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A produção de conhecimento nas universidades

Capítulo 2 Enquadramento teórico: gerir o conhecimento na sociedade do

2.7 Gestão do conhecimento nas universidades

2.7.5 A produção de conhecimento nas universidades

Os três papéis ou missões das universidades geram diversas interações que podem ser ilustradas no denominado Modelo da Tripla Hélice (Etzkowitz e Leydesdorff, 2000; Etzkowitz e Zhou, 2008; Leydesdorff e Meyer, 2006). Ligado ao conceito do modelo da Tripla Hélice está o denominado “modo 2” de produção de conhecimento, cujo argumento base se situa ao nível da localização da produção do conhecimento; tradicionalmente esta produção localizava-se essencialmente nas instituições científicas e estava estruturada em disciplinas científicas, suas posições, práticas e princípios. Atualmente, a sua localização é muito mais heterogénea e ubíqua; tendencialmente o conhecimento é produzido num contexto de aplicação, numa colaboração transdisciplinar (Gibbons et al., 1994). A Tabela 2.19 apresenta um resumo dos atributos básicos, para cada um destes modos de produção de conhecimento.

Tabela 2.19 - Atributos do modo 1 e 2 de produção de conhecimento

Modo 1 Modo 2

CONTEXTO ACADÉMICO CONTEXTO DA APLICAÇÃO

Disciplinariedade Transdisciplinariedade

Homogeneidade Heterogeneidade

Autonomia Prestação de contas

Controlo tradicional da qualidade (peer review) Novo controlo da qualidade Fonte: Hessels e van Lente (2008)

Hessels e van Lente (2008) fizeram uma revisão sobre o conceito de “Modo 2 de produção de conhecimento” na literatura científica e compararam com outros sete conceitos alternativos abordados nos diagnósticos sobre sistemas de ciência (Tabela 2.20).

Tabela 2.20 - Estudos alternativos de diagnóstico de sistemas de ciência e conceitos abordados

Conceito

Objetivo

(D-descritivo P-prescritivo)

Formato Publicação “principal” Nº de citaçõesa

Ciência finalização D/P Artigos Böhme et al. (1983) 22

Ciência estratégica/

investigação estratégica D (P) Diversos Irvine e Martin (1984) 58

Ciência pós-normal P Artigos Funtowicz e Ravetz (1993) 204

Sistemas de inovação D/P Diversos Edquist (1997) 298

Capitalismo académico D Livro Slaughter e Leslie (1997) 315

Ciência pós-académica D Livro Ziman (2000) 97

Hélice tripla D Artigos Etzkowitz e Leydesdorff (2000) 175

a pesquisa na Scopus, em 27 de Abril de 2007

Fonte: Hessels e van Lente (2008); ver bibliografia no artigo

Estes autores pesquisaram na base de dados Scopus utilizando dois caminhos. O primeiro foi realizado por via indireta, ao comparar e contrastar os análises baseados no “diagnóstico Modo 2” com outras análises que utilizam outros conceitos próximos, (como por exemplo: Tripla Hélice, investigação estratégica, capitalismo académico, entre outros). De seguida, observaram as semelhanças e as diferenças entre os artigos que utilizavam o conceito "a nova produção de conhecimento", do livro “The New Production of Knowledge” (Gibbons et al., 1994) - onde a noção de Modo 2 foi cunhada , com os outros artigos que utilizavam os conceitos alternativos.

No segundo caminho (via direta) os autores analisaram e avaliaram as inúmeras reações ao livro supra citado “The New Production of Knowledge”. Concluíram que o conceito inserido na expressão "a nova produção do conhecimento" tem sido frequentemente usado como um manifesto e tem suscitado uma atenção considerável na área da ciência política. Estes autores consideraram que para além da abordagem teórica é necessário mais investigação sobre o repensar a produção de novos conhecimentos, sugerindo as seguintes

1) As atividades de investigação transdisciplinar, com uma integração dinâmica de componentes teóricas e práticas das várias disciplinas, constituem uma parte substancial dos sistemas de ciência contemporânea?

2) Será que os investigadores universitários têm tido uma atitude mais reflexiva, no sentido de sua consciencialização dos potenciais efeitos sociais das suas investigações, levando isso em conta na escolha dos objetos de pesquisa investigação, nos métodos e nas abordagens?

3) Será que novos critérios, relativos à relevância social dos resultados da investigação, atualmente contam significativamente em todos os tipos de controlo da qualidade científica, não só para atribuição de fundos, mas também nas avaliações retrospetivas dos indivíduos, das organizações ou dos projetos?

A partir da leitura de Fujigaki e Leydesdorff (2000) podemos acrescentar outras questões dentro do mesmo âmbito:

• As universidades procuram uma forma de desempenhar um papel na resolução de problemas para fins públicos?

• Pode a universidade atuar como "catalisador" na economia baseada no conhecimento, aproveitando o seu potencial para servir como aglutinador do ensino superior, da investigação e do desenvolvimento económico?

A partir da abordagem de Benneworth e Hospers (2007) podemos olhar para as universidades como oleodutos de distribuição de conhecimento global-local, ou seja, pensar como as universidades podem criar e mobilizar as redes para atrair investimentos em atividades de conhecimento intensivo. Estes autores realçam a existência de um círculo virtuoso do conhecimento global que flui nas redes, onde as universidades podem ter o papel pró-ativo de ator-chave, nestas redes.

As universidades devem aprender, criar e difundir conhecimentos, mas também devem participar ativamente na construção das conexões. Na Figura 2.22 é apresentada uma visão das relações existentes num sistema regional de inovação, onde aparecem os dois subsistemas (universidades e empresas) em interação tanto a nível local como global.

Figura 2.22 - Sistema regional de inovação

Fonte: Benneworth e Hospers (2007)

O artigo de Benneworth e Hospers (2007) baseia-se na ideia da capacidade endógena das regiões na transformação das suas economias, através da criação de valor da sua produção global e das cadeias de conhecimento. Os autores utilizam um estudo de caso, no contexto europeu (Twente, na Holanda), para questionar:

1) Pode uma universidade desempenhar um importante papel de conexão global- local para estimular a renovação económica?

2) Como as tentativas das universidades para criar negócio local podem afetar a sua envolvência?

3) O que isso nos diz sobre a natureza dos sistemas regionais de inovação?

4) O que é que os decisores políticos podem aprender no sentido de apoiar e estimular tais atividades, no contexto da terceira onda das políticas industriais?