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DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO

No documento no Serviço de Urgência (páginas 62-68)

II. PROJETO DE INTERVENÇÃO EM SERVIÇO (PIS)

1. DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO

O diagnóstico da situação (apêndice I) é a primeira etapa do projeto e é a fase onde se identifica, se define o problema a tratar e se elabora um modelo descritivo da realidade que se pretende mudar. Este problema deve ser pertinente, real e exequível de ser resolvido, (Tavares, 1990).

Ao serviço de urgência do Hospital X, recorrem frequentemente elementos de comunidades culturalmente distintas, especialmente africanas, do leste europeu e indivíduos pertencentes à comunidade cigana. Com a criação do Centro Hospitalar, a sua área de influência aumentou, e este fenómeno tornou-se mais visível, notando-se com frequência conflitos e dificuldades na prestação de cuidados a estes doentes, com maior incidência aos doentes e familiares de etnia cigana. Nesta perspectiva deparámo-nos com a seguinte questão, será que os conflitos que surgem com elementos desta comunidade e por vezes a dificuldade encontrada no seu entendimento e resolução, têm origem no défice de conhecimento acerca da cultura cigana, que pode influenciar a prática dos cuidados de enfermagem?

Após a proposta de realização de um projeto individual de intervenção aplicado à realidade do campo de estágio, foram efetuados contactos informais junto de alguns elementos da equipa de enfermagem com a intenção de conhecer a opinião dos mesmos relativamente à temática que se pretendia trabalhar, e realizada uma entrevista não estruturada à enfermeira coordenadora do SUG do Hospital X, no sentido de dar conhecimento das intenções do estudo e de validar o problema identificado, sendo que este foi considerado pertinente e crível de ser trabalhado.

Para a definição e consolidação do problema referente ao projeto de intervenção foi necessário recolher dados objetivos não bastando a perceção adquirida, foi assim utilizada uma ferramenta de gestão, a análise SWOT (Apêndice II) e um instrumento de colheita de dados, o questionário (Apêndice III), que permitiram a análise mais sistemática do problema e fundamentação do mesmo, de acordo com a realidade.

A análise SWOT foi delineada para fundamentar a pertinência da área temática, análise do ambiente, identificação de elementos que permitiram estabelecer prioridades e para facilitar o planeamento de estratégias, definir riscos e problemas a resolver; da análise desta, salienta-se a importância da oportunidade para os enfermeiros do SUG de proporcionarem cuidados de enfermagem culturalmente adequados às comunidades ciganas e desta forma respeitar a sua identidade como minoria étnica, contribuindo para a prevenção de possíveis conflitos.

Pág. 63 Por sua vez o questionário construído teve como objetivo conhecer o nível de formação da equipa de enfermagem do SUG relativamente à enfermagem multicultural e auscultar a opinião dos mesmos relativamente ao tema do projeto de intervenção em serviço .

Para tal, foi efetuado pedido de autorização para realização do estudo à enfermeira coordenadora do SUG do Hospital X (apêndice IV) onde constava a identificação do estudante e o esclarecimento da temática, a este pedido juntou-se um exemplar do instrumento de colheita de dados e o respetivo consentimento informado ( apêndice V), a esclarecer os objetivos do estudo e a garantir o anonimato, confidencialidade e liberdade de participar ou não do mesmo.

Fortin (1999, p. 373) define população como “(...) conjunto de todos os sujeitos ou outros

elementos de um grupo bem definido tendo em comum uma ou várias características semelhantes e sobre o qual assenta a investigação”.

Em relação à amostra que Fortin (1999, p. 203) descreve como “(...) um subconjunto

duma população ou de um grupo de sujeitos que fazem parte de uma mesma população.”,

optámos por selecionar uma amostra não probabilística de conveniência, pois tal como refere Carmo e Ferreira (1998, p. 197) “na amostragem de conveniência utiliza-se um grupo de

indivíduos que esteja disponível“, tendo obedecido a seleção da amostra aos seguintes critérios

de inclusão:

- Enfermeiros de ambos os sexos, que prestam cuidados diretos aos doentes no SUG.

- Que estejam interessados em participar no estudo.

No sentido de obtermos uma compreensão do problema em estudo, como já referido, selecionámos o questionário enquanto ferramenta diagnóstica, o que nos permitiu colher dados de forma sistemática e quantificável. As questões foram construídas com o objetivo de colhermos informação factual sobre os indivíduos ou sobre as situações conhecidas dos indivíduos (Fortin, 1999). Procuramos estar atentos à clareza, ausência de tendenciosidade e nível de leitura, as perguntas foram formuladas com o objetivo de estimular a colaboração e a franqueza (Polit & Hungler, 1995).

