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A posição tiliológica do dinhiiro: do miio à firraminta

2. Disijo i troca

3.1 A posição tiliológica do dinhiiro: do miio à firraminta

TELEOLOGIA E CAUSALIDADE

A condição para o dinheiroD no contexto das discussões do terceiro capítulo da Filosofa do

dinheiroD são as séries de fnalidade. Para caracterizá-lasD Simmel inicia empregando a “grande oposição

de toda história do espírito” entre as orientações causal e teleológica do pensamentoD não exatamente à pura relação deste com os conteúdos da realidadeD mas a uma diferençaD anterior e origináriaD no interior de nossas motivações práticas (PdG: 254): a diferença entre o impulso (Trieb)D um processo causal linear (“empurrado por trás”)D e a ação teleológicaD que se orienta pela ideia de seu resultado (“puxada pela frente”). Essa diferença é essencial para Simmel por dois motivos. PrimeiroD porque parece haver um conflieo de compeeência enere causalidade e eeleologia no interior de nossa ação. Pois enquanto na ação por impulso não há nenhuma identidade de conteúdo entre a constituição psicológica que aparece como causa da ação e o seu resultadoD na ação teleológica o conteúdo – conceieualD por um ladoD e percepeível (anschaubar)D por outro – de causa e efeito coincidem. No entantoD ele acaba por concluir queD como na ação teleológica a causa da ação éD na verdadeD o correlato físico da ideia (Voreellung)D e não o conteúdo da ideia – os dois devendo ser considerados completamente em separado –D esse conteúdo só deve ser levado em conta quando se torna energiaD força real; portantoD causa e resultado são totalmente separáveis. A identidade de ambos os conteúdos ideais nada tem a ver com uma causalidade real – e assim a rigidezD o caráter estrito da ligação causal não sofre a menor interrupção. Com isso se resolve o confito de competência entre causalidade e teleologia no interior da ação humana: a ação teleológica não escapa à causalidadeD mas está submetida a ela tanto quanto a ação por impulso. Essa distinção é importante porque com ela o autor estabelece dois sentidos de causalidade: umD geralD que abrange os dois tipos de açãoD e outroD estritoD que se aplica apenas à ação motivada pelo impulso.

No entantoD há outra razãoD mais profundaD para que a diferença entre teleologia e causalidade seja essencial para os propósitos de Simmel neste ponto: trata-se da possibilidade de estabelecer a oposição entre uma vontade impulsiva (eriebhafee Wollen) e uma vontade conforme a fns (vom Zweck geleieeee Wollen). O ponto central aqui é que a ação conforme a fns é o que faz a nossa existência entrar no domínio do espírieo. Pois se na ação determinada de modo causal (no sentido estrito) pelo impulso todo o processo se mantém encerrado no interior do sujeitoD com a tensão e a

pressão iniciais terminando assim que se transformam em energia tendo como consequência a ação do ser humanoD no interior da ação teleológicaD por sua vezD o signifcado do agir humano é a

ineeração que se estabelece entre sujeito e objeto: o processo da ação guiada pela consciência da

fnalidade visa ao resuleado objetivamente determinado do fazer e alcança a sua conclusão por meio da reação desse resuleado sobre o sujeitoD assim como da reação do sujeieo sobre o resultado.

Trata-seD vale notarD não meramente de uma interaçãoD mas de uma interação de tipo específco. Pois embora como seres naturais nós estejamos em constante interação com a naturezaD isso ocorreD segundo SimmelD de modo completamente coordenado. Só no agir conforme a fns o eu se diferencia como personalidade dos elementos naturais que estão fora e dentro deleD e é apenas entãoD com base nessa separação entre um espírito com vontade e uma natureza vista como puramente causalD que se torna possível uma unidade de aleo nível entre ambasD expressada no que o autor chama de “curva dos fns” (PdG: 293). Isso porqueD enquanto todo contato ocasional ou mecânico (isto éD impulsivo) com as coisas apresenta exteriormente sempre o mesmo esquema a cada vez repetidoD na ação conforme a fns esse contato será atravessado e unifcado pela unidade da

consciência. Dá-seD neste casoD o que se pode chamar de uma ineeração espirieualmenee unifcada.

