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3. História

2.5 A PRODUÇÃO E A RELEVÂNCIA DA DOCUMENTAÇÃO SOBRE EXPOSIÇÕES

As exposições envolvem interpretações e escolhas, a partir de critérios técnicos, temporais, temáticos, conceituais e/ou políticos, em uma instituição cultural específica: o museu. As camadas de interpretação podem ser ampliadas conforme o processamento dos registros gerados durante as exposições. À primeira etapa ou camada de interpretação, teríamos as leituras realizadas pelos profissionais da instituição envolvida, registradas em projetos e relatórios de pesquisa. Em alguns museus, os documentos tanto podem ser intitulados como projeto museográfico, projeto expográfico quanto projeto curatorial. Os projetos seriam realizados por profissionais envolvidos – técnicos, consultores e/ou especialistas associados à instituição - que podem iniciar as suas atividades a partir de um tema relevante ou coleção importante para a instituição.

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Figura 7 – Esquematização das camadas de interpretação no processo expositivo

Fonte: Desenvolvida pela autora.

Contudo, poderíamos acrescentar, nas instituições que se baseiam em uma determinada equipe curatorial, uma camada anterior de interpretação, restrita a um grupo específico de profissionais. Nas instituições que apresentam um núcleo curatorial que tem a função de desenvolver o projeto conceitual, o qual norteará toda a atividade expográfica, o núcleo gerador de todo o processo restante seria o primeiro nível de interpretação. Nestas instituições, caberia aos demais setores do museu - como o setor de produção, expografia, acervo museológico, comunicação social e educativo - desenvolver projetos executivos específicos, a partir das ideias pré-definidas pelos curadores da exposição. Deste modo, a primeira etapa apresentaria dois níveis de interpretação, a serem registrados no projeto curatorial e executivo. Nesta primeira etapa, podem ser realizados estudos preliminares sobre o tema a ser exposto junto ao público da instituição, corroborando para o desenvolvimento do projeto da atividade.

Na segunda camada de interpretação estariam as leituras ou interpretações realizadas pelo público/visitante da exposição, enquanto interpretações livres e diferenciadas, e as interpretações finais de profissionais envolvidos no processo de

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realização da atividade cultural. As interpretações dos profissionais podem ser independentes, podendo eles mesmos analisar o resultado da exposição, conteúdo e espaço ou incluir, em suas reflexões, análises sobre os usos feitos da exposição pelos visitantes. Para ambos os casos, poderão utilizar instrumentos como questionários, anotações de campo, filmagens, fotografias, entre outros, que permitam registrar tais reflexões. Tais instrumentos podem ser formatados, organizados e guardados enquanto registros importantes de cada exposição.

Em uma terceira camada de interpretação, teríamos as percepções dos técnicos, em cada instituição museológica, sobre todo o trabalho realizado. Nesta camada, documentos gerados durante todo o processo podem ser analisados com o intuito de produzir o relatório final. Incluem-se os instrumentos com os dados coletados junto ao público como questionários, entrevistas, enquetes, desenhos, entre outros.

Cada uma destas três camadas de interpretação pode ser representada através de registros, impressos e/ou digitais, em formato de carta, projeto, relatório dos setores envolvidos em cada exposição, material em áudio e/ou vídeo, desenho, esboço, croqui, anotações, material de divulgação, materiais educativos utilizados durante a realização de cada exposição, e/ou atas de reuniões.

Entretanto, é importante ressaltar que em muitas instituições a documentação das exposições não é realizada. Deste modo, as referidas camadas de interpretação terminariam na terceira camada, juntamente com o encerramento das atividades expositivas. Mas, quando os registros gerados durante as exposições são preservados, sistematizados e disponibilizados ao público, teríamos a quarta camada de interpretações. Esta última estaria fundamentada em novas identificações, escolhas, seleções, recortes e organização primária, gerados a partir de todo o processo de criação e documentação dos itens. Neste trabalho, acredita-se que o processo de documentação das exposições seria o somatório de percepções anteriores com uma nova camada de interpretação, agora realizada pela equipe responsável pelo seu processamento informacional, seja no arquivo, na biblioteca ou setor responsável pelo acervo museológico da instituição museológica.

Quando os registros expositivos são documentados e disponibilizados para futuras consultas, uma quinta camada de interpretação pode ser percebida. O seu fácil acesso –

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seja através de arquivos, bibliotecas, centros de documentação ou em base de dados intranet e online – permite que estes documentos, gerados a partir do processo expositivo, proporcionem novas releituras, reflexões, sejam de profissionais externos ou internos à instituição, incluindo-se os envolvidos no processo de documentação destes registros. Para esta etapa de interpretações, o fluxo de informações pesquisadas pode ser analisado em estudos dos usuários deste tipo de informação.

Nas instituições analisadas nesta pesquisa, devido à complexidade do processo expográfico, foi estabelecido, no início da pesquisa, que determinados setores seriam contatados, com o intuito de obter maiores informações sobre as dinâmicas internas e possíveis reflexos na documentação. Contudo, nem todos os setores forneceram informações, especialmente no que diz respeito às exposições mais antigas, uma vez que ocorreram alterações na composição das equipes técnicas. De qualquer modo, foi possível identificar os setores geralmente envolvidos nas atividades expográficas, sendo possível analisar, especialmente nas novas versões das exposições, os setores que não enviaram documentos para o setor responsável pela organização e difusão da informação em cada museu.

Quadro 1 – Setores e núcleos contatados em cada instituição analisada. Setores

Curadoria Educativo/

Mediação

Acervo Museológico

Produção Arquivo Centro de

Documentação Biblioteca Pinacoteca do Estado de São Paulo Curadoria Setor educativo Setor de Museologia e reserva Técnica Expografia Centro de Documentação e Memória da Pinacoteca do Estado (CEDOC) Centro de Document ação Walter Wey MASP Curadoria Mediação e Prog. Públicos Acervo Prod. Exposição --- Biblioteca e Centro de Documentação MAM/ RJ Artes Plástica (Curador)31 Educação e arte (Curador) Museologia e montagem Produção e Salão de exposições Pesquisa e documentação MAM/ SP Curadoria Setor educativo Setor de Doc. de Acervo --- --- Biblioteca e centro de Documentação Fonte: Desenvolvido pela autora.

Ressalta-se que, nesta pesquisa, foi selecionada somente a documentação sobre

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No MAM do Rio, quando associado ao cargo principal, chamar de curador quer dizer responsável por determinado setor, seja o educativo, de artes plásticas ou de pesquisa e documentação.

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exposições que tiveram novas versões, não sendo o intuito desta pesquisa analisar toda a documentação produzida pelas instituições, como veremos nos capítulos subsequentes.

2.6 HISTÓRIA DAS EXPOSIÇÕES, DOCUMENTAÇÃO SOBRE EXPOSIÇÕES