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CAPÍTULO II – SER FRATERNO, “ESTILO” CRISTÃO DE HABITAR O MUNDO

2. Pedagogia e didática para a lecionação da unidade letiva

2.2. A proposta curricular da EMRC A nova linguagem

O currículo é um vocábulo de origem latina que etimologicamente significa corrida, o lugar onde se corre e, por metonímia, o que se faz durante a corrida. Remete-nos para os conceitos de caminho ou de trajetória, numa dinâmica de sequencialidade e globalidade do que se fez ou do que se faz.456 Não é estranho, pois, neste contexto, encontramos com facilidade a expressão curriculum vitae, que tanto pode significar o percurso de vida (o tempus fugit), como as ações mais significativas que cada um, ao longo da sua existência, vai experimentando.457

Dentre a polissemia que podemos encontrar na aproximação ao conceito, José Pacheco destaca, numa perspetiva mais abrangente, que o termo envolve também o que é ensinado, no conteúdo e na forma, os objetivos, os critérios de avaliação, a organização e a estrutura dos estudos, a sua gradação e a sua progressão.458

Na dinâmica curricular cruzam-se diversas práticas que funcionam como um sistema em que interagem uma pluralidade de sistemas. Assim, o currículo deve ser entendido como um projeto global e contínuo, fator que permite o desenvolvimento de um projeto didático com uma lógica estrutural coerente, onde os contextos da sua operacionalização assumem um papel preponderante. Deste modo, o currículo entende-se como uma construção sociocultural

456 Cf. José Augusto PACHECO, Currículo: teoria e práxis, Porto, Porto Editora, 16.

457 cf. “currículo”. In Infopédia [Em linha]. Porto, Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2014-05-01].

Disponível online em www: <URL: http://www.infopedia.pt/$curriculo>.

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aberta à pluralidade das situações e dos contextos. Sendo o resultado de uma construção cultural, que deve ser analisado a partir das condições históricas e sociais onde é operacionalizado459, o currículo tanto pode ser visto como um programa estruturado de conteúdos disciplinares, como também todo o conjunto de experiências que a própria escola provoca em benefício do aluno, já que deve ser entendido como uma interseção de práticas diversas, onde ganham especial destaque quer as práticas pedagógicas, quer as decisões de caráter político-administrativo, de produção de meios, de criação intelectual e de avaliação.460

Na especificidade da disciplina de EMRC,

“o currículo programa-se, tendo por base a articulação orgânica de três fatores fundamentais: a sociedade, que tem uma história, instituições, valores dominantes, necessidades próprias e opções económicas, culturais e políticas; os conhecimentos científicos (conteúdos) de toda a ordem, que se transmitem ou se utilizam a partir das disciplinas científicas ligadas ao currículo, das ciências da educação e das diversas áreas da psicologia; o

aluno, com as suas características próprias, no estádio de desenvolvimento

físico e psicológico em que se encontra, inserido num determinado ambiente sociocultural”461.

Do ponto de vista da organização e da prática curriculares, a Igreja Católica tem legitimidade e exclusividade, que lhe é concedida pelo Estado, para orientar o ensino de EMRC, competindo-lhe a elaboração e revisão dos programas, a elaboração, edição e divulgação de manuais e de outros instrumentos de trabalho que entenda adequados para concretizar a sua missão nos contextos escolares onde atua.

459 Cf. Ibidem, 18-19.

460 Cf. Sílvia CARDOSO, “O Dualismo Cultural: Os Luso-Caboverdianos entre a Escola, a Família e a

Comunidade (Estudo de Caso)”. Tese de Doutoramento [Área de Desenvolvimento Curricular], Departamento de Currículo e Tecnologia Educativa, Universidade do Minho, Braga, 2007, 55-80.

461 Consideramos aqui o conteúdo do documento de trabalho do novo Programa de Educação Moral e Religiosa

Católica - versão 2014, que vem substituir a versão de 2007. Este documento foi disponibilizado este ano letivo pelos secretariados diocesanos aos docentes de EMRC do país, de modo a que se vão reformulando as planificações e adequando os novos pressupostos curriculares à nova linguagem das metas curriculares. O documento encontra-se disponível na internet em vários sites de secretariados diocesanos.

