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Uma proposta de proteção social ao idoso dependente para o Brasil

III – PROTEÇÃO SOCIAL E O IDOSO NO BRASIL

3.4 Proteção da Dependência no Brasil

3.4.2 Uma proposta de proteção social ao idoso dependente para o Brasil

Uma proposta de proteção social ao idoso dependente para o Brasil, perpassa pela questão da competência para a realização do intento de atenção ao cidadão idoso que esteja vulnerável e, por isso, não possua condições de executar as atividades diárias.

Pelos estudos que realizamos, entendemos que, o mais adequado, seja agregar referida proteção dentro do arcabouço da Seguridade Social, isto é, da Previdência e Assistência Social e Saúde.

Sendo que, a Previdência agregaria valor no pagamento de prestações pecuniárias aos trabalhadores e seus dependentes que tenham contribuído para o Sistema previdenciário, por meio da concessão da aposentadoria por idade e do

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acréscimo de pagamento denominado Grande invalidez, conforme analisamos no item 3.2.2.

À Saúde, caberia importante missão relativa ao auxílio que o idoso dependente necessita, vez que, caberia ao Sistema Único de Saúde, todo o levantamento, atendimento e acompanhamento dos idosos dependentes.

À Assistência Social caberia, ao final, a consecução dos serviços de ordem assistencial, isto é, os serviços que sejam necessários ao idoso dependente e que, não estejam atrelados ou adstritos à área da saúde, como o serviço prestado por assistente social, por exemplo, além, das prestações pecuniárias pagas aos idosos que não possuam condições de, sozinhos, proverem à própria subsistência.

A Assistência Social, ainda, seria o pilar da Seguridade Social, incumbido de fornecer e supervisionar o trabalho dos cuidadores de idosos. Assim, teríamos duas categorias de cuidadores, a dos cuidadores estatais e, a dos cuidadores particulares, formados e supervisionados pelo Estado.

Essa inclusão protetiva não dependeria de Emenda constitucional para ser agregada aos serviços da Seguridade Social, embora, como norma de eficácia limitada, podemos afirmar que necessitaria de normatização infraconstitcional para se concretizar.

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CONCLUSÃO

A longevidade traz consigo a questão da dependência e, o Brasil não tem um sistema de proteção social específico para essa nova demanda. O Estatuto do Idoso prevê que ao idoso é preciso oferecer total atenção, porém não estabelece em seu texto, mecanismos específicos para isso.

Ainda, haveremos de considerar as mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas, sendo que era atribuição da família, mais especificamente das mulheres, a função de cuidar dos idosos dependentes. Dessa forma, o Estado só intervinha no caso de abandono desses incapazes, normalmente, por meio da institucionalização.

Hodiernamente, a realidade social é outra, a cultura não é mais a mesma, cabendo, por um lado, à sociedade a necessidade de repensar a atuação das famílias no processo de envelhecimento e, por outro lado, ao Estado suprir essa lacuna, tomando providências no sentido de não institucionalizar o idoso e, de instrumentalizar as famílias com o conhecimento para cuidar deles, bem como de fornecer atendimento domiciliar a cada um dos dependentes idosos de seu território.

O Estado brasileiro tem avançado no sentido do atendimento ao idoso. Podemos citar o Sistema Único de Saúde (SUS), como exemplo, vez que, oferece o maior atendimento público de saúde do mundo, chegando a 80% da população brasileira e, por consequência, atendendo a um grande número de idosos.

Dentro do pilar da Saúde há o investimento, ainda que incipiente, em formação de cuidadores de idosos, conforme mencionado no item 3.1.1, o que demonstra o início de previsão legal, direcionada ao idoso dependente.

Há, ainda, a assistência social que atende a uma quantidade expressiva da população por meio dos seus programas, como o bolsa-família e o próprio Benefício de Prestação Continuada, prevista na Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). Sendo que, também é direcionada aos idosos.

Por sua vez, a Previdência Social que, atende aos trabalhadores brasileiros, nas situações de necessidade, apresenta importante ponto de contato com as

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necessidades presentes nos idosos dependentes. Trata-se de item bastante discutido, no subitem 3.2.2 acima, qual seja: a Grande Invalidez, prevista no art. 45, da Lei 8213/91.

O artigo da lei restringe o beneficio assistencial da Grande Invalidez àqueles aposentados por invalidez. A doutrina e a jurisprudência já elevam essa discussão para outro patamar: o da concretização dos objetivos maiores da Constituição Federal, que é levar o direito a seu alcance máximo, sem esquecer-se de ninguém.

