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PARTE I PERCURSO TEÓRICO

1. CONTEXTUALIZAÇÃO TEMÁTICA

3.1 A PROBLEMÁTICA DO GÊNERO DISCURSIVO

Neste trabalho, nosso objetivo principal não é categorizar, especificar, mensurar ou etiquetar os gêneros discursivos estudados, mas antes, reconhecer o funcionamento e o cenário de composição desses gêneros e especialmente sua inter-relação, a fim de compreendermos os discursos informativos veiculados em revistas de informação semanais brasileiras. Por isso, considerando a amplidão da questão dos gêneros discursivos, neste capítulo trataremos da problemática dos gêneros abordando apenas algumas concepções que julgamos necessárias a compreensão de nosso objeto de estudo.

A problemática dos gêneros discursivos é uma questão bastante discutida por diversas abordagens teóricas da linguagem e nem por isso esgotada. Muitos são os estudiosos que buscam a compreensão dos gêneros, podemos citar em conformidade com Meurer, Bonini, Motta-Roth (2007): Kress e Fairclough que utilizam bases da teoria sistêmica, da teoria textual e da análise crítica do discurso. Swuales e Miller que retomam a retórica de Perelman & Olbrechts-Tyteca, a teoria textual e a etnografia do discurso, e ainda, os estudiosos que se pautam em teorias sócio-discursivas tais como Bakhtin, Bronckart e Maingueneau.

Muitas são as propostas de compreensão da problemática dos gêneros discursivos, contudo ainda podemos perceber muitas lacunas. Uma das lacunas é a dificuldade de um alinhamento terminológico, uma vez que as várias abordagens teóricas que se dão aos estudos dos gêneros apresentam uma variedade de termos que nem sempre se equivalem. Bronckart (2003), por exemplo, propõe em sua teoria uma distinção entre gênero e tipo textual, que muitas vezes não encontra apoio em outras teorias, que não reconhecem tal diferenciação. A própria denominação gênero textual ou gênero discursivo ainda parece em aberto. Algumas perspectivas tratam do gênero textual, outras do gênero discursivo. Segundo Rojo (2007, p185), ambas as perspectivas baseiam-se em diferentes releituras da herança Bakhtiniana, sendo que a perspectiva discursiva centra-se, sobretudo, no estudo das situações de produção dos enunciados ou textos e em seus aspectos sócio-histórico, enquanto a perspectiva textual centra-se na materialidade textual.

Bakhtin (1992, 2000) propõe que não é a forma que define o gênero, embora os gêneros mais estabilizados possam ser reconhecidos por sua dimensão linguístico-textual. Os gêneros discursivos são tipos relativamente estáveis de enunciados ou formas relativamente estáveis e normativas do enunciado. Assim, vistos a partir de sua historicidade, os gêneros discursivos são enunciados cuja natureza social, discursiva e dialógica não pode ser negada. Além disso, somente em situação de interação que se pode apreender a constituição e o funcionamento dos gêneros.

Outro tópico recorrente nas discussões sobre os gêneros é a questão do hibridismo, das transmutações, da intercalação, enfim, da dinâmica que reveste os gêneros discursivos no processo de formação. Bakhtin (2000, p.285), ao distinguir os gêneros do discurso em primários e secundários, já sinalizava para essas questões de formação genérica. Segundo esse autor, os gêneros primários se constituem em circunstâncias de uma comunicação verbal espontânea e podem ser absorvidos e transmutados pelos gêneros secundários, que aparecem em circunstâncias de uma comunicação cultural mais complexa, como o romance, o teatro, o discurso científico etc. Considera também que muitos gêneros nascem do hibridismo de outros gêneros, primários ou não, uma vez que os gêneros secundários também podem apresentar diferentes formas de interação cotidiana a partir da incorporação dos gêneros

primários. E ainda fala do processo de intercalação de gêneros que pode ser observado quando há a inserção de um gênero em outro. Para Marcuschi (2005), os gêneros chamados de híbridos não são propriamente novos, devido à sua ancoragem em gêneros já existentes.

