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3 ORGANIZAÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

3.12 A PRÁTICA COMO COMPONENTE CURRICULAR

Ao considerar a identidade do profissional do magistério da educação básica proposta pelo Parecer CNE/CP Nº: 2/2015 entendemos que deverá ser garantida, ao longo do processo formativo, efetiva e concomitante relação entre teoria e prática, ambas fornecendo elementos básicos para o desenvolvimento dos conhecimentos teórico-práticos necessários à docência. Apoiando-se no Parecer CNE/CP nº 28/2001, o documento reitera o significado e definição da prática como componente curricular, conforme segue:

A prática como componente curricular é, pois, uma prática que produz algo no âmbito do ensino. Sendo a prática um trabalho consciente [...] de apoio do processo formativo, a fim de dar conta dos múltiplos modos de ser da atividade acadêmico-científica. Assim, ela deve ser planejada quando da elaboração do projeto pedagógico e seu acontecer deve se dar desde o início da duração do processo formativo e se estender ao longo de todo o seu processo. Em articulação intrínseca com o estágio supervisionado e com as atividades de trabalho acadêmico, ela concorre conjuntamente para a formação da identidade do professor como educador.

Esta correlação teoria e prática é um movimento contínuo entre saber e fazer na busca de significados na gestão, administração e resolução de situações próprias do ambiente da educação escolar.

A prática, como componente curricular, que terá necessariamente a marca dos projetos pedagógicos das instituições formadoras, ao transcender a sala de aula para o conjunto do ambiente escolar e da própria educação escolar, pode envolver uma articulação com os órgãos normativos e com os órgãos executivos dos sistemas [...].

É fundamental que haja tempo e espaço para a prática, como componente curricular, desde o início do curso e que haja uma supervisão da instituição formadora como forma de apoio até mesmo à vista de uma avaliação de qualidade. (BRASIL/MEC. PARECER CNE/CP Nº: 2/2015).

Nessa direção, como deixa claro o documento, a prática como componente curricular deve ser efetivada ao longo do processo formativo e não deve ser confundida com o estágio supervisionado. O Parecer CNE/CES nº 15/2005, citado pelo Parecer CNE/CP Nº: 2/2015 ratifica essa compreensão ao afirmar que:

[...] a prática como componente curricular é o conjunto de atividades formativas que proporcionam experiências de aplicação de conhecimentos ou de desenvolvimento de procedimentos próprios ao exercício da docência. Por meio destas atividades, são colocados em uso, no âmbito do ensino, os conhecimentos, as competências e as habilidades adquiridos nas diversas atividades formativas que compõem o currículo do curso. As atividades caracterizadas como prática como componente curricular podem ser desenvolvidas como núcleo ou como parte de disciplinas ou de outras atividades formativas. Isto inclui as disciplinas de caráter prático relacionadas à formação pedagógica, mas não aquelas relacionadas aos fundamentos técnico-científicos correspondentes a uma determinada área do conhecimento. Por sua vez, o estágio supervisionado é um conjunto de atividades de formação, realizadas sob a supervisão de docentes da instituição formadora, e acompanhado por profissionais, em que o estudante experimenta situações de efetivo exercício profissional. O estágio supervisionado tem o objetivo de consolidar e articular as competências desenvolvidas ao longo do curso por meio das demais atividades formativas, de caráter teórico ou prático. (BRASIL/MEC. PARECER CNE/CP Nº: 2/2015).

Dessa forma, os critérios de organização da matriz curricular, bem como a alocação de tempos e espaços curriculares, se expressam em eixos em torno dos quais se articulam as dimensões teórico-práticas a serem contempladas no Projeto Pedagógico do curso.

O curso de Pedagogia do Instituto Federal do Paraná (IFPR) – Campus Palmas, apoiado nos fundamentos teórico-metodológicos do materialismo histórico- dialético, compartilha o significado da unidade teoria e prática proposta por Marx sob o conceito de práxis. Para esse filósofo, práxis é um tipo de atividade prática criativa peculiar dos seres humanos, por meio da qual eles constroem seu mundo; uma categoria epistemológica que descreve a atividade prática, constitutiva do objeto, dos indivíduos humanos em seu confronto com a natureza, denominada por ele

como a “atividade prática do senso humano”; e, por fim, “práxis revolucionária”. Conforme Outhwaite & Bottomore (1996), a expressão “a unidade de teoria e prática” é o significado do conceito de práxis que parece apreender, ainda que de forma imprecisa, o seu significado especulativo.

Para Sánchez Vásquez (2001, p. 291), na concepção marxiana, “o homem real é, em unidade indissolúvel, um ser espiritual e sensível, natural e propriamente humano, teórico e prático, objetivo e subjetivo”. E continua:

O homem é, antes de tudo, práxis: isto é, define-se como um ser produtor, transformador, criador; mediante o seu trabalho, transforma a natureza externa, nela se plasma e, ao mesmo tempo, cria um mundo à sua medida, isto é, à medida de sua natureza humana. Esta objetivação do homem no mundo externo, pela qual produz um mundo de objetos úteis, corresponde à sua natureza de ser produtor, criador, que também se manifesta na arte e em outras atividades.

A partir da contribuição de Sánchez Vásquez, Saviani (2008) elabora o significado de práxis, entendendo-a como um conceito sintético que articula a teoria e a prática; assim, concebe a práxis como uma prática fundamentada teoricamente. Para Saviani (2008), o marxismo é a teoria que está empenhada em articular a teoria e a prática, unificando-a na práxis. Trata-se de um movimento prioritariamente prático, mas que se fundamenta teoricamente, se alimenta da teoria para esclarecer o sentido, para dar direção à prática. Assim, a prática tem primado sobre a teoria, na medida em que é originante. A teoria é derivada. O que significa que a prática é, ao mesmo tempo, fundamento, critério de verdade e finalidade da teoria. Para desenvolver-se e produzir suas consequências, a prática precisa da teoria e necessita ser por ela iluminada.

Em decorrência, a pedagogia histórico-crítica, com base no método dialético de construção do conhecimento, compreende a práxis docente como a mediação do processo prática-teoria-prática. Uma vez que a prática é o ponto de partida e ponto de chegada, no campo da criação do conhecimento, a práxis (teoria-prática-teoria) proveniente dela, além de transformar a realidade social, forma e transforma o próprio sujeito fazedor-pensador desta práxis.

Assim, o curso de Pedagogia, visando atender às especificidades teórico- práticas dos componentes curriculares na estrutura curricular, articuladas com os pressupostos orientadores das Diretrizes Curriculares Nacionais, prevê, em alguns componentes curriculares, um percentual de horas destinadas a atividades práticas,

que, no total do curso, são iguais a 400 horas, alocadas no interior das disciplinas, como dimensão prática.