No caso em questão, seria a observância primeira do principio da universalidade e o da igualdade, que faria com que, salte à evidência que a parte mais importante da norma constitui-se da expressão nuclear “segurado que necessitar da assistência permanente de outra pessoa”, sendo irrelevante a espécie de prestação de que era beneficiário.

Desse modo, o elemento determinante para a concessão do adicional, seria, portanto, a situação fática, isto é, – dependência de auxílio permanente de terceiros – e, não a natureza do benefício previdenciário que o segurado originalmente percebia. Não resta dúvidas que, ainda que se parta dessa importante sinalização de proteção ao dependente idoso, para atender aos objetivos desse trabalho e, mais ainda, da efetivação de proteção ao idoso dependente, será necessário que a sociedade, o Estado e os operadores do direito, debrucem-se sobre outras inúmeras questões. Porém, referido dispositivo e seus desdobramentos lançam luz sobre uma realidade social cada vez mais presente.

Contudo, além do já exposto, não há, dentro do ordenamento jurídico brasileiro, nos moldes espanhóis, uma lei que unifique e trate o assunto, direcionando as ações governamentais em todos os níveis da Federação. Não há, nem mesmo dentro da política social brasileira, um trabalho direcionado ao idoso dependente. Nem tampouco estudos sistematizados sobre a dependência do idoso em nosso país, de forma que não sabemos o contingente de necessidade existente em solo pátrio.

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Em vista disso, torna-se necessário fazer um diagnóstico preciso e, de certo modo, exaustivo, da situação dos idosos brasileiros em situação de dependência, permitindo a propositura de um atendimento integral.

A Espanha exemplificou a necessidade não só de medidas protetivas a esse contingente populacional, mas, e, sobretudo, a necessidade de conhecê-los profundamente, para reconhecer a dependência como realidade passível de proteção, conforme pode se verificar no capítulo II. Antes de implementar os serviços destinados aos dependentes e, até mesmo, anterior à promulgação da lei de proteção do cidadão em situação de dependência, exauriu o assunto, com estudos que culminaram na publicação do Libro Blanco, que traz em si uma radiografia do dependente espanhol, bem como conceitos e diretrizes firmes para a implantação dessa proteção social.

Definir o que seja a dependência, quais seus níveis e quais medidas são necessárias para lidar com essa realidade, é de suma importância para que se possa passar a um outro momento da discussão: que é definir quais são os custos envolvidos e, mais, de onde virá a receita capaz de suportar esses serviços.

Não se pode pensar em uma necessidade, ainda que vital, sem a necessária e correlata fonte de custeio. Isso se deve por um impositivo constitucional e, também, por uma questão de responsabilidade, já que o envelhecimento populacional não tende a se estancar, mas sim, uma realidade crescente em nível mundial. O Estado, não é fonte inesgotável de recursos. Ao contrário, os recursos estatais, provenientes da sociedade, são finitos.

Dessa maneira, é necessário submeter a realidade do envelhecimento populacional e, a consequência correlata da maior longevidade, que leva à dependência do idoso, na pauta de discussões da atualidade. E, isso, se deve, para que simplesmente não haja a transferência para o Estado, de toda a responsabilidade pelos idosos dependentes, já que, essa função, pertence a todos.

Pelos estudos realizados, verificamos que é possível atender aos idosos em condição de dependência, dentro do sistema de seguridade social, isto é, dentro da saúde, previdência e assistência social, sem que seja necessário promover mudanças

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no desenho constitucional, o que acarretaria maior espera na concretização dessa proteção social.

E isso, se deve ao fato de que, apesar de o sistema de seguridade social apresentar certa complexidade em sua dinâmica e operacionalização, é um sistema de ampla proteção social. Necessita de ajustes e avanços para uma melhor entrega dos serviços atinentes à cada facie da seguridade, porém, apresenta uma inteligência singular quando em sua espinha dorsal prevê a proteção a todo aquele que dela necessitar.

Os idosos que vivenciam a necessidade de auxílio para a execução das atividades rotineiras, são os seres que deram à vida a cada um de nós. Não se trata apenas de discutirmos números, mas, sim, de viabilizarmos vida digna à essas pessoas que já cuidaram e hoje, necessitam de cuidados.

As famílias não estão em condições de prover esses cuidados. O princípio da solidariedade que permeia basicamente toda a constituição e, stricto sensu, a seguridade social, precisa estender esse dever, a todos, para que um dia, todos possam ser protegidos nas suas necessidades.

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