Maingueneau (2008) observa que não é objetivo da Análise do Discurso enumerar empiricamente tipos de discurso ou elaborar tipologias. Para ele interessa mais a possibilidade que os gêneros abrem de definir uma identidade enunciativa que pode ser historicamente circunscrita em um espaço determinado. Esse espaço é definido por Maingueneau como arquivo, capaz de associar diversos enunciados que marcam um mesmo posicionamento em um campo discursivo. Para Maingueneau (2008, p.21), “os discursos não se constituem independentemente uns dos outros, para serem, em seguida, postos em relação, mas que eles se formam de maneira regulada no interior do interdiscurso”.

Os estudos desenvolvidos por Bakhtin, Maingueneau, Marcuschi e tantos outros tornam possível irmos avante e reconhecermos a dinâmica própria dos gêneros discursivos. Se compreendemos a linguagem como um fenômeno social, histórico e ideológico, é lícito acreditar que os gêneros discursivos compostos de linguagem e em função dela tendem a aceitar uma maleabilidade e um dinamismo próprio de sua intencionalidade, de seu uso e do contexto histórico, social, econômico e político no qual estão inseridos. Além disso, temos de considerar que muitas vezes é o suporte ou o ambiente em que os discursos se apresentam que irão determinar o gênero discursivo. Logo, poderíamos dizer que o avanço tecnológico tem influenciado e proporcionado o surgimento de novas formas de comunicação e de novos gêneros discursivos. No entanto, é prudente pensarmos nas palavras de Marcuschi (2005), que sugere cautela quanto a considerar o predomínio de formas ou funções para determinação e identificação de um gênero, pois, para ele “não são propriamente as tecnologias per se que originaram os gêneros e sim a intensidade dos usos dessas tecnologias e suas interferências nas atividades comunicativas diárias”.

De todo modo, consideramos que o uso das tecnologias e a necessidade de adaptação às novas realidades, especialmente ao mundo digital e global, são fatores importantes para o processo de formação discursiva, sinalizando para o surgimento de novos gêneros e/ou adaptações dos

já existentes, não só pela fertilidade dos espaços discursivos, mas também pela pluralidade de possibilidades dialógicas. Um exemplo dessa adaptação são os discursos veiculados nas revistas e jornais digitais que, muitas vezes, possuem o mesmo conteúdo das revistas e jornais impressos, mas têm se constituído com um formato bastante próprio e são cada dia mais interativos.

Na perspectiva Semiolinguística, à qual nos filiamos, os gêneros se constituem e são reconhecidos pelos sujeitos a partir das dimensões contratuais que passam pelo domínio de comunicação, pelo subcontrato e pelos gêneros situacionais. O domínio de comunicação se constitui na organização das práticas de linguagem em setores, como por exemplo, o midiático, o político, o acadêmico etc. O subcontrato é um recorte do domínio de comunicação constituído de elementos particulares que o diferenciariam de outros subcontratos. E os gêneros situacionais se constituem de regras do nível situacional, do nível linguístico-discursivo e por estratégias de individualização que garantem as diferenciações entre as situações. Como entende Emediato (2003), antes de ser um tipo textual, o gênero configura-se como um tipo situacional. Em uma análise discursiva, a situação de comunicação na qual os textos são produzidos (identidade dos parceiros, a finalidade, os níveis de tematização e o dispositivo físico e material envolvidos) constitui o primeiro parâmetro a ser definido. Em seguida, deve-se buscar compreender suas configurações a partir das regularidades linguísticas e discursivas.

Diante desses posicionamentos, conforme a perspectiva Semiolinguística, notamos que nosso estudo se insere no domínio de comunicação midiático, dentro do qual destacamos os subcontratos da mídia de informação de revistas semanais, e os gêneros situacionais implicados são o informativo, o propagandístico e o publicitário.