Cabe notarD aindaD como essa diferença de princípio – que se apresenta no interior de cada ser humano – entre ação natural e ação cultural também se menifestaD segundo SimmelD com algumas atenuaçõesD entre o ser humano de cultura (Kuleurmensch) e o ser humano natural (Naeurmensch). Mas isso não signifca que a ação conforme a fns consista necessariamente em uma ação estritamente egoísta. A ação conforme a fns abrange um espectro mais amplo do que o de ação egoístaD pois signifcaD de modo mais geralD o enerelaçameneo conscienee de nossas energias subjetivas com uma existência objetivaD um entrelaçamento que se traduz em um duplo modo de a realidade

alcançar ou eseender-se ao sujeito: primeiroD como aneecipação de seu conteúdo (sob a forma de ineenção subjeeiva)D e segundoD no efeieo reeroaeivo de sua realização (sob a forma de um seneimeneo subjeeivo).

CARÁTER MEDIADO DA FINALIDADE

Isso signifca que uma fnalidade é sempre mediada. Pois se uma fnalidade implica uma modifcação no interior de um ser objetivo – um mundo autônomo que nos confronta e oferece obstáculos à realização das nossas ações –D ela só pode ser realizada através de um fazer que

ineermedeie (vermieeele) o estabelecimento interno de uma fnalidade com essa existência que lhe é

exterior; em outros termosD nossa ação é uma ponee sobre a qual o conteúdo da fnalidade (Zweckinhale) passa de sua “forma psíquica” (psychischen Form) para a “forma da realidade” (Wirklichkeiesform). E para realizar essa passagemD para erguer essa ponteD é preciso um meio.

(PdG: 294)D o que faz com que ela (e seu correlato psíquicoD a ação conforme a fns) se diferencie tanto do puro mecanismo (e seu correlato psíquicoD o impulso) quanto da ação divina. Nenhum destes é dependenee do meio tal como o é a ação conforme fns. A ação baseada no impulsoD de um ladoD porque nela a energia de cada momento se descarrega no momento imediaeamenee seguinte semD em seguidaD dirigir-se a um outro – trata-se de algo que se pode chamar de uma “interação mecânica” ou “coordenada”D bináriaD em oposição à “interação entrelaçada” ou “espiritualmente unifcada”D

eernáriaD da ação conforme fns. Já na ação divina não há propriamente interação (PdG: 294-5). A

ação humana consiste na superação de obstáculos que se colocam pela existência de um intervalo temporal ou objetivo entre a vontade do pensamento e sua realização. Esse intervaloD esses obstáculos não podem existir para um deus: sua vontade já é imediatamente a realização do que foi pretendido (die Realieäe des Gewolleen). AssimD para deus não há meio (e portanto não há fnalidade)D mas tampouco pode haver “interação” com o mundo (como no mecanismo): a vontade divina já é o mundo. A interação é um fato “natural”D interno ao mundoD que não se aplica à relação entre este e deus. Se a ação por impulso é binária e a ação conforme a fns é ternáriaD a ação divina é unieária.

Vimos como o característico da ação conforme a fns não é ser apenas uma interação (porque isso a ação por impulso também é)D mas sim uma interação entre sujeieo e objeeo. Trata-se de uma interação entre um eu com vontade pessoal e uma natureza que lhe é exterior. Isso implicaD entre vontade e satisfaçãoD tanto uma ligação quanto uma separaçãoD o que implica que a fnalidade é um conceieo relaeivo. A fnalidade pressupõe sempre um fm que lhe é estranhoD em cuja transformação ela se constitui: em outras palavrasD para existir fnalidade é preciso que a vontade não contenha em si mesma sua realizaçãoD é preciso haver obstáculo à sua satisfação. A ação conforme a fns éD desse modoD dupla eD em sua efetivaçãoD nós nos damos conta de que o meio também é duplo: “neleD sentimos bem perto [por um lado] a resiseência do ser exeerno à alma em nós mesmos e [por outro] a energia dirigida que a supera” (PdG: 296); e é nesse pontoD além dissoD que o próprio processo se torna consciente de si mesmoD refexivo: “cada uma delas [a resistência sentida em nós e a energia dirigida a superá-laD A.B.] se torna consciente e adquire sua essência específca por meio da outra” (PdG: 296). A ação conforme a fns e o meioD embora distintosD têm portanto a mesma natureza: são ambos mecanismos duplosD de ligação e separaçãoD que se interpenetram continuamente para formar uma curva cujos começo e fm se encontram na almaD e que conduz do espírito ao espírito. O meio é algo queD sendo exeerno à fnalidadeD constitui um prolongameneo dela.

