• Nenhum resultado encontrado

SÍNTESE FINAL DO PIS

No documento no Serviço de Urgência (páginas 79-82)

II. PROJETO DE INTERVENÇÃO EM SERVIÇO (PIS)

5. SÍNTESE FINAL DO PIS

Ao refletirmos sobre a prática profissional e em contexto de estágio, que decorreu no SUG do Hospital X , identificámos algumas dificuldades por parte da equipa de enfermagem, ao cuidar de doentes de etnia cigana e seus familiares resultantes possivelmente de algum desconhecimento sobre a cultura cigana, as suas crenças, valores e comportamentos perante a saúde/doença. Partindo da premissa que os cuidados de enfermagem devem ser baseados em necessidades individuaís compreendemos que existem necessidades culturalmente diferentes e a importância de modificar a relação que se estabelece com estes doentes e seus familiares.

Embora este tema não esteja e nunca estivesse estado contemplado nos planos de formação do serviço, tem-se assistido nos últimos anos a um interesse crescente por esta temática, prova disso é a criação da figura de mediador sócio cultural nos hospitais públicos, primeiramente no hospital da Estefânia e por último no Hospital José Joaquim Fernandes em Beja, para responder aos problemas específicos que por razões de índole cultural, envolvem a admissão de um doente de etnia cigana e em que as situações mais problemáticas são resolvidas através do conhecimento dos seus hábitos, crenças e costumes (Correia, 2008).

Embora de forma empírica visto que não é possível especificar por etnia ou raça os doentes que são atendidos no SUG, consideramos que a afluência de doentes desta etnia é elevada principalmente após a criação do centro hospitalar, pelo que encaramos o projecto como uma mais-valia quer a nível institucional, quer para o doente/família de etnia cigana.

O projeto desenvolvido foi um enorme desafio, quer pela possibilidade de refletir sobre a prática profissional diária, quer pela possibilidade de desenvolver competências, nomeadamente as competências comuns do enfermeiro especialista do domínio da responsabilidade profissional, ética e legal.

Importa referir alguns elementos facilitadores deste percurso.

O primeiro relaciona-se com o facto de exercermos funções no Serviço de Urgência Geral do Hospital X, neste serviço contactamos frequentemente com doentes de etnia cigana, na área de influência do hospital reside um grande número de comunidades ciganas, sendo que é a este e especialmente ao seu serviço de urgência que os indivíduos desta etnia mais recorrem.

Por outro lado, o facto de exercermos funções como coordenadora de equipa de enfermagem, permite-nos estabelecer um contacto mais direto com esta população. O chefe de equipa é o responsável por prestar informações aos familiares dos doentes internados no SO e na

Pág. 80 UIPA nos dois períodos informativos predefinidos, ou sempre que solicitado.

Outro elemento importante foi o apoio por parte de vários colegas do Serviço que se mostraram interessados no tema, demonstrando que a componente cultural está a ganhar cada vez mais importância na prática dos cuidados e o reconhecimento que os conflitos que surgem no serviço com elementos de etnia cigana podem ser minorados se o enfermeiro tiver conhecimentos da sua cultura e desenvolver a sua competência cultural.

Foi importante a partilha de experiências e informações com os enfermeiros do SUG, acerca da implementação do projeto e a aceitação de sugestões; de forma a ultrapassar dificuldades empenhámos-mos em sensibilizar os enfermeiros para a importância das particularidades culturais dos doentes/famílias de etnia cigana.

São diversos os fatores que podem influenciar a continuidade deste projeto, o tempo que os enfermeiros têm para atender cada doente é curto devido às características do serviço de urgência (estrutura deficiente, exigência de elevada precisão técnica e baixo rácio enfermeiro/ doente) que acarreta sobrecarga de trabalho e por sua vez conduz à desmotivação e à indisponibilidade para participação em novos projetos, foi por isso fundamental o envolvimento e motivação de toda a equipa de enfermagem. Algumas das limitações enfrentadas reportam-se à elaboração de um questionário adequado ao estudo em causa, por falta de suporte teórico e à inexperiência na realização de um projeto de intervenção em serviço, embora a unidade curricular de gestão de processos e recursos no primeiro semestre tenha-se constituído como uma aprendizagem na elaboração do mesmo.

Outra das dificuldades sentidas reporta-se à temporalidade, sendo difícil articular todas as atividades num tempo útil, procurámos gerir o tempo de forma eficaz, tendo alcançado os objetivos e cumprido o cronograma em tempo adequado e previsto, exceto no que concerne à data de realização da ação de formação, devido à necessidade de articulação com outros estudantes do Mestrado.

Durante todo o processo de concretização do projeto de intervenção em serviço foi nossa preocupação mobilizar conhecimentos de forma a constituirmo-nos como agentes promotores de mudança da realidade, contribuindo assim para uma abordagem criativa ao propor um projeto inovador no contexto do SUG.

Para além disso consideramos que com a sua criação, damos resposta a alguns princípios expressos no Código Deontológico do Enfermeiro, entre outros, o artigo 80º- do Dever para com a comunidade, em que o enfermeiro deve assumir o dever de conhecer as necessidades da população e da comunidade onde está inserido; Artigo 81º, em que no seu exercício, observa os

Pág. 81 valores humanos e assume o dever de cuidar da pessoa sem qualquer discriminação étnica, social, ideológica e abstem-se de juízos de valor sobre o comportamento da pessoa assistida, não impondo os seus própros critérios e valores no âmbito da consciência e da filosofia de vida, artigo 82º,de respeitar a integridade biopsicosocial, cultural e espiritual da pessoa, (Código Deontológico do Enfermeiro , 2005).

Pensamos assim ter criado um projeto de intervenção em serviço, que permitirá o desenvolvimento de capacidades promotoras de uma prestação de cuidados de enfermagem adaptados às necessidades da população cigana, com o objetivo de contribuir para a prestação

de cuidados culturalmente congruentes aos doentes/famílias desta etnia.

“A Enfermagem (…) focada nos cuidados culturais holísticos comparativos

dos padrões de saúde e de doença, dos indivíduos e grupos, com respeito pelas diferenças e semelhanças nos valores culturais, crenças e práticas, com o objectivo de proporcionar cuidados de enfermagem culturalmente congruentes, sensíveis e competentes às pessoas de diversas culturas. “, (Leininger M. , 1998, p. 4).

Pág. 82

No documento no Serviço de Urgência (páginas 79-82)

Documentos relacionados