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4. RTP: UM OLHAR SOBRE A PROGRAMAÇÃO REGIONAL

4.6. O AGENDAMENTO DAS NOTÍCIAS

4.6.8. Os Critérios de Noticiabilidade no “Regiões Nacional”

Com a passagem do “Regiões” para um formato nacional a selecção passou a ser feita de uma forma mais estreita (Mateus, entrevista: 10/01/2006), dado que na emissão deveriam “caber” todas as regiões.

No que se refere aos critérios de escolha das notícias, não havia grandes diferenças em relação a outros jornais de âmbito nacional, como o “Jornal da Tarde” ou “Telejornal”. Nunca esquecendo o seu cariz regional, o que se fazia era puxar para a “cabeça” a actualidade regional e fazer depois todo o alinhamento encadeando os vários assuntos das diferentes regiões consoante a importância das notícias, ou seja, construir o alinhamento começando com o tema mais importante, independentemente de onde viesse, terminando sempre com um assunto mais leve. “Entendia-se que o facto de ser um “Regiões” não tinha que significar que não fosse tratado como um programa nacional. A forma de escolher a notícia para o início e para o fecho era a mesma que era utilizada por um jornal nacional” (Antunes, entrevista: 18/01/2006). Por outras palavras, fazia-se a escolha para a abertura de uma notícia com grande impacto, seguindo-se uma

emissão articulada, quase como se tivesse uma narrativa própria, como nos filmes, de acordo com os interesses do público. O elemento forte do início ir-se-ia distendendo, deixando o telespectador mais tranquilo com o que ia vendo até ao final, que quase sempre era feliz, o mesmo é dizer que era comum que o noticiário acabasse com um “fait-divers”, com histórias ou notícias com imagens agradáveis. Apesar destes elementos, estaria longe de um jornal espectáculo que este tipo de modelo preconiza.

No caso de Bragança, à semelhança dos outros CERs, o coordenador disponibilizava ao responsável pelo “Regiões” nacional, que se encontrava em Lisboa, o material que tinha em agenda, sendo que este último fazia depois a selecção daquilo que lhe interessava para o programa. Segundo Hélder Antunes (Ibidem), o alinhamento que ia para o ar dependia muito do que era enviado por cada CER. De qualquer modo, a coordenação de Lisboa também estava atenta para o que se passava nas diferentes regiões e chamava a atenção para assuntos que pudessem ser tratados por cada uma delas. Portanto, apesar do agendamento das notícias ser feito por cada um dos CERs, Lisboa também podia intervir no mesmo e tinha a última palavra a dar no que respeita ao processo de gatekeeping.

Hélder Antunes (Ibidem) garante que nunca ninguém privilegiou uma só região, havendo o cuidado de dar protagonismo a todas as regiões, não só em termos de tempos, como também em quantidade de peças. Predominava, assim, o valor-notícia “Composição”, já que havia o cuidado de seleccionar os acontecimentos de forma a conseguir um todo equilibrado. Seria mais fácil encontrar temas de relevo nos grandes centros, mas a coordenação do “Regiões” tinha presente a sua filosofia de dar um destaque diário a todos os pontos do país, naquilo que eles tinham de mais relevante, para o melhor ou para o pior. Hélder Antunes (Ibidem) vai mais longe ao dizer que, a partir do momento que o “Regiões” perdeu as janelas regionais, a percentagem de peças emitidas de Lisboa e do Porto baixou consideravelmente.

Outro valor em destaque continuou a ser a personalização dos temas, as pessoas. Assim, a escolha das notícias passava inevitavelmente por aquelas que diziam respeito às populações em geral. Alves Mateus (entrevista: 10/01/2006) dá o seguinte exemplo: havia uma decisão de uma Câmara avançar com uma obra que podia afectar 50 famílias que viviam num prédio que podia ir abaixo. Neste caso, não havia qualquer margem para dúvidas: as pessoas sempre em primeiro lugar.

Sempre que havia uma prioridade a estabelecer, apostava-se nos assuntos em que era importante alertar as autoridades para o facto de haver populações que podiam

estar em risco, que precisavam de ajuda, ou que necessitavam deste apoio ou daquele. Até porque, como avança o actual responsável pelo CRC de Bragança (Ibidem), “sabemos que muitas vezes se faz, por exemplo, a reportagem do homem que vive debaixo do alpendre e que logo a seguir a esta ser emitida ele já tem um lugar na Misericórdia ou num Lar de Terceira Idade”.

Depois havia os factos que marcavam o dia a dia, como os julgamentos e outros assuntos que faziam a agenda diária de Trás-os-Montes e Alto Douro. O principal interesse, segundo Alves Mateus (Ibidem) seria sempre informar as pessoas, ao mesmo tempo que se dava uma componente didáctica às notícias, algo que não é fácil de explorar num “Jornal da Tarde” ou num “Telejornal”. Por exemplo, pode-se noticiar que foi criada uma zona industrial em Macedo de Cavaleiros num jornal nacional. Os portugueses ficam, assim, a saber que existe ali uma nova infra-estrutura, a notícia cumpriu o seu objectivo de dar aos telespectadores o essencial do assunto. Acontece que, particularmente para os transmontanos, é também importante saberem o que se pode lá instalar, como se podem lá instalar. Essa informação adicional, pedagógica até, cabe ao “Regiões” fornecê-la.

Estes exemplos mostram que, de alguma forma, o papel que era exercido pela emissão local do “Regiões” se manteve com o formato nacional. A principal diferença residia, sobretudo, na quantidade de notícias emitidas, sendo que, de alguma forma, se deixou de dar destaque ao acessório para apenas se destacar o que realmente interessa às pessoas.