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A PRÁTICA NO BRASIL

No documento Mente.e.cérebro.ed.290.Março.2017 (páginas 78-80)

O psicodrama foi introduzido no Brasil em 1930 por Helena Antipoff, em Belo Horizonte, por meio do trabalho com técnicas parciais psicodramáticas. Num

segundo momento, em 1949, quando o sociólogo Alberto Guerreiro Ramos

(foto) teve contato com Moreno,

coordenou no Rio de Janeiro o que se acredita ter sido o primeiro seminário sobre psicodrama no

Brasil. Em 1950, o francês Pierre Weil, formado em psicodrama por intermédio da francesa Anne

Ancelin Schutzenberger, levou oficialmente o psicodrama para o

Rio de Janeiro e depois para Minas Gerais.

Um dos primeiros grupos psicodramáticos de São Paulo foi coordenado por Íris Soares de Azevedo, que reuniu um grupo de estudos em psicodrama em meados de 1966. Posteriormente, em 1967, veio a contribuição de Jaime G. Rojas- Bermúdez, que dirigiu um psicodrama no V Congresso Latino-Americano de Psicoterapia de Grupo, ocorrido no Teatro

da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Tuca), e depois foi convidado a dirigir grupos de psicodrama e de aprendizagem na cidade de São Paulo.

Em 1968, nasceu o Grupo de Estudos de Psicodrama de São Paulo, sob sua coordenação, marcando a formação oficial dos primeiros psicodramatistas brasileiros. Foi nesse período que se iniciou o

movimento psicodramático brasileiro. A década de 70 foi repleta de

acontecimentos na área psicodramática. Em 1970, no Museu de Arte de

São Paulo (Masp), foi realizado o

V Congresso Internacional de Psicodrama e Sociodrama e I Congresso da

Comunidade Terapêutica. Em 1975, o Brasil recebeu a contribuição do

psicodramatista argentino Dalmiro Bustos, que havia passado pelo treinamento com o próprio Moreno em Beacon.

Em 1976, foi fundada a Federação Brasileira de Psicodrama (Febrap), que desde esse momento até hoje congrega todas as entidades de psicodrama do Brasil; e em 1978 foi realizado o I Congresso Brasileiro de Psicodrama.

SESSÃO DE PSICODRAMA público no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (MASP), em 2016

PARA SABER MAIS Quem sobreviverá? Fundamentos da sociometria, da psicoterapia de grupo e do sociodrama. Edição do estudante. J. L. Moreno. Daimon, 2008. Psicodrama: terapia de ação & princípios da prática (1969). J. L.

Moreno. Daimon, 2006.

O essencial de Moreno: textos sobre psicodrama, terapia de grupo e espontaneidade. J. Fox. Ágora, 2002. Psicoterapia de grupo e psicodrama. J. L. Moreno. Livro Pleno, 1999. J. L. Moreno: autobiografia. J. L. Moreno, com organização de Luiz Cushnir. Saraiva, 1997. Psicodrama. J. L. Moreno. Cultrix, 1997. As palavras do Pai. J. L.

Moreno. Editorial Psy, 1992. Lições de psicodrama: introdução ao pensamento de J. L. Moreno. C. S. Gonçalves, J. R. Wolff, W. C. de Almeida. Ágora, 1988. O teatro da espontaneidade. J. L. Moreno. Summus, 1984. Fundamentos do psicodrama. J. L. Moreno. Summus, 1983. Revista da Febrap http://www.febrap.org.br. GRUPOS EM AÇÃO

O grupo é o ponto central da teoria psico- dramática. Inicialmente, o psicodrama foi criado para acontecer em qualquer espaço e tempo. Moreno privilegiava as sessões de um só encontro com um grupo formado naque- le momento, o qual chamou de psicodrama público. No Brasil, adotamos outros nomes: ato terapêutico, ato socionômico ou sessão aberta.

