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3. Estratégia Metodológica

3.3. Processos de Recolha e Análise dos Dados

Para ter acesso a estes documentos, na página do Plenário, no site do PE, existe um link com o nome “Atas”, onde é possível encontrar os documentos referentes a todas as atividades realizadas no Parlamento desde 1994. Uma vez aí, foi inserido o termo “Turquia” no campo de pesquisa, selecionando de seguida o campo “No texto”, de modo a incluir todos os documentos que referissem o país e não apenas os que tivessem o termo no título. De seguida, era selecionada a legislatura pretendida e, do mais antigo para o mais recente, eram abertos os links que mencionavam no título “debate” ou “entrega de documentos”, sendo que era neste último onde estavam disponíveis as Propostas de Resolução.

Os debates são intitulados segundo o tema do próprio debate (ex.: Situação dos jornalistas na Turquia) e, estruturalmente, seguem a seguinte ordem: uma declaração do presidente do Conselho, uma declaração de cada grupo parlamentar, feita por um deputado responsável por representar o mesmo e, então, as intervenções dos deputados a nível individual. Os discursos dos deputados estão disponíveis na língua em que foram proferidos, que, por norma, é a sua língua materna. Logo, de modo a poderem ser incluídas na análise, todas estas intervenções foram traduzidas para inglês, utilizando a ferramenta Google Tradutor.

As propostas de Resolução são documentos redigidos por um ou mais deputados que, em representação do seu grupo politico, pretendem fazer uma ou mais propostas de ação em relação a um determinado tema ou acontecimento (ex.: “PROPOSTA DE RESOLUÇÃO apresentada na sequência de uma declaração da Vice-Presidente da Comissão / Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança nos termos do artigo 123.º, n.º 2, do Regimento sobre as relações entre a UE e a Turquia - Cristian Dan Preda, Renate Sommer, Elmar Brok em nome do Grupo PPE” 70. Estas, quando pesquisadas na versão portuguesa da página do Parlamento

Europeu, estão disponíveis em português ou em inglês.

Através deste processo de recolha, foi possível identificar 1288 intervenções. Destas, 219 registaram-se na legislatura em vigor de 2004 a 2009, na legislatura seguinte, entre 2009 e 2014, registaram-se 286 e, na última legislatura analisada, entre 2014 e 2019, somaram-se 783 intervenções.

De modo a organizar devidamente os dados recolhidos para futura análise, foi criada uma base de dados com as seguintes variáveis:

1. Tipo de intervenção: Debate ou Proposta de Resolução; 2. Link: hiperligação para a intervenção original;

3. Ano da intervenção;

4. Autor: nome do deputado responsável pela intervenção; 5. País: Estado-membro que o deputado representa; 6. Grupo Político europeu ao qual o deputado pertence;

7. Tópico principal: tema abordado no debate ou na Proposta de Resolução analisada

8. Intervenção: texto completo da intervenção;

9. Tipo de Posicionamento: Posição claramente negativa; Posição com tom negativo; Posição neutra/não clara; Posição com tom positivo; e Posição claramente positiva).

Na última secção da base de dados, foram elencados um conjunto de argumentos identificados na revisão da literatura, em que se identificava se cada intervenção abordava, ou não, aquele argumento. Considerando a possibilidade de numa mesma intervenção haver referência a mais do que um argumento, estes argumentos não foram considerados como categorias mutuamente exclusivas de uma mesma variável. Os argumentos listados foram os seguintes:

1. Económico, incluindo intervenções que mencionam o desenvolvimento económico da Turquia ou a falta dele e que mencionam os gastos financeiros que a UE tem com o processo de adesão em vigor;

2. Migratório, quando o deputado rejeita e critica o facto de os milhões de cidadãos turcos passarem a ter acesso aos restantes países da UE;

3. Religioso, abrangendo as intervenções em que os deputados mencionam as diferenças religiosas entre o ocidente e o oriente, usando-as como argumento contra o processo ou, pelo contrário, quando os deputados desenvolvem o tema, rejeitando que este possa ser usado como argumento de forma pejorativa. 4. Cultural, abrangendo as intervenções em que os deputados mencionam as

diferenças culturais entre o ocidente e o oriente, usando-as como argumento contra o processo ou, pelo contrário, quando os deputados desenvolvem o tema, rejeitando que este possa ser usado como argumento de forma pejorativa. 5. Político, incluindo intervenções que mencionem as temáticas relacionadas com

os domínios da “democracia”, “estado de direito” e/ou “politico(a)(s)”

6. Direitos Fundamentais, abrangendo intervenções sobre o direito à liberdade de expressão, à liberdade política, à liberdade religiosa, à liberdade de reunião e de

associação, direito à sindicalização e direito a um julgamento justo e transparente 71

7. Direitos Humanos, é assinalado quando a intervenção menciona violações do Artigo 3.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que menciona que “Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”, do Artigo 5.º que refere que “Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.” e do Artigo 9.º, que institui que “Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.” 72

8. Curdo, quando as intervenções referem o conflito entre a Turquia e o designado Curdistão;

9. Chipre, quando as intervenções referem o conflito entre a Turquia e o Chipre; 10. Refugiados, quando as intervenções referem a crise dos refugiados e/ou o

acordo assinado entre a União Europeia e a Turquia sobre esta temática; 11. Geoestratégico, quando o deputado menciona a posição geoestratégica e/ou

geopolítica do país turco e/ou quando se refere a este como “ponte entre o ocidente e o oriente”;

12. Geográfico, quando um deputado refere que a Turquia não é um país europeu, visto que 97% do território turco pertence à Ásia ou quando, pelo contrário, defende que os 3% do território que pertence à Europa, dão-lhe a legitimidade necessária para ingressar no projeto europeu;

13. Alteração do Parlamento Europeu, quando a intervenção refere a alteração estrutural que o hemiciclo do Parlamento Europeu iria sofrer com a entrada da Turquia;

14. Dimensão do país, quando a intervenção menciona o facto de o país ser territorialmente muito grande.

71https://www.unric.org/pt/informacao-sobre-a-onu/27537 72https://dre.pt/declaracao-universal-dos-direitos-humanos

Uma vez completa a recolha de dados, estes foram analisados com recurso ao programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences). Foi realizada uma análise univariada de frequências de todas as variáveis em análise (argumentos utilizados; posicionamentos; ano da intervenção; grupo político; e país de representação). Adicionalmente, foi realizada uma análise bivariada em que as variáveis “argumentos analisados” e “posicionamentos” foram cruzadas com as variáveis “ano da intervenção”, “grupo político” e “país de representação”.

4. ANÁLISE DAS INTERVENÇÕES NO PARLAMENTO EUROPEU SOBRE A