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Desenho 1- Linha do tempo: América Latina frente à sociedade da informação

5. ESTUDO COMPARADO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DA COLÔMBIA E DO

5.1 DESCRIÇÃO DOS PROGRAMAS DE DEMOCRATIZAÇÃO DIGITAL

5.1.1 Colômbia Programa Compartel: história e planejamento

5.1.1.1 Estrutura e composição do programa Compartel

Ao final da década dos anos 1990, a infra-estrutura de telecomunicações na Colômbia se concentrava nas zonas urbanas das grandes cidades. Como conseqüência, as pequenas localidades e o setor rural se encontravam fora do alcance dos programas de expansão das operadoras tradicionais de telecomunicações. Para minimizar essas desigualdades e reduzir o gap existente entre as zonas urbanas e rurais, o programa Compartel desenvolve projetos observando a topografia46 e a extensão do país.

44 Segundo as estatísticas da Fase I (6.745) e da Fase II (3.300) do programa Compartel.

45 Segundo as estatísticas da Fase I (670), da Fase II (270) e da Fase III (550) do programa

Compartel.

46Ainda que a Colômbia esteja na zona equatorial, o sistema montanhoso dos Andes proporciona uma variedade topográfica desde selvas úmidas, planícies tropicais, páramos e neves perpétuas.

Dos 45 milhões de habitantes colombianos, 70% residem nas cabeceiras municipais47 e ainda para chegar ao restante dos setores rurais, Compartel foi desenhado como uma solução para facilitar o acesso eqüitativo às TICs. Foram priorizadas as regiões rurais que não possuíam infra-estrutura e as regiões carentes urbanas, que mesmo que possuíssem infra-estrutura foram consideradas como em situação de precariedade e infra-estrutura insuficiente. Dos serviços que o programa Compartel disponibiliza como telefonia rural comunitária, Internet social e conectividade em banda larga, selecionamos para esta pesquisa o serviço de Internet social a fim de estudar sua estrutura, sua composição e possíveis mudanças.

O programa Compartel- Internet Social, como foi mencionado anteriormente, se enquadra também no marco da política governamental da Agenda de Conectividad, com o objetivo de promover o acesso à Internet e desenvolver a infra- estrutura necessária para facilitar a assimilação e a difusão de serviços provenientes da Internet na Colômbia. O objetivo foi alcançado mediante a instalação de telecentros em todas as cabeceiras municipais e nos centros com mais de 1.700 habitantes que tinham ainda necessidades identificadas de telefonia, e igual prestação de serviço de acesso à Internet a 40 cidades com mais de 30.000 habitantes.

Cada telecentro, segundo o número de habitantes, conta com de um a 12 computadores com acesso à Internet, uma webcam, de um a seis pontos telefônicos, um fax, um scanêr, uma impressora, um televisor, um vídeo-cassete. Além disso, há uma sala de capacitação para 20 pessoas dirigida à introdução de noções básicas de uso de computadores e periféricos (fax, scanêr, câmara web), e à indução para o uso de ferramentas computacionais (planilhas, editor de texto, etc.), assim como ao uso de e-mail e Internet.

O programa Compartel-Internet Social, por ser um programa associado ao setor privado, tem desenvolvido suas três fases com operadoras diferentes (Fase I: Gilat Colômbia; Fase II: Rey Moreno S.A e Telefónica Data Colômbia S.A; e para a

Portanto, as variações climáticas se regulam de acordo as altitudes e a temperatura atinge aproximadamente 6C° a cada 1000 metros de altitude. Ao nível do mar, a temperatura é, em média, de 30 C°.

47 A divisão política colombiana define um total de 32 estados e 1.097 municípios. Os estados se compõem de municípios. Denomina-se cabeceira municipal à zona urbana de cada município que possua prefeitura.

Fase III: Gilat Networks Colômbia S.A. E.S.P). A primeira fase foi direcionada ao estabelecimento de 670 telecentros nas cabeceiras municipais com menos de oito mil habitantes. A segunda fase foi direcionada à montagem de 270 telecentros em grandes municípios com uma população superior aos 10 mil habitantes. De maneira opcional, na Fase II a operadora contratada tem a responsabilidade de instalar, operar e manter 40 acessos locais para permitir o acesso telefônico e a Internet.

Para a Fase II, a licitação pública N. 003 de 2000 estabeleceu como objetivos:

a) promover o uso da Internet através de 270 telecentros para a população de escassos recursos, em 261 cabeceiras municipais com população superior a 10 mil habitantes, incluindo capitais estatais; b) ampliar a infra- estrutura para a prestação de serviço de acesso local ligado à Internet em 40 capitais estatais e cidades de mais de 40 mil habitantes que não tenham o serviço, por um período de seis anos (A empresa contratada para a Fase II foi Rey Moreno S.A., mas na atualidade o projeto é executado pela Telefônica Data Colômbia S.A).