O psicodrama público possibilita às pes- soas trabalhar algumas questões particulares em uma só sessão, com começo, meio e fim. Tudo se passa em um único encontro, com um grupo apenas. Evidentemente, o diretor em questão toma todos os cuidados para que a pessoa não se sinta exposta. Para isso, o contrato (definição de regras com o grupo) deve ser muito bem feito.

Já os grupos de psicoterapia psicodramá- tica processuais diferem do psicodrama em um só ato. Acontecem no consultório do psi- coterapeuta, e a quantidade de pessoas pode variar. O contrato é diferente, pois aqui se trata de um grupo fechado, ou seja, são sempre as mesmas pessoas que participam das sessões, que ocorrem em um mesmo dia e horário. Os encontros são semanais, e geralmente cada sessão tem duração de duas horas. O terapeu- ta pode incluir mais pessoas no grupo, porém todos os participantes precisam aceitar o novo membro consensualmente.

A vantagem de fazer psicoterapia grupal é a possibilidade de contar com várias vivên- cias, sejam semelhantes ou completamente diferentes. O importante é que os membros sejam cooperativos, no sentido de compro- meterem-se com a psicoterapia. Isso não significa que as relações precisem ser sempre harmônicas, já que o conflito ajuda o grupo a crescer, assim como a seus componentes. As pessoas podem trabalhar esses “entraves” naquele momento, no “aqui e agora” da psi- coterapia grupal.

Outra vantagem de fazer psicoterapia gru- pal é que todos os membros também exer- cem papéis de egos-auxiliares, interagindo com os outros na cena dramatizada. Quando alguém desempenha o papel de ego-auxiliar, também trabalha aspectos de sua vida. É muito mais rico construir uma cena com pes-

soas do que utilizar objetos intermediários, embora esse recurso também seja bastante eficaz. As pessoas dão vida aos personagens (papéis) desempenhados no psicodrama e inserem elementos privados na construção das cenas. Isso também ajuda o indivíduo a aprender a se colocar no lugar do outro, de- senvolvendo sua empatia, o tele e, claro, o autoconhecimento.

Há também os grupos autodirigidos des- tinados a profissionais psicodramatistas, nos quais os participantes são pacientes e dire- tores das sessões, sob a supervisão de um profissional que acompanha e está presente nos encontros. Trata-se de uma modalidade de grupo de terapia e, ao mesmo tempo, de treinamento.

UMA FILOSOFIA DE VIDA

Com quase um século de existência oficial, o psicodrama traz como essência alguns pon- tos centrais básicos e fundamentais para o trabalho: a visão otimista da vida, a ideia do homem, segundo Moreno, como um ser rela- cional (que vive sempre em relação consigo mesmo, com os outros e com o mundo), a concepção de que todos têm um deus dentro de si (ser criativo), a proposta de inclusão so- cial e, claro, a ação propriamente dita.

Muitas outras técnicas foram criadas a partir da base que Moreno nos deixou, vá- rios conceitos foram desenvolvidos e adap- tados para a nossa cultura, tal qual desejou seu criador. Aliás, Moreno sempre quis que as pessoas dessem continuidade à sua obra, incentivando a todos que passaram pelo seu caminho a fazê-lo.

Trabalhar com o psicodrama não é só usar uma ferramenta ou acreditar em uma teoria: é uma filosofia de vida. Ter a essência do psico- drama internalizada nos ajuda não só a atuar como profissionais psicodramatistas, mas a nos relacionar melhor com nós mesmos, com os outros e com o mundo. Torna a vida mais colorida. Acreditar que somos autores da própria vida e responsáveis por nossa his- tória nos dá potência de ser, de estar, de agir, de criar e de acontecer. Ajudar os outros, nos preocupar em incluir as diferenças, pensar no social e no humano, sentir, perceber – assim é ser psicodramatista.

No documento Mente.e.cérebro.ed.290.Março.2017 (páginas 78-80)