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CAPÍTULO II – SER FRATERNO, “ESTILO” CRISTÃO DE HABITAR O MUNDO

1. A educação, lugar de encontro

1.3. O aluno de EMRC: um desafio para a docência

Considerando e estatuto do aluno436, a escola existe para os alunos. São eles o âmago das propostas educativas e é para eles que devem estar direcionadas as luzes do complexo processo de ensino-aprendizagem.

Cada aluno é uma realidade altamente surpreendente. Diariamente, os discentes desafiam os agentes educativos ao exigente processo do “fascina-me”, conceito cada vez mais arredado da realidade escolar, dada a pluralidade de “fascínios” que o mundo contemporâneo oferece.

O aluno que procura o novo, e hoje cada vez mais o insólito, não se deixa levar em meias cantigas ou palavras gastas pelo tempo. Exige-se uma linguagem simultaneamente lavada e reconfortante que ensine e dê sentido à vida do aluno, demonstrando-lhe o caráter útil do que lhe é ensinado, o que nem sempre é facilmente objetivável.

Sendo pessoa, na sua singularidade e dignidade inabaláveis, e não um número para estatística (como muitas vezes se entende), cada aluno impõe que o olhem, que não se deem apenas os conteúdos com o olhar fixo no teto ou no quadro eletrónico, mas que os olhos de quem ensina se cruzem nos de quem aprende. Na verdade, os olhos são excelentes pedagogos, não apenas os que procuram olhar alguém, mas também os que se recusam ser olhados.

Na escola, o processo de entrosamento da história de cada aluno (que é um emaranhado de histórias sem fim) com a história dos seus colegas (cada uma com as suas particularidades) e com os diferentes perfis e diversos estilos de lecionação encontrados

435 CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA, “Educação Moral e Religiosa Católica – um valioso

contributo para a formação da personalidade”, op. cit., 11.

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exige uma gestão humana apertada, que muitas vezes dá o tilt face aos desajustes que se verificam entre o que se espera dos outros e aquilo que os outros oferecem realmente.

Cada aluno não é um objeto, diríamos um “isso” à maneira buberiana, mas um “Tu” que exige ser chamado pelo nome e que procura o olhar da afeição de quem o educa. A sua presença na escola, um si reflexivo, que responde às interpelações que lhe chegam do exterior de si, tantas vezes fragilizado pela dimensão da sua falibilidade e pelas quedas familiares, ou insucessos escolares, deve ser educada na linha da reciprocidade humana, buscando continuamente a procura de superação dos limites que são seus e que, pela liberdade, se pretendem infinitamente transcender. O discente é um “rosto” ímpar que se revela todos os dias e que exige uma responsabilidade ética infinita configurada numa busca permanente pela verdade que cada projeto pessoal exige (cf. pensamento levinasiano).

Por isso, para os alunos, o espaço escolar deve ser “apetecível”437. Quem o afirma é Jorge Augusto Paulo Pereira, ressalvando a importância dos atributos que os docentes devem apresentar, de modo a ajudar cada aluno a aprender convenientemente. Afirma o docente de Didática de EMRC e coordenador de Estágio na Faculdade de Teologia da UCP de Lisboa, que “tornar a escola apetecível a todos é a grande tarefa dos agentes educativos”438, salientando, ainda, que esse empreendimento só pode acontecer mediante a diferenciação e diversificação de estratégias e atividades de lecionação e de novo enquadramento do espaço escolar.

Afirma D. António Francisco dos Santos, atual bispo do Porto, que

“passados tantos séculos de ensino e depois de tantas tentativas de legislação sobre educação, de novas experiências didáticas e de ousadas práticas pedagógicas, estamos sempre no começo, à procura de melhores caminhos e seduzidos por buscas apenas iniciadas”439.

Com efeito, apesar de longo, o caminho da educação parece (re)iniciar-se todos os dias, em cada escola, em cada micro contexto de aprendizagem. Por isso, procura-se constantemente dar o melhor aos alunos, tendo presente as diversas dificuldades que eles e as famílias atravessam, sabendo embora que o papel dos agentes educativos da escola, em

437 Cf. Jorge Augusto PAULO PEREIRA, “Uma perspetiva sobre o perfil do professor”, in Pastoral Catequética, n.º 5, 2006, 113.

438 Ibidem.

439 D. António Francisco dos SANTOS, “O Professor de EMRC: para a definição de um perfil humano e

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especial dos docentes, se encontra cada vez mais condicionado pelos “apertos” humanos, burocráticos e financeiros, emanados pelo macro contexto social e político.