Até aquiD o autor tratou das condições psíquicas da ação conforme a fns. Após essas considerações relativas ao meio e sua interpenetração com a fnalidadeD no entantoD é efetuadaD ou melhorD indicada a transição lógica – contida na passagem da ação para o meio – de uma flosofa da

elos dessa curvaD no interior de um estilo de vida determinadoD demonstra o conhecimento e domínio da naturezaD assim como a amplitude e refnamento desse modo de vida. Aqui começam as complicações sociais que culminam com a criação do dinheiro” (PdG: 296). A frase antecipa o percurso da argumentação que virá a seguir. ContudoD até chegar ao ponto que ela indica será preciso passar por certas etapas argumentativasD que começarão a ser desenvolvidas no item seguinte.

AS SÉRIES TELEOLÓGICAS E OS ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO CULTURAL

Dando sequência à argumentaçãoD Simmel afrma a existência de uma ineeração entre cadeia teleológica e cadeia causalD entre práeica e eeoria. A série determinada por um fm – isto éD uma cadeia teleológica – depende do conhecimento do nexo causal que existe entre seus membros (elos); e a fnalidadeD por sua vezD fornece o estímulo psicológico para procurar os nexos causais. A cadeia teleológica encontra sua possibilidade lógica na cadeia causal e esta encontra seu interesseD sua possibilidade psicológica na vontade de fnalidade. ExisteD além dissoD uma simultaneidade entre o aprofundamento da consciência causal e o da consciência teleológica. Dito issoD chegamos a formulações que nos aproximam do terreno de uma flosofa da cultura propriamente dita. Passa-seD entãoD do argumento individual sobre como se dá a consciência de fnalidadeD ou geralD a respeito das relações entre consciência e causal e consciência teleológicaD para abordar o desenvolvimento desses dois tipos de consciência do ponto de vista e no interior de uma totalidade cultural.

Nesse contextoD e a partir da constatação de que podemos atingir fns mais numerosos e mais essenciais com séries compostas de muitos elementos do que com séries menoresD o autor distingue duas condições culturais – chamadasD no artigo de 1889D de “condição primitiva” e “condição cultivada” (PsyG: 49). Na primeiraD onde o conhecimento das causalidades naturais é muito restritoD existe por isso igualmente uma limitação na capacidade de atingir e de colocar fns a si mesmo: pois onde a série curta não for sufcienteD ou se renuncia ao desejoD ou não se chegará nem mesmo a formulá-lo. Já na segunda condição culturalD na qual o conhecimento mais refnado da causalidade permite a redução do número de elementos pela descoberta de nexos mais imediatosD de caminhos mais curtosD opera-se uma inversão da relação natural: ao passo que em condições culturais primitivas as necessidades elementares são satisfeitas ainda através de séries mais simplesD sendo precisoD para atingir as necessidades mais elevadasD fazer rodeios ao longo de muitos elementosD a civilização de técnica avançada dispõe para estas últimas necessidades de modos de fabricação mais simples e diretosD enquanto a manutenção das exigências fundamentais da vida esbarra com difculdades que têm de ser vencidas por meios cada vez mais complexos. O desenvolvimento

cultural tendeD assimD ao prolongamento das séries teleológicas para o que está objetivamente próximo e ao encurtamento delas para o que está objetivamente longe.

