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INFEÇÃO ASSOCIADA AOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS À PESSOA

No documento no Serviço de Urgência (páginas 49-54)

Segundo a Direção Geral de Saúde (DGS), a Infeção Associada aos Cuidados de Saúde (IACS) pode-se definir como “Uma infeção adquirida no hospital por um doente que foi internado por

outra razão que não essa infeção. Uma infeção que ocorre num doente internado num hospital, ou noutra instituição de saúde, e que não estava presente, nem em incubação, à data da admissão”,

(PNCI, p. 7) Estão incluídas as infeções adquiridas no hospital que se detetam após a alta, assim como infeções ocupacionais nos profissionais de saúde”, (PNCI, 2007).

A infeção nosocomial existe em todo o mundo, tanto nos países desenvolvidos como nos países pobres e está entre as principais causas de morte em doentes hospitalizados. Um inquérito de prevalência feito pela Organização Mundial de Saúde, em 55 hospitais de 14 países, que representavam 4 regiões da OMS (Europa, Mediterrâneo Oriental, Sudeste Asiático e Pacífico Ocidental), mostrou que uma média de 8,7% dos doentes hospitalizados contraía infeções nosocomiais. A cada momento, mais de 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de complicações infecciosas adquiridas no hospital. As frequências mais elevadas de IACS foram descritas em hospitais do Mediterrâneo Oriental e do Sudeste Asiático (11,8% e 10,0% respetivamente), com predomínio de 7,7 e 9,0% respetivamente na Europa e no Pacífico Ocidental, (PNCI, 2007).

As IACS constituem uma das mais importantes causas de morte, dificultando o tratamento e provocando o consumo acrescido de recursos, quer hospitalares, quer da comunidade. Os custos resultantes da IACS são elevados com consequências para hospital e doentes. As infeções contraídas obrigam a mais tempo de internamento, mais terapêutica e meios complementares de diagnóstico, elevando os custos para o estado. Os doentes terão aumento de probabilidade de mortalidade e morbilidade. Um estudo6 demonstrou que, o aumento na demora

média da hospitalização de doentes com infeção do local cirúrgico, foi 8,2 dias, variando de 3 dias para cirurgia ginecológica a 9,9 para cirurgia geral e 19,8 dias para cirurgia ortopédica. Numa componente de avaliação económica decorrentes de uma infeção hospitalar, teremos de considerar os custos diretos que são constituídos pelos gastos do Sistema Nacional de Saúde e pelos custos suportados pelos doentes, (PNCI, 2007).

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Coello R & al. The cost of infection in surgical patients: a case study. J Hosp Infect, 1993, citado em Prevenção de Infeções Adquiridas no Hospital, (2007).

Pág. 50 Estes dividem-se em custos fixos, relacionados com os recursos humanos e físicos do hospital, e em custos variáveis que incluem o recurso a meios e técnicas de terapêutica e diagnóstico, acréscimo do tempo de internamento, aumento da demora média de atendimento a outros clientes e custos com alimentação, medicação e tratamento. Os custos indiretos relacionados com a infeção hospitalar são variáveis mas podem incluir custos de perda de produção devido à pausa no trabalho e diminuição da produção do doente. Para Béresniak e Duru (1999) a soma dos custos diretos e indiretos representa o custo total da doença.

Podemos ainda identificar custo intangíveis que são difíceis de avaliar económica e financeiramente e que estão relacionados com o sofrimento do doente e família, qualidade de vida e alterações afetivas e emocionais decorrentes da doença, (PNCI, 2007).

A infeção nosocomial favorece o desequilíbrio entre os recursos, já de si escassos, atribuídos aos cuidados primários e secundários de saúde, através do seu desvio para a gestão de problemas potencialmente evitáveis, (PNCI, 2007)

Segundo os dados analisados pela Direção Geral da Saúde, de março de 2009 a taxa de prevalência de doentes com infeção nosocomial foi de 9,8% e a prevalência de infeção nosocomial foi de 11,0%.7 De acordo com Cristina Costa, uma das autoras do estudo, este incremento deriva de

factos relacionados com a prestação de cuidados, a inadequação de estruturas e equipamentos hospitalares, (DGS, 2009).

Para Corrêa (2012),

“(…) tornou-se inaceitável e intolerável que uma pessoa que se encontra

doente ou mesmo saudável corra o risco de adquirir uma infeção durante a sua assistência. De certa forma, a ocorrência dessas infeções refletem a falta de segurança durante a assistência e, em última análise os problemas presentes no processo de cuidado e falhas no comportamento humano.”.

As infeções nosocomiais mais frequentes são as da ferida cirúrgica, as infeções das vias urinárias e as das vias respiratórias inferiores, o estudo da OMS, assim como outros estudos, demonstraram que a prevalência destas infeções é mais elevada em unidades de cuidados intensivos e em serviços cirúrgicos e ortopédicos, (PNCI, 2007).

Vários fatores favorecem a infeção do doente internado em unidades de saúde, a imunidade deprimida e o número de procedimentos médicos e técnicas invasivas, que criam potenciais vias de entrada para a infeção, assim como hospitais com grande número de doentes e

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Pág. 51 com deficientes práticas de controlo de infeção o que facilita a transmissão de bactérias, (PNCI, 2007).

Os micro-organismos causadores de infeção nosocomial, caso sejam multirresistentes, podem ser transmitidos à comunidade causando doenças, através de doentes com alta hospitalar. Frequentemente a infeção nosocomial só se deteta apenas após a alta hospitalar devido à sua precocidade. Esta tendência tem como consequência a insuficiente informação e dificuldade no diagnóstico pelos médicos comunitários e por outro lado, a escassa comunicação de retorno aos profissionais hospitalares e impede a adoção de medidas adequadas. Em paralelo a circulação de doentes entre unidades de saúde, assume cada vez maior importância, com os riscos inerentes de transmissão interinstitucional de infeções por microrganismos multirresistentes, (PNCI, 2007).

