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A população afro-brasileira e suas religiosidades

As pessoas negras podem ter as mais diversas religiões. Podem che- gar ao sacerdócio como ialorixás, babalaôs, babalorixás, humbonos, humbondos (denominação jeje), mametos, tatetos, tatas (denomi- nação congo-angola), mas também padres, rabinos, pastores, mon- ges. Ou podem ter a identidade principal numa religião e se interes- sar ou ter simpatia por preceitos de outra(s). No entanto, a religio- sidade caracterizada como afro-brasileira é identificada imediata- mente, em nossa sociedade, com o candomblé ou com a umbanda. Vale ressaltar que, da mesma forma que o cotidiano da população negra foi atingido por uma série de sinais negativos, a vida religio- sa também foi alvo de muita condenação e perseguição.

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Uma das maiores dificuldades na sociedade brasileira é tra- tar do tema das religiões com todas as dimensões que ele mere- ce: a histórica, a estética, a filosófica dos preceitos, a terapêutica, a lingüística, a ética. Isto se constitui uma das piores faces da in- tolerância que é a perseguição religiosa.

A Constituição garante a cada cidadão o direito de ter sua crença, de praticá-la ou, até mesmo. o direito de não ter crença. É preciso lembrar que houve muita luta até esse direito estar garan- tido. Todos ganham exercitando uma atitude de respeito às mani- festações de fé, pois entre elas há um circuito cultural de afetividade, solidariedade e identidade.

Considerando a leitura do texto:

Você é praticante de alguma religião? Hoje em dia, você pode praticá-la sem ser condenado por isso?

Os homens e as mulheres que vieram escravizados para o Brasil trouxeram consigo suas religiosidades, mas, por gerações seguidas, foram entrando em contato com a religiosidade trazida da Europa, e outras influências que, já em África, aconteciam.

O culto católico, por exemplo, ofereceu repertório ao modo de vida religioso afro-brasileiro. Lembremos que toda a rica e va- riada ritualística africana passou por perseguições e excomungações. No caso do culto aos orixás, principalmente na Bahia, se conta que, numa sábia operação, os santos do hagiológico cristão entra- ram em ação. Santos e orixás, unidos, abriram caminhos para per- manecer cultuados. Santa Bárbara, na leitura africana, foi reco- nhecida como Iansã, os gêmeos S. Cosme e Damião foram reco- nhecidos como os gêmeos ioruba Ibeji, Nosso Senhor do Bonfim, como Oxalá, e assim por diante.

Com a segregação, a separação de igrejas para brancos e para negros, promovida pelo sistema escravagista, as irmandades cum- priram inúmeras funções, dentre elas a de solidariedade entre os “malungos”, isto é, irmãos. Havia identidades compartilhadas, ape- sar das origens e das línguas diversas. Era um espaço de solidarie- dade. Na devoção também se garantiu o culto aos mortos e até mesmo a organização para o objetivo de alforriar os escravizados.

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* As origens aqui direcionadas são apontadas pelas pró-

prias comunidades. Seriam memórias que fundam uma específica identidade.

1 Quem informa o dado é o pesquisador Vagner Gon-

çalves da Silva Denominação regional Região de concentração no Brasil Origem africana1 Tambor de Mina Maranhão e Pará Relacionada aos voduns da etnia

Fon. Candomblé queto Bahia, mas encontrado em

todo o Brasil.

Relacionada ao panteão de divindades iorubas, os orixá. Elegem a cidade de Queto, ao norte do Benin como origem. Candomblé Angola Norte, nordeste, sudeste e

sul

Práticas de origem africana recebem os nomes de inquices.

Umbanda Norte, nordeste, sudeste e

sul

Referidas a uma tradição genérica bantu; com influência católica, espírita e ameríndia.

Xangô Pernambuco Os orixá são de origem nagô.

Batuque Rio Grande do Sul Raízes na Costa da Guiné e na

Nação Ijexá na Nigéria.

Catimbó Pernambuco, Amazonas,

Pará

As origens dos candomblés se fundem com a das religiões indígenas.

Xambá Pernambuco O culto dos orixás trazido por

famílias que habitavam a região dos Camarões.

Babaçuê Pará Baba remete à língua ioruba mas

a origem indígena também é referida.Fala-se de Bárbara Suera, do qual o nome teria derivado.2

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Nas irmandades, um dos princípios era a liberdade conquistada pela compra da carta de alforria, o que era feito de forma comuni- tária.

Considerando a leitura do texto:

Nos primórdios do cristianismo, a pregação do Evangelho deveria reunir todos os povos. O espírito da doutrina era o de superação das diferenças. Que tal nos inspirarmos nessa prática para uma atividade que reúna os mais diferentes representantes das diversas religiões na localidade onde você mora? Faça um le- vantamento das religiões que existem em sua cidade. Elabore car- tazes, frases para afixar em murais, cartazes com cores simbólicas, prepare comidas representativas. Organize, com seus colegas, uma reunião ecumênica. Convide os sacerdotes e líderes das diversas manifestações religiosas.

Comece a levantar perguntas, entre seus colegas, para serem dirigidas aos convidados. Uma sugestão é começar pela idéia de Deus em cada uma das religiões.

O capítulo teve como objetivo incrementar o repertório para uma reflexão sobre a temática das religiões afro-brasileiras. Trazer o repertório religioso para dentro do ambiente escolar não implica em dogmatização haja vista as escolas públicas se- rem laicas. Mas é ou não importante a garantia do direito dessas religiões a estarem presentes como referência dentro do panora- ma religioso que existe no país? A abordagem respeitosa deve trabalhar formas de superação, da segregação, da perseguição, da condenação sofrida em tempos pra lá de opressores.

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