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Desenho 1- Linha do tempo: América Latina frente à sociedade da informação

5. ESTUDO COMPARADO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DA COLÔMBIA E DO

5.1 DESCRIÇÃO DOS PROGRAMAS DE DEMOCRATIZAÇÃO DIGITAL

5.1.2 Brasil Projeto Casa Brasil: história e planejamento

5.1.2.1 Estrutura e composição do Casa Brasil

Segundo o CEPAL (2006), dos 189 milhões de habitantes brasileiros, 33% correspondem à população carente que vive com menos de um real por dia, dos quais 50% mora no norte e nordeste do país. Frente a essa situação, o projeto Casa Brasil tem como objetivo reduzir a desigualdade social em regiões carentes com baixo índice de desenvolvimento. Caracteriza-se por ser uma estrutura modular que contém telecentro, sala de leitura, auditório, estúdio multimídia, laboratório de divulgação da ciência, oficina de rádio. Segundo o programa:

O Casa Brasil é um espaço comunitário de acesso universal, livre e gratuito, constituído por uma estrutura modular, isto é, um local para uso comunitário planejado para reunir diversos módulos implantados simultaneamente ou em etapas. A participação popular, através do Conselho Gestor Local, auxiliará na utilização do espaço pela comunidade (CNPQ/ITI, 2005, p. 4).

O espaço comunitário é implantado em locais de 300 metros quadrados, baseados em três eixos: investimentos em telecentros; gestão comunitária desses telecentros; e o uso de software livre58. Além do acesso à web, esses locais procuram abrigar oficinas de reparos de computadores, um espaço multimídia de produção audiovisual, educação à distância e o atendimento de serviços públicos.

Os telecentros do projeto contam com pelo menos dez computadores com software livre, sendo cada ponto de acesso público e gratuito, além de uma sala de leitura e um auditório para 50 pessoas.

Segundo Rodrigo Savazoni59, jornalista de softwarelivre.org e da Agência Brasil, cada unidade custa em torno de R$ 260 mil em seu formato completo, o que significa, segundo o programa, diversos módulos como:

a) um telecentro comunitário, com 10 computadores operando softwares livres para uso livre pela comunidade, capacitação e oficinas especializadas;

58 O tema de software livre não será abordado nesta dissertação por tratar-se aqui de um estudo comparado. Apesar de considerarmos ser uma excelente escolha dos programas brasileiros, não foram implantados pelos programas da Colômbia, não nos permitindo, assim, uma comparação. 59 http://www.savazoni.com.br/?page_id=2.

b) uma central de produção de áudio e vídeo ou espaço multimídia para a criação de conteúdos e capacitação para a difusão interna e externa da produção e bens culturais;

c) uma agência do Banco Popular do Brasil;

d) uma oficina e rádio comunitária para a difusão e a comunicação comunitária;

e) laboratórios de divulgação científica;

f) uma sala de leitura ou biblioteca popular aberta à comunidade; g) um auditório para atender um público mínimo de 50 pessoas; h) módulos de representação do governo federal.

Dentro de cada módulo são desenvolvidas diversas atividades que estejam direcionadas ao local, sua necessidade e seu foco. De acordo com isso, o secretário executivo do Casa Brasil, Edgard Piccino comenta:

[...] a política de informação é oferecer diversas oportunidades, entrada na rede e na sociedade da informação, mas que cada espaço tenha uma proposta adequada à realidade e às necessidades locais, por isso a penúria de se ter múltiplas abordagens de acordo com o local onde se atue.

Portanto, são oferecidos módulos básicos do programa60, dentre os quais são encontrados:

a) avaliação de projetos sociais – Casa Brasil; b) formação de multiplicadores e gestores; c) pedagogia da autonomia;

d) software livre; e) telecentro;

f) montagem e manutenção de computadores e meta-reciclagem; g) produção multimídia;

h) produção de material radiofônico; i) organização de Bibliotecas. j) divulgação cientifica.

60 Disponível em: http://www.casabrasil.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=275& Itemid=74.

Revendo a literatura de alicerce da pesquisa, o programa Casa Brasil corresponde a um telecentro comunitário multipropósito, como afirma Sorj (2003), que aglutina vários serviços sociais dentro de um mesmo espaço, a fim de integrar, produzir e gerar conhecimentos; um espaço que aglutina módulos locais de acordo às necessidades da comunidade em matéria social, cultural, econômica e política, em que diversos atores políticos e sociais participam, coordenam, controlam e criam.

