Podemos aceitar a definição de que arte é o produto simbólico que o ser humano criador realiza com intenção determinada.
O que há em comum entre a escultura africana, as composi- ções de Bispo, as esculturas de Agnaldo, as pinturas dos irmãos Timóteo e as demais que já vimos ou de que ouvimos falar, para serem classificadas como obras de arte, é a ação dos seus produ- tores diante de fenômenos oferecidos pelo contexto em que es- tavam inseridos e o processo de transformação de suas percep- ções em linguagem.
Em outras palavras, o ato criador não se manifesta de modo isolado. É no conjunto de relações entre o artista e o contexto em que está inserido que surge a necessidade e o processo de elabora- ção e construção da forma.
Como sujeito em diálogo com seu meio ambiente, amplian- do sua concepção a respeito do universo circundante, o artista não é um iluminado que, tomado por forças de um mundo além, produz uma obra de arte imune às influências e exigências do meio em que se insere. Além disso, o artista também é um indiví- duo que não está livre de suas paixões pessoais.
Nutrindo o seu processo de criação com as experiências vividas, o artista cria um fenômeno de características próprias, com elementos simbólicos comuns, a fim de estabelecer um diálogo com o universo cultural do apreciador.
Caso contrário, destituída da possibilidade de comunica- ção, sua produção não poderia ser traduzida como linguagem que é, na medida em que comunica fatos e/ou idéias. Evidentemente, não há uma resposta única e exata para a questão “O que é arte?” Uma dos muitos caminhos para entender uma obra de arte como tal seria tomá-la como o resultado da artesania do artista movido por uma intenção.
As definições de arte e de beleza variam de acordo com a épo- ca e o lugar. Podemos afirmar, então, que fazer arte é uma das muitas maneiras que o ser humano tem de expor seus sentimentos e pen- samentos em relação ao mundo que o cerca e de contar os fatos
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que percebe à sua volta, despertando no espectador, isto é, na pessoa que observa, diferentes sensações, pensamentos e até com- portamentos.
Arte é uma atividade humana em que é possível representar nossas emoções, nossa história, nossos sentimentos e nossos dese- jos, nossa cultura, nossa identidade, ou melhor, nossas identidades. Ainda que a feitura da obra de arte seja uma atividade solitá- ria, a arte só se realiza como tal quando estabelece a comunicação pela contemplação e identificação com o seu conteúdo.
Uma obra de arte é sintomática da cultura de seu tempo e de seu lugar. Relacionar os produtos artísticos à idéia de beleza re- presenta uma visão reducionista de um processo complexo de codificação de uma linguagem, processo em que o criador empre- ga conhecimento, afetividade e percepção de mundo e o observa- dor, pensamento, sentimento e visão de mundo.
Um artista, pode ser muito conhecido na sua comunidade sem ter sido reconhecido pelos articuladores dos espaços oficiais ou institucionalizados. E são artistas assim, em sua grande maioria anônimos, que preservam e re-significam os elementos tradicio- nais da africanidade na arte brasileira.
Vamos recordar que, na África Negra, a imagem, a repre- sentação está ligada a uma mensagem social, educativa, humana. Constantemente evoca um tipo de comportamento. Muito além da adequação ao que é real, à aparência, ao visível, o africano vai mais longe e se relaciona com forças que nos superam e se refe- rem ao destino do ser humano no cosmos.
Sugestão de atividades 1 Fazendo Arte - Máscaras
Reúna elementos que possam simbolizar o reino animal, vegetal e mineral e produza uma máscara que homena- geie a arte da África.
Você vai precisar de: Tiras de jornal e/ou papel pardo/ 1 bexiga/-cola branca/ uma bacia ou recipiente similar/ 1 caneta piloto ou similar/ tinta guache ou acrílica de cores diversas e pincéis.