A elaboração do questionário foi efetuada durante o mês de dezembro de 2011 e foi revisto pela professora tutora e enfermeira orientadora e coorientadora e corrigido até à versão definitiva.

O questionário era constituído por perguntas fechadas e composto por três blocos temáticos:

Pág. 64 - O primeiro pretendia caracterizar a equipa de enfermagem do serviço de urgência

geral relativamente a aspetos biográficos, habilitações académicas, profissionais e experiência profissional.

- O segundo, conhecer o nível de formação da equipa de enfermagem do serviço de urgência geral no âmbito da enfermagem multicultural.

- O último tencionava conhecer a opinião da equipa de enfermagem relativamente ao papel do enfermeiro do SUG junto da comunidade cigana.

Ao realizarmos este projeto, foi nossa intenção respeitar os princípios éticos e deontológicos, Fortin (1999), refere que se devem “(...) tomar todas as disposições necessárias

para proteger os direitos e liberdade das pessoas que participam nas investigações”. “Na persecução de aquisição de conhecimentos, existe um limite que não deve ser ultrapassado: este limite refere ao respeito pela pessoa (...)”, (Fortin, 1999, p. 113).

Neste sentido foram inseridas neste trabalho as preocupações éticas consideradas e referidas no relatório Belmont, em que se articulam três princípios éticos, “nos quais se baseiam os

padrões de conduta ética em pesquisa: Beneficência, Respeito à Dignidade Humana e Justiça”,

(Polit & Hungler, 1995, p. 295).

No sentido de testar a funcionalidade e a validade do questionário, no início do mês de janeiro foi aplicado um pré teste a três enfermeiros especialistas de forma a verificar-se, se as questões estavam explícitas e de acordo com os objetivos predefinidos. De acordo com Polit & Hungler (1995, p. 65) ”(…) um pré teste constitui uma tentativa para que se determine, o quanto

possível, se o instrumento está enunciado de uma forma clara, livre das principais tendências e além disso, se ele solicita o tipo de informação que se deseja. “. Após pré teste, realizaram-se

correções ortográficas na Parte II do questionário e por se verificarem dúvidas em relação ao conteúdo da pergunta 2.b), optou-se por anular a respetiva questão.

Em qualquer estudo que se realize há sempre limitações, segundo Polit (1995, p. 17) “(...)

não somos capazes de obter estudos perfeitamente delineados e executados (...)” e estas

limitações podem condicionar os resultados obtidos, pelo que não podem ser ignoradas. As principais limitações metodológicas encontradas foram:

- Inexperiência do investigador. - Escassez de literatura.

- Limitações de ordem temporal.

Após ter sido recebido parecer favorável do órgão de gestão e após ter sido realizado o pré teste, deu-se início à aplicação dos questionários que decorreu no período de 9 a 14 de janeiro

Pág. 65 de 2012.

A equipa de enfermagem era constituída por 61 enfermeiros, foram distribuídos 55 questionários devido a exstirem elementos de férias e atestado médico, destes responderam 53. Os dados foram tratados informaticamente, durante a segunda quinzena de janeiro, recorrendo ao programa Excel. Foi atribuído a cada questionário um número sequencial de 1 a 53, procedendo-se de seguida à composição do caderno de códigos, onde, por ordem respetiva dos questionários foram registados os dados colhidos e as perguntas foram codificadas de forma a auxiliar a introdução dos dados informaticamente.

Para sistematizar e relevar a informação fornecida pelos dados sócio demográficos utilizou-se a estatística descritiva e analítica, nomeadamente, medidas de tendência central.

Para Reis (1996, p. 15) “A estatística descritiva consiste na recolha, análise e

interpretação de dados numéricos através da criação de instrumentos adequados: quadros, gráficos e indicadores numéricos” e Hout (2002, p. 60) acrescenta que este tipo de estatística consiste num “(...) conjunto das técnicas e das regras que resumem a informação recolhida sobre uma amostra ou uma população, e isso sem distorção nem perda de informação”.

Os resultados do questionário encontram-se em apêndice VI e de seguida desenvolveremos as suas conclusões:

Na parte I foram caracterizados seis parâmetros: sexo, idade, habilitações literárias, habilitações académicas e profissionais, anos de atividade profissional e anos de experiência profissional no serviço.