[...] as funções do Casa Brasil vão muito além de abrigar fisicamente estruturas com a efetiva capacidade de promover desenvolvimento social e econômico. Cada Casa Brasil deverá ser um ponto de referência da população. É para lá que o cidadão se dirigirá, para saber em primeira mão sobre os programas que o governo federal promove (CNPQ/ITI, 2005, p. 25).

Com o objetivo de legitimar a iniciativa de inclusão digital, a coordenação e a estrutura do programa são estabelecidas em decreto presidencial. Segundo o Decreto61 publicado no diário da União, em 11 de março de 2005, foi criado um comitê gestor para o programa Casa Brasil a fim de estabelecer as diretrizes gerais e os critérios de seleção das localidades, além de acompanhar sua implementação. O comitê gestor é coordenado pela Casa Civil da Presidência da República e tem como membros representantes da Secretaria de Comunicação (SECOM) e dos ministérios da Educação, Ciência e Tecnologia, Comunicações, Cultura e Planejamento.

Da mesma forma, é instituído, também, um comitê executivo, coordenado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável por regular e implementar as unidades locais. Além dos órgãos citados, o Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO), a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, as Centrais Elétricas, os Correios e a Petrobras. Ao Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI) caberá a secretaria-executiva, que dará apoio aos dois comitês.

Dentro do Decreto também é prevista a instalação de 90 unidades como fase inicial, sendo 55 unidades nas capitais brasileiras e sete unidades nas cidades mais populosas de cada uma das cinco regiões do país. O Casa Brasil é instalado em bairros com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) negativo, grande densidade populacional, preferencialmente onde existam níveis de violência e desemprego elevados, além de um local adequado para a implantação da unidade.

Por outro lado, vinculando à participação cidadã dentro de cada unidade, o Casa Brasil adota o conceito de gestão participativa, ou seja, a participação e o controle de um comitê ou conselho local que norteie todas as ações e iniciativas das unidades.

A gestão de cada unidade será feita por um conselho gestor comunitário, formado majoritariamente por pessoas da sociedade civil, da comunidade atendida, representantes da unidade, lideranças comunitárias ou parceiro que abriga o Casa Brasil (CORREA, 2007, p.135).

Os conselhos gestores do Casa Brasil são um mecanismo de controle social e cidadão, em que a população pode exercer de forma autônoma um modelo de gestão participativa e democrática em diálogo direto com as entidades envolvidas ou com o projeto, sejam elas federais, estaduais, municipais ou sem fins lucrativos.

A participação da comunidade no projeto Casa Brasil é fundamental para a apropriação de sua infra-estrutura pública; a construção coletiva e democrática das ações realizadas por cada unidade tendo como base seus objetivos e seus princípios; e como um processo pedagógico de participação popular que contribua para uma sociedade cada vez mais democrática com cidadãos ainda mais críticos e atuantes (GONÇALVES PROJETO CASA BRASIL - MANUAL CONSELHO GESTOR, 2008, p. 5).

A equipe responsável pela gestão do projeto é formada por uma coordenação nacional, sediada em Brasília, e por representantes regionais da coordenação nacional nos estados brasileiros. No âmbito da coordenação nacional, existem as coordenações de gestão, tecnologia, formação, comunicação e avaliação. Os responsáveis pela implementação, pelo acompanhamento e pelo suporte das unidades nas pontas são o Técnico de Instrução Continuada (TIC) e o Técnico Especialista em Comunicação (TEC). O CNPq também é parceiro direto do Casa Brasil. Em 2008, mais de 430 bolsas foram disponibilizadas para a execução das atividades de gestão e capacitação do Casa Brasil nas unidades. Cada unidade possui seis bolsistas para levar aos usuários os princípios e as práticas fomentadas para desenvolver atividades de capacitação junto às comunidades nas quais o projeto está inserido.

Segundo Edgard Piccino, secretário executivo do Casa Brasil, o projeto, no ano 2008, conta com 76 unidades62 em funcionamento, três canceladas e uma em processo de auditoria. Mas espera-se, em menos de dois anos, que se possa

alcançar a sua meta de 90 unidades, além de terminar de aplicar sua metodologia de avaliação para prontamente passar de projeto a programa. Porém, o projeto Casa Brasil ainda não contempla, dentro de seus objetivos de curto prazo, sua finalidade inicial de aglutinar as políticas de inclusão digital, como ponto importante para a construção de uma estratégia nacional.