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Desenho 1- Linha do tempo: América Latina frente à sociedade da informação

2. SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: CONFIGURAÇÃO E MODIFICAÇÃO

2.2 A AMÉRICA LATINA FRENTE À SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

2.2.2 A política de inclusão digital brasileira

As primeiras iniciativas públicas ligadas às políticas na área da informática e computação no Brasil, como foi mencionando anteriormente, remontam à década de 1960. Mas é nos finais da década de 1990 com o paradigma da sociedade da informação, que o governo começa a trabalhar na elaboração de uma estratégia denominada “A construção da sociedade da informação no Brasil: O Papel do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia”. Seu objetivo era estudar o desenvolvimento do país para coordenar o adiantamento e a interação das TICs na sociedade.

Em 1999 foi estabelecido por decreto (Nº 3.294, de Dezembro, 1999)19 o Programa sociedade da informação no Brasil (SocInfo), de responsabilidade do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). E foi neste sentido que o projeto para a sociedade da informação no Brasil foi apresentado com a iniciativa do Livro Verde em setembro do 2000, em que mais de 150 especialistas na área mapeavam a situação do país e sugeriam metas e políticas específicas. O Livro Verde da sociedade da informação20 estabelecia sete linhas de ação: mercado, trabalho e oportunidades; universalização de serviços para a cidadania; educação para a sociedade da informação; conteúdos e identidade cultural; governo ao alcance de todos; investigação e desenvolvimento, tecnologias e aplicações; infra-estrutura e novos serviços. Porém, não chegou ao seu término na consulta participativa à sociedade, nem obteve sua explicitação em leis, para virar um “Livro Branco”, objetivo final do governo (SORJ, 2003, p.89). O governo brasileiro atualmente não dispõe de uma política única e integrada de inserção do país na sociedade da informação. Não existe ainda nenhum documento como os que existem em outros países da América Latina como o Chile, México, Colômbia, com uma estratégia nacional de inclusão digital, embora, tenha sido elaborado o Livro Verde da sociedade da informação (TAKAHASHI, 2000, p. 10).

A partir do ano 2003 o governo realiza uma redistribuição de tarefas criando oito câmaras técnicas21 com diferentes temáticas para a coordenação das iniciativas

19 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3294.htm 20 Disponível em: http://www.socinfo.org.br/livro_verde/download.htm

nacionais a fim de integrar os programas. Segundo Hilbert, Bustos, Ferraz (2005, p. 43) as oito câmaras técnicas e seus respectivos responsáveis são:

a) implementação de Software Livre: ITI (Instituto Nacional de Tecnologia da Informação) da Casa Civil da Presidência;

b) inclusão digital: SLTI (Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação) do Ministério de Planejamento, Pressuposto e Gestão (MPOG);

c) integração de sistemas: SLTI (Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação) do Ministério de Planejamento, Pressuposto e Gestão (MPOG);

d) sistemas e licenças: SLTI (Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação) do Ministério de Planejamento, Pressuposto e Gestão (MPOG);

e) gestão de sites e serviços online: SECOM (Secretaria de Comunicação do Governo e Gestão Estratégica) da Presidência da República;

f) infra-estrutura da rede: SLTI (Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação) do Ministério de Planejamento, Pressuposto e Gestão (MPOG);

g) governo para governo (G2G): SLTI (Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação) do Ministério de Planejamento, Pressuposto e Gestão (MPOG);

h) gestão de conhecimento e informação estratégica: Ministério das Relações Exteriores.

É importante ressaltar o papel e a centralidade do Ministério de Planejamento e da Casa Civil da Presidência da República dentro das oito câmaras técnicas propostas pelo governo no ano 2003, como órgãos controladores, reguladores e gestores das políticas e das iniciativas de inclusão digital.

Em setembro do ano 2003 através do Decreto Presidencial nº 4.829 são determinadas as funções do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) criado anteriormente em 1995 pelo Ministério das Comunicações (MC) e o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) com o objetivo de coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços da Internet no país, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços ofertados. O Comitê Gestor da Internet é

composto por 21 membros do governo, quatro representantes do setor empresarial, quatro do terceiro setor e três da comunidade acadêmica.22

Entre as responsabilidades do Comitê Gestor da Internet destacam-se:

a) a proposição de normas e procedimentos relativos à regulamentação das atividades na Internet;

b) a recomendação de padrões e procedimentos técnicos operacionais para a Internet no Brasil;

c) o estabelecimento de diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no Brasil;

d) a promoção de estudos e padrões técnicos para a segurança das redes e serviços no país;

e) a coordenação da atribuição de endereços internet (IPs) e do registro de nomes de domínios usando <.br>;

f) a coleta, organização e disseminação de informações sobre os serviços da Internet, incluindo indicadores e estatísticas.

Mas apesar da melhoria demonstrada pelos índices e as participações de órgãos governamentais, o Brasil ainda depara-se com grandes desníveis sociais no acesso e no uso das TICs. A pesquisa de cobertura nacional realizada pelo Comitê Gestor da Internet no ano 2007 sobre o uso das TICs e sua abrangência no Brasil mostrou que o computador tradicional, é ainda um bem regionalizado, sendo que só 24% das famílias brasileiras (61% nas regiões sudeste e sul) possuem um computador, e 53% o usam diariamente. Em relação ao uso da Internet, 34% aproximadamente dos domicílios brasileiros já têm acesso, e 53% usam a Internet diariamente. (CGI.br, 2007)

22

O Comitê Gestor da Internet é composto por 21 membros, (Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério das Comunicações; Casa Civil da Presidência da República; Ministério da Defesa; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; Agência Nacional de Telecomunicações; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; Conselho Nacional dos Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Informação – CONSECTI) quatro representantes do setor empresarial (provedores de acesso e conteúdo; provedores de infra-estrutura de telecomunicações; indústria de bens de informática, telecomunicações e software; segmento das empresas usuárias da Internet) quatro representantes do terceiro setor, três representantes da comunidade científica e tecnológica e um representante de notório saber em assuntos de Internet. Disponível em: http://www.cgi.br/sobre-cg/membros.htm

Estas estatísticas evidenciam as enormes desigualdades digitais ainda presentes. E é frente a essas cifras que diversas iniciativas públicas e privadas têm surgido no Brasil a fim de diminuir este gap. Torrejón (2007) comenta que os programas de inclusão digital têm marcado a presente ação governamental no país em torno da informação. Porém a inclusão digital deve ser tratada como um elemento constituinte da política do governo, como fala Sorj (2003), para que esta possa configurar-se como política universal, entendendo a inclusão como um direito de cidadania e, portanto, objeto de políticas públicas. E é frente a esta crítica que analisamos, no capítulo 5, o projeto de inclusão social e digital Casa Brasil, criado em 2004 com o propósito de gerar um espaço de participação local que integre as ações sociais, culturais e demais serviços do governo federal. Sendo assim o Casa Brasil, tem sido considerado nos meios governamentais uma das iniciativas mais consistentes em termos de política pública. Sua valorização deve-se ao seu objetivo de aglutinar os programas de inclusão digital já existentes no país, como também pelo foco social em que as tecnologias são consideradas ferramentas para a criação de conteúdo social, cultural e econômico.