No nosso caso concreto servimo-nos do seguinte endereço eletrónico:

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Assim, as matrizes curriculares propostas pela EMRC têm como finalidade

“a formação global do aluno, que permita o reconhecimento da sua identidade e, progressivamente, a construção de um projeto pessoal de vida. Promove-a a partir do diálogo da cultura e dos saberes adquiridos nas outras disciplinas com a mensagem e os valores cristãos enraizados na tradição cultural portuguesa”462.

Na tarefa de lecionação que realizámos no âmbito da Prática de Ensino Supervisionada, entendemos que seria absolutamente essencial adequarmos as planificações que elaborámos à nova linguagem das metas de aprendizagem. Por isso, para concretizar este trabalho servimo-nos do documento redigido pelo Secretariado Nacional de Educação Cristã (SNEC), entretanto disponibilizado aos docentes de EMRC, onde encontramos a nova proposta de Programa de Educação Moral e Religiosa Católica para os ensinos Básico e Secundário – versão de 2014. Este documento, tendo em vista as prioridades estabelecidas pelo Ministério da Educação, ajusta-se aos novos padrões de desempenho dos alunos, orientando o processo de ensino-aprendizagem para a nova terminologia das metas curriculares463. Estas novas orientações definem os conhecimentos e as capacidades essenciais que os alunos devem adquirir, nos diferentes anos de escolaridade ou ciclos e nos conteúdos dos respetivos programas curriculares.

Para a disciplina de EMRC, as metas curriculares, que enunciam expectativas gerais quanto à aprendizagem do aluno, foram definidas a partir das finalidades da disciplina, tal como enunciadas pela Conferência Episcopal Portuguesa em 2006464, e consubstanciam-se numa reformulação parcial das propostas do programa da disciplina. Reestruturou-se o novo

462 SECRETARIADO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CRISTÃ, Programa de Educação Moral e Religiosa Católica para o ensino Básico e Secundário - edição 2014, p. 11, documento de trabalho disponível online

em http://www.emrcporto.com/images/stories/programa_emrc/programa emrc-2014.pdf. [consultado em 2014-01-10]

463 Cf. Despacho 5306/2012, de 18 de abril.

464 São finalidades da disciplina de EMRC: “apreender a dimensão cultural do fenómeno religioso e do

cristianismo, em particular; conhecer o conteúdo da mensagem cristã e identificar os valores evangélicos; estabelecer o diálogo entre a cultura e a fé; adquirir uma visão cristã da vida; entender e protagonizar o diálogo ecuménico e inter-religioso; adquirir um vasto conhecimento sobre Jesus Cristo, a História da Igreja e a Doutrina Católica, nomeadamente nos campos moral e social; apreender o fundamento religioso da moral cristã; conhecer e descobrir o significado do património artístico-religioso e da simbólica cristã; formular uma chave de leitura que clarifique as opções de fé; estruturar as perguntas e encontrar respostas para as dúvidas sobre o sentido da realidade; aprender a posicionar-se, pessoalmente, frente ao fenómeno religioso e agir com responsabilidade e coerência”. Cf. CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA, “Educação Moral e Religiosa Católica – um valioso contributo para a formação da personalidade”, op. cit., 14.

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Programa a partir de três domínios de aprendizagem465 (áreas de ensino que agregam os padrões curriculares daquilo que o aluno deve conhecer - campos de conhecimento e conteúdos; e do que o aluno deve saber fazer - processos ou competências) e de Objetivos Programáticos (que se esperam alcançar com a lecionação de determinados conjuntos de conteúdos e que identificam a intenção do professor face ao que desenha desenvolver e levar o aluno a apreender; elaboram-se a partir das ações que os alunos devem concretamente realizar e devem ser mensuráveis através dos instrumentos de avaliação implementados).

O Programa de EMRC organiza-se por ciclos de ensino, adequando em cada nível de ensino as metas curriculares que se pretendem trabalhar, no enquadramento dos domínios de aprendizagem estabelecidos. Determinaram-se em cada ano letivo unidades letivas para as quias se estabeleceram objetivos programáticos de unidade que pretendem operacionalizar a aprendizagem dos conteúdos específicos selecionados.466

2.3. Contextualização da unidade letiva “A fraternidade” no âmbito das propostas