• Nenhum resultado encontrado

*Processo em Hong Kong e Taiwan Fonte: Hobday (2000)

Os elementos de complexidade e dinamismo, presentes nos vários estágios que compõem a cadeia produtiva da eletrônica e da computação, explicam a contínua procura das empresas por ajustar suas estratégias competitivas, por uma parte, combinando a obtenção de vantagens de escala de produção com o desenvolvimento de produtos diferenciados, e por outra parte, determinando que atividades concentrar in house e que

característica de maior padronização, em que é importante reduzir custos e gerar volume, têm sido desverticalizados vis à vis processos e produtos que precisam de maiores economias de aprendizado, menor padronização e que representam atividades básicas para as firmas. Neste últimos a tendência sera ter um maior controle e uma menor externalização de etapas. Os espaços da manufatura são os que em maior medida têm sido sujeitos a ser colocados em firmas externas outsourcing, ainda que cada vez mais algumas funções de

design sejam efetuadas por fornecedores especializados.

A posição das empresas atuando nos distintos momentos da cadeia requer a conjugação de mecanismos de construção de capacidades e de rivalidade associados à procura de economias de escala, redução de custos e vantagens na diferenciação de seus produtos. O outro elemento que acompanha estes processos organizacionais e competitivos é sua dimensão internacional. A tendência atual como já foi mencionado, é de formas organizacionais que diferem dos esquemas offshore tradicionais, de localização a partir de extensões sob controle direto e de propriedade das empresas, para estruturas onde, além de procurar áreas de custos atrativos ou penetrar mercados protegidos, buscam maior flexibilidade operacional, obter capacidades externas especializadas e penetrar em mercados emergentes, mas o relacionamento interempresarial dá-se com firmas independentes (Ernst, 1997; OECD, 1992; Levy e Dunning, 1993).

A última lógica de internacionalização organizacional teria para as firmas melhores resultados, segundo Ernst (1997), no sentido de poder aproveitar todos os possíveis benefícios da especialização internacional: menor centralização, maior flexibilidade na coordenação, mais efetivas interações, e sobretudo transmissão compartilhada entre os nós da cadeia (two ways).88 Esta distinção pressupõe que a inter-relação entre os distintos momentos da produção globalizada leva implicitamente à existência de canais livres de transmissão de informação entre as etapas da produção globalizada da cadeia, embora esta seja uma característica que não se dá de maneira automática. Como tem sido sublinhado,

88

Para este autor uma firma só será competitiva se deixar de operar internacionalmente simplesmente procurando plataformas de exportação (formas que chama de globalização parcial), pois estariam ausentes importantes interações entre as funções produtivas e as localidades, assim como problemas de coordenação e transferência importante de informação. Desta forma teriam que se mover para esquemas de redes de firmas, ampliando operações e mecanismos de relacionamento inter-empresas (em dois sentidos), potencializando a internalização de capacidades e melhorando o aproveitamento de custos (globalização sistêmica). A primeira lógica seria entendida como simples mecanismos rent-seeking, a segunda envolveria troca de informação, colaboração entre as partes da cadeia.

depende das funções realizadas em cada segmento, do tipo de produto que é fornecido externamente, seu conteúdo estratégico e do tipo de articulação estabelecida entre os fornecedores e usuários, desenhada pelas firmas controladoras. Globalização parcial (práticas offshore centralizadas) ou sistêmica (que procura a obtenção de outras vantagens, não só de custos, e relações descentralizadas entre fornecedores e usuários independentes), tem a ver mais com estratégias de dispersão, avaliação de oportunidades, existência de

supply base nas localidades, a logística de atribuições produtivas outorgadas a fornecedores

e o tipo de coordenação imposta pelas empresas que comandam a lógica da cadeia e não com o grau de liberdade nos fluxos de informação que se supõe existiria numa estrutura

outsourcing global. Ou seja, formas de externalização produtiva tipicamente offshore ou em

esquemas de maior interdependência empresarial usuário-fornecedor podem conter, em cada caso, diversos graus de circulação efetiva de informação e colaboração na troca da mesma, em função da etapa e do tipo de partes e componentes gerados.89

2.5.2 Os movimentos na base de fornecimento da cadeia da eletrônica e da computação

Na reestruturação da eletrônica dos últimos anos, nessa des-composição das etapas da cadeia de maneira externalizada, onde se integram unidades independentes e onde o comando central é feito pelos produtores finais brand name, numa lógica de dispersão global, foi-se gestando a formação de fornecedores especializados centrados principalmente em atividades de manufatura, montagem e sub montagem, os quais foram obtendo um peso muito importante no fornecimento de partes e componentes ativos. Esse é um perfil estratégico que tem sido conduzido principalmente por firmas de origem estadunidense, e que por sua eficiência funcional e competitiva começa a ser adotado por firmas japonesas e européias. No mesmo sentido, esta prática organizacional entre as firmas da eletrônica e da computação encontra-se em expansão. Estima-se que a porcentagem de manufatura

outsourcing nestas indústrias, feita por firmas que oferecem os serviços de manufatura

eletrônica, poderia ser de 70% em 2004 (Bearn Stearns, 2002).90

89

Também deve-se considerar que a possível transmissão de informação não tem que ver necessariamente com os níveis de centralização ou descentralização no controle da cadeia, isto é, maior descentralização não leva a que exista uma maior transferência de informação produtiva desde o usuário ao fornecedor.

