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Desenho 1- Linha do tempo: América Latina frente à sociedade da informação

5. ESTUDO COMPARADO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DA COLÔMBIA E DO

5.1 DESCRIÇÃO DOS PROGRAMAS DE DEMOCRATIZAÇÃO DIGITAL

5.1.2 Brasil Projeto Casa Brasil: história e planejamento

5.1.2.4 Telecentro da cidade satélite de Ceilândia

Com o mesmo objetivo de comparar de forma correlacionada, tanto a estrutura como o desempenho do Casa Brasil frente aos dados das entrevistas de seus coordenadores e dos documentos dos programas de democratização digital, foi realizada uma entrevista com o coordenador do Telecentro da cidade satélite de Ceilândia, Distrito Federal, da Universidade de Brasília (UnB).

A unidade do Casa Brasil corresponde à parceria entre o governo federal e a UnB, em que se reforça o elemento de extensão e participação com a comunidade. Para o coordenador do projeto na universidade, Prof. Marco Aurélio de Carvalho, a participação da instituição na construção da unidade Ceilândia é de suma importância, já que “a universidade moderna está baseada no tripé ensino, pesquisa e extensão e é esse terceiro elemento que faz a interface direta com a comunidade”.

Ceilândia está a 24 quilômetros do plano piloto e ocupa uma área de 232 quilômetros quadrados, localizada em uma das áreas hidrográficas mais privilegiadas do Distrito Federal. Com quase 500 mil habitantes, a região administrativa é estigmatizada por diversos problemas sociais. Segundo dados da Administração Regional de Ceilândia (2007), 46,23% da população não concluiu o primeiro grau do ensino básico e somente 12,56% possui segundo grau completo. Apenas 2% da população possui curso superior, além de não ter centros culturais e sociais. A região tem apenas uma biblioteca e cerca de 16% das pessoas vivem com menos de um salário mínimo.

Diante dessa situação, a unidade do Casa Brasil foi instalada em 26 de março do ano 2007 como centro cultural e social de inclusão e produção de conteúdo da cidade, por ser um telecentro multipropósito (Sorj, 2003) que não só oferece acesso à Internet ou cursos de capacitação, mas integração de multimídia, rádio comunitária, leitura e redação, em que a formação e autonomia estão presentes.

Para o coordenador da unidade da UnB, Eliseu Amaro Pessanha, entrevistado em junho de 2008:

O Casa Brasil é um espaço que privilegia a formação e a capacitação em tecnologia aliada à cultura, arte, entretenimento e participação popular, com forte apoio à produção cultural local.

Junto a Amaro, doze bolsistas da UnB e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) orientam a população nas atividades culturais e sociais como rádio comunitária, telecentro (com 20 computadores), sala de leitura e redação e multimídia.

O Casa Brasil de Ceilândia atende ao público desde 26 de março 2007, oferecendo diversos cursos nos seguintes módulos: telecentro, com cursos de operador de micro e digitação; sala de leitura, com cursos na área de leitura e produção de texto, o núcleo multimídia; oferece cursos de vídeo e rádio popular. E em parceria com outro projeto da universidade, o Conexões de Saberes, os alunos da instituição oferecem um curso pré-vestibular comunitário, destaca Amaro Pessanha.

A estratégia de ação da “Casa Ceilândia”, como é denominada pelos bolsistas, consiste em unir comunicação comunitária, tecnologia e cultura em um só discurso e prática; para isso, são desenvolvidos cursos, oficinas, programas de TV, rádio comunitária e núcleo de produção. Segundo o Relatório anual do Casa Brasil Ceilândia (2008)67, 1.089 usuários no ano têm concluído cursos de capacitação dentro dos diversos campos oferecidos, sendo a maioria jovens interessados nas tecnologias de comunicação, vídeo e informação. Da mesma forma, são registrados, de acordo com o relatório, 120 a 150 visitas diárias.

Ainda que os relatórios correspondam notadamente a uma gênese de indicadores quantitativos, o ambiente observado dentro do telecentro reafirma o discurso dos gestores do Casa Brasil, em que a autonomia, o compromisso e a política social são premissas de gestão.

Porém, a falta de acompanhamento constante nas unidades do Casa Brasil por parte da gestão nacional frente ao impacto social e cultural do programa, devido a sua premissa de autonomia, impossibilita a estruturação do Estado como ator integrador e regulador.

[...] não existe um acompanhamento muito constante e presente por parte da coordenação nacional do Casa Brasil, mas tem uma preocupação na questão da formação dos gestores e dos coordenadores, já que através da troca da informações se geram novos conteúdos que podem ser aplicados em outras unidades. No entanto, se tem um acompanhamento local em que mensalmente são enviados relatórios sobre o funcionamento da unidade (comentário de Amaro Pessanha).

Essa situação leva os coordenadores das unidades a desenvolverem competências específicas sem o acompanhamento da gestão nacional. No caso da “Casa Ceilândia”, diferentes competências têm sido desenvolvidas de acordo com as necessidades específicas dos usuários da comunidade, em sua maioria jovens. Competências radiofônicas e de multimídia caracterizam a unidade de Ceilândia,

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Documento elaborado pelo Coordenador da unidade Ceilândia, Eliseu Amaro Pessanha, para os gestores e coordenadores nacionais do projeto Casa Brasil.

como os cursos de fotografia, edição de vídeo, redação, rádio e cinema, sem contar as constantes oficinas em que jovens participam, constroem e criam conteúdo para a comunidade, como discussões na rádio sobre a cidade, cineclubes e produções visuais.

Segundo o coordenador da unidade da UnB na cidade de Ceilândia, Eliseu Amaro Pessanha:

[...] graças à autonomia do Casa Brasil se tem criado oficinas e cursos específicos para a comunidade de Ceilândia, permitindo novas oportunidades de emprego através do melhoramento qualificado das pessoas.

Mas, apesar dos alentadores indicadores quantitativos em relação ao acesso, ao número de capacitados e à oferta de cursos e oficinas, falta ainda mensurar os resultados sociais dentro da unidade de Ceilândia, com o objetivo de observar as habilidades e as competências comunitárias adquiridas na unidade. Portanto, o modelo de avaliação torna-se a premissa substancial para o desenvolvimento social efetivo do programa, por ser ele a chave para a construção, implantação e melhoramento do Casa Brasil, como política pública de inclusão digital.