As infeções nosocomiais, assumem particular importância na pessoa em situação crítica, o aumento da esperança de vida com recurso a tecnologia avançada e invasiva, o número de doentes submetidos a terapêutica imunossupressora e o uso indiscriminado de antibióticos quer no hospital, quer na comunidade, leva ao aumento de resistência aos antimicrobianos e favorece o aumento das IACS, (Ordem dos Enfermeiros, 2011). Estudos internacionais “(...) revelam que cerca

de um terço das infeções adquiridas no decurso da prestação de cuidados são seguramente evitáveis.”, (Direcção Geral da Saúde, 2007, p. 4).

Durante a hospitalização o doente está exposto a uma grande variedade de microrganismos, a doença clínica não resulta, obrigatoriamente, do contacto entre o doente e estes, existindo outros fatores que influem na natureza e frequência das infeções nosocomiais. A probabilidade de que a exposição conduza a infeção depende das características do microrganismo, compreendendo a resistência aos agentes antimicrobianos, a sua virulência intrínseca e a quantidade (inóculo) de material infeccioso.

As infeções nosocomiais podem ser causadas por agentes como bactérias, vírus, fungos e parasitas. Estes podem ser recebidos a partir de outra pessoa no hospital (infeção cruzada) ou a infeção pode ser causada pela própria flora do doente (infeção endógena). Alguns destes agentes podem ser adquiridos através de objetos inanimados ou substâncias recentemente contaminadas por outra fonte humana (infeção ambiental), (PNCI, 2007).

No passado os hospitais limitavam-se à prestação de cuidados com uma abordagem mais humanizada do que propriamente científica, Semmelweiss, Lister e Florence Nightingale desenvolveram os primeiros trabalhos no âmbito da prevenção e controlo da infeção hospitalar,

Pág. 52 fundamentando o pensamento moderno sobre a prestação de cuidados.8

Em 1847 Semmelweiss, recomenda a desinfeção das mãos dos alunos, com água cloretada e em 1865, Lister, foi pioneiro na aplicação de antissepsia na cirurgia, em 1950, em Inglaterra, surgiram os primeiros enfermeiros de controlo de infeção e em Portugal em 1930, a DGS e posteriormente a Direção Geral dos Hospitais em 1979, abordam pela primeira vez o tema, e o controlo da infeção foi recomendado pela DGS a todas as unidades de saúde em 1986.9

Em março de 2007 é criado o Programa Nacional de Prevenção e Controlo da IACS, programa de intervenção a nível nacional, proposto pela Direção-Geral da Saúde, com o objetivo global de prevenir e controlar as IACS. Abrange as seguintes vertentes de intervenção: vigilância epidemiológica, elaboração e divulgação de normas de boas práticas clínicas, formação e consultadoria. Define objetivos, metas, estratégias, intervenientes, níveis de responsabilidade, cronologia das ações e metodologias de avaliação.10

A taxa de infeções nosocomiais em doentes de uma instituição é um indicador da qualidade e segurança dos cuidados prestados. O aperfeiçoamento de um programa de vigilância epidemiológica (VE) que monitoriza esta taxa é o primeiro passo fundamental para identificar problemas e prioridades locais e considerar a eficácia da atividade de controlo de infeção. A VE em si é um processo seguro para diminuir a frequência de infeções hospitalares, (PNCI, 2007).

A aprovação do Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Infeção Associada aos Cuidados de Saúde implicou a criação de uma rede nacional de registos de IACS, foram também criadas comissões de controlo de infeção (CCI). Estas comissões são compostas por equipa multidisciplinar de assessoria técnica do Órgão de Gestão das unidades de saúde e têm como missão planear, implementar e monitorizar o Plano Operacional de Prevenção e Controlo da Infeção, de acordo com as diretivas nacionais e regionais e as características e especificidades das unidades de saúde.11

No caso do Hospital X, o Conselho de Administração aprovou em 2004 o regulamento da Comissão de Controlo de Infeção Hospitalar que é um órgão de assessoria técnica do Conselho de Administração e tem como função planear, implementar e monitorizar o Plano Operacional de Prevenção e Controlo da Infeção. Tem como Missão ser “(...) reconhecida como um serviço de

referência na Instituição em matéria de prevenção e controlo de infeção, assumindo-se como parceira privilegiada do Conselho de Administração e dos profissionais prestadores de cuidados

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Aporte teórico da Unidade Curricular Enfermagem Médico-Cirúrgica I. Módulo de Cuidados ao Cliente com Múltiplos Sintomas. 9Aporte teórico da Unidade Curricular Enfermagem Médico-Cirúrgica I. Módulo de Cuidados ao Cliente com Múltiplos Sintomas. 10Ibd.

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(…)” e como finalidade “Prevenir as infeções evitáveis protegendo os doentes e os profissionais (…)” (CCIH, 2012, p. 1).

O núcleo executivo é constituído por dois enfermeiros com divisão de tarefas e um médico, apoiados por secretariado. O apoio é dado por núcleo consultivo (diretores de serviços e enfermeiros chefes), núcleo técnico (um farmacêutico, um infecciologista, um microbiologista, um médico da área cirúrgica) e elos de ligação (um enfermeiro e um assistente operacional por cada serviço e um técnico de diagnóstico e terapêutica), (CCIH, 2012).

Assume-se como parceira privilegiada dos profissionais prestadores de cuidados, centro de recursos e de conhecimento nesta área, assim como elemento dinamizador da política de qualidade de cuidados na instituição, (CCIH, 2012).

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No documento no Serviço de Urgência (páginas 49-54)

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