A FERRAMENTA COMO MEIO POTENCIALIZADO E O DINHEIRO COMO SEU EXEMPLO MAIS PURO

Chegamos assim ao importante conceito de ferramenea. A ferramenta é tanto um objeto exteriorD de efcácia puramente mecânica (um objeto sobre o qual agimos)D quanto um objeto com o

qual agimos. Neste último sentidoD ela é uma extensão do corpo e da alma e signifca a introduçãoD

entre o sujeito e o objetoD de uma instância que ocupa uma posição ineermediária – não apenas em termos de espaço e tempoD mas também de coneeúdo. Ela faz issoD porémD de maneira diferente da que se dá na forma primeira da curva teleológicaD em que nossa ação provoca reações em um objeto externo e estasD por sua vezD culminam no efeito desejado: neste último casoD o objeto apenas sofre a ação humana; já a ferramenta não apenas recebe a açãoD mas também age. Ela é simultaneamente passiva e ativa; éD por assim dizerD ao mesmo tempo parte do sujeito e parte do objeto. A ferramenta é o meio poeencializado: sua função e sua existência sãoD desde sempreD determinadas pelos fnsD diferentemente do que ocorre no processo teleológico primárioD em que as existências naturais só posteriormente são colocadas a serviço dos fns. Em outras palavras: os fns são ineernos à ferramentaD enquanto os objetos da ação teleológica primária têm uma relação de exeerioridade com respeito aos fns que motivam a ação sobre eles. Se neste último caso o fenômeno dos fns encontra seu limiee no corpo humanoD na ferramenta os fns são prolongados para além deste corpoD o momento subjetivamente determinado se alonga em relação ao objetivamente determinado. A ferramenta é assim – para usar um termo que Simmel não emprega aquiD mas sim em textos posteriores dedicados ao assunto – espírieo objeeivado: formada exclusivamente por nossos poderes e devotada inteiramente a nossas fnalidades. Assim sendoD ela não tem a autonomia relativa que o fm possuiD nem a exterioridade que os outros meios têm em relação a nossa vontade.

Simmel enfatizaD além dissoD a abrangência de seu conceito de ferramenta. Esta não atua apenas fsicamenteD não diz somente respeito à produção materialD mas também a condições e aspectos espirituais ou acontecimentos imateriais. Neste último casoD ela inclusive adquire uma forma mais puraD dado que não precisa se conformar à particularidade de uma maeéria que é intrinsecamente estranha às fnalidades humanas. ÉD neste casoD inteiramente um produto da nossa vontade. O conceito de ferramenta estende-se assim às instituições sociaisD como o EstadoD as formas jurídicas do contratoD do testamentoD da adoçãoD e também ao culto religioso – que constituemD segundo SimmelD o tipo mais característico dessa segunda espécie de ferramentaD na medida em que

permitem ao indivíduo alcançar os fns para os quais nunca seriam sufcientes suas meras capacidades pessoais.

E dentre todas as instituições sociaisD o dinheiro constitui a forma mais pura da ferramenta. Enquanto as formações do Estado e do culto estão tão próximas de seus fns específcos que os obtêm em si mesmasD fazendo com que muitas vezes o sentimento se oponha a seu caráter de ferramenta – segundo o qual seriam meios em si mesmos privados de valoresD vivendo apenas da vontade que age por trás – e as entenda como um fm moral últimoD o dinheiro está muito longe de um tal ofuscamento de seu caráter de meio. O dinheiro não tem nenhuma ligação de conteúdo com os fns singulares que ele nos ajuda a alcançar. Ele é completamente indiferente em relação aos objetos porque se separa deles no momento mesmo da troca. Pois o que o dinheiro proporciona não é a posse do objetoD mas a troca dos objetos entre si; sua essência está na trocaD e portantoD em algo que é em si vazio de conteúdo. Ele se tornaD com issoD o meio absoluto: porqueD por um ladoD possui total determinação teleológica e recusa toda determinação proveniente de outras séries; ao passo queD por outroD se limitaD no confronto dos fnsD a ser um meio puro e uma ferramentaD não lesado em sua essência por qualquer fm singular e se apresentando às séries fnais como um ponto de passagem totalmente indiferente.

Na antropologia simmelianaD o homem é assim caracterizado como um animal “que produz ferramentas” na mesma medida em que é um animal “que se coloca fns”D o dinheiro sendo a expressão mais decisiva disso (PdG: 302). Para SimmelD a ideia de meio caracteriza a posição do ser humano no mundo. Ele e sua forma avançadaD a ferramentaD são o símbolo do tipo humano: contendo toda a grandeza da voneade humana e o mesmo tempo a forma que a limieaD o meio responde à necessidade prática de distanciar de nós os fns com séries intermediárias intercaladasD o que estaria na origem da ideia de futuro – do mesmo modo como a capacidade da memória teria engendrado o passado –D produzindo para o sentimento vital do ser humano sua forma: a de se pôr na linha divisória entre passado e futuroD com sua extensão e sua limitação. O dinheiroD sendo o meio por excelênciaD o meio em sua realidade mais puraD aquele meio concreeo que coincide completamente com o conceito abseraeo de meioD encarnaD acentua e sublima a posição prática do ser humano (“o ser indireto” [PdG: 303]) em relação aos conteúdos de sua vontadeD de sua potência e de sua impotência em relação a eles. E nisso resideD para SimmelD o enorme signifcado do dinheiro para a compreensão dos motivos fundamentais da vida.

