enquanto organização basilar da sociedade, tem como propósito o bem-estar físico e emocional dos seus membros.

Numa situação de doença existe uma quebra do equilíbrio dinâmico que implica mudanças no seio familiar, se a família não se consegue adaptar, não absorvendo o impacto da mudança, permanecem sentimentos de isolamento que podem comprometer a ajuda que o doente necessita para enfrentar as modificações no seu estilo de vida. A família deve ser incluída no plano de cuidados, visto que a sua ajuda é imprescindível na vontade deste recuperar, mas também porque a própria família necessita de ajuda para readquirir as forças e restaurar a sua dinâmica, esta deve ser considerada como um elo de ligação entre o enfermeiro e o doente, o enfermeiro deve agir no sentido de limitar os fatores desencadeantes de stress que possam interferir com o estado de saúde da família, de forma a evitar situações de crise, que surgem quando as reações ao stress não foram eficazes ou falharam.13

O doente necessita de ser respeitado e atendido nas suas necessidades e direitos com privacidade, individualidade, presença da família e de enfermeiros que o acolham e o façam sentir o mais confortável possível, o processo de cuidar deve ser pautado pela identificação das

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Aporte teórico da Unidade Curricular Enfermagem Médico-Cirúrgica I. Módulo Cuidados em Situação de Crise: Cliente e Família. 13

Pág. 55 modificações que sobrevêm na estrutura dos seres humanos e que o abalam na sua totalidade, (Waldon, 2004).

Na maioria dos casos dos doentes críticos, a experiência dolorosa constitui um dos maiores problemas e encontra-se entre os receios e queixas mais verbalizados, sendo inegável que a dor é uma das causas de maior desconforto. Cada pessoa percebe a experiência dolorosa de forma particular e a dor pode ser considerada com experiência única, pelo que a sua intensidade é necessariamente aquela que o doente refere. Segundo o Programa Nacional Controlo da Dor (DR 2a série, 2008), todo o indivíduo tem o direito ao controlo da dor, quaisquer que sejam as suas causas evitando sofrimento desnecessário, (DGS, 2008).

A dor como fenómeno complexo tem vindo a tomar protagonismo no discurso técnico e humano no campo da saúde, a dor foi reconhecida desde há alguns anos como o quinto sinal vital, avaliado e registado regularmente em escalas adaptadas ao estado de consciência do doente, garantindo um tratamento individualizado, em que o enfermeiro procura adotar estratégias de prevenção e controlo da dor dos doentes ao seu cuidado, embora se reconheçam ainda muitas barreiras ao seu tratamento eficaz.14

Os doentes em risco de vida são particularmente suscetíveis à infeção hospitalar, dada a sua situação clínica, que exige procedimentos invasivos e terapêutica antimicrobiana, para além disso partilham espaços comuns e são cuidados por vários profissionais. As infeções associadas aos cuidados de saúde podem conduzir o doente a um estado sético, sendo a sépsis a principal causa de morte em doentes críticos. A sépsis é uma síndrome clínica que resulta da resposta sistémica do individuo à infeção, pode evoluir para o choque sético e culminar em falência multi- orgânica (FMO) e é uma situação frequente nos idosos, imunodeprimidos ou nos doentes sujeitos a procedimentos invasivos, (Marum, 2012).

A identificação dos doentes em risco e as medidas preventivas são da responsabilidade da equipa de enfermagem por isso, devem-se monitorizar sinais de infeção nos doentes internados. Uma vez instalado o choque, as intervenções de enfermagem tem como propósito atingir os objetivos terapêuticos, sendo fundamental a permanente vigilância, controle e monitorização de parâmetros do doente, assim como o apoio psicológico e a promoção do bem-estar físico e psicológico.15 Por vezes as medidas médicas instituídas são infrutíferas e advêm a morte.

A morte embora se constitua como um fim universal da vida humana permanece na sociedade ocidental um facto de difícil aceitação, a sociedade parece acreditar que a morte ocorre

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Aporte teórico da Unidade Curricular Enfermagem Médico-Cirúrgica I. Módulo Intervenções de Enfermagem ao Cliente com Dor. 15

Pág. 56 devido a uma falha da medicina e não porque é um processo natural e comum a todos os seres humanos.

A Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) define a morte como um fenómeno pertencente ao desenvolvimento físico, com as seguintes características específicas: cessação da vida, diminuição gradual ou súbita das funções orgânicas levando ao fim dos processos de manutenção da vida; a cessação da vida manifesta-se pela ausência dos batimentos cardíacos, da respiração e da atividade cerebral.16

A Morte traz consigo outros fenómenos associados que exigem a nossa atenção como seja o luto e o coping do doente ou família. Embora cada ser humano seja único e reaja de modo diferente e individualizado à morte (de acordo com os seus conhecimentos, os seus valores e a sua preparação interior) poderá dizer-se que o doente ao sentir aproximar a sua morte, vivência um complexo processo psicológico. Kubler Ross (1998) divulga o modelo das cinco etapas do morrer; negação, cólera, negociação, depressão e aceitação, (Ross, 1998).

Os indivíduos que se defrontam com a morte necessitam de poder falar com alguém e expressar os seus sentimentos, o apoio espiritual, consiste sobretudo em oferecer atenção, atenção completa, com uma atitude de plena humildade e respeito. Esta humildade exige o compromisso de escutar antes de falar, compreender antes de convencer e aceitar antes de impor.17

Pires (1995, p. 45) considera que o doente em fim de vida é “(...) todo aquele que for

portador de uma doença irreversível, não se podendo esperar uma melhoria por não responder aos tratamentos curativos, pelo que os nossos cuidados serão unicamente orientados para a qualidade de vida e implicam a noção de morte iminente.”.

A combinação de fatores físicos, psicológicos e existenciais na fase final da vida e a complexidade do sofrimento, obrigam a que a sua abordagem seja feita por uma equipa multidisciplinar que para além do doente e família, reúne profissionais de saúde com formação e treino diferenciado.

A OMS considera os cuidados paliativos como uma prioridade da política de saúde aconselhando a criação de programas que perspetivem um apoio global aos doentes que se encontram na fase avançada da sua doença ou no final da vida, também o Conselho da Europa, reconhecendo que existem graves deficiências no atendimento e ameaças aos direitos do doente a ser auxiliado em final de vida, recomenda atenção às condições de vida destes doentes,

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Aporte teórico da Unidade Curricular Enfermagem. Módulo Sistemas de Classificação para a Prática de Enfermagem. 17

Pág. 57 especialmente à prevenção da solidão e sofrimento, dando a estes, a possibilidade de receberem cuidados num ambiente ajustado e que consagre a proteção da sua dignidade, (DGS, 2010).18

Entende-se por paliação o alívio do sofrimento do doente e por ação paliativa, qualquer ato terapêutica, sem finalidade curativa, que visa atenuar, em internamento ou no domicílio, as repercussões negativas da doença sobre o bem-estar total do doente. As ações paliativas são parte integrante da prática profissional, qualquer que seja a doença ou a fase da sua evolução, (DGS, 2010).

Perante situações de fase final de vida a necessidade de tomar decisões é uma constante. Estas decisões devem expressar um comportamento consciente, sustentado nos princípios orientadores da prática de cuidados e deverão ser apoiadas em conceitos morais (de bem, de justiça e de verdade), éticos e deontológicos.19

No atendimento ao doente crítico a dramaticidade das situações torna a resolução de problemas éticos um ato mais complexo, principalmente quando os enfermeiros se confrontam com limiares ténues de vida e morte, (Cerri & Hellen Roehrs, 2011).

Um problema ético engloba aspetos, questões ou implicações éticas normalmente de ocorrência comum na prática dos cuidados, não configurando necessariamente um dilema, mas por vezes, os enfermeiros deparam-se com situações que envolvem duas proposições contraditórias entre as quais se encontram na obrigatoriedade de decidir. Nomear ou identificar esse dilema/questão exige o reconhecimento de uma resolução que requer pensamento crítico e tomada de decisão entre duas escolhas, sendo que a aceitação de uma delas conduz à negação ou à afirmação da outra hipótese, sem que nenhuma das duas possa ser refutada, (Cerri & Hellen Roehrs, 2011).20

Na sua escolha o enfermeiro deve construir critérios, através de valores pessoais e profissionais, valores éticos fundamentais e considerar o grau no qual a escolha beneficia o doente, ou antes pelo contrário, lhe acrescenta um ónus, desta forma, atitudes reflexivas e fundamentadas em princípios éticos concorrem para um atendimento humanizado, (Cerri & Hellen Roehrs, 2011).

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Aporte Teórico de Módulo Cuidados ao Cliente em Fim de Vida. 19

Módulo Questões Éticas Emergentes em Cuidados Complexos. 20

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