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A posição dos organismos e da população europeia em relação à adesão

2. Revisão da Literatura

2.2. Processos de candidatura e negociação da adesão da Turquia na União

2.2.3. A posição dos organismos e da população europeia em relação à adesão

Quando a pesquisa é direcionada para a posição pública em relação à adesão, são vários os trabalhos encontrados que analisam a perceção que a população tem deste processo de alargamento – são exemplo disso os estudos de Çarkoglu (2004), McLaren (2007), Pahre e Ucaray-Mangitli (2009), Çarkoglu e Kentmen (2011), De Vreese (2012), Gerhards, (2011), ou Hatipoglu et al (2014) – alguns dos quais apresentando resultados bastante interessantes. Hatipoglu et al (2014) concluíram, por exemplo, que tende a existir maior oposição à adesão da Turquia à UE nos países em que há mais imigrantes turcos, em países em que o governo em funções seja de direita e entre indivíduos que se posicionam mais à direita do espetro político.

De igual modo, também é possível encontrar alguns artigos dedicados à posição do Conselho em relação a esta matéria (ver, entre outros, Baldwin e Widgrén (2005) e Turhan (2012), os quais tendem, contudo, a ter o problema de não analisarem a posição de todos os Estados-Membros. Entres os estudos existentes, merece destaque o de Turhan (2012), que, além de incluir a posição da Grécia e do Chipre, dá especial atenção à dos chamados Estados-Membros que constituem a "Big Three" (Alemanha, França e Reino Unido). Turhan (2014) refere, por exemplo, que o Reino Unido era defensor da adesão até 1999, especialmente devido à posição geostratégica da Turquia, enquanto a França e a Alemanha se opunham e que só em 2015, com a questão dos refugiados a ficar fora do controlo da UE, é que se verificou uma vontade política por parte destes dois Estados em continuar a desenvolver o processo.

Em relação ao posicionamento do Parlamento Europeu, nomeadamente dos seus deputados, só nos foi possível encontrar dois artigos pertinentes: “The European Parliament: An autonomous foreign policy identity?” de Zanon (2005), e “Je t’aime … moi non plus! An empirical assessment of Euro-parliamentarians’ voting behaviour on Turkey and Turkish membership”, de Braghiroli (2012).

O primeiro destes estudos, embora considere as posições tomadas pelo Parlamento Europeu em relação a dois países, Turquia e Taiwan, apresenta uma investigação pouco extensiva e aprofundada e, consequentemente os resultados são superficiais e limitados. De qualquer modo, existem alguns pontos importantes a destacar. Em primeiro lugar, Zanon (2005) começa por fazer referência à marginalização que o PE era alvo, especialmente até 1987, ano em que o Ato Único Europeu (AUE) proporcionou ao PE o poder de aprovação sobre os acordos entre a UE e países terceiros. De acordo com a autora, esta marginalização tornou-se visível quando, no início da década de 80, o Parlamento Europeu propôs ao Conselho que fossem agregados critérios políticos aos Acordos de Associação, assinado em 1963, que apenas incidia sobre questões económicas e que o Conselho rejeitou fazer esta ligação entre as relações económicas e as condições políticas (Zanon, 2005).

De igual modo, Zanon (2005) refere que, após a assinatura do AUE, o Parlamento Europeu foi convocado pela primeira vez, nesse mesmo ano, para dar o seu parecer em relação a protocolos referentes a acordos assinados pela CEE com a Turquia, Argélia, Chipre, Egipto, Jordânia Líbano, Tunísia e Jugoslávia, tendo aprovado todos estes protocolos relativos a todos os países, com exceção do da Turquia. A autora refere que, com base no debate no plenário, esta decisão não foi tomada devido a preocupações com os próprios Protocolos, mas como forma do PE manifestar o seu descontentamento com as violações dos direitos humanos na Turquia (Zanon, 2005). Esta votação viria, contudo, a sofrer alterações um mês depois, devido à falta de vontade do PE em criar conflitos prolongados com o Conselho (Zanon, 2005).

No seguimento do texto, é referido que o Parlamento Europeu voltou a posicionar-se contra o Acordo de União Aduaneira em 1994 e em 1995, solicitando ao Conselho a suspensão das negociações do mesmo e referindo que a conclusão do acordo seria prematura, embora acabando por aceitar o acordo em dezembro de 1995, na sequência de intenso lobby por parte do Conselho e da Comissão (Zanon, 2005). Por fim, a autora destaca ainda que o PE continuou a demonstrar grande preocupação com o desrespeito dos direitos humanos na Turquia, nomeadamente em 2004, em que manifestou o seu apoio ao início das negociações de adesão, embora incitando a União e a Turquia a darem prioridade ao cumprimento pleno dos critérios políticos.

O artigo de Braghiroli (2012) resulta, por sua vez, de uma investigação aprofundada sobre o comportamento de voto dos deputados durante o sexto mandato do PE (2004- 2009), quando o tema é a adesão da Turquia e em que medida a visão individual que

os mesmos têm da Turquia influencia o seu voto. Entre outros aspetos, o autor conclui que a questão da adesão turca é um tema que gera muitas divisões, sendo que as posições parlamentares vão desde o apoio entusiasmado até a “Turkophobia” aberta e, que os diferentes níveis de apoio e oposição oscilam entre posições norteadas por interesses, mais frequentes entre partidos convencionais, como os liberais e os conservadores, a posições orientadas pela ideologia, mais comuns em partidos radicais e de protesto (Braghiroli, 2012). Neste sentido, acrescenta que o mais intrigante é que, apesar de determinados grupos parlamentares parecerem mais solidários e outros mais céticos, é identificável uma certa variedade de posições dentro da mesma ideológica política (Braghiroli, 2012).

Braghiroli (2012) também constatou que se verificou, durante o mandato analisado, um aumento dos deputados a favor da adesão da Turquia – 53% em 2006, 55% em 2007, e 64% em 2008. Na análise mais fina, o autor conclui que a posição favorável sobre a adesão da Turquia é influenciada pela ideologia politica – 88% dos deputados de esquerda é a favor (com especial incidência entre os Verdes, a esquerda socialista e radical), ao passo que apenas 33% dos deputados de direita é favorável –, mas também da religião – apenas 37% dos deputados cristãos são a favor da adesão, face aos 81% entre os que não são cristãos ou crentes. Quando analisado o impacto da nacionalidade, os deputados menos solidários à adesão são os alemães e os franceses – 62 e 59%, respetivamente – ao passo que os mais solidários eram os deputados portugueses (100%), os búlgaros (86%), os espanhóis (75%), os holandeses (73%) e os italianos (70%). O autor identifica, por fim, diferenças entre sexos (71% das mulheres é a favor, em comparação com 53% dos colegas do sexo masculino) e entre idades, sendo que os deputados mais solidários com a adesão se concentram, em média, entre os 35-54 anos de idade.

A grande limitação deste artigo é o facto de analisar apenas o período entre o ano de 2004 e o de 2009. Embora o fato de a análise incidir sobre um curto período de tempo seja um ponto negativo, a grande desvantagem atualmente é o fato de terem passado nove anos, que incluíram acontecimentos marcantes na relação. O artigo é um excelente contributo para estudar se existe uma evolução da posição dos deputados europeus, mas sobre a posição atual a literatura é inexistente. O segundo ponto que limita a informação do artigo é o facto da análise se restringir apenas aos votos enquadrados na área da Política Externa e de Segurança Comum (PESC), excluindo as atividades sob os restantes pilares da União Europeia.