A contínua expansão das empresas americanas desde os anos oitenta apresenta uma combinação de controle de core ativities em filiais ou em seus centros de origem, e de relações de fornecimento com unidades externas e independentes, principalmente nas atividades de manufatura, montagem e sub montagem, que não requerem um controle dos ativos e ligados a funções de menor conteúdo tecnológico (Sturgeon, 2002). “Os produtores e Brand Names demandantes de componentes não têm a intenção de investir nas suas próprias filiais de produção. Em seu lugar, eles estão focalizando o licenciamento, as franquias e outros tipos de acordos de contratos de manufatura que estão permitindo o crescimento das agora famosas OEM contracts (original equipment manufactured)” (Ernst, 1997; p. 26), o que representa um dos selos da nova era de globalização produtiva.

Em geral as empresas do setor da computação, cujo comando está exercido desde a etapa final na geração de PCs, vêm consolidando as posições chave da cadeia produtiva (Figura 2.1), na sua fase inicial (Etapa I) e na sua fase final (Etapa III e IV), isto é, mantendo in-house, de maneira mais centralizada, as etapas que lhe conferem o fortalecimento das core competences.

A principal tendência desde a segunda metade dos anos oitenta tem sido combinar vários níveis nas estratégias competitivas. De um lado, deixar outsourcing a unidades independentes (OEMs, ODMs e em geral a firmas que ofereçam serviços de manufatura eletrônica, EMSs), notadamente manufatura, montagem e sub-montagem, às vezes incluindo montagem final, em componentes de diferentes complexidades (desde baixo valor até componentes complexos -Etapa IIb) e cada vez mais em atividades de design de componentes (Etapa IIa). De outro lado, procurar localidades atrativas em termos da base de fornecimento existente (supply base), para aproveitar capacidades seja em custos baixos ou em áreas que oferecem ativos físicos e de conhecimento especializado (áreas com habilidades em processos de engenharia, ou a existência de fornecedores de componentes nessas localidades), e mercados finais relevantes. O movimento de realizar outsourcing, concentrado no momento de manufatura, montagem e sub montagem de componentes ativos foi fortalecendo um grupo de firmas que concentraram suas funções na produção, incluindo montagem ou sub montagem, as empresas OEMs e ODMs, que foram ampliando suas capacidades de manufatura, gerando escala e menores custos, e permitindo maior flexibilidade organizacional dos usuários finais (os produtores de PCs). Recentemente essas

firmas têm ampliado sua presença em dois sentidos: expandindo suas funções de engenharia de produto e montagem final (para o ponto c) e envolvendo-se cada vez mais em atividades de design (ponto b). Tendem por tanto a um melhor posicionamento em funções de manufatura, com maior conteúdo de valor agregado e assumindo o segmento de manufatura da cadeia produtiva. Da mesma forma, estes fornecedores para manter vantagens em volume e custos procuram fornecedores especializados em termos de localização espacial. Isto está diretamente determinado pelo grau de complexidade/padronização dos produtos, seu caráter estratégico (conteúdo em valor agregado e conhecimento incorporado) e pelas condições supply base nas localidades. Na cadeia da computação as empresas brand names mostram uma amplaa distribuição espacial dos segmentos de marketing (III) e serviços (IV), que demonstra a continua procura de penetração em novos mercados, canais de distribuição e o suporte direto aos clientes finais.

As atividades de manufatura (IIb) mostram uma importante e até rápida dispersão em funções de montagem e sub montagem de baixo valor e altamente padronizados. Entretanto, existem etapas em que a dispersão é um pouco menor, como na manufatura de produtos mais complexos que requerem habilidades em engenharia de suporte (adaptação de tecnologia, laboratórios de teste) assim como design, atividades que ficam cada vez mais como outsourcing nas mãos das firmas OEMs e ODMs. Estes têm que responder em termos de volume, qualidade, entrega e controle de estoques, e localizar-se próximos das unidades de montagem final (ainda controladas pelas brand names ou OEMs). Desta forma os fornecedores, por sua vez precisam adotar estratégias de competência global (volume e

design), pois o movimento característico tem sido instalar-se nas mesmas áreas dos

usuários diretos. Os centros de planejamento, desenvolvimento de produtos e processos (I e

IIa) são as funções da cadeia que se mantém geralmente in house e muito pouco dispersas

Figura 2.1