A amostra dos enfermeiros era constituída maioritariamente por enfermeiros do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 24 e os 57 anos.

Tinham entre 2 e 37 anos de serviço com uma média de 13 anos de atividade profissional. São maioritariamente licenciados (75%) e trabalham no SUG entre 1 e 27 anos com uma média de 9 anos.

Da análise dos dados podemos inferir que 89% dos inquiridos nunca fez formação em enfermagem na área da multiculturalidade,74% consideram pertinente fazer formação nesta temática, por outro lado 70% consideram importante a criação de um dossiê temático e 57% a criação de um guia de acolhimento.

Na terceira parte do questionário foram apresentadas algumas afirmações, da sua análise pretendia-se apreender o nível de conhecimento da equipa de enfermagem relativamente a alguns aspectos da cultura cigana cigano, tendo-se constatado que:

Pág. 66 Cerca de 55% dos enfermeiros indicaram o Homem ou Mulher de respeito como a quem dirigir-se em caso de interação, só 9% responderam como sendo o “tio“ e 36% responderam ao familiar mais próximo.

Em relação à necessidade que os doentes ciganos têm de ser sempre os primeiros a serem atendidos, 57% dos enfermeiros responderam que os doentes associam os sintomas a morte, denotando um conhecimento adequado, 39% dos inquiridos atribuem este comportamento a outra causa.

Dos enfermeiros inquiridos 70% atribuiu a não-aceitação de alimentos a hábitos alimentares diferentes e 7% a não gostarem da comida hospitalar, só 17% demonstrou conhecimento adequado acerca da causa de não-aceitação de alimentos. As técnicas invasivas do corpo representadas pelas vacinas e intervenções cirúrgicas, são assustadoras e vivenciadas como contaminadoras da comunidade cigana pela comunidade não cigana. Este medo de contaminação é representado simbolicamente pela alimentação hospitalar que muitas vezes é recusada e substituída pela comida que os familiares fornecem ao doente (Silva L. F., Sousa, Oliveira, & Magano, 2011).

Para os ciganos a perceção da doença situa-se num registo de tipo mágico religioso, em que a doença é atribuída ao “mau-olhado”, “maldições” ou ”invejas”, ”alguém lhe quer mal”, com recurso por vezes a práticas alternativas como a atos supersticiosos e a curandeiros (Silva L. F., Sousa, Oliveira, & Magano, 2011). Dos inquiridos, 89% revelou conhecimento adequado deste facto.

Considerando que “O problema caracteriza-se por identificar e descrever (…) apreciar a

pertinência e precisar o objectivo.“, (Ruivo, Ferrito, Nunes, & Estudantes, 2010, p. 12), identificamos

assim o seguinte problema: “Défice de conhecimento acerca da cultura cigana, que pode influenciar a prática dos cuidados de enfermagem no SUG do Hospital X” e como problemas parcelares:

- Défice de conhecimentos na área da competência cultural.

- Inexistência de documento de acolhimento relativamente ao funcionamento do serviço de urgência vocacionado para indivíduos de etnia cigana.

- Inexistência de profissionais de referência (mediador cultural, elo de ligação ou enfermeiro de referência).

- Linguagem não adaptada às comunidades ciganas, o que conduz a barreiras comunicacionais.

Estes permitiram validar a pertinência da área a intervir e clarificar o problema geral, selecionar e determinar prioridades e definir objetivos que permitissem conceptualizar o projeto de

Pág. 67 forma a contribuir para a melhoria dos cuidados culturais prestados pela equipa de enfermagem do SUG aos doentes/famílias de etnia cigana.

Por tudo o que foi referido e tendo em conta que a Missão do Hospital X, consiste em “assegurar os cuidados de saúde ao nível da educação, promoção, prevenção, tratamento e

reabilitação, garantido a qualidade e a equidade aos cidadãos numa perspetiva de eficiência e melhoria continua.” e que assenta em valores como o Humanismo, Inovação, Eficiência e

Responsabilidade, visando ser um “hospital de excelência para a comunidade e uma referência

nacional” e considerando que um dos objetivos do SUG consiste em “(...) garantir a qualidade dos serviços prestados e o impacto na sociedade, garantir as metas de produtividade propostas para o serviço e gerir e motivar os recursos humanos.”, acreditámos assim que este projeto seria uma área

importante e inovadora de intervenção com o objetivo de contribuir para a prestação de cuidados de enfermagem culturalmente congruentes aos doentes/famílias de etnia cigana, no serviço de Urgência do Hospital X.

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