Contudo, ao professor cabe a tarefa de nunca baixar os braços. Sendo um “ouvinte e um mensageiro que comenta e às vezes ousa interpretar aquilo que ele próprio recebe e apreende no logos revelado”440, o professor deve apresentar um perfil humano e profissional capaz de estar à altura dos desafios de cada aluno, apesar da tarefa ser aparentemente tão difícil hoje.

Na arte de ensinar, no ser professor, não encontramos apenas o atributo do saber, nem tampouco apenas o do agir, ou mesmo o do acreditar. Nessa arte teremos de encontrar o professor com todo o seu ser, que não se fragmenta nem se divide.441 Afirma D. Tomaz Nunes que "a educação exige por isso um quadro de valores abrangentes e de critérios éticos radicados na dignidade da pessoa humana”442. Nesse sentido, partindo da missão da Igreja, que pela EMRC se propõe habitar a pessoa de cada aluno, dando sentido e interpretação à vida e contribuindo com a antropologia e a mundividência que a fé cristã ilumina, o professor de ERE deve apresentar-se sempre na sua humildade, sendo ininterruptamente “peregrino da verdade”443.

Ao tentar-se o esboço do perfil do docente de EMRC, teremos de procurar um “acréscimo de qualidade, decorrente da sua própria missão”444, que terá de estar impregnada de um estilo próprio de habitar o espaço escolar. Não se depreenda destas palavras nenhuma prepotência. O professor de EMRC, não é melhor (nem pior) que nenhum outro. Deve afirmar a sua presença na escola partindo sempre da humildade que o deve acompanhar, intervindo e estando ativamente presente nos projetos escolares.

A partir das dimensões, entretanto definidas no quadro legislativo enumeradas pelo próprio Ministério da Educação445, percebemos que o professor, particularmente o de EMRC, deve dar resposta a um conjunto de dimensões humanas e profissionais que ousem situar-se na realidade escolar de tal modo que procurem sempre as sendas da verdade, ajudando cada aluno a compreender e a compreender-se no atual ambiente de pluralismo cultural, religioso, social, económico, político e familiar. Os docentes devem pautar, além disso, a sua atuação afirmando-se como gestores do currículo, cabendo-lhes a

440 Ibidem, 10. 441 Cf. Ibidem.

442 Nunes, D. Tomaz, “Perfil do Professor de EMRC”, Encontro de Professores de EMRC, Guarda. Citado por

D. António Francisco dos SANTOS, “O Professor de EMRC: para a definição de um perfil humano e profissional”, op. cit., 11.

443 Cf. Ibidem, 12. 444 Ibidem, 13.

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responsabilidade de adequar o trabalho à diversidade dos contextos, não se afirmando exclusivamente como meros “executores do prescrito”446.

Nas circunstâncias adversas em que vivemos, podemos afirmar que os alunos de hoje requerem, simultaneamente, uma presença serena, alegre, entusiasmada, motivadora e motivada, da EMRC na escola. No delinear os rasgos de caráter e de personalidade dos docentes desta disciplina, que se propõe educar num registo que, apesar de confessional, é de diálogo e de abertura, o professor tem como premissa a da “humanização da comunidade”447 educativa a que pertence, valorizando, o mais possível, o bom que encontra em cada pessoa, em cada aluno, especialmente. A este propósito, reitera o atual Bispo do Porto que é imprescindível na escola

“uma voz de esperança, em nome da fé e como experiência de caridade, propondo um discurso marcado pela gratuitidade, estruturando relações que se baseiem no amor que olha o rosto do outro como presente que interpela e a que não se é indiferente”448.

O docente de EMRC, pela consistência do seu testemunho centrado no discente, tem como missão ajudar a educar e a encaminhar os seus alunos para um “algures” com sentido, combatendo de algum modo, o violento pressuposto culturalmente instituído pelo próprio sistema educativo que o fundamental é estar na escola para “forjar uma profissão”, não se olhando, muitas vezes, a meios para atingir os fins. Ora, os alunos precisam de formadores de seres humanos. O docente de EMRC deve sentir-se interpelado a essa necessidade de formação integral da pessoa, que quanto mais se humaniza, mais se diviniza. “O papel do docente de EMRC não poderá ser senão o de garantir que o humano seja verdadeiramente humano. E não menos do que isso”449.

446 Cf. Carlinda LEITE, “A flexibilização curricular na construção de uma escola mais democrática e mais

inclusiva”, in Território Educativo, n.º 7, dezembro 1999, 25.

447 D. António Francisco dos SANTOS, “O Professor de EMRC: para a definição de um perfil humano e

profissional”, op. cit., 16.

448 Ibidem, 17. 449 Ibidem, 18.

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2. Pedagogia e didática para a lecionação da unidade letiva “A fraternidade”, do 5º