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A Previsão constitucional para a proteção ao idoso dependente

III – PROTEÇÃO SOCIAL E O IDOSO NO BRASIL

3.4 Proteção da Dependência no Brasil

3.4.1 A Previsão constitucional para a proteção ao idoso dependente

A Constituição Federal de 1988 prevê em diversos de seus dispositivos proteção social ao idoso. No entanto, conforme discorremos anteriormente, no item 3.1, não há previsão específica para o idoso em situação de dependência.

Ocorre que, podemos aferir do texto constitucional, a intenção do legislador constituinte, de proteger amplamente o cidadão, nas situações de necessidade. Dentre as quais, podemos afirmar com segurança, a necessidade de apoio e ou auxílio para a execução das atividades diárias, conforme depreenderemos da leitura do artigo 230, § 1, do texto constitucional.

Cabe-nos, desse modo, acercarmo-nos da aplicabilidade da norma constitucional referente ao idoso e, ainda, se, dentre as normas existentes, há alguma que possa servir de proteção ao idoso em situação de dependência.

Os dispositivos constitucionais que protegem o idoso são, basicamente, os seguintes: artigo 229 que determina como dever dos filhos o amparo aos pais na velhice, o artigo 230, § 1, prevendo que a assistência prestada ao idoso deve ser feita preferencialmente no lar, o artigo 201, I e § 7, II, que prevê a cobertura previdenciária para o cidadão de idade avançada, por meio da aposentadoria por idade e, finalmente, o artigo 203, V, que garante a proteção ao idoso que não possua condições de prover a própria subsistência.

Em regra, todo preceito constitucional é lotado de eficácia plena, isto é, quando nasce, surge no mundo jurídico-constitucional para ter o máximo de eficácia e para produzir a plenitude de seus efeitos.

Em termos de eficácia jurídica dos dispositivos constitucionais que versam sobre a proteção ao idoso, haveremos de seguir os ensinamentos de Paulo Roberto de Figueiredo Dantas que diz: Cuida a eficácia jurídica tão somente da potencialidade da norma de produzir os efeitos desejados pelo legislador constituinte (DANTAS, 2009).

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Já, quanto à eficácia social dos dispositivos constitucionais, falamos em relação à efetividade das mesmas, isto é, da aplicação concreta e, portanto, efetiva, da norma. Segundo Luiz Alberto David Araújo e Vidal Serrano Nunes Junior, a efetividade designa o fenômeno da concreta observância da norma no meio social que pretende regular.

Assim, resta-nos verificar se, nos dispositivos constitucionais acerca da proteção social ao idoso, há a previsão da necessidade de elaboração de ato infraconstitucional para a sua eficácia, o que delimitaria a eficácia dos mesmos.

Rui Barbosa seguindo a tradição clássica dos constitucionalistas norte- americanos, distingue as normas constitucionais em auto-executáveis e não auto- executáveis.

As normas auto-executáveis, como o próprio nome o diz, são aquelas normas de aplicação e eficácia imediata e que, portanto, não necessitam de nenhum ato infraconstitucional para obterem os efeitos desejados pelo constituinte. Como exemplo de normas auto-executáveis é possível deter-se no artigo 5 da CF, vez que, expressamente restou determinado no § 1 do mesmo artigo, essa condição.

Por sua vez, as normas não auto-executáveis, são aquelas que dependem de atos infraconstitucionais para que produzam os efeitos por ela pretendidos. São as normas programáticas, como aquelas previstas no Título VIII, Da Ordem Social que, dependem da implantação de políticas públicas para a concretização dos fins sociais do Estado.

Embora, cumpra ressaltar o tempo hábil havido, desde a promulgação do texto constitucional em 1988, para que, os legisladores pudessem acercar-se de cumprirem a vontade do constituinte, elaborando as leis e demais atos normativos necessários a plena eficácia constitucional.

Ainda na década de 60, José Afonso da Silva, aprofundando os ensinamentos de Vesio Crisafulli e Meireles Teixeira, publica o livro Aplicabilidade das normas

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constitucionais, em que classifica as normas constitucionais, quanto à sua eficácia e aplicabilidade, da seguinte forma:

a) normas de eficácia plena e aplicabilidade imediata: aquelas que têm aplicabilidade direta à realidade concreta, imediata e integral, vez que independem da produção de ato normativo infraconstitucional;

b) normas de eficácia contida e aplicabilidade imediata: as normas constitucionais que têm aplicabilidade direta, imediata e, possivelmente não integral, pois dependem da elaboração normativa que as complemente e, nesse sentido, são passíveis de restrição;

c) normas de eficácia limitada ou reduzida: aquelas que têm aplicabilidade indireta, mediata e reduzida, como as normas declaratórias de princípios institutivos e as normas declaratórias de princípios programáticos.

Pelo que se pode depreender da classificação das normas constitucionais quanto à efetividade e aplicabilidade das mesmas, podemos aferir que, a proteção ao idoso está afeita às normas de eficácia limitada, vez que, dependem do legislador para se realizarem. Isto é, dependem que sejam elaboradas normas infraconstitucionais capazes de dar forma ao desejo do constituinte de proteger ao idoso em situação de dependência.

No entanto, segundo Luis Roberto Barroso, as normas constitucionais de eficácia limitada geram efeitos no mundo jurídico, conforme se observa do texto a seguir transcrito:

ao contrário do que ocorria com as ditas não autoaplicáveis, não são completamente desprovidas de normatividade. Pelo contrário, são capazes de surtir uma série de efeitos, revogando as normas infraconstitucionais anteriores com elas incompatíveis, constituindo parâmetro para a declaração da inconstitucionalidade por ação e por omissão, e fornecendo conteúdo material para a interpretação das demais normas que compõem o sistema constitucional. (BARROSO, 2011, p.237)

Ademais, decorridos 26 anos da promulgação da Constituição Federal brasileira, entendemos ter havido tempo hábil desde a promulgação do texto

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constitucional em 1988, para que, os legisladores pudessem acercar-se de cumprirem a vontade do constituinte, elaborando as leis e demais atos normativos necessários a plena eficácia constitucional.

E, ainda, que não haja legislação específica que proteja o idoso em situação de dependência, é possível depreender do texto constitucional a proteção desejada ao idoso, inclusive quando em situação de dependência. E, isto, porque, a dependência, é situação em que muitos dos idosos se encontrarão, em menor ou maior grau.

Nesse sentido, podemos pensar nas possíveis ações a serem perseguidas pela sociedade brasileira, no tocante à efetividade da proteção social pretendida pelo legislador constituinte ao idoso. Seria a Ação Declaratória de Inconstitucionalidade por omissão e o Mandado de Injunção, as ações capazes de enfrentar a questão social posta. Ainda, que essa seja medida, mais uma vez, delegue ao Poder Judiciário, o condão de efetivar a Constituição Federal de 88.