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Capítulo 1. O desdobramento organizacional da firma e os novos esquemas de relação interempresarial

1.4 Sobre as capacidades da firma: criação, controle e coordenação

1.4.1 A preservação e a geração de novas capacidades produtivas da firma

É precisamente a dinâmica desse processo, a geração de conhecimento, que leva também, por uma parte, ao aumento das possibilidades de preservação das capacidades contidas e, por outra, à expansão para a geração de novas capacidades. Mas este é um processo que, além dos profundos efeitos que podem percorrer da incorporação de novas bases técnico-tecnológicas, requer, pela sua parte, da incorporação de uma capacidade distintiva: a habilidade para exercer o controle e a coordenação do conjunto de ativos e das capacidades da firma, não só no “interior” da empresa, mas também no relacionamento que estabelece com outros agentes produtivos, seja desde atividades que têm a ver com a recepção de insumos e componentes, ou a entrega de produtos (componentes e bens finais), até relações que tem a ver com a transmissão de informação produtiva ou de serviços tácitos.22

Assim, o aprendizado produtivo, num sentido amplo, deve ser entendido como o mecanismo por meio do qual absorve-se e gera-se conhecimento, condição que poderia permitir, no tempo, a expectativa de oportunidades de inovação (tecnológicas e de gestão), e que é por natureza o aprendizado e a inovação, individual e coletivo, isto é organizacional e próprio à

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A inovação é um processo de caráter multidimensional que envolve: os recursos disponíveis, os incentivos e as oportunidades para inovar, e a capacidade de gerenciar o processo de inovação (individual e coletivo). Uma capacidade chave da firma é a de organizar, ou seja, comandar os conhecimentos individuais e coletivos que conformam o pool de competências. Requer, assim, que a capacidade de organizar e coordenar operações consiga integrar rotinas individuais e coletivas (onde o processo da codificação e transmissão da informação é muito

firma. “O aprendizado organizacional é por si mesmo altamente especifico à firma e, ainda que alimentado pelo processo de aprendizado de seus membros individuais, não pode ser reduzido à sua agregação. Em particular, a relação entre diferentes partes da organização, sua estrutura, tem uma função fundamental na condução e formação do processo de aprendizagem coletivo” (Marengo, 1992; p. 315). O ponto a destacar é que a assimilação e a construção de novas capacidades para a firma derivam-se desse resultado coletivo, isto é, da interação das habilidades e rotinas de seus componentes: indivíduos, grupos, áreas, departamentos, etc.

Nesta visão, sublinha-se precisamente a capacidade in natura contida nas empresas para aprender de suas atividades produtivas cotidianas e, que em grande medida, estimulada pela lógica de rentabilidade e pela disputa por espaços com outras firmas, requer também a permanente procura de novas oportunidades de acumulação, isto é, de novas fontes de conhecimento produtivo, que se encontram muitas vezes em posse de outros agentes econômicos, fora da firma. Isto qualifica as firmas, potencialmente, como unidades de aprendizagem organizacional (organizational learning). Entretanto, para que possam efetivamente lograr avanços na sua conduta competitiva, e assim aparecer como entidades que logram apropriar-se e desenvolver conhecimento produtivo, as firmas devem sobretudo dedicar esforços para lograr a efetiva conquista de vantagens exclusivas (aprendizado individual e coletivo convertido em melhoras da organização, de processos e produtos) e emergir numa real organização de aprendizagem (learning organization).23

Na distinção anterior o fator aglutinador das capacidades de cada elemento da organização centra-se na habilidade de gerenciamento e coordenação dos ativos técnico-tecnológicos, dos recursos humanos e os serviços, e do conhecimento e da informação que de ela emergem. E como foi dito, esta é uma habilidade que não se limita ao contorno imediato da empresa, mas que estende-se para fora incluindo outras unidades produtivas, além das próprias subsidiárias, principalmente fornecedores de insumos e usuários relevantes, e que se torna vital na continuidade da cadeia de valor. Razão pela qual a própria capacidade organizacional de gestão

importante) que são fonte de conhecimento e que, por sua vez, possam refletir a construção de vantagens exclusivas nessa busca pela liderança competitiva (Metcalfe e De Liso, 1996).

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Dutrenit (2001) analisa com precisão a relação distintiva entre os conceitos organizational learning e learning

organization. Destaca o papel da aprendizagem coletiva na formação de conhecimento para uma organização

produtiva, a firma (sua potencialidade para o aprendizado) mas, acima de tudo, analisa os elementos que definem as características e natureza da aprendizagem na organização, isto é, de que maneira o conhecimento imerso em cada

ou gerenciamento de uma firma, nas suas extensões e elos com outros agentes econômicos e fontes externas de capacidades produtivas, aparece também como uma “ferramenta” geradora de vantagens competitivas, perante outros rivais, e num componente da inovação.24

Nesta perspectiva, a capacidade de controle e coordenação desenvolvida pela firma, tanto das suas atividades operativas (aquelas rotineiras do dia a dia produtivo, principalmente em condições de estabilidade), quanto as relativas às operações estratégicas (as que tem a ver com a direção e controle das chamadas core ativities em ambientes dinâmicos),25 representam em si mesmas, um ativo chave para a performance competitiva da unidade produtiva: “Só se o aprendizado é deliberadamente gerenciado entre suas diferentes atividades, pode a organização ser uma organização de aprendizado (leraning organization) e de forma contínua reter suas vantagens competitivas” (Dutrenit, 2001; p. 35).

A capacidade de coordenação das empresas não se limita simplesmente à manipulação e transferência de informação, que pode ser por exemplo, a definição de códigos e procedimentos nos processos produção e distribuição, também “...inclui a coordenação de diferentes e possíveis representações em conflito do ambiente, e diferentes e possíveis divergências nos processos de aprendizagem” (Malerba, 1992; p. 316).26 A origem dessas divergências está associada à existência de estoques de conhecimento, que são diferenciados entre os indivíduos, os grupos e as áreas que constituem a firma [e os que se encontram fora da própria empresa], o que dificulta os mecanismos de coordenação e, na falta de habilidades de gestão, estar-se-ia limitando o próprio processo de formação de novas capacidades (Dutrenit, 2001; p. 44).

um dos componentes da empresa, individuais e coletivos, estão sendo direcionados para a construção do conhecimento organizacional (Dutrenit, 2001; cap. 3).

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É muito possível que, na sua origem, a posição de privilégio de uma unidade produtiva, para ter o potencial de influência e controle de uma parte ou ao longo da cadeia de valor, venha: do controle de processos técnicos (de sua superioridade tecnológica), principalmente naqueles que conseguem ser divisíveis; do domínio de produtos; ou de posições de tipo monopolista, ainda que em menor medida, no sentido clássico do controle exclusivo de recursos físicos.

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Definem-se assim as atividades consideradas vitais na definição, consolidação, desenvolvimento e expansão de uma organização empresarial no longo prazo: planejamento, design, desenvolvimento de produtos e processos,

marketing, etc. 26

O problema que se encontra na raiz organizacional, isto é, na conformação estrutural da firma e na definição de suas decisões, contém dois aspectos: o primeiro, de caráter cognitivo, formar a capacidade organizacional para entender as alterações do ambiente, e o segundo, de coordenação, construir a capacidade organizacional para controlar e conduzir as partes que compõem a organização produtiva (Malerba, 1992; p. 317).