Já a terceira fase está direcionada à montagem de 550 telecentros nas cabeceiras municipais e centros de mais de 1.700 habitantes, que foram contempladas nas fases anteriores do programa. Dessa forma, o programa Compartel consegue atingir seu objetivo de cobrir o 100% das cabeceiras municipais e 294 centros com mais de 1.700 habitantes, beneficiando, assim, segundo estatísticas do mesmo programa, cerca de cinco milhões de colombianos nas zonas rurais e urbanas de baixa inclusão.

Tabela 4 - Estatísticas das fases do programa Compartel 2007

FASE Pessoas beneficiadas Telecentros instalados Computadores instalados48 Telefones instalados FASE I 2.500.000 670 670 6745 FASE II 900.000 270 1.830 3300 FASE III 1.800.000 550 4.400 Total 5.200.000 1.490 6.900 10.045

Fonte: Programa Compartel

48

Cada telecentro da primeira fase, segundo o programa Compartel, conta com apenas um computador instalado.

Segundo os indicadores quantitativos levantados pelo programa Compartel, a cobertura no país até o ano 2007 alcançou os objetivos propostos em cada fase. Observe-se o gráfico 6:

Gráfico 6 - Cobertura do programa Compartel-Internet Social 2007

Fonte: Programa Compartel

Nota: Os pontos de cor laranja correspondem ao número de telecentros instalados no país. Todos de acordo com as necessidades e as especificações de cada localidade.

O Ministério das Comunicações da Colômbia define, por meio de um edital, os critérios técnicos de demanda e cobertura por meio de licitações públicas para a seleção de operadores experientes na área49. Em seguida, o governo nacional assina recursos de fomento mediante um contrato de licitação, para assim apoiar os planos de negócio dos operadores por um tempo médio aproximado de seis ou dez anos. Para isso, os operadores devem realizar uma análise específica da localidade, em que a fiscalização cidadã50 exerce vigilância social constante desde o momento

49 Podem participar operadores públicos, privados ou estrangeiros.

50 A fiscalização cidadã corresponde na Colômbia às “veedurías cidadãs”, grupos de pessoas organizadas e legitimadas pelo Estado para efetuar a vigilância social sobre os recursos e as ações realizadas pelos operadores dos telecentros do programa Compartel, além de poder fazer recomendações escritas e oportunas ante as entidades e órgãos governamentais. Tal informação se encontra no Inciso terceiro do artigo 66 da Lei 80 de 1993, artigo 9 do Decreto 2170 de 2002, artigo 1 da Diretiva Presidencial No. 12 de 2002 e da Lei 850 de 2003.

do ganho da licitação até a finalização do projeto, além de dar recomendações e informações sobre os acompanhamentos aos organismos de controle do Estado51. Os operadores serão responsáveis pela manutenção, tecnologia e operação.

Da mesma forma, é concedida pelo governo colombiano à entidade chamada de “Interventoria” a responsabilidade de vigilância, inspeção, controle, e recomendação dos aspectos técnicos, financeiros, legais e sociais que, mensal e semestralmente, avalia os operadores, suas obrigações, o impacto na comunidade e os resultados obtidos através dos indicadores estabelecidos inicialmente no edital de condições.52

Realmente o Pliego ou edital de condições condensa especificações gerais que caracterizam os telecentros, porém suas especificações de acordo com as necessidades surgem durante a implementação. Por isso, cada telecentro se caracteriza por competências diferentes de acordo com as características e as habilidades do município atendido. Essas necessidades são avaliadas inicialmente pelo governo nacional e depois, mensalmente pela Interventoria, que representa a comunidade (Comentário de Diana Lorena Lindarte, assessora da área de convênios institucionais e apropriação da área de Compartel).

Em 2008, nove operadoras estão prestando os serviços de telefonia e Internet, implementando projetos de telefonia rural comunitária, serviço de Internet de banda larga para instituições públicas, Internet social e o projeto de ampliação e reposição de linhas telefônicas. O financiamento é concedido através de recursos do Fundo das Comunicações, que têm sido destinados para a execução da política social colombiana.

51 Inciso terceiro do artigo 66 da Lei 80 de 1993, com o artigo 9 do Decreto 2170 de 1002 e o artigo 1 da Diretiva Presidencial No. 12 de 1002.

52 A Interventoria se encarrega de vigiar, controlar e inspecionar os seguintes aspectos:

a) Técnicos: seguimentos à execução dos contratos dos aportes, verificação do cumprimento de aspectos de qualidade e níveis de serviço, além de obrigações contratuais sobre a prestação e manutenção dos serviços de telecomunicações.

b) Financeiros: relacionados à autorização e ao controle na utilização dos recursos do aporte contidos no patrimônio autônomo, por parte das operadoras nas etapas de prestação de serviço, operação e manutenção do projeto respectivo.

c) Legais: cumprimento das obrigações e compromissos adquiridos pela operadora dentro do contrato jurídico, como implementação, manutenção e infra-estrutura.

d) Sociais: cumprimento das obrigações e compromissos adquiridos pela operadora nos convênios de apropriação, firmados entre o programa Compartel e outras entidades para o uso da infra- estrutura instalada no marco do programa Compartel-Internet Social, o seguimento e a medição dos indicadores de estúdio de impacto social e econômico adiantado pelo programa Compartel.