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PARTE I PERCURSO TEÓRICO

1. CONTEXTUALIZAÇÃO TEMÁTICA

1.2 INFORMAÇÃO E MÍDIA – NOSSO OLHAR

Sem desconsiderar nenhuma área do saber que de alguma forma lida com a informação, e acreditando na possibilidade de diálogo entre os saberes, em nosso trabalho, tomamos as concepções de Charaudeau (2007) sobre informação, comunicação e mídia, para entender o discurso informativo, seus mecanismos de construção, a natureza do saber que lhe é inerente e os possíveis efeitos que buscam produzir no sujeito interlocutor. Desse ponto de vista, informação e comunicação são noções que remetem a fenômenos sociais; enquanto as mídias são um suporte organizacional que se apossa dessas noções para integrá-las em suas lógicas – econômica, tecnológica e simbólica. A lógica econômica faz viver a empresa de informação. A lógica tecnológica colabora para a qualidade dos meios e a quantidade da difusão de informação. E a lógica simbólica serve à democracia cidadã. Segundo Charaudeau (2007, p.17), é necessário olhar além da lógica econômica e tecnológica, para se descrever os mecanismos simbólicos que podem manifestar “(...) a maneira como os indivíduos, seres coletivos, regulam o sentido social ao construir sistemas de valores”.

Para Charaudeau (2006, p.36-38) a informação é pura enunciação, e sendo assim não existe fora do humano. Charaudeau problematiza a informação como ato de comunicação e diz que é necessário questionar a validade da instância de produção de informação como valor de verdade, assim como a seleção da informação. Quanto à instância de recepção ele elenca a questão da identificação do leitorado e sua captação. Levanta ainda a problemática do tratamento da informação quanto à extensão, quanto à maneira de como fazer, quanto ao modo como o produtor decide transpor os fatos selecionados e prevê os efeitos que espera produzir. Dito de outro modo, o ato de informar implica escolhas que abrangem a possibilidade de escolher conteúdos a transmitir, as formas adequadas de fazê-lo e principalmente a possibilidade de influenciar os outros através dos efeitos de sentido que se deseja produzir. Como ação humana, a informação se viabiliza a partir de um sujeito falante legitimado para falar e de outro que o legitime demonstrando um comportamento de interlocutor. É na comunicação entre os sujeitos que o sentido se estabelece, e é nessa interação entre os sujeitos que as representações do mundo se constroem. Conforme esse ponto de vista, “não se trata do outro ou de si mesmo, mas de uma imagem de si e do outro

construída em função dos interesses e das expectativas da comunicação.” (CHARAUDEAU, 2008, p.13) .

Assim, a informação é essencialmente uma questão de linguagem enquanto ato de discurso em situação de comunicação, ou seja, consiste em uma troca entre as instâncias de produção e de recepção, movidas por uma intencionalidade. A informação midiática se faz de forma dialógica e por isso não devemos desconsiderar o lugar do outro, sujeito interpretante representante de uma ética cidadã. Emediato (2009, p. 53) ensina que as proposições implícitas nos textos midiáticos sugerem o reconhecimento, pelo leitor, de uma ética cidadã pressupostamente circulante no espaço público. Tal pressuposição funciona como a pré- validação necessária à instância de produção para poder manter suas formas de tratamento da informação. Mas, o autor ressalta também que essa ética cidadã é figurada pela instância de produção e não coincide necessariamente com uma ética cidadã efetiva ou universal. Ela é construída no discurso.

Nesse sentido, comunicar não é apenas transmitir informação, é proceder a uma encenação, na qual o locutor utiliza componentes do dispositivo de comunicação em função dos efeitos que pretende produzir em seu interlocutor. Se, por um lado, o locutor poderá organizar seu discurso em função das finalidades discursivas do ato de comunicação, escolhendo descrever, narrar, argumentar ou mesmo lançar mão de tantos modos de organização quanto julgar necessários para desenvolver sua tese, por outro lado, conforme Emediato (2009, p. 54), o leitor deverá inferir do enunciado a sua direção argumentativa, ou a sua problematicidade que está estreitamente ligada às representações discursivas inerentes à situação. As representações discursivas fazem parte da significação simbólica de enunciados que conotam formas de julgamento, afetos, atitudes e posicionamentos próprios à situação de comunicação em questão.

Acrescentamos que, de acordo com Maingueneau (2001, p. 72), a comunicação não é um processo linear, por isso é preciso partir de um dispositivo comunicacional que integre a

mídium9. Para esse autor, a mídia não é apenas um meio de transmissão de discursos, mas um meio que imprime certo aspecto a seus conteúdos e comanda os usos que dele podemos fazer. Assim, condiciona a própria constituição do texto e modela o gênero de discurso. Dessa forma, quando se apresenta um discurso sobre emagrecimento em uma revista de informação semanal ou em um consultório médico, não temos apenas uma mudança de cenário ou suporte, temos aí uma mudança que implica em transformações sociais. O discurso a favor de um determinado medicamento no consultório médico pode ser um aconselhamento ou uma orientação médica que fazem parte da consulta médica, enquanto esse mesmo discurso em uma revista de informação semanal pode ser um discurso informativo, uma publicidade ou propaganda.

Nessa perspectiva, tomando o discurso informativo como ato de linguagem e caminharemos neste trabalho, buscando refletir sobre como o discurso informativo midiático das revistas de informação semanais brasileiras tem se constituído. Para tanto, nos próximos capítulos revisitaremos alguns conceitos da teoria Semiolinguística e do campo de pesquisa da Análise do Discurso, a fim de compor um quadro de conhecimentos capaz de conduzir-nos em uma análise.

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CAPÍTULO2

2 NOÇÕES DE DISCURSO E A PERSPECTIVA SEMIOLINGUÍSTICA

Neste capítulo, trataremos das noções do discurso e da Teoria Semiolinguística. Buscaremos compreender os contratos de comunicação midiáticos envolvidos nessa pesquisa, necessários à compreensão das encenações discursivas, assim como, as visadas discursivas e os modos de organização dos discursos.