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4. RTP: UM OLHAR SOBRE A PROGRAMAÇÃO REGIONAL

4.1. A PROGRAMAÇÃO REGIONAL ATÉ AO 25 DE ABRIL

A 16 de Janeiro de 1956 foi outorgada à RTP a concessão do serviço público de televisão. Mas até às primeiras emissões ainda se passaram muitos meses.

A primeira emissão de TV aconteceu no nosso país na noite de 4 de Setembro de 1956. (…) A partir dessa noite, toda uma máquina complexa mas apaixonante, entrou a trabalhar a ritmo mais acelerado, enquanto pelos telhados das nossas casas se via crescer o arvoredo metálico das antenas. As “poderosas imagens ao domicílio” começaram a ser servidas (Silva e Teves, 1971: 93).

O início das emissões experimentais deu-se no recinto da Feira Popular de Lisboa, em Palhavã. Segundo Lopes da Silva e Vasco Teves (1971: 116 e 117), não se pode dizer que se estava a inaugurar oficialmente a televisão em Portugal, uma vez que as possibilidades de expansão fornecidas pelo pequeno emissor instalado em Palhavã eram reduzidas. O objectivo foi, antes de mais, familiarizar algum público de Lisboa com este novo meio e preparar os técnicos para a instalação definitiva.

Milhares de pessoas aderiram desde o primeiro instante à “caixa mágica”: “A TV foi, sobretudo, um grande espectáculo de rua, nas suas primeiras noites. A imagem à distância, distribuída por aquela quase inestética torre do parque de Palhavã, animou os visores de centenas de receptores espalhados por Lisboa e arredores” (Silva e Teves, 1971: 125).

Este período experimental das emissões da RTP decorreu de 4 a 30 de Setembro, só não havendo programa à quarta-feira, dia reservado para descanso do pessoal e revisão do equipamento.

Depois desta primeira fase, a RTP dotou-se de estúdios próprios no Lumiar, em Lisboa, perto da Alameda das Linhas de Torres, e apetrechou-se com equipamento próprio, de origem alemã. A 3 de Dezembro inicia um novo período de emissões experimentais nas novas instalações.

A sua grande prova de fogo viria a acontecer em Fevereiro de 1957, aquando da visita da Rainha Isabel II de Inglaterra a Portugal. Apesar de estar a um mês do início

das emissões regulares, a cobertura deste evento por parte da RTP demonstrou a boa capacidade técnica do equipamento e a competência dos seus primeiros profissionais (Rodrigues, 1999: 111). As reportagens do acontecimento, feitas exclusivamente pelos profissionais da RTP, foram vistas por mais de um milhão de portugueses e acabariam por ultrapassar as fronteiras nacionais, tendo sido transmitidas, graças a um rápido envio dessas imagens por via aérea, nas cadeias de várias televisões europeias.

Após toda esta etapa de adaptação, as emissões regulares viriam finalmente a ter início no dia 7 de Março de 1957, data que tem marcado até hoje os aniversários da RTP.

Para a emissão de 7de Março – uma quinta-feira – se voltou o interesse do público, quase que com aquele mesmo curioso entusiasmo que havia rodeado as primeiras emissões da feira. A imprensa também aí estava de novo, a ocupar-se do tema. A TV estava nas primeiras páginas, uma vez mais (Silva e Teves, 1971: 154).

Nesse dia, os portugueses puderam ver o programa “Canções a Granel”, que deu a conhecer muitos talentos nacionais como Raul Solnado, o noticiário das 22 horas, apresentado por Gomes Ferreira e Luís Arnaud Pombeiro, cabendo a Domingos lança Moreira falar de futebol, um documentário intitulado “A TAP por dentro” e uma rubrica de estúdio sobre dança (Silva e Teves, 1971: 156 e 157).

No que respeita à programação virada para as regiões em particular, visando uma maior aproximação com todo o seu público, segundo informação que conseguimos recolher nos anuários da RTP a que tivemos acesso, encontramos no ano de 1965 dois programas que entendemos incluir neste ponto: “Terras de Portugal” e “Fim-de- semana”, dois espaços incluídos nos “Programas Especiais”, catalogados como “divulgação”. O primeiro era uma rubrica constituída por documentários, nos quais eram divulgados aspectos paisagísticos, arquitectónicos e históricos de diferentes regiões de Portugal. Quanto ao “Fim-de-Semana”, destinava-se a realçar o interesse turístico de várias zonas do País (RTP – Anuário 1965, 83-5). Cada um, à sua maneira, saía da centralidade da Capital para mostrar aos portugueses as riquezas das terras lusitanas. Na programação televisiva divulgada pelo “Jornal de Notícias” (JN), encontramos alinhado o “Fim-de-Semana”, quase dez anos depois, em 1974, ainda no

primeiro canal (JN: 15/03/74)15. De qualquer modo, segundo o anuário da RTP desse ano, continua a fazer parte da “Programação Especial” (RTP- Anuário 1974)16.

A 25 de Dezembro de 1968, a RTP inaugurou uma nova etapa da sua história com a criação do Canal 2, a RTP 2. O segundo canal veio permitir uma primeira experiência de diversificação dos programas televisivos, em geral, e da informação, em particular (Rodrigues, 1999: 112). A 6 de Agosto de 1972, começavam as emissões do centro regional da RTP-Madeira, sendo que os Açores só veriam nascer o seu centro regional três anos mais tarde, a 10 de Agosto de 1975. Adriano Duarte Rodrigues diz que “a criação destes dois centros emissores representava um importante passo para a consolidação da identidade e unidade nacionais” (Rodrigues, 1999: 112).

Em 1974, antes de ter estalado a Revolução, estreou “25 Milhões de Portugueses”, programa que trouxe até aos telespectadores os depoimentos de figuras de diferentes regiões do país, seguindo-se actuações de grupos tradicionais (RTP- Anuário 1974). Por exemplo, a emissão do dia 16 de Março, que passou num Domingo, às 22 horas, no primeiro canal, foi dedicada a Bragança, contando ainda com a participação da cançonetista brasileira Doris Monteiro (JN: 16/03/74). Este programa encontrava-se também inserido nos “Programas Especiais”, na parte de divulgação.