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A proteção ao trabalho da mulher: breve histórico

3 A PROTEÇÃO AO TRABALHO DA MULHER

3.1 A proteção ao trabalho da mulher: breve histórico

A evolução da proteção ao trabalho da mulher passou por diversas modificações ao longo das décadas, e a primeira fase do direito protetor, caracterizada pelas proibições do trabalho da mulher em diversas atividades, cedeu lugar à promoção da igualdade entre a mulher e o homem no sentido de eliminar essas proibições, até para evitar-se a discriminação no mercado de trabalho.

O primeiro período foi marcadamente de intervenção do Estado na defesa do trabalho da mulher e dos menores de idade.

Conforme ensina Adalberto Martins,

[...] a proteção legal ao trabalho da mulher surgiu como resposta à exploração advinda da Revolução Industrial, do século XVIII, época em que a exploração do trabalho da mulher e do menor era intensa, com jornadas de trabalho excessivas e salários aviltantes. Referido quadro justifica o fato de que os primeiros destinatários das regras de proteção foram os menores e as mulheres.

O Tratado de Versalhes estabeleceu o princípio da igualdade salarial entre homens e mulheres, e muitas convenções da OIT (algumas ratificadas pelo

48 GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ação afirmativa & princípio constitucional da igualdade (o Direito como instrumento de transformação social. A experiência dos EUA). Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p.21.

Brasil) disciplinaram a proteção da mulher trabalhadora, com vistas a assegurar-lhe tratamento igual ao dos homens, restringir a possibilidade de prorrogação da jornada, assegurar-lhe proteção em face de suas condições físicas e proporcionar a proteção à maternidade.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 10.12.1948, consagrou regras de não discriminação em razão do sexo; a Convenção da Organização das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher, de 1975, foi ratificada pelo Brasil e promulgada pelo Decreto 89.460, de 20.3.1984; e a Convenção da ONU de 1979, também ratificada pelo Brasil, assegura remuneração igual a homens

e mulheres para trabalho de igual valor49.

Vê-se que, durante a Revolução Industrial, principalmente no século XIX, observavam-se péssimas condições de trabalho, com a utilização do trabalho de mulheres e menores, que recebiam salários inferiores.

As mulheres estavam expostas a trabalhos prejudiciais à saúde, com longas jornadas, colocando em risco a sua segurança e a sua vida, recebendo salários inferiores aos pagos aos homens. Por essa razão, naquela época, nem se cogitava de proteção da gestação ou quanto à amamentação da mulher que exercia o trabalho.

Tendo em vista as terríveis consequências, para as famílias e para a sociedade, decorrentes da situação acima narrada, teve início a legislação de proteção ao trabalho das mulheres, primeiramente na Inglaterra, tendência que se seguiu na França e em outros países da Europa.

O segundo período surgiu quando as premissas que inspiraram a legislação anterior proibitiva foram afastadas e a mulher deixou de ser considerada um ser inferior que necessita de proteção do Estado, como se fosse incapaz para as mesmas oportunidades de trabalho oferecidas no mercado de trabalho ao homem.

Ensina Gustavo Filipe Barbosa Garcia que,

[...] após essa fase de formação da legislação protecionista ao trabalho da mulher, observou-se que, justamente em razão das referidas leis, as mulheres eram muitas vezes discriminadas no mercado de trabalho. Os empregadores preferiam não contratar o trabalho feminino, por serem as suas regras mais restritivas, com diversas proibições, gerando preferência

pelo trabalho do homem50.

49

MARTINS, Adalberto. Manual didático de direito do trabalho. 5.ed. São Paulo: Malheiros, 2015, p.289. 50 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 8.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p.1021- 1022.

Destarte, de modo contraditório, a legislação que tinha o objetivo de proteger as mulheres passou a ser fonte de discriminação, prejudicando o seu trabalho. E complementa:

Como forma de combater a discriminação de gênero, teve início a legislação de promoção ao trabalho da mulher, para pôr fim às desigualdades então verificadas.

As restrições do trabalho da mulher, que não mais se justificavam, passaram a deixar de ser previstas, tendo em vista a igualdade de direitos, observadas as especificidades inerentes à condição da pessoa.

A legislação de proteção a mulher ficou mais centrada nos aspectos que realmente merecem atenção da sociedade, em especial o estado de gestante e a maternidade. Objetiva-se que esses fatores não sirvam de óbice para a contratação de trabalho feminino, nem de diferenciação salarial ou de discriminação quanto às demais condições de trabalho.

A discriminação no âmbito das relações de trabalho, especialmente em razão do gênero ou sexo, passou a ser combatida por medidas jurídicas,

com destaque para a promoção ao trabalho da mulher51.

Observam também Orlando Gomes e Elson Gottschalk:

Outrora discutia-se acerca da oportunidade de tutelar a mulher como tal, isto é, quando fosse adulta e não apenas a mulher de menor idade. A corrente ultraliberal concluía por excluir qualquer tutela em vista das exigências da indústria e do princípio da liberdade de trabalho. Hoje, porém, essas discussões perderam todo valor, e a necessidade da tutela é reconhecida por todos. Em relação à mulher, o legislador, com o objetivo de assegurar o desenvolvimento demográfico, cuida de preservar a sua função

fundamental da maternidade52.

Na contemporaneidade, as normas de proteção ao trabalho da mulher devem ficar restritas a promover o referido labor, pondo fim a qualquer desigualdade no plano social dos fatos, por meio de medidas que fomentem a contratação e melhoria das condições de trabalho, alcançando-se a igualdade material entre homens e mulheres. Nesse sentido, o fundamento da referida legislação passa a ser o princípio da igualdade material e da vedação à discriminação de gênero nas relações de trabalho.

51

GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 8.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p.1022. 52 GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson. Curso de direito do trabalho. 17.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p.422.

3.2 Breve síntese da evolução da proteção normativa ao trabalho da mulher