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Para dar certo: Encha a bexiga até atingir um tamanho equivalente ao do seu rosto, misture 2/3 de cola e 1/3 de água no recipiente. Com a caneta piloto, risque a metade da bexiga no sentido vertical. Mergulhe as tiras de jornal na água com cola e escolha uma das metades da bexiga para colar as tiras de papel em seis camadas, observando que, entre a colagem de uma camada e outra, deve haver um intervalo mínimo de 6 horas. Quando a cobertura com as tiras de jornal estiver bem firme, fure a bexiga. Você terá uma base e poderá trabalhar como quiser, pin- tando e adornando com os seus elementos de maneira que o resultado seja uma máscara de estética africana. Se desejar salientar partes do rosto, como olhos, nariz e boca, utilize canudos de jornal moldados e colados no local desejado a partir da segunda camada da colagem. Se desejar algum elemento vazado, como olhos, nariz e boca, espere o molde secar totalmente, contorne a for- ma desejada com a caneta e recorte introduzindo uma tesoura de ponta.
Para iniciar a pintura, recomenda-se uma demão de tinta branca em toda a base.
2 Fazendo arte - Grafismo.
Faça uma composição visual utilizando o grafismo.Você pode escolher uma das obras apresentadas neste livro, em outra fonte, ou criar a sua produção.
Você vai precisar de: papel sulfite e caneta esferográfica de cores variadas.
3 Fazendo Arte - Gravura
Defina com os colegas e o professor quantos exemplares terá a tiragem da gravura produzida por vocês.
Utilize, como suporte de gravação, uma placa de madeira ou de linóleo ou uma bandeja de isopor e, para o entalhe, goivas de metal ou outros objetos, no caso de opção pela bandeja de isopor como suporte.
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Para imprimir a imagem na mesma posição do desenho original, este deve ser gravado na matriz em posição in- vertida.
a Procure uma foto sua ou de alguém que você queira homenagear e faça o esboço em uma folha de papel sulfite.
b Reproduza o esboço do rosto em um papel branco com um carbono virado para o avesso do papel. Ao virar o papel, você terá a imagem invertida.
c Gravando a imagem na matriz:
Siga o seu esboço e inicie a gravação da imagem. O espaço que você deseja que fique branco deve ser ca- vado, o espaço que você deseja que fique preto deve estar em alto-relevo.
Comece determinando onde deseja que fique preto e cave em volta.
Caso tenha dúvida no decorrer do trabalho, antes de prosseguir, entinte a matriz e tire uma prova para veri- ficar onde mais necessita ser cavado.
Você pode criar, além das formas principais, efeitos de textura.
4 Fazendo Arte - Escultura
Procure a imagem de corpo inteiro de um homem ou de uma mulher que represente a etnia negra, para fazer sua escultura em argila.
Você vai precisar de: – 2 Kg de argila
– Instrumentos auxiliares, como estecas de plástico ou madeira, que podem ser substituídas por palitos, tampas de canetas, réguas e similares; lixa d’água para o acaba- mento da escultura depois de seca.
Forre o espaço de trabalho com várias folhas de jornal e brinque um pouco com a argila, amassando e batendo para tirar o excesso de água, caso ela esteja muito mole.
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Caso esteja quebradiça, proceda da mesma maneira, acrescentando um pouco de água até a argila adquirir uma consistência que permita a formação de um bloco, no qual você irá esculpir.
Você pode fazer o esboço das linhas principais da ima- gem a ser produzida.
Esculpir é diferente de moldar. A escultura se processa retirando o material do entorno da imagem projetada. Ao final, apresente o trabalho aos colegas e relate o seu processo de criação.
5 Fazendo Arte - Parede da memória
Traga uma cópia, ampliada de maneira que ocupe uma folha de sulfite tamanho A-4, do retrato de uma mulher que você conheça, da sua família ou não, mas que seja importante na sua vida.
Utilize tinta guache bem diluída para colorizar a cópia da foto e apresente-a aos seus colegas.
Construam juntos uma “parede da memória” com as fo- tos de todas as mulheres apresentadas.
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