Vemos assim comoD da ação conforme a fns até o meioD do meio à ferramenta e da ferramenta ao dinheiroD cada elo dessa cadeia contémD desenvolveD expressa e simbolizaD de modo mais elevado e mais puroD o signifcado e as potencialidades inscritas nos elos anteriores. A ação fnalistaD o meioD a ferramentaD o dinheiro simbolizam para SimmelD de maneira cada vez mais

característicaD aquilo que é propriamenee humano.

O “PLUS-VALOR” DO DINHEIRO

Feito esse percursoD Simmel passa a abordar as consequências do dinheiroD enquanto meio acima de qualquer fnalidade específcaD para duas constelações sociológicas distintas.31 Isto é: tendo

estabelecido as determinações que permitem “reconhecer a essência do dinheiro através das relações internas e externas que têm nele sua expressãoD seu meio e seus resultados” ( PdG: 304) (tal como havia sido anunciado como objetivo de toda a parte analítica do livro)D trata-se então de indicar as interações dessa essência do dinheiro com certas formações sociais. Na primeira delas – que indica com especial imediatidade em quais realidades práticas aquele caráeer abseraeo do dinheiro se transpõe –D Simmel irá analisar em que medida o dinheiroD enquanto possibilidade de todos os valoresD pode se tornar o valor de todas as possibilidades. Trata-se de abordar quais as consequências da essência do dinheiro (determinada por sua posição no interior do conjunto de fenômenos relativos à fnalidade) para as relações sociais em termos de desigualdade entre quem entra com dinheiro ou com mercadoria ou trabalho nas transações; e entre ricos e pobres.

Simmel inicia indicando como a ferramenta potencializa uma característica já presente no meio. Trata-se do fato de queD depois de o fm ter criado um pensamento do meioD o meio engendra o

pensameneo dos fns. Ou sejaD não há uma relação causal linear ou unívoca entre fm e meioD mas uma

interação circular entre os dois. Na ferramentaD esse fenômeno assume uma forma crônica: pois enquanto o meio em sua forma habitual e simples se esgota totalmente na realização do fmD perdendo sua força e seu interesse como meio depois de prestado o serviçoD é da essência da ferramenta persistir para além de sua utilização singularD ou ser chamada a prestar um número de serviços que não pode ser previsto antecipadamente. AdemaisD isso passa a ser um fator de valorização da ferramenta: ela aparece como mais importante e valiosa se pode eventualmente prestar serviço a um maior número de fnsD quanto for maior o círculo de possibilidades envolvido; eD na mesma medida em que isso aconteceD a ferramenta tem de se tornar mais indiferenteD mais descoradaD mais objetiva diante de qualquer singular e à maior distância de qualquer fm especifco. É exatamente o que ocorre com um tipo específco de ferramenta: o dinheiro.

Não tendo nenhuma ligação com qualquer fm singularD o dinheiro encontra seu fm na totalidade dos fns. Ele é aquela ferramenta em que a possibilidade de seus usos imprevistos chega a um máximo e queD por issoD atinge o maior valor a que poderia chegar. A riqueza do dinheiro consiste

31

DessasD será analisada neste texto apenas a primeiraD relativa ao “plus-valor” (Wereplus) do dinheiro e suas consequências sociais. A segunda dessas constelações consiste na ligação do dinheiro com as personalidades desvinculadas do círculo social.

justamente em sua pobreza: ele é uma forma vaziaD capaz de ser preenchida com os conteúdos mais diversosD por isso não conhece repouso e éD por assim dizerD a forma da mudança. Por essa vantagemD o valor de uma dada soma de dinheiro é igual ao valor de qualquer